80. Na Igreja católica, a razão humana iluminada pela fé sempre se esforçou por ter a maior consciência possível das coisas divinas; por isso é natural que também o povo cristão pergunte piamente em que sentido se diz no Cânon do sacrifício eucarístico que também ele o oferece. Para satisfazer esse piedoso desejo apraz-nos tratar aqui do assunto com clareza e concisão.
81. Há, acima de tudo, razões muito remotas: freqentemente acontece que os fiéis, assistindo aos sagrados ritos, unam alternadamente as suas orações às orações do sacerdote; alguma vez; ainda, acontece - isto antigamente se verificava com maior freqüência - que ofereçam ao ministro do altar o pão e o vinho para que se tornem corpo e sangue de Cristo; e, enfim, porque, com as esmolas, fazem com que o sacerdote ofereça por eles a vítima divina.
83. Para não dar ensejo a erros perigosos neste importantíssimo argumento, é necessário precisar com exatidão o significado do termo "oferta". A imolação incruenta por meio da qual, depois que foram pronunciadas as palavras da consagração, Cristo está presente no altar no estado de vítima, é realizada só pelo sacerdote enquanto representa a pessoa de Cristo e não enquanto representa a pessoa dos fiéis. Colocando, porém, no altar a vítima divina, o sacerdote a apresenta a Deus Pai como oblação à glória da SS. Trindade e para o bem de todas as almas. Dessa oblação propriamente dita os fiéis participam do modo que lhes é possível e por um duplo motivo: porque oferecem o sacrifício não somente pelas mãos do sacerdote, mas, de certo modo ainda, junto com ele; e ainda porque com essa participação também a oferta feita pelo povo pertence ao culto litúrgico. Que os fiéis oferecem o sacrifício por meio do sacerdote, é claro, pois o ministro do altar age na pessoa de Cristo enquanto Cabeça, que oferece em nome de todos os membros; pelo que, em bom direito, se diz que toda a Igreja, por meio de Cristo, realiza a oblação da vítima. Quando, pois, se diz que o povo oferece juntamente com o sacerdote, não se afirma que os membros da Igreja de maneira idêntica à do próprio sacerdote realizam o rito litúrgico visível - o que pertence somente ao ministro de Deus para isso designado - mas sim que une os seus votos de louvor, de impetração, de expiação e a sua ação de graças à intenção do sacerdote, aliás do próprio sumo pontífice, a fim de que sejam apresentados a Deus Pai na própria oblação da vítima, embora com o rito externo do sacerdote. É necessário, com efeito, que o rito externo do sacrifício manifeste, por sua natureza, o culto interno; ora, o sacrifício da nova Lei significa aquele obséquio supremo com o qual o próprio principal ofertante, que é Cristo, e com ele e por ele todos os seus membros místicos, honram devidamente a Deus.
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