sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A Eucaristia: Sacrifício e Sacramento doServo de Deus Bispo Fulton J. Sheen

Servo de Deus Bispo Fulton J. Sheen
Introdução da Una Voce Brasil
Muitos autores do nosso tempo se debruçaram sobre a liturgia da Igreja a fim de resgatar a sua espiritualidade e, assim, dar aos fiéis a possibilidade de participarem ativamente dos santos mistérios.
Através de memoráveis manuais e textos mistagógicos – que parecem repousar num passado distante, abandonados de todas as formas pelos experts em liturgia de hoje – esses “apóstolos da liturgia” descortinavam aquilo que nossos olhos podiam ver, mas não compreender.
Eles o faziam sem a pretensão de destruir o mistério, mas tinham em mente que a compreensão humana, embora pudesse ser melhorada, jamais poderia captar plenamente o mistério litúrgico, sobretudo a realidade mística da missa católica. Um dos pecados do nosso tempo, inclusive, é querer tornar a missa completamente compreensível, desprovida de uma realidade sobrenatural ultima e transcendente; de um lado temos os habituais liturgistas de paróquia que, através do seu minimalismo criativo, desnudam o rito da Igreja e o transformam num espetáculo humano. Do outro lado, temos aqueles que se apegam com grande facilidade e paixão aos brilhosos brocados da casula. Sem dúvida a dignidade da liturgia passa por uma preparação adequada das vestes, do estudo cuidadoso das rubricas, mas estes são acessórios da liturgia e não o fim ou o determinante da natureza litúrgica.
O texto do arcebispo Fulton Sheen, que caminha para a honra dos altares, é carregado de um simbolismo mistagógico e poético. Ao comparar, de início, a eucaristia com o alimento que ingerimos, em nada o arcebispo questiona a presença real nas espécies consagradas – como fazem os protestantes e alguns católicos liberais que afirmam ser o pão consagrado em nossos altares apenas pão.
O texto que apresentamos faz um verdadeiro caminho pedagógico a fim de iniciar o leitor numa compreensão da Eucaristia enquanto sacrifício (compreensão esquecida ou mesmo ignorada hoje em dia). É um texto que percorre, como dito, um caminho; começa com exemplos ordinários e quase indignos para nos aproximar, lenta e gradualmente, desta grande realidade do Sacrifício.
Esperamos que este texto possa enriquecer muitos grupos que buscam um material formativo de qualidade!

A Eucaristia: Sacrifício e Sacramento
O sacramento da Eucaristia tem duas faces: é tanto sacrifício e um sacramento. Na medida em que a vida biológica não é senão um reflexo, um eco tênue e uma sombra da vida divina, nós podemos encontrar analogias na ordem natural para as belezas do divino. A própria natureza não tem um duplo aspecto: um sacrifício e um sacramento? Os legumes que são servidos à mesa, a carne que se apresenta no prato, são os sacramentos naturais do corpo do homem. Através deles, ele vive. Se eles fossem dotados de fala, eles diriam: “A menos que tenha comunhão comigo, você não vai viver”.
Mas se alguém pergunta sobre a forma como a menor criação dos químicos, legumes ou carnes passaram a ser o sacramento ou a comunhão do homem, a pessoa é imediatamente introduzida à ideia de sacrifício. Será que os legumes não têm de ser puxados por suas raízes da terra, submetidos à lei da morte, e, em seguida, passar pela provação de fogo antes que eles possam se tornar o sacramento da vida física ou ter comunhão com o corpo? Não foi a carne no prato uma vez uma coisa viva, e que não foi submetida à faca, o seu sangue derramado no solo de um Getsêmani e de um Calvário natural antes ele estava apto a ser apresentado ao homem?
A natureza, portanto, sugere que um sacrifício deve preceder um sacramento, a morte é o prelúdio para uma comunhão. De algum modo, a menos que a coisa morra, ela não começa viver num reino superior. Para se ter, por exemplo, um serviço de comunhão sem um sacrifício seria, na ordem natural, como comer os nossos legumes crus, e nossa carne em estado bruto. Quando ficamos cara a cara com as realidades da vida, vemos que vivemos através do que matamos. Elevando isto à ordem sobrenatural, ainda vivemos através do que matamos. Foram os nossos pecados que mataram Cristo no Calvário e ainda, pelo poder de Deus ressuscitou dentre os mortos e reinando gloriosamente no céu, Ele agora se torna a nossa vida e tem comunhão conosco e nós com Ele. Na ordem divina, deve haver o sacrifício ou a Consagração da Missa antes que possa haver o sacramento ou a Comunhão da alma e Deus.
Relação do Batismo e da Eucaristia
O batismo é a iniciação à vida cristã, e corresponde na ordem biológica ao início da vida. Mas o nascimento para a vida divina vem somente através de uma morte, isto é, uma imersão em água, que simboliza misticamente morrer e ser sepultado com Cristo. A Eucaristia é um sacrifício, mas também incorpora-nos à morte de Cristo. O batismo, no entanto, é uma representação mais passiva daquela morte, especialmente em uma criança, onde a vontade do bebê não se apresenta, exceto através dos padrinhos. A Eucaristia é uma representação muito mais ativa da morte de Cristo, porque a Missa é uma apresentação incruenta da morte sacrificial de Cristo fora das muralhas de Jerusalém.
Os Padres da Igreja estavam constantemente impressionados com a relação entre o Batismo e a Eucaristia, o sangue e a água que fluíram do lado de Cristo na Cruz tinham um significado profundo. A água era o símbolo da nossa regeneração e, portanto, denotava Batismo; o sangue, o preço da nossa redenção, foi o sinal da Eucaristia.
Isso levanta a questão: se há uma relação com a morte de Cristo, em ambos os sacramentos, qual é a diferença entre elas? Uma das diferenças é que no Batismo e demais sacramentos, com exceção da Eucaristia, nós estamos unidos a Cristo simplesmente por uma participação de Sua graça, mas na Eucaristia, Cristo existe substancialmente e é real e verdadeiramente presente – Corpo, Sangue, alma e Divindade. Na Eucaristia, o homem percebe de forma mais completa a sua incorporação à morte e ressurreição de Cristo do que no Batismo.
Na ordem física, o nascimento sempre dá semelhança com ambos os pais, mas quando uma mãe amamenta seu filho, há um novo vínculo estabelecido entre a criança e a mãe. Assim, no Batismo, há uma semelhança com a natureza divina criada, na medida em que somos feitos “outros Cristos”, mas na Eucaristia, recebemos a própria substância do próprio Cristo. Devido à relação estreita entre os dois sacramentos, o Concílio de Mayence em 1549 orientou os padres para administrar o Batismo pela manhã, durante o curso da Missa, ou, pelo menos, logo após a Missa se possível.
Há um pouco da mesma relação existente entre o Batismo e a Eucaristia, como existe entre a fé e a caridade ou amor perfeito. O batismo é o sacramento da fé, porque é o fundamento da vida espiritual. A Eucaristia é o sacramento da caridade ou do amor porque é a reapresentação do ato perfeito de amor de Cristo, ou seja, a Sua morte na Cruz e a doação de Si mesmo a nós na Santa Comunhão.
O Antigo Testamento e a Eucaristia
Levaria páginas para revelar a prefiguração do sacramento da Eucaristia no Antigo Testamento. Melquisedeque oferecendo pão e vinho era uma figura do próprio Cristo, que escolheu o pão e o vinho na noite da Última Ceia como os elementos para tanto o sacrifício como para o sacramento. O maná que caiu no deserto era também um símbolo da Eucaristia, que Nosso Senhor disse que era Ele mesmo: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu” (João 5:51). São Paulo, pegando a analogia, disse que o que os judeus comeram no deserto era uma figura do nosso alimento espiritual: “Todos comeram o alimento profético mesmo …. Somos nós que foram prenunciado nestes eventos (I Corinto . 10:3, 6).
O sangue do cordeiro pascal, aspergido nos batentes para preservar os judeus da destruição, era um sinal não ainda de uma realidade, mas de uma figura do sangue de Cristo aspergido sobre as nossas almas, o que permitiria poupar-nos do mal. Porque o cordeiro pascal era uma figura de Cristo, foi na festa da Páscoa que Nosso Senhor deu à Sua Igreja a Eucaristia que Ele tinha prometido mais de um ano antes em Cafarnaum.
A Eucaristia como sacrifício, ou a Missa
A Missa tem três partes importantes: o Ofertório, a Consagração e a Comunhão. Na ordem do amor humano, estes correspondem ao noivado, à cerimônia de casamento, e à consumação do casamento. Quando um homem torna-se noivo de uma mulher, ele geralmente traz-lhe o presente de um anel precioso, não é de lata ou de palha, porque estes representam nenhum sacrifício. Independentemente do quanto ele pôde pagar pelo anel, ele ainda arranca a etiqueta de preço, a fim de que sua amada nunca possa estabelecer uma correspondência entre o preço do presente e do seu amor. Não importa o quanto ele lhe deu, o presente para ele pareceria inadequado. O anel é redondo, a fim de expressar a eternidade do seu amor, que não tem começo nem fim; é precioso, porque é um símbolo da total disponibilidade em dar a sua personalidade para a amada.
A missa também tem um noivado que corresponde ao Ofertório da Missa, em que os fiéis trazem os dons do pão e do vinho, ou seu equivalente, que compram pão e vinho. Como o anel é um símbolo do amante oferecendo-se à amada, assim também o pão e o vinho são os símbolos de uma pessoa a oferecer-se para Cristo. Isto é evidente em vários aspectos: primeiro, o pão e o vinho tradicionalmente alimentam o homem e lhe dão vida, trazendo o que era a substância de sua vida, é equivalente a dar a si mesmo. Em segundo lugar, a disposição de sacrificar-se pela amada é revelada no pão e no vinho, não há duas substâncias que têm que se submeter mais para se tornarem o que são do que o trigo e a uva. Um passa através do Getsêmani de um moinho e o outro através do Calvário da prensa antes que possam ser apresentados a Amada no altar. No ofertório, portanto, sob a aparência de pão e vinho, os fiéis estão a oferecer-se a Cristo.
Após o noivado vem a cerimônia de casamento em que o amante se sacrifica pela amada, e a amada se entrega com devoção ao amante. O noivo praticamente diz: “A minha maior liberdade é ser seu escravo. Eu dou a minha individualidade a fim de servi-la“. A união das mãos na cerimônia de casamento é um símbolo da transferência de si mesmo ao outro si: “Eu sou seu e você é meu. Quero morrer para mim mesmo, para viver em você, minha amada. Eu não posso viver para você, a menos que eu desista de mim mesmo. Então eu digo a você: ‘este é o meu Corpo, este é meu sangue‘”.
Na Missa, os fiéis já estão presentes no altar sob a aparência de pão e vinho. No momento da Consagração da Missa, quando o sacerdote, como Cristo, pronuncia as palavras “Este é o Meu Corpo” e “Este é o Meu Sangue”, a substância do pão se transforma na substância do corpo de Cristo, e a substância do vinho torna-se a substância do sangue de Cristo. Naquele momento, os fiéis estão dizendo em um sentido secundário com o padre: “Este é o meu corpo, este é o meu sangue. Leve! Não quero mais para mim mesmo. A própria substância do meu ser, meu intelecto e minha vontade – Mude! Transubstancie! Para que o meu ego se perca em Ti, para que meu intelecto seja um com a Tua verdade, e a minha vontade seja uma com Teus desejos! Eu não me importo se as espécies ou aparências da minha vida permanecerem, isto é, meus deveres, minha profissão, meus compromissos no tempo e no espaço. Mas o que eu sou substancialmente, eu dou a Ti“.
Na ordem humana, após o noivado e o casamento vem a consumação do casamento. Todo o amor anseia por unidade. Correspondência por carta ou pela fala, não pode satisfazer esse anseio instintivo de dois corações a se perderem um no outro. Deve, portanto, vir algum momento de grande êxtase em que o amor torna-se profundo demais para palavras, esta é a comunhão do corpo e do sangue com o corpo e sangue na unidade, que não dura muito tempo, mas é uma antecipação do céu.
O ato conjugal é nada além de uma imagem frágil e sombria da comunhão em que, depois de ter se oferecido a nós mesmos sob a aparência de pão e vinho e ter morrido em nosso eu interior, que agora começa a desfrutar dessa união extática com Cristo na Santa Comunhão – uma unidade que é, na linguagem do Thompson, “uma paixão sem paixão, uma tranquilidade selvagem“. Este é o momento em que os corações famintos comungam com o Pão da Vida; este é o arrebatamento em que se cumpre “o amor apenas um pouco aquém de todo o amor” e o êxtase que deixa todas as outras dores de êxtases.
O Sacrifício da Missa pode ser apresentado sob outra analogia. Imagine uma casa que tinha duas grandes janelas em lados opostos. Uma janela fita um vale e a outra para uma montanha elevada. O proprietário pode contemplar ambos e de alguma forma ver que eles estavam relacionados: o vale é a montanha humilhada, a montanha é o vale exaltado.
O Sacrifício da Missa é algo parecido com isso. Cada igreja, de certa forma, olha para um vale, o vale da morte e da humilhação no qual vemos uma cruz. Mas também olha para uma montanha, uma montanha eterna, a montanha do céu, onde Cristo reina gloriosamente. Como o vale e a montanha estão relacionados, como humilhação e a exaltação, de modo que o Sacrifício da Missa está relacionado ao Calvário no vale e com Cristo no céu e as colinas eternas.
Todos os três, o Calvário, a Missa, e Cristo glorificado no céu são diferentes níveis do grande ato de amor eterno. O Cristo, que apareceu no céu, como o cordeiro morto desde o começo do mundo, em um determinado momento no tempo, veio a esta terra e ofereceu sua vida em redenção pelos pecados dos homens. Em seguida, subiu ao céu, onde o mesmo ato eterno de amor continua, enquanto Ele intercede pela humanidade, mostrando as cicatrizes de seu amor ao Pai celestial. É verdade, agonia e crucificação são coisas passageiras, mas a obediência e o amor que os inspiraram não são. Aos olhos do Pai, o Filho feito Homem ama sempre até a morte. O patriota, que lamenta por ter apenas uma vida para dar ao seu país, teria gostado de ter feito seu sacrifício eterno. Sendo homem, ele não poderia fazê-lo. Mas Cristo, sendo Deus e homem, podia.
A Missa, portanto, olha para trás e para frente. Porque vivemos no tempo e podemos usar somente símbolos terrestres, vemos sucessivamente que não é senão um movimento de amor eterno. Se um rolo de filme fosse dotado de consciência, ele veria e compreenderia a história do filme de uma vez; mas nós não a compreenderíamos até vê-la desdobrada sobre a tela. Assim acontece com amor com o qual Cristo preparou para a Sua vinda no Antigo Testamento, ofereceu a Si mesmo no Calvário, e agora reapresenta-o em sacrifício na Missa. A missa, portanto, não é outro sacrifício, mas uma nova apresentação da Vítima eterna e sua aplicação para nós. Assistir a Missa é o mesmo que assistir ao Calvário. Mas há diferenças.
Na Cruz, Nosso Senhor ofereceu-se por toda a humanidade; na Missa fazemos aplicação daquela morte a nós mesmos e o nosso sacrifício se une com o Seu. A desvantagem de não ter vivido na época de Cristo é anulada pela Missa. Na Cruz, Ele potencialmente redimiu toda a humanidade; na Missa nós efetivamos aquela Redenção. O Calvário aconteceu em um momento definido no tempo e sobre uma colina em particular no espaço. A Missa temporaliza e localiza aquele ato de amor eterno.
O sacrifício do Calvário foi oferecido de forma sangrenta pela separação do seu sangue de seu corpo. Na missa, esta morte é mística e sacramentalmente apresentada de modo incruento, pela consagração separada do pão e vinho. Os dois não são consagrados juntos por palavras tais como “Este é o meu corpo e meu sangue”, mas sim, seguindo as palavras de Nosso Senhor: “Isto é meu corpo” é dito sobre o pão e, depois, “Este é o Meu Sangue” é dito sobre o vinho. A consagração separada é uma espécie de espada mística dividindo corpo e sangue, que é a forma que Nosso Senhor morreu no Calvário.
Suponha que houve uma estação de rádio eterna que enviou ondas eternas da sabedoria e da iluminação. As pessoas que viveram em épocas diferentes iriam sintonizar nessa sabedoria, assimilá-la e aplicá-la para si. O ato eterno do amor de Cristo é algo a que sintonizamos, como aparecem em sucessivas eras da história através da Missa. A missa, portanto, empresta sua realidade e sua eficácia do Calvário e não tem nenhum significado fora dele. Quem assiste à Missa levanta a Cruz de Cristo do solo do Calvário e a planta no centro do seu próprio coração.
Este é o único ato perfeito de amor, sacrifício, gratidão e obediência que podemos sempre prestar a Deus, ou seja, aquilo que é oferecido pelo Seu Divino Filho encarnado. De e por nós mesmos, não podemos tocar o teto porque não somos altos o suficiente. De e por nós mesmos, não podemos tocar em Deus. Nós precisamos de um mediador, alguém que é Deus e Homem, que é Cristo. Nenhuma oração humana, nenhum ato humano de auto-negação, nenhum sacrifício humano é suficiente para perfurar o céu. É apenas o sacrifício da Cruz que pode fazê-lo, e isso é feito na Missa. Como nós oferecemos, nós nos penduramos, por assim dizer, em suas vestes, que arrastam Seus pés na Ascensão, nos agarramos a Suas mãos perfuradas na oferta de Si mesmo ao Pai Celestial. Estando escondidas nEle, nossas orações e sacrifícios têm seu valor. Na Missa estamos mais uma vez no Calvário, ombro a ombro com Maria Madalena e João, enquanto melancolicamente olhando por cima dos nossos ombros para os carrascos que ainda jogam dados para as vestes do Senhor.
O sacerdote que oferece o sacrifício apenas empresta a Cristo a sua voz e seus dedos. É Cristo que é o Sumo Sacerdote; é Cristo quem é a vítima. Em todos os sacrifícios pagãos e nos sacrifícios judaicos, a vítima estava sempre separada do sacerdote. Poderia ser uma cabra, um cordeiro ou um boi. Mas quando Cristo veio, Ele o Sacerdote se ofereceu como vítima. Na Missa, é Cristo que ainda oferece a Si mesmo e quem é a vítima a quem nos tornamos unidos. O altar, portanto, não está relacionado com a congregação como o palco está relacionado a um público no teatro. A mesa da comunhão não é o mesmo que uma ribalta, que divide o drama do espectador. Todos os membros da Igreja têm uma espécie de sacerdócio, na medida em que eles oferecem-se com o Sumo e Eterno este ato de amor eterno. Os leigos participam na vida e no poder de Cristo, pois “Tu nos fizeste uma raça real de sacerdotes para servir a Deus” (Apoc. 5:10).
A expressão, por vezes usado pelos católicos “ouvir missa” é uma indicação de quão pouco se sabe da sua participação ativa, não só com Cristo, mas também com todos os santos e membros da Igreja até o fim dos tempos. Essa ação social da Igreja é indicada em algumas orações da Missa, por exemplo, imediatamente antes da Consagração, Deus é chamado a receber a oferta que “nós, vossos servos, com o vosso povo santo“, e depois da Consagração os fiéis mais uma vez dizem: “nós oferecemos à vossa augusta Majestade, de vossos dons e dádivas.” Todos participam, mas quanto mais perto estamos do mistério, mais nos tornamos um só com Cristo.
Nenhum homem pode nunca vir a plenitude real de sua personalidade por reflexão ou contemplação, ele tem que agir para fora. É por isso que através de todas as idades o homem colocou a mão sobre o melhor do rebanho e destruiu a fim de indicar a oferta e entrega de si mesmo. Pela imposição de mãos sobre o animal, ele se identificou com ele. Então ele o consumiu, a fim de ganhar alguma identificação com aquele a quem foi oferecido. Na Missa, todos os antigos prenúncios sombrios do sacrifício supremo são cumpridos. O homem imola-se com Cristo, dizendo-lhe para tomar o seu corpo e o seu sangue. Através desta destruição do ego, há um vazio e um vazio criado, o que torna possível para a Divindade preencher o vácuo e santificar o ofertante. O homem morre ao passado, a fim de que ele possa viver no futuro. Ele escolhe estar unido com o seu Rei Divino em alguma forma de morte, para que ele possa participar da sua ressurreição e glória. Assim, morrendo ele vive; castigado ele não está morto; triste ele sempre se alegra, dando o tempo, ele encontra a eternidade. Nada é trocado por tudo. A pobreza se transforma em riqueza, e não tendo nada, ele começa a possuir todas as coisas.

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