- E senti o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e N´Ele vi e ouvi -A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. - O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar , é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. - O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora! - Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica: - Na eternidade, o Céu! (escreve a irmã Lúcia a 3 de janeiro de 1944, em "O Meu Caminho," I, p. 158 – 160 – Carmelo de Coimbra)
domingo, 7 de dezembro de 2008
Bento XVI
Na, solenidade da Imaculada Conceição, a liturgia convida-nos a dirigir o olhar para Maria, mãe de Jesus e nossa mãe, Estrela de esperança para cada homem. Hoje, segundo domingo do Advento, apresenta-se-nos a figura austera do Precursor, que o evangelista Mateus introduz assim: "Naqueles dias, apareceu João, o Baptista, a pregar no deserto da Judeia. "Arrependei-vos, dizia, porque está próximo o reino dos céus"" (Mt 3, 1-2). A sua missão foi a de preparar e aplanar o caminho diante do Messias, chamando o povo de Israel a arrepender-se dos próprios pecados e a corrigir toda a iniquidade. Com palavras exigentes João Baptista anunciava o juízo iminente: "Toda a árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo" (Mt 3, 10). Sentia sobretudo a hipocrisia de quem se julgava preservado unicamente pelo facto de pertencer ao povo eleito: diante de Deus dizia ninguém tem títulos dos quais se orgulhar, mas deve levar "frutos dignos de arrependimento"(Mt 3, 8).
Enquanto prossegue o caminho do Advento, enquanto nos preparamos para celebrar o Natal de Cristo, ressoa nas nossas comunidades esta chamada de João Baptista à conversão. É um convite urgente a abrir o coração e a acolher o Filho de Deus que vem entre nós para manifestar o juízo divino. O Pai escreve o evangelista João não julga ninguém, mas confiou ao Filho o poder de julgar, porque é Filho do homem (cf. Jo 5, 22.27). E é hoje, no presente, que se decide o nosso destino futuro; é com o comportamento concreto que temos nesta vida que decidimos o nosso destino eterno. No findar dos nossos dias na terra, no momento da morte, seremos avaliados com base na nossa semelhança ou não com o Menino que está para nascer na pobre gruta de Belém, porque é Ele o critério de medida que Deus deu à humanidade. O Pai celeste, que no nascimento do seu Filho Unigénito nos manifestou o seu amor misericordioso, chama-nos a seguir os seus passos fazendo, como Ele, das nossas existências um dom de amor. E os frutos do amor são "dignos de arrependimento" aos quais faz referência São João Baptista, enquanto com palavras pungentes se dirige aos fariseus e aos saduceus que acorreram, entre a multidão, ao seu baptismo.
Mediante o Evangelho, João Baptista continua a falar através dos séculos, a cada geração. As suas palavras claras e duras ressoam saudáveis como nunca para nós, homens e mulheres do nosso tempo, no qual também o modo de viver e compreender o Natal ressente infelizmente, com muita frequência, de uma mentalidade materialista. A "voz" do grande profeta pede que preparemos o caminho ao Senhor que vem, nos desertos de hoje, desertos exteriores e interiores, sequiosos da água viva que é Cristo. Guie-nos a Virgem Maria a uma verdadeira conversão do coração, para que possamos fazer as opções necessárias para sintonizar as nossas mentalidades com o Evangelho.