domingo, 21 de novembro de 2010

Papel de Cluny na formação da Idade Média

 


continuação do post anterior

O êxito de Cluny foi assegurado antes de mais nada pela elevada espiritualidade que se cultivava lá, mas também por algumas outras condições que favoreceram seu desenvolvimento.

Ao contrário do que havia acontecido até então, o mosteiro de Cluny e as comunidades dependentes dele foram reconhecidas como isentas da jurisdição dos bispos locais e submetidas diretamente à do Pontífice Romano.

Isso comportava um vínculo especial com a Sé de Pedro, e graças precisamente à proteção e ao ânimo dos pontífices, os ideais de pureza e de fidelidade, que a reforma cluniacense pretendia buscar, puderam difundir-se rapidamente.

Além disso, os abades eram eleitos sem interferência alguma por parte das autoridades civis, ao contrário do que acontecia em outros lugares.

Pessoas verdadeiramente dignas se sucederam na guia de Cluny e das numerosas comunidades monásticas dependentes: o abade Odon de Cluny, de quem falei em uma catequese há dois meses, e outras grandes personalidades, como Aimar, Mayolo, Odilon e sobretudo Hugo o Grande, que levaram a cabo seu serviço durante longos períodos, assegurando estabilidade à reforma empreendida e à sua difusão. Além de Odon, são venerados como santos Mayolo, Odilon y Hugo.

A reforma cluniacense teve efeitos positivos não somente na purificação e no despertar da vida monástica, mas também na vida da Igreja universal.


EXEMPLOS DE VIDA DOS ABADES SANTOS DE CLUNY


De fato, a aspiração à perfeição evangélica representou um estímulo para combater dois graves males que afligiam a Igreja daquela época: a simonia, isto é, a compra de cargos pastorais, e a imoralidade de clero leigo.

Os abades de Cluny, com sua autoridade espiritual, os monges cluniacenses que se converteram em bispos, alguns deles inclusive papas, foram protagonistas desta imponente ação de renovação espiritual.

E os frutos não faltaram: o celibato dos sacerdotes voltou a ser estimado e vivido e, na assunção dos ofícios eclesiásticos, foram introduzidos procedimentos mais transparentes.

Foram também significativos os benefícios oferecidos à sociedade pelos mosteiros inspirados na reforma cluniacense. Em uma época em que somente as instituições eclesiásticas assistiam os indigentes, praticou-se com empenho a caridade.

Em todas as casas, uma pessoa se dedicava a hospedar os transeuntes e os peregrinos necessitados, os sacerdotes e os religiosos em viagem, e sobretudo os pobres que vinham pedir alimento e teto por algum dia.

Veja vídeo
Cluny
no seu 1100º aniversário
Não menos importantes foram outras duas instituições, típicas da civilização medieval, promovidas por Cluny: as chamadas “tréguas de Deus” e a “paz de Deus”.

Em uma época fortemente marcada pela violência e pelo espírito de vingança, com as “tréguas de Deus” se asseguravam longos períodos de não-beligerância, por ocasião de determinadas festas religiosas e de alguns períodos da semana. Com a “paz de Deus”, pedia-se, sob pena de uma censura canônica, o respeito pelas pessoas inermes e pelos lugares sagrados.

Na consciência dos povos da Europa, incrementava-se assim esse processo de longa gestação, que teria levado a reconhecer, de modo cada vez mais claro, dois elementos fundamentais para a construção da sociedade, isto é, o valor da pessoa humana e o bem primário da paz.

Além disso, como acontecia para as demais fundações monásticas, os mosteiros cluniacenses dispunham de amplas propriedades que, colocadas diligentemente a frutificar, contribuíram para o desenvolvimento da economia.

Junto ao trabalho manual, não faltaram tampouco algumas típicas atividades culturais do monaquismo medieval, como as escolas para crianças, a criação de bibliotecas, os scriptoria para a transcrição dos livros.

Dessa forma, há mil anos, quando estava em pleno desenvolvimento o processo de formação da identidade européia, a experiência cluniacense, difundida em vastas regiões do continente europeu, ofereceu sua contribuição importante e preciosa.

Exigiu a primazia dos bens do espírito; manteve elevada a tensão aos bens de Deus; inspirou e favoreceu iniciativas e instituições para a promoção dos valores humanos; educou para um espírito de paz.

Queridos irmãos, oremos para que todos aqueles que estão preocupados por um autêntico humanismo e pelo futuro da Europa saibam descobrir, valorizar e defender o rico patrimônio cultural e religioso desses séculos.

Planta de Cluny por volta de 1157 d.C.



Video: Cluny no seu 1100º aniversário