sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A missa e a morte de Garrigou-Lagrange

A MISSA E A MORTE I

A missa e a morte – Primeira parte

Podemos aprofundar-nos, de modo abstracto e especulativo, na doutrina cristã e católica do sacrifício da missa; igualmente, podemos fazê-lo de modo concreto e vivido, unindo-se à oblação do Salvador de forma pessoal, e mais particularmente, fazendo por antecipação o sacrifício da própria vida, para obter a graça de uma morte santa.
Mais que ninguém, Maria associa-se ao sacrifício de seu Filho, participando de todos os sofrimentos, na medida de seu amor por Ele.
Os santos ― em especial, os estigmatizados ― participaram extraordinariamente dos sofrimentos e dos méritos do Salvador, um São Francisco de Assis, uma Catarina de Sena, por exemplo; mas, quão profunda tenha sido tal união, fora contudo pouco em comparação a de Maria. Através de um conhecimento experimental ― dos mais íntimos ― e da grandeza de seu amor, Maria ao pé da Cruz penetrou nas profundidades do mistério da Redenção, mais que São João, mais que São Pedro, mais que São Paulo. Ela penetrou ali na medida da plenitude da graça que recebera, da sua fé, do seu amor, dos dons de inteligência e sabedoria que possuía em grau proporcionado à sua caridade.
A fim de que penetremos nesse mistério, aprendendo dele lições práticas que nos permitam preparar-nos para uma boa morte, pensemos no sacrifício que devemos fazer durante nossa vida, em união com Maria, ao pé da Cruz.
Frequentemente, exortamos os moribundos a fazer o sacrifício de suas vidas, para dar um valor de expiação, de mérito e de impetração aos seus sofrimentos derradeiros. Frequentemente, os Soberanos Pontífices ― em particular, [São] Pio X ― convidaram os fiéis a oferecer por antecipação os sofrimentos – quiçá atrozes ― do último instante, para assim bem se disporem a oferecê-los de melhor grado à hora da morte.
Mas para que se faça, desde agora, o sacrifício de nossa vida, é mister fazê-lo em união com o sacrifício do Salvador perpetuado sacramentalmente no altar, durante a Missa, e em união com o sacrifício de Maria, Medianeira e Co-redentora. E para bem observar tudo o que tal oblação deve conter, convém lembrar-se aqui dos quatro fins do sacrifício: a adoração, a reparação, a suplicação e a acção de graças.

Consideramo-las sucessivamente, examinando as lições que trazem.

Garrigou-Lagrange: La vie spirituelle nº 194, nov. 1935