CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 7 de janeiro de 2011 (ZENIT.org) – Apresentamos a catequese de Bento XVI dessa quarta-feira, 5 de janeiro, durante a audiência geral com os peregrinos na Sala Paulo VI, no Vaticano.
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Queridos irmãos e irmãs!
Tenho a satisfação de recebê-los nesta primeira audiência geral do ano novo e com todo o meu coração ofereço a vocês e seus familiares meus melhores desejos. O Senhor do tempo e da história guie nossos passos no caminho do bem e conceda a todos graça abundante e prosperidade. Ainda imersos na luz do santo Natal, que nos convida à alegria pela vinda do Salvador, estamos hoje na véspera da Epifania, na qual celebramos a manifestação do Senhor a todas as nações. A festa do Natal continua fascinando hoje, mais do que qualquer outra celebração da Igreja; continua fascinando porque nela se intui de alguma forma que o nascimento de Jesus está relacionado com as aspirações e esperanças mais profundas do ser humano. O consumismo pode desviar essa nostalgia interior, mas, se há no coração o desejo de acolher aquela criança que traz a novidade de Deus que veio para nos dar a vida em sua plenitude, as luzes da decoração de Natal podem se tornar muitas vezes um reflexo da Luz que se acende com a encarnação de Deus.
As celebrações litúrgicas destes dias santos nos permitiram viver de maneira misteriosa, porém real, a entrada do Filho de Deus no mundo, e fomos iluminados mais uma vez pela luz de seu esplendor. Cada celebração é presença atual do mistério de Cristo e nela se prolonga a história da salvação. A propósito do Natal, o Papa São Leão Magno diz: “Mesmo que a sequência de ações corporais já tenha passado, como foi ordenado no desígnio eterno..., nós ainda adoramos continuamente o mesmo parto da Virgem que produz nossa salvação” (Sermão sobre a Natividade do Senhor, 29,2), e afirma: "porque aquele dia não passou de forma tal que tenha passado a força da obra que então foi revelada” (Sermão sobre a Epifania, 36,1). Celebrar os eventos da encarnação do Filho de Deus não é fazer uma simples recordação de fatos do passado, mas é tornar presentes os mistérios que trazem a nossa salvação. Na Liturgia, na celebração dos sacramentos, os mistérios se tornam presentes e eficazes para nós hoje. São Leão Magno diz ainda: “Tudo o que o Filho de Deus fez e ensinou para reconciliar o mundo, não conhecemos somente na história de ações feitas no passado, mas estamos sob o efeito do dinamismo de tais ações no presente” (Sermão 52, 1).
Na Constituição sobre a Sagrada Liturgia, o Concílio Vaticano II enfatiza como a obra da salvação realizada por Cristo continua na Igreja através da celebração dos santos mistérios, através da ação do Espírito Santo. Já no Antigo Testamento, no caminho para a plenitude da fé, temos testemunhos de como a presença e a ação de Deus foi mediada através dos sinais, por exemplo, o do fogo (cf. Ex 3,2 ss, 19:18). Mas, desde a Encarnação acontece algo desconcertante: o regime de contato salvífico com Deus é radicalmente transformado e a carne torna-se instrumento de salvação: Verbum caro factum est, "O Verbo se fez carne", escreve o evangelista João e, um autor cristão do século III, Tertuliano, afirma: Caro salutis est cardo, a carne é o princípio essencial da salvação" (De resurrectione carnis, 8,3: PL 2,806).
O Natal já é o primeiro fruto da sacramentum mysterium-paschale, ou seja, o início do mistério central da salvação que culmina com a paixão, morte e ressurreição, porque Jesus começa a oferecer a si mesmo por amor desde o primeiro momento de sua existência humana no ventre da Virgem Maria. A noite de Natal está, portanto, profundamente ligada à grande vigília da Páscoa, quando a redenção se completa no sacrifício glorioso do Senhor morto e ressuscitado. O próprio presépio, como imagem da encarnação do Verbo, à luz do relato evangélico, já faz alusão à Páscoa, e é interessante ver como em alguns dos ícones da natividade na tradição oriental Jesus menino é representado envolto em panos e recostado numa manjedoura que tem a forma de um sepulcro, numa alusão ao momento em que Ele será deposto da cruz, envolto em uma mortalha e colocado num sepulcro cavado na rocha (cf. Lc 2,7; 23,53). Encarnação e Páscoa não estão uma junta da outra, mas são os dois pontos-chave inseparáveis da única fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus Encarnado e Redentor. Cruz e Ressurreição pressupõem a Encarnação. Só porque verdadeiramente o Filho, e nele o próprio Deus, “desceu” e “se fez carne”, morte e ressurreição de Jesus são eventos contemporâneos e e que dizem respeito a nós, livram-nos da morte e abrem-nos um futuro no qual esta “carne”, a existência terrena e transitória, entrará na eternidade de Deus. Nesta perspectiva unitária do mistério de Cristo, a visita ao presépio orienta a visita à Eucaristia, onde encontramos presente de modo real o Cristo crucificado e ressuscitado, o Cristo vivo.
A celebração litúrgica do Natal, então, não é apenas uma recordação, mas, acima de tudo, mistério; não é só memória, mas também presença. Para compreender o significado desses dois aspectos inseparáveis, devemos viver intensamente o Tempo natalino, como a Igreja o apresenta. Se o considerarmos no sentido mais amplo, ele se estende por quarenta dias, de 25 de dezembro a 2 de fevereiro, da celebração da Noite de Natal, à Maternidade de Maria, à Epifania, ao Batismo de Jesus, às bodas de Caná, à Apresentação no templo, por analogia com o Tempo pascal, que forma uma unidade de cinquenta dias até Pentecostes. A manifestação de Deus na carne é o acontecimento que revelou a Verdade na história. Com efeito, a data de 25 de dezembro, ligada à ideia da manifestação solar – Deus que aparece como uma luz sem ocaso no horizonte da história – nos lembra que não se trata apenas de uma ideia, de que Deus é a plenitude da luz, mas de uma realidade para nós homens já realizada e sempre atual: hoje, como então, Deus se revela na carne, ou seja, no "corpo vivo" da Igreja peregrina no tempo, e nos Sacramentos nos dá a salvação hoje.
Os símbolos das celebrações natalinas, recordados pelas leituras e orações, dão à liturgia deste tempo um profundo sentido de “epifania” de Deus em seu Cristo-Verbo feito carne, isto é, de “manifestação” que possui também um significado escatológico, isto é, que orienta ao fim dos tempos. Já no Advento, as duas vindas, a histórica e a do final da história, estavam diretamente relacionadas; mas é em particular na Epifania e no Batismo de Jesus que a manifestação messiânica se celebra na perspectiva das expectativas escatológicas: a consagração messiânica de Jesus, Verbo encarnado graças à efusão do Espírito Santo em forma visível, leva ao cumprimento do tempo das promessas e inaugura os últimos tempos.
É preciso resgatar essa época de Natal de um revestimento muito moralista e sentimental. A celebração do Natal não nos propõe somente exemplos a imitar, como a humildade e pobreza do Senhor, sua bondade e amor para com os homens; mas é, mais que tudo, o convite a deixarmo-nos transformar totalmente por Aquele que veio em nossa carne. São Leão Magno exclama: "o Filho de Deus... se juntou a nós e uniu-nos para si de tal modo que o rebaixamento de Deus à condição humana se tornasse a elevação do homem às alturas de Deus” (Sermão sobre a Natividade do Senhor 27, 2). A manifestação de Deus é o propósito de Deus para nossa participação na vida divina, para a realização em nós do mistério da sua encarnação. Tal mistério é o cumprimento da vocação do homem. São Leão Magno ainda explica a importância concreta e sempre atual para a vida cristã do mistério do Natal, "as palavras do Evangelho e dos profetas ... inflamam o nosso espírito e nos ensinam a compreender a Natividade do Senhor, esse mistério do Verbo feito carne não tanto como uma recordação de um evento passado, mas como um fato que está ocorrendo diante de nossos olhos ... é como se tivéssemos ainda proclamado na solenidade de hoje: "Anuncio-vos uma grande alegria, que será para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Sermão sobre a Natividade do Senhor, 29, 1). Ele acrescenta: “Reconhece, ó cristão, a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em voltar às antigas misérias da tua vida passada” (Sermão da Natividade do Senhor, 1, 3).
Caros amigos, vivamos este tempo natalino com intensidade: depois de adorar o Filho de Deus feito homem e deitado na manjedoura, somos chamados a passar ao altar do Sacrifício, onde Cristo, o Pão vivo que desceu do céu, oferece-se a nós como verdadeiro alimento para a vida eterna. E o que vimos com nossos olhos, na mesa da Palavra e do pão da Vida, isso que contemplamos, que nossas mãos tocaram, o Verbo feito carne, anunciamo-lo ao mundo com alegria e testemunhemos com generosidade com toda a nossa vida. Renovo, de coração, a todos vós e a vossos queridos saudações para o Ano Novo e desejo-vos uma boa festividade da Epifania.
Traduzido por ZENIT
[Em seguida, o Papa fez um resumo de sua catequese em português, saudou os fiéis de língua portuguesa presentes na audiência e concedeu a todos a sua bênção apostólica.]
“Queridos irmãos e irmãs,
O tempo do Natal nos causa um fascínio particular porque se relaciona com as aspirações e esperanças mais profundas do coração humano. Nas recentes celebrações litúrgicas, vivenciamos, de modo misterioso - mas real - a vinda do Filho de Deus no mundo. Com efeito, celebrar os eventos da encarnação do Filho de Deus não é fazer uma simples recordação de fatos do passado, mas é tornar presente os mistérios que trazem a nossa salvação. Neste sentido, o Natal é o começo do mistério central da salvação – a Páscoa - pois, ao encarnar-se, Jesus dá início ao oferecimento de si mesmo, que culmina com a sua paixão, morte e ressurreição. Assim sendo, a celebração do Natal não somente nos propõe exemplos a serem imitados, como a humildade e pobreza do nosso Salvador, mas, acima de tudo, é um convite para que nos deixemos transformar totalmente por aquele que assumiu a nossa carne.
Saúdo com profunda amizade os peregrinos de língua portuguesa presentes nesta Audiência, particularmente os fiéis vindos do Brasil. Neste início de ano, invoco sobre todos vós as luzes e bênçãos do Céu, para que possais anunciar e testemunhar alegremente, com palavras e obras, a vinda do Verbo que se fez carne. Ide em paz!”
[©Libreria Editrice Vaticana]
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Queridos irmãos e irmãs!
Tenho a satisfação de recebê-los nesta primeira audiência geral do ano novo e com todo o meu coração ofereço a vocês e seus familiares meus melhores desejos. O Senhor do tempo e da história guie nossos passos no caminho do bem e conceda a todos graça abundante e prosperidade. Ainda imersos na luz do santo Natal, que nos convida à alegria pela vinda do Salvador, estamos hoje na véspera da Epifania, na qual celebramos a manifestação do Senhor a todas as nações. A festa do Natal continua fascinando hoje, mais do que qualquer outra celebração da Igreja; continua fascinando porque nela se intui de alguma forma que o nascimento de Jesus está relacionado com as aspirações e esperanças mais profundas do ser humano. O consumismo pode desviar essa nostalgia interior, mas, se há no coração o desejo de acolher aquela criança que traz a novidade de Deus que veio para nos dar a vida em sua plenitude, as luzes da decoração de Natal podem se tornar muitas vezes um reflexo da Luz que se acende com a encarnação de Deus.
As celebrações litúrgicas destes dias santos nos permitiram viver de maneira misteriosa, porém real, a entrada do Filho de Deus no mundo, e fomos iluminados mais uma vez pela luz de seu esplendor. Cada celebração é presença atual do mistério de Cristo e nela se prolonga a história da salvação. A propósito do Natal, o Papa São Leão Magno diz: “Mesmo que a sequência de ações corporais já tenha passado, como foi ordenado no desígnio eterno..., nós ainda adoramos continuamente o mesmo parto da Virgem que produz nossa salvação” (Sermão sobre a Natividade do Senhor, 29,2), e afirma: "porque aquele dia não passou de forma tal que tenha passado a força da obra que então foi revelada” (Sermão sobre a Epifania, 36,1). Celebrar os eventos da encarnação do Filho de Deus não é fazer uma simples recordação de fatos do passado, mas é tornar presentes os mistérios que trazem a nossa salvação. Na Liturgia, na celebração dos sacramentos, os mistérios se tornam presentes e eficazes para nós hoje. São Leão Magno diz ainda: “Tudo o que o Filho de Deus fez e ensinou para reconciliar o mundo, não conhecemos somente na história de ações feitas no passado, mas estamos sob o efeito do dinamismo de tais ações no presente” (Sermão 52, 1).
Na Constituição sobre a Sagrada Liturgia, o Concílio Vaticano II enfatiza como a obra da salvação realizada por Cristo continua na Igreja através da celebração dos santos mistérios, através da ação do Espírito Santo. Já no Antigo Testamento, no caminho para a plenitude da fé, temos testemunhos de como a presença e a ação de Deus foi mediada através dos sinais, por exemplo, o do fogo (cf. Ex 3,2 ss, 19:18). Mas, desde a Encarnação acontece algo desconcertante: o regime de contato salvífico com Deus é radicalmente transformado e a carne torna-se instrumento de salvação: Verbum caro factum est, "O Verbo se fez carne", escreve o evangelista João e, um autor cristão do século III, Tertuliano, afirma: Caro salutis est cardo, a carne é o princípio essencial da salvação" (De resurrectione carnis, 8,3: PL 2,806).
O Natal já é o primeiro fruto da sacramentum mysterium-paschale, ou seja, o início do mistério central da salvação que culmina com a paixão, morte e ressurreição, porque Jesus começa a oferecer a si mesmo por amor desde o primeiro momento de sua existência humana no ventre da Virgem Maria. A noite de Natal está, portanto, profundamente ligada à grande vigília da Páscoa, quando a redenção se completa no sacrifício glorioso do Senhor morto e ressuscitado. O próprio presépio, como imagem da encarnação do Verbo, à luz do relato evangélico, já faz alusão à Páscoa, e é interessante ver como em alguns dos ícones da natividade na tradição oriental Jesus menino é representado envolto em panos e recostado numa manjedoura que tem a forma de um sepulcro, numa alusão ao momento em que Ele será deposto da cruz, envolto em uma mortalha e colocado num sepulcro cavado na rocha (cf. Lc 2,7; 23,53). Encarnação e Páscoa não estão uma junta da outra, mas são os dois pontos-chave inseparáveis da única fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus Encarnado e Redentor. Cruz e Ressurreição pressupõem a Encarnação. Só porque verdadeiramente o Filho, e nele o próprio Deus, “desceu” e “se fez carne”, morte e ressurreição de Jesus são eventos contemporâneos e e que dizem respeito a nós, livram-nos da morte e abrem-nos um futuro no qual esta “carne”, a existência terrena e transitória, entrará na eternidade de Deus. Nesta perspectiva unitária do mistério de Cristo, a visita ao presépio orienta a visita à Eucaristia, onde encontramos presente de modo real o Cristo crucificado e ressuscitado, o Cristo vivo.
A celebração litúrgica do Natal, então, não é apenas uma recordação, mas, acima de tudo, mistério; não é só memória, mas também presença. Para compreender o significado desses dois aspectos inseparáveis, devemos viver intensamente o Tempo natalino, como a Igreja o apresenta. Se o considerarmos no sentido mais amplo, ele se estende por quarenta dias, de 25 de dezembro a 2 de fevereiro, da celebração da Noite de Natal, à Maternidade de Maria, à Epifania, ao Batismo de Jesus, às bodas de Caná, à Apresentação no templo, por analogia com o Tempo pascal, que forma uma unidade de cinquenta dias até Pentecostes. A manifestação de Deus na carne é o acontecimento que revelou a Verdade na história. Com efeito, a data de 25 de dezembro, ligada à ideia da manifestação solar – Deus que aparece como uma luz sem ocaso no horizonte da história – nos lembra que não se trata apenas de uma ideia, de que Deus é a plenitude da luz, mas de uma realidade para nós homens já realizada e sempre atual: hoje, como então, Deus se revela na carne, ou seja, no "corpo vivo" da Igreja peregrina no tempo, e nos Sacramentos nos dá a salvação hoje.
Os símbolos das celebrações natalinas, recordados pelas leituras e orações, dão à liturgia deste tempo um profundo sentido de “epifania” de Deus em seu Cristo-Verbo feito carne, isto é, de “manifestação” que possui também um significado escatológico, isto é, que orienta ao fim dos tempos. Já no Advento, as duas vindas, a histórica e a do final da história, estavam diretamente relacionadas; mas é em particular na Epifania e no Batismo de Jesus que a manifestação messiânica se celebra na perspectiva das expectativas escatológicas: a consagração messiânica de Jesus, Verbo encarnado graças à efusão do Espírito Santo em forma visível, leva ao cumprimento do tempo das promessas e inaugura os últimos tempos.
É preciso resgatar essa época de Natal de um revestimento muito moralista e sentimental. A celebração do Natal não nos propõe somente exemplos a imitar, como a humildade e pobreza do Senhor, sua bondade e amor para com os homens; mas é, mais que tudo, o convite a deixarmo-nos transformar totalmente por Aquele que veio em nossa carne. São Leão Magno exclama: "o Filho de Deus... se juntou a nós e uniu-nos para si de tal modo que o rebaixamento de Deus à condição humana se tornasse a elevação do homem às alturas de Deus” (Sermão sobre a Natividade do Senhor 27, 2). A manifestação de Deus é o propósito de Deus para nossa participação na vida divina, para a realização em nós do mistério da sua encarnação. Tal mistério é o cumprimento da vocação do homem. São Leão Magno ainda explica a importância concreta e sempre atual para a vida cristã do mistério do Natal, "as palavras do Evangelho e dos profetas ... inflamam o nosso espírito e nos ensinam a compreender a Natividade do Senhor, esse mistério do Verbo feito carne não tanto como uma recordação de um evento passado, mas como um fato que está ocorrendo diante de nossos olhos ... é como se tivéssemos ainda proclamado na solenidade de hoje: "Anuncio-vos uma grande alegria, que será para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Sermão sobre a Natividade do Senhor, 29, 1). Ele acrescenta: “Reconhece, ó cristão, a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em voltar às antigas misérias da tua vida passada” (Sermão da Natividade do Senhor, 1, 3).
Caros amigos, vivamos este tempo natalino com intensidade: depois de adorar o Filho de Deus feito homem e deitado na manjedoura, somos chamados a passar ao altar do Sacrifício, onde Cristo, o Pão vivo que desceu do céu, oferece-se a nós como verdadeiro alimento para a vida eterna. E o que vimos com nossos olhos, na mesa da Palavra e do pão da Vida, isso que contemplamos, que nossas mãos tocaram, o Verbo feito carne, anunciamo-lo ao mundo com alegria e testemunhemos com generosidade com toda a nossa vida. Renovo, de coração, a todos vós e a vossos queridos saudações para o Ano Novo e desejo-vos uma boa festividade da Epifania.
Traduzido por ZENIT
[Em seguida, o Papa fez um resumo de sua catequese em português, saudou os fiéis de língua portuguesa presentes na audiência e concedeu a todos a sua bênção apostólica.]
“Queridos irmãos e irmãs,
O tempo do Natal nos causa um fascínio particular porque se relaciona com as aspirações e esperanças mais profundas do coração humano. Nas recentes celebrações litúrgicas, vivenciamos, de modo misterioso - mas real - a vinda do Filho de Deus no mundo. Com efeito, celebrar os eventos da encarnação do Filho de Deus não é fazer uma simples recordação de fatos do passado, mas é tornar presente os mistérios que trazem a nossa salvação. Neste sentido, o Natal é o começo do mistério central da salvação – a Páscoa - pois, ao encarnar-se, Jesus dá início ao oferecimento de si mesmo, que culmina com a sua paixão, morte e ressurreição. Assim sendo, a celebração do Natal não somente nos propõe exemplos a serem imitados, como a humildade e pobreza do nosso Salvador, mas, acima de tudo, é um convite para que nos deixemos transformar totalmente por aquele que assumiu a nossa carne.
Saúdo com profunda amizade os peregrinos de língua portuguesa presentes nesta Audiência, particularmente os fiéis vindos do Brasil. Neste início de ano, invoco sobre todos vós as luzes e bênçãos do Céu, para que possais anunciar e testemunhar alegremente, com palavras e obras, a vinda do Verbo que se fez carne. Ide em paz!”
[©Libreria Editrice Vaticana]