quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Padre Niklaus Pfluger, nº 2 da FSSPX: “O Papa nos leva a sério. Cinco anos atrás seria impensável discutir o Concílio oficialmente ou mesmo questioná-lo”.

Apresentamos nossa tradução de um excerto da entrevista concedida pelo Revmo. Pe. Niklaus Pfluger, primeiro assistente da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, à revista Angelus (via DICI):
1) Como Primeiro Assistente da FSSPX, o senhor viaja bastante. O senhor poderia nos dar uma impressão da freqüência de suas viagens e de quanto tempo o senhor passa em casa, ou seja, na Casa Geral na Suíça?
Na verdade, os dois assistentes do Superior Geral estão na estrada com bastante freqüência. Nesses primeiros anos desde o Capítulo Geral de 2006, tivemos que conhecer os padres, os priorados e as suas comunidades ao redor do mundo.
Nos últimos anos, tivemos que nos ausentar da Casa Geral cerca de dois terços do tempo. Por exemplo, em 2008, o Padre Nely esteve em Menzingen durante 111 dias e eu, 112.
2) Quantos retiros o senhor prega por ano e para quem?
Todos os anos há cerca de seis a oito retiros; este ano serão até mesmo nove. Foram realizados quatro retiros para os nossos sacerdotes em diversos distritos (Inglaterra, Canadá, América e México), e outro que pregarei para uma comunidade sacerdotal associada conosco na França. Os quatro restantes são para irmãs: Carmelitas, beneditinas e Oblatas.
3) O senhor tem a impressão de que a FSSPX está crescendo?
Certamente em número. O apostolado nas escolas e nas missões está crescendo em nível mundial, além do apostolado da palavra impressa e da catequese na Internet. Em algumas regiões, o número de fiéis está crescendo: Nos Estados Unidos, França, Itália, Polônia, Ásia e África. Nos dois últimos anos tivemos um número de ordenações sacerdotais que está acima da média. Finalmente, novas casas são abertas a cada ano, o que significa que a atividade pastoral precisa ser intensificada.
Um crescimento particular vem de famílias, ou seja, crianças e jovens. Igualmente, desde o Summorum Pontificum, em 2007, muitos católicos têm vindo do Novus Ordo para a Tradição e para a Missa Tradicional. Esse fato me chamou a atenção de modo particular, na América, onde pude visitar diversas capelas em agosto. Há também padres individuais que deixaram a celebração da Missa Nova para trabalhar conosco.
A devastação que é uma conseqüência da crise na Igreja e na sociedade está crescendo a cada ano. Assim, há um grande campo para a FSSPX trabalhar. Conseqüentemente, precisamos de mais sacerdotes e vocações religiosas, particularmente, nas missões.
4) E que tal o crescimento em qualidade?
Um tipo de crescimento muito diferente é a influência crescente da FSSPX na Igreja universal. Esse não é apenas o caso de muitos padres jovens e conservadores que começaram a celebrar a Missa Tridentina ao redor do mundo. Para estes, a FSSPX é um sinal de esperança real e proporciona estabilidade no atual caos teológico e pastoral.
As discussões teológicas com Roma mostram, especialmente, que, no final das contas, seja qual for a razão, o Papa nos leva a sério. Cinco anos atrás seria impensável discutir o Concílio oficialmente ou mesmo questioná-lo. Roma está rastreando e tentando oferecer uma nova interpretação a fim de salvar o Concílio. O que era inquestionável no passado de repente precisa ser justificado: O Concílio e seus supostos frutos. Isso é uma novidade. Sem a FSSPX, isso teria sido impensável até recentemente. A FSSPX sempre foi uma pedra de tropeço. Mas agora temos de ser levados a sério e não é mais possível nos ignorar.
Os eventos dos meses recentes e, especialmente, do ano passado, na Europa, mostram que os bispos modernistas não podem mais nos ignorar. Vez ou outra alguns deles dão a impressão que odeiam a nós e à Tradição. Ou seja, eles devem estar com medo de nós. De tempos em tempos a mídia nos ataca de maneira perversa – penso no programa de TV Les Infiltrés na França ou na campanha de imprensa em 2009 – o que é uma indicação de que eles não podem mais ignorar a Tradição; em vez disso, eles são obrigados a nos levar a sério.
E por final, mas não menos importante: Embora não seja normalmente mencionado, há muitos membros da FSSPX ao redor do mundo, religiosos e muitos leigos, que andam com a graça de Deus no caminho da santidade. Este é um dom especial de Deus para os nossos tempos.
5) Qual é a tarefa mais difícil para a FSSPX?
Perseverança: manter o espírito de Fortaleza e perseverança. As principais ameaças em geral não vêm de fora, mas, às vezes, nos bloqueamos. A crise continua e está se tornando mais violenta. Existe um desgaste. Conseqüentemente, há um risco duplo: Você perde a coragem e a esperança, a resignação e o derrotismo se espalham, as pessoas perdem o momento e a motivação e talvez até mesmo o seu “primeiro amor”. Conseqüentemente, às vezes, você ouve sentimentos como “Vocês não podem fazer nada”.
Ou, o que é pior, você tenta se adaptar e se alinhar; você quer fazer a paz a qualquer custo e você está satisfeito com alguma concessão. Assim, é importante que estejamos cientes do nosso dever – sacerdotes e leigos da mesma forma – e que descubramos o entusiasmo e o espírito de fé desde o início da FSSPX e de seu fundador. Somos uma obra da Igreja! Não estamos apenas salvando a Missa e a Fé para nós mesmos; temos uma tarefa na e para a Igreja. Somos apostólicos; a terrível situação da Igreja e de almas não pode nos deixar indiferentes.
6) Algumas pessoas acusam a FSSPX de trabalhar na direção de fazer uma concessão. O senhor vê razões para tais receios?
Esses medos não têm fundamento. Essas são principalmente reclamações de pessoas de fora que acreditam que elas podem julgar questões internas da Sociedade. São receios que não dão testemunho de um espírito de fé. Os autores de tais alegações – principalmente pessoas próximas às idéias sedevacantistas – simplesmente não querem admitir que alguma coisa mudou.
Ou eles simplesmente têm uma idéia errônea de como esta terrível crise de fé deve ser superada. Elas pensam que a igreja moderna se tornará católica novamente em um único dia; é a ilusão de que alguém adormece como um modernista e acorda católico. Quem dera fosse tão fácil! Uma volta à ortodoxia, uma reforma verdadeira é um caminho longo de árduo. Levou décadas antes que os decretos reformadores do Concílio de Trento fossem aplicados em alguma medida. As regiões que se voltaram para o Arianismo tanto no Ocidente quanto no Oriente somente de maneira vagarosa e gradual se tornaram novamente católicas.
A FSSPX não faz concessões; Dom Fellay não tem um plano secreto, estratégia ou política com relação à Fé e no trato com Roma. Temos que responder a uma nova situação. Temos a dizer a esta “igreja conciliar”: “Pare! Não podemos continuar dessa maneira. Há um grande problema na Igreja. O Concílio é a razão para esta apostasia, e não a solução para a crise.” Alguns querem se retirar para uma espécie de gueto achando que podem esperar até a crise acabar. Essa não é uma posição católica; ao invés disso, essa é uma fraqueza de fé. A luz tem de ser colocada em um candelabro, e não pode ser escondida debaixo de um alqueire, diz o Senhor no Sermão da Montanha.
Apenas uma pequena minoria de sacerdotes e fiéis está com medo. A grande maioria confia na liderança da FSSPX e no Superior Geral. No início de julho tivemos uma reunião por vários dias entre todos os superiores na FSSPX em Ecône. Temos que agradecer a Deus pela profunda unidade da FSSPX e todos os assuntos essenciais. Isso não é fácil nesses tempos de tormenta.
7) Algumas pessoas acusam a FSSPX de ser “fundamentalista.” O que o senhor diria a respeito disso?
O problema não é o fundamentalismo em si, mas sim de que fonte ele tira os seus princípios e em que direção caminha. Um muçulmano fundamentalista, por exemplo, é um problema porque temos que temer ataques terroristas. Um cristão fundamentalista não é um problema, em si mesmo, porque a nossa religião é a religião do amor.
Isso significa que o mundo moderno, ou seja, o liberalismo, tem se apartado de Deus. Portanto, eles precisam justificar os seus princípios e valores em si mesmos. Esse é o motivo pelo qual o mundo se distancia do cristianismo, o combate ou – na melhor das hipóteses – o compreende erroneamente. Eles chamam de “fundamentalistas” o que é fundamental e radical. Quando um cristão deixa ou seu fundamento, que é Cristo, ele não será como o muçulmano fundamentalista, mas sim como o sal que perde o seu sabor.
O melhor exemplo deste “cristianismo sem princípios” são muitos cristãos modernos. Não há necessidade de combatê-los, e eles não serão perseguidos. Eles se afastam de sua fé como folhas secas da árvore. Por outro lado, cristãos convencidos e missionários são o orgulho da Igreja. Nós os chamamos de mártires, porque eles deram testemunhos de sua fé em Cristo.

DE:http://fratresinunum.com/