terça-feira, 15 de março de 2011

Exemplo a ser imitado :Dom Athanasius Schneider, exerce especial apostolado em incutir a devida reverência e adoração ao Santíssimo Sacramento .Itinerário rumo ao fato consumado : O Papa Bento XVI distribuiu, em algumas importantes cerimônias, a Eucaristia na boca dos comungantes ajoelhados.

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O bispo auxiliar de Karaganda, no Cazaquistão, Dom Athanasius Schneider, exerce especial apostolado em incutir a devida reverência e adoração ao Santíssimo Sacramento, empenhando-se para que os fiéis recebam na boca e de joelhos a Hóstia consagrada
Dom Athanasius Schneider
Em entrevista concedida ao correspondente de Catolicismo em Roma, Sr. Juan Miguel Montes, D. Schneider explica as razões que o levaram a publicar o livro Dominus Est. Com prefácio de Malcolm Ranjith (até há pouco, secretário da Congregação para o Culto Divino, e atualmente arcebispo de Colombo, no Ceilão), a obra está alcançando repercussão mundial. Já foi traduzida para 15 idiomas em apenas um ano. Os leitores interessados podem adquirir o livro em português (Editora Raboni, Rua Celso Egídio Sousa Santos, 237 – Campinas, SP – www.raboni.com.br). Aqueles que desejarem ouvir uma entrevista de D. Schneider podem acessar o link do site “TV-Glória”: http://pt.gloria.tv/?media=27459
D. Athanasius Schneider nasceu em 1961 no Quirguistão (Ásia Central), para onde seus pais, que eram alemães, haviam sido deportados, e onde foram obrigados a trabalhos forçados durante os anos 50, período em que aquela nação se encontrava subjugada pela URSS. É membro da Ordem da Santa Cruz, na qual professou em 1982. Foi ordenado sacerdote a 25 de março de 1990. Após permanecer em Lisboa vários anos, exerceu sua atividade pastoral em algumas paróquias do Brasil, tendo sido também diretor espiritual da comunidade de sua ordem estabelecida em nosso País. Posteriormente doutorou-se em teologia no âmbito dos estudos patrísticos, em Roma. Foi eleito conselheiro geral de sua ordem religiosa, cargo que ocupou por cerca de dez anos. Exerceu ainda o cargo de diretor espiritual e dos estudos do seminário do Cazaquistão (o primeiro seminário católico daquela região), de pároco em vários locais do país, chanceler da diocese e diretor de uma revista católica mensal. Em 2 de junho de 2006, recebeu a sagração episcopal, sendo nomeado bispo auxiliar da diocese de Karaganda, no Cazaquistão.
* * *
Catolicismo — V. Exa. publicou, pela Libreria Editrice Vaticana, a obra Dominus Est, já traduzida em 15 línguas, que aborda o respeito devido ao altíssimo mistério da sagrada Eucaristia. Sabemos que lhe têm chegado felicitações de muitas partes. O que o moveu a difundir sua preocupação sobre o modo hoje generalizado de receber na mão a Hóstia consagrada?
Dom Schneider: “Propus-me escrever um livro que expusesse mais profundamente em que consiste a sagrada comunhão. Citei exemplos do tempo da clandestinidade soviética”
D. Schneider — Cresci na clandestinidade soviética. Fui educado por sacerdotes que foram mártires e confessores. Recebi clandestinamente a primeira comunhão de um santo sacerdote, e minha educação, tanto da parte de meus pais como da parte de sacerdotes durante a clandestinidade soviética, marcou-me profundamente.
Quando minha família emigrou para a Alemanha, eu contava 12 anos e não tinha nenhuma idéia do tema da recepção da Eucaristia. Entrando numa igreja durante uma santa Missa, e vendo como se efetuava a distribuição da sagrada comunhão na mão, transmiti eu à minha mãe a minha impressão: “Mas isso é como a distribuição de biscoitos na escola”. Era uma observação inspirada em minha inocência infantil.
Minha mãe sofria muito por isso, pois não podia admitir que se recebesse o Senhor –– na sua Divina Majestade, embora oculto na sagrada Hóstia –– de modo exteriormente minimalista, mais próprio a gestos profanos do que a um ato de culto. Decidi-me assim, com meus pais, a não mais freqüentar aquela igreja. Passamos a freqüentar outra, mas a cena repetia-se em cada igreja visitada.
Catolicismo — Deve ter sido um forte choque para V. Exa., que conservara dignamente as poucas espécies eucarísticas disponíveis na longa noite soviética, conforme conta no livro.
D. Schneider — De fato. Quando voltamos para casa, minha mãe se pôs a chorar. Não entendia como se podia tratar Nosso Senhor daquela maneira. E ainda hoje não compreendo como se pode receber Nosso Senhor, Pessoa divina, de modo tão superficial. Tanto mais porquanto, segundo me parece, o clero e os bispos se habituaram a esse estado de coisas. Observando a situação dos últimos 30 anos — isto é, desde minha vinda para o Ocidente —, tenho a impressão de que esse modo de distribuir a comunhão na mão propagou-se como concessão às regras da moda, e segundo uma estratégia globalizante. Por isso, os bispos e o clero deveriam ser mais atentos.
Propus-me então a escrever um livro que expusesse mais profundamente em que consiste a sagrada comunhão. Citei exemplos, do tempo da clandestinidade soviética, mostrando como pessoas conhecidas minhas tratavam a sagrada Eucaristia. Quis também apresentar a história da liturgia da comunhão, porque era totalmente diversa a forma de recebê-la nos primeiros séculos da Igreja, em relação ao modo atual, mesmo quando distribuída na mão.
Catolicismo — Normalmente ouve-se dizer que retornamos à prática dos primeiros séculos. Pelo que o Sr. diz, há uma diferença entre a prática de hoje e a primitiva.
D. Schneider — O modo utilizado hoje nunca foi empregado na Igreja. Ele constitui uma invenção calvinista, nem sequer é dos luteranos. Na Igreja antiga, o modo de receber a sagrada espécie era diferente. Com profunda veneração, ela era recebida na mão direita, não se lhe tocava com a outra mão, e era diretamente levada à boca. Após a recepção, devia-se purificar a palma da mão. O comungante portava um corporal branco na mão.
Com o passar do tempo, a Igreja aprofundou o conhecimento e o amor devido ao divino sacramento da santíssima Eucaristia. Assim, quase instintivamente, tanto na Igreja do Oriente como na do Ocidente, começou-se a distribuir a sagrada comunhão diretamente na boca. Sucessivamente, no início do segundo milênio, juntou-se o gesto muito bíblico de se ajoelhar. Esse foi um processo todo natural e orgânico, sem dúvida inspirado pelo Espírito Santo, que anima a Igreja. Por isso, tal processo não pode ser alterado através de uma ruptura tão drástica como a realizada há 40 anos, com a introdução da comunhão na mão. Repito, essa não era a forma antiga, mas foi inventada. Mais se parece com os gestos profanos, mediante os quais alguém toma a comida com a própria mão e a coloca na boca.
Catolicismo — Na recente festa de Corpus Christi, o Papa Bento XVI convidou os fiéis à renovação da fé na presença real de Cristo na Eucaristia. Também alertou para “uma secularização difundida até mesmo no interior da Igreja, que pode se traduzir num culto eucarístico formal e vazio, em celebrações privadas diversas daquela participação do coração, que se exprime em veneração e respeito pela liturgia”.
O Padre Pio distribui a sagrada comunhão na boca a recém-casados
D. Schneider — Exatamente. O respeito devido na recepção da comunhão é parte central da verdadeira senda visando uma renovação autêntica da liturgia e do culto divino. E quanta necessidade tem o mundo ocidental de tais gestos! A Igreja tem ainda o dever de retomar esses gestos evidentes, aprovados há milênios, e que deram tantos frutos. São gestos que constituem clara demonstração do que podemos apresentar ao mundo para mostrar que cremos em Jesus não apenas com a nossa mente, com a nossa palavra, mas na sua verdadeira divindade. E cremos considerando as conseqüências da Encarnação, do dogma da transubstanciação, da presença real, isto é, todas as conseqüências práticas. Crer é certamente dizer, louvar, mas também praticar gestos que demonstrem a nossa fé.
Catolicismo — O livro de V. Exa. foi muito difundido, e parece que isso se deve também ao fato de ele ter ido ao encontro de um sentimento generalizado quanto à necessidade de se fazer algo nesse sentido.
D. Schneider — Recebi muitas repercussões alcançadas pelo livro no mundo inteiro, a maioria delas provenientes de simples fiéis que se sentiram tocados, agradecendo-me por ter abordado esse tema, que parecia um tabu na Igreja.
Por exemplo, escreveu-me um jovem dos Estados Unidos, que pertenceu a uma comunidade protestante. Contou-me que nessa comunidade seus membros tinham o hábito de receber a “ceia do Senhor” de joelhos e na boca, apenas por reverência ao símbolo da Eucaristia, pois para eles a Eucaristia é só um símbolo. Apesar disso, por respeito se ajoelhavam e não queriam tocá-la com as mãos. Quando ele se tornou católico, na igreja que freqüentava foi-lhe proibido receber Jesus eucarístico de joelhos. Ele me perguntou quais eram as razões para essa situação tão contraditória: como protestante, podia ajoelhar-se diante de um símbolo; como católico, não mais podia ajoelhar-se diante da presença real.
Outro exemplo foi o de uma senhora indígena do Brasil, grande devota da sagrada comunhão. Alguns anos após o Concílio, ocorreu certo dia ao seu pároco dizer à comunidade que, a partir do domingo seguinte, todos deveriam receber compulsoriamente a comunhão na mão. O povo, simples e devoto, aceitou por respeito ao pároco. Entretanto, o sacerdote não lhes disse toda a verdade, pois a Igreja deixa a liberdade para se receber a comunhão na boca. Essa senhora fora assim constrangida a recebê-la na mão, mas sua alma sentia-se perturbada, e um dos motivos era que ela tem o hábito de lavar as mãos antes de receber um hóspede em sua casa. “E agora como faço para receber o Senhor, se minhas mãos não estão limpas? Se, por exemplo, toquei no dinheiro para a espórtula do ofertório? Nosso Senhor merece mais do que os meus hóspedes. Eu precisava lavar as mãos durante a Missa, mas é impossível fazê-lo”, disse-me perturbada. Ela procurou o padre, a quem expôs seu desconcerto. Este lhe respondeu: “És ignorante, não entendes nada. Nosso Senhor nunca distribuiu a comunhão na boca”. A senhora pediu-lhe indicasse onde isso estava escrito. Ele respondeu que no Evangelho está escrito que Jesus deu a comunhão na mão aos Apóstolos, e ela simplesmente respondeu: “Mas, Senhor pároco, eu não pertenço ao número dos Apóstolos”. Assim, uma simples mulher deu uma resposta iluminada. Refletindo nessa resposta, vieram-me à mente as palavras de Jesus ao dizer que o Pai revelou seu mistério aos pequenos e o ocultou aos que se presumem inteligentes. Quando essa senhora se apresentava com as mãos juntas, o sacerdote colocava com força a hóstia entre suas mãos. Mas ela, mantendo-se tenazmente firme na sua vontade, viu-se obrigada a receber a comunhão com as mãos para trás. Tenho a impressão de que são muitos os sacerdotes e os bispos que se comportam atualmente do mesmo modo. Penso que esse comportamento é muito semelhante ao dos escribas e fariseus.
Catolicismo — Julga V. Exa. que essa problemática se reveste de particular atualidade em meio aos numerosos problemas com os quais a Igreja deve confrontar-se em nossos dias?
Cartaz numa paróquia de Cingapura, na Ásia: Nosso Senhor Jesus Cristo dá a Primeira Co- munhão na boca a duas crianças
D. Schneider — É fácil entender quanto ela seja atual. Um fato importante em relação ao qual não podemos fechar os olhos, é o exemplo do Santo Padre que, a partir da solenidade de Corpus Christi do ano passado, distribui a comunhão a todos, de joelhos e na boca. Podemos constatá-lo: onde o Papa celebra uma Santa Missa, ele o faz desse modo, mesmo fora de Roma. Apesar de nesses lugares os bispos terem permitido a comunhão na mão, o Santo Padre a distribui na boca aos fiéis ajoelhados. Este exemplo do Santo Padre é para nós, bispos e sacerdotes, um sinal claro. Se nós, bispos e sacerdotes, quisermos sentir com a Igreja e com o Papa, certamente não podemos fazer de conta que esse gesto nunca se pratica. Devemos ser sensíveis em andar em sintonia com o Papa nesse gesto, imitando-o. Tal acontecimento, o povo de Deus o recebe com grande alegria.
Meu desejo é que esse magistério “prático” do Papa encontre imitadores entre os bispos, para o bem das almas e com vistas a aumentar a verdadeira fé e devoção no mistério máximo e santíssimo de nossa fé, que é a santíssima Eucaristia.
font:Catolcismo
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Itinerário rumo ao fato consumado : O Papa Bento XVI distribuiu, em algumas importantes cerimônias, a Eucaristia na boca dos comungantes ajoelhados.

Deixa assim clara a preferência por uma prática milenar esbabelecida na Igreja, indevidamente substituída em muitos lugares há várias décadas.
Pe. Gabriel Díaz
A abordagem da delicada matéria da distribuição da comunhão na mão, que farei a seguir, toma como base o livro de autoria do bispo emérito de San Luis, Argentina, Mons. Juan Rodolfo Laise, intitulado Comunhão na Mão – Documentos e História.
Esse livro constitui um comentário muito detalhado dos documentos nos quais se baseia a legislação vigente sobre a matéria, ao qual está anexado um apêndice que permite compreender melhor o contexto histórico em que nasceram tais documentos. Após responder aos principais argumentos invocados na tentativa de justificar a prática da comunhão na mão, conclui com uma reflexão sobre a aplicação concreta dos elementos expostos ao longo de suas páginas.
Algumas verdades esquecidas
No quadro, Nosso Senhor dá a comunhão a São Dionísio e seus companheiros na prisão
Deparamo-nos no livro do ilustre e culto prelado com uma série de conceitos discrepantes do que normalmente ouvimos dizer. Pode surpreender, por exemplo, saber logo de início que tal maneira de receber a comunhão não fez parte da “Reforma litúrgica”, nem foi tratada ou mencionada no Concílio Vaticano II. Com efeito, seu uso foi introduzido sem autorização em alguns lugares, em meados dos anos 60. O Papa Paulo VI determinadou em 1965 que naqueles locais dever-se-ia retornar à comunhão na boca, mas tal recomendação não teve, como tantas outras, qualquer efeito.
Em 1968, diante de uma resistência que se mostrava inflexível, o Papa começou a levar em linha de conta a possibilidade de encontrar uma solução específica, advertindo entretanto que a distribuição da comunhão na mão, além de discutível, era perigosa, e que não se podia errar na solução do problema, pelo perigo de debilitar a fé dos fiéis na presença eucarística.
Reportamo-nos em seguida à reconstrução dos fatos relatados por Mons. Aníbal Bugnini –– que foi não só testemunha, mas protagonista deles –– em seu livro de memórias La Riforma liturgica 1948-1975.
Um percurso acidentado
O Papa, que segundo suas próprias palavras não podia “eximir-se de considerar com evidente apreensão a eventual inovação”, organizou então uma consulta em caráter secreto junto ao episcopado mundial. O resultado foi que a esmagadora maioria dos bispos declarou-se contrária a qualquer concessão.
Em conseqüência, Paulo VI ordenou à Congregação para o Culto Divino a preparação de “um projeto de documento pontifício no qual: 1º) Se dê notícia sumária dos resultados da consulta aos bispos; 2º) a qual confirma o pensamento da Santa Sé sobre a inoportunidade da distribuição da Sagrada Comunhão na mão dos fiéis, indicando as razões (litúrgicas, pastorais, religiosas, etc.). Fica, portanto, confirmada a norma vigente; 3º) Se, apesar disso, algumas Conferências Episcopais julgarem dever permitir essa inovação, deverão recorrer à Santa Sé e ater-se depois, se for concedida a licença pedida, às normas e instruções que a acompanharem”.
A Congregação para o Culto Divino publicou em 29 de maio de 1969 a instrução Memoriale Domini, contendo a legislação vigente sobre a justificativa, a qual poderia sintentizar-se assim: A proibição da comunhão na mão continua vigente no mundo inteiro, e exortam-se vivamente os bispos, sacerdotes e fiéis a que se submetam diligentemente à lei reafirmada. Contudo, onde tal uso tivesse sido introduzido de maneira ilícita, prevê-se a possibilidade da concessão de um indulto aos setores que não estão dispostos a obedecer a esta exortação. Em tais casos, as conferências episcopais respectivas (com a aprovação de dois terços de seus membros) poderiam pedir a Roma uma autorização para que cada bispo na sua diocese, segundo sua prudência e consciência, pudesse permitir a prática da comunhão na mão.
Com essa concessão — segundo os documentos transcritos por Mons. Bugnini — procurava-se evitar que “nestes tempos de forte contestação, a autoridade não fracassasse na sua tentativa, mantendo uma proibição que dificilmente seria seguida na prática”, já que, ao estudar as diversas soluções possíveis, se advertia: “É de se prever também uma reação violenta em algumas zonas, e uma desobediência mais difundida onde o uso já tenha sido introduzido”.
Contudo, a vontade claramente restritiva do legislador indicava que a concessão deveria ser interpretada e aplicada de modo a favorecer o menos possível a difusão de tal costume. Esta legislação nunca foi modificada, e nem estendida posteriormente a possibilidade de se introduzir a comunhão na mão.
Algumas conferências episcopais insistiram nos pedidos de indulto, mesmo em lugares onde previamente havia sido verificada a ausência das condições requeridas para tal. A concessão demasiadamente fácil de indulto pelo dicastério pertinente, associada ao absoluto silêncio sobre a desobediência irredutível –– era o centro do problema –– conduziram a que a prática da comunhão na mão se estendesse quase que universalmente.
Descoberta ou retrocesso?
Na instrução Memoriale Domini, afirma-se claramente que, se bem que no cristianismo primitivo a sagrada comunhão fosse recebida normalmente na mão, “com o passar do tempo aprofundou-se o conhecimento do mistério eucarístico, de sua eficácia e da presença de Jesus Cristo nele, de modo que, tanto pelo senso de reverência para com o Sacramento como pelo senso de humildade com o qual é necessário recebê-lo, se introduziu a prática de se colocar na língua do comungante a sagrada Forma”.
Essa mudança constituiu um verdadeiro progresso. Nos antigos textos patrísticos não se menciona que os Padres da Igreja tenham encontrado qualquer vantagem específica em comungar do modo primitivo, nem que tenham feito elogios a essa prática enquanto tal, pois simplesmente não conheciam outra. Assim, em determinado momento um uso [na língua] acabou por substituir o outro, a ponto de o primeiro [na mão] não ter sido somente abandonado, mas uma vez por todas explicitamente proibido.
O estudo de Mons. Laise chama a atenção para o fato de que a nova prática não seria decorrente da “descoberta” de uma “antiga tradição”, consistente “em tornar a receber a comunhão como na Igreja primitiva e dos padres”.
A intromissão do “Catecismo Holandês”...
O uso de comungar na mão foi retomado séculos mais tarde pelos protestantes, com uma clara conotação doutrinária. Segundo Martin Bucer, assessor da reforma anglicana, a distribuição da comunhão na mão se destinava a combater duas “superstições”: a falsa honra que se pretende atribuir àquele Sacramento e a “perversa crença” de que as mãos dos ministros, por causa da unção recebida na ordenação, fossem mais santas do que as dos leigos.
Por isso, quando na segunda metade do século XX a comunhão na mão começou a penetrar nos ambientes católicos, já não se tratava de um mero retorno ao uso primitivo: a partir da reforma protestante e nos últimos séculos, tal uso havia adquirido um sentido contrário à doutrina católica sobre a presença real e o sacerdócio.
Não é de estranhar que, justamente num dos primeiros lugares onde a comunhão na mão se introduziu abusivamente, tivesse sido publicado pouco tempo antes um Novo Catecismo, mais conhecido como Catecismo Holandês, encomendado pelo episcopado holandês e apresentado mediante uma Carta Pastoral Coletiva. Nele se colocava em dúvida a presença real e substancial de Cristo na Eucaristia, dava-se uma explicação inadmissível da transubstanciação e se negava qualquer forma de presença de Jesus Cristo nas partículas ou fragmentos da Hóstia após a consagração. De outro lado, confundia-se o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio hierárquico.
A Santa Sé impôs numerosas modificações a esse catecismo, sendo 14 principais e 45 menores.
“Ressaltar a verdadeira presença real na Eucaristia”
Trecho de uma entrevista do Mestre de Celebrações Litúrgicas Pontifícias,
Mons. Guido Marini, organizada por Gianluigi Biccini para as páginas do
“Osservatore Romano”, 26 de junho de 2008
P: Na recente visita a Santa Maria de Leuca e Brindisi, o Papa distribuiu a comunhão aos fiéis na boca e de joelhos. É uma prática destinada a se tornar habitual nas celebrações papais?
R: Parece-me claro que sim. A propósito, não se pode esquecer que sobre a distribuição da comunhão na mão é preciso levar em conta, do ponto de vista jurídico, que continua vigente até o momento um indulto de lei universal concedido pela Santa Sé àquelas conferências episcopais que a solicitaram. O procedimento de Bento XVI procura sublinhar a vigência da norma válida para toda a Igreja.
Ademais, pode-se perceber inclusive a preferência do Pontífice pela distribuição da comunhão na boca e de joelhos, pois, além de ressaltar a verdadeira presença real na Eucaristia, ajuda a devoção dos fiéis e apresenta com mais facilidade o sentido do mistério. Aspectos que no nosso tempo, pastoralmente falando, urge salientar e reconquistar.
Um modo vale o mesmo que o outro?
A partir da pseudo-reforma protestante e nos últimos séculos, o uso de dar a comunhão na mão havia adquirido um sentido contrário à doutrina católica sobre a presença real e o sacerdócio.
Outro aspecto tratado pelo bispo argentino é que, mesmo onde o uso da comunhão na mão está admitido, não se trata de uma opção a mais, proposta pela Igreja com valor igual ao outro de uso vigente. Com efeito, a posição da Santa Sé sobre o modo de comungar não é indiferente: a comunhão na boca foi o modo claramente recomendado, enquanto o outro é somente tolerado, devendo-se, além disso, tomar uma série de precauções, especialmente no que se refere à limpeza das mãos e ao cuidado atento com a partícula (prescrições que são raramente tomadas em conta, na prática).
Conforme afirma a instrução Memoriale Domini, a modalidade de comungar na boca, que há um milênio substituiu universalmente a prática de receber a comunhão na mão, “é própria à preparação requerida para se receber o Corpo do Senhor de modo mais proveitoso possível”; e “assegura mais eficazmente que a Sagrada Comunhão seja distribuída com reverência, decoro e dignidade, afastando assim todo perigo de se profanar as sagradas espécies; [...] prestando atenção com diligência nos cuidados que a Igreja sempre recomendou também no tocante às menores partículas da Sagrada Forma”.
Nesta e na foto acima, “comunhão” e “consagração” em cerimônia da confissão religiosa episcopal.
Com a comunhão na mão, necessitamos sempre de um milagre para que uma partícula não caia por terra ou não fique um pequeno fragmento aderido à pele. Como recordava Paulo VI na Mysterium Fidei, “os fiéis se julgariam culpados, ‘e com razão’, se, recebido o corpo do Senhor, inclusive conservando-o com toda cautela e veneração, caísse por negligência qualquer fragmento”.
Tanto o pensamento dos Padres, como a mudança no modo de receber a comunhão no final do primeiro milênio, e ainda os argumentos de Paulo VI para negar a reintrodução do modo antigo, refletem a única fé da Igreja na presença real, substancial e permanente, até mesmo nas menores partículas, as quais exigem atenção e adoração.