- E senti o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e N´Ele vi e ouvi -A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. - O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar , é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. - O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora! - Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica: - Na eternidade, o Céu! (escreve a irmã Lúcia a 3 de janeiro de 1944, em "O Meu Caminho," I, p. 158 – 160 – Carmelo de Coimbra)
terça-feira, 28 de abril de 2009
Bento XVI.:“Quereria abraçar-vos um a um, com afecto. Toda a Igreja está aqui convosco, junto dos vossos sofrimentos, participando na vossa dor "
Bento XVI deslocou-se esta Terça-feira, 28 de Abril, à região italiana de Abruzzo para se encontrar com a população vítima do terramoto do início deste mês, dando cumprimento a um desejo que ele próprio manifestou desde a primeira hora.
Em razão do mau tempo, Bento XVI não pôde viajar de helicóptero. O programa sofreu por isso um atraso de mais de uma hora. A visita teve início, como previsto, em Onna, a localidade onde se situou o epicentro do terramoto e que ficou inteiramente destruído. Ali visitou o parque de tendas que abriga muitas das vítimas. Abraçou crianças e idosos, e pronunciou uma primeira alocução.
O Papa teve palavras de grande participação pelo sofrimento das pessoas que perderam os seus entes queridos ou que, de qualquer modo, de um momento para o outro, viram abatidas as casas, todos os bens, toda uma vida de esforços e poupanças.
“Quereria abraçar-vos um a um, com afecto. Toda a Igreja está aqui convosco, junto dos vossos sofrimentos, participando na vossa dor pela perda de familiares e amigos, desejos de ajudar-vos a reconstruir casas, igrejas, empresas destruídas ou gravemente danificadas pelo sismo” – afirmou o Papa, que prosseguiu: “Admirei a coragem, a dignidade, a fé com que enfrentastes esta dura provação, manifestando grande vontade de não ceder a adversidade… Não vos rendestes. Não desanimastes. Há em vós uma força de espírito que suscita esperança”.
“Quereria deslocar-me a todas as aldeias e a todos os bairros, ir a todas os grupos de tendas e encontrar-me com todos. Tenho bem consciência de que, não obstante o empenho de solidariedade manifestado de todas as partes, são tantos e quotidianos os incómodos que comporta viver fora de casa ou nos automóveis, ou nas tendas, mais ainda por causa do frio e da chuva”.
Referindo o episódio dos discípulos de Emaús, Bento XVI teve palavras de encorajamento na fé:
“Caros amigos, a minha presença no meio de vós quer ser um sinal palpável do facto de que o Senhor crucificado ressuscitou e não vos abandona; não deixa por escutar os vossos pedidos sobre o futuro, não é surdo ao grito preocupado de tantas famílias que perderam tudo: casas, poupanças, trabalho e por vezes até mesmo vidas humanas. Sem dúvida que a sua resposta concreta passa através da nossa solidariedade que não se pode limitar à emergência inicial, mas deve tornar-se um projecto estável e concreto no tempo. Encorajo todos, instituições e empresas, para que esta cidade e esta terra possam ressurgir.
O Papa está aqui, hoje, no meio de vós, também para vos dizer uma palavra de conforto sobre os vossos defuntos: eles estão vivos em Deus e esperam de vós um testemunho de coragem e de esperança. Eles esperam ver renascer esta sua terra, que deve voltar a ornar-se de casas e igrejas, belas e sólidas. É precisamente em nome destes irmãos e irmãs que é preciso empenhar-se novamente a viver, recorrendo àquilo que não morre e que o terramoto não destruiu: o amor. O amor permanece para além do vale desta nossa precária existência terrena, porque o Amor verdadeiro é Deus. Quem ama vence, em Deus, a morte e sabe que não perde aqueles que ama”.
Em L’Aquila, o Papa, antes de passar pela Casa do Estudante, deslocou-se à Basílica de Collemaggio, prestando homenagem diante do sepulcro do Papa Celestino V, sobre o qual colocou o pálio usado na celebração do início do pontificado. Junto à Casa dos Estudantes, onde perderam a vida 15 universitários, o Papa deteve-se a falar com um grupo representativo de jovens.
A concluir a sua visita, no quartel da Guarda Fiscal, o Papa teve um encontro com os representantes locais e das pessoas envolvidas nas operações de socorro, assim como com os párocos locais. Foi neste quartel, nos arredores de Áquila, onde teve lugar, Sexta-feira Santa, as exéquias das vítimas do terramoto.
No discurso aqui pronunciado, o Papa quis sobretudo prestar homenagem aos que se empenharam e continuam a empenhar-se nas acções de solidariedade, membros de variadas organizações e associações, a começar pela Protecção Civil, Bombeiros, Cruz Vermelha, Equipas de Socorro, voluntários – muitíssimas pessoas e instituições: “Ser-me-ia difícil mencioná-las todas, mas a cada um quereria fazer chegar uma especial palavra de apreço. Obrigado por tudo o que fizestes e sobretudo pelo amor com que o fizestes. Obrigado pelo exemplo que destes. Continuai, unidos e bem coordenados, de tal modo que se possam concretizar sem mais tardar soluções eficazes para quem hoje vive nas tendas… Faz frio…”
Bento XVI exaltou também a decisão de reconstruir a cidade destruída, a “vontade tenaz de não ceder ao desânimo”, “a firme intenção de reconstruir a cidade com a constância característica” dos abruzeses. Observando que a sua presença desejava ser um sinal, não só da sua proximidade pessoal a cada um, mas também da “solidariedade fraterna de toda a Igreja”, o Papa exaltou o valor “cívico e cristão” da solidariedade:
“Desejo sublinhar o valor e importância da solidariedade, que, embora se manifesta particularmente em momentos de crise, é como um fogo escondido debaixo das cinzas. A solidariedade é um sentimento altamente cívico e cristão, pelo qual se mede a maturidade de uma sociedade. A solidariedade manifesta-se, na prática, na obra de socorro, mas não é só uma eficiente máquina organizativa. É uma alma, uma paixão, que deriva precisamente da grande história civil e cristã do nosso povo, quer tenha lugar nas formas institucionais, quer no voluntariado. E também a isto quero prestar homenagem, hoje”