quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Lembrança de padre Divo Barsotti - Monge e teólogo a serviço da Igreja por Paolo Pecciarini

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Fundador da “Comunidade dos filhos de Deus”, padre Divo Barsotti faleceu em Florença (Itália) no dia 15 de fevereiro deste ano. “A morte não existe se realmente existir o Amor”

No Meeting de Rímini, padre Carrón afirmou: “A liberdade, hoje, é um bem tão precioso quanto escasso. Basta perguntar-nos quantos homens verdadeiramente livres nós conhecemos”. Que graça quando Deus suscita homens que têm o estofo da liberdade, que é participada aos que deles se aproximam. É o caso desse grande sacerdote que foi padre Divo Barsotti, falecido em Florença no último dia 15 de fevereiro, com mais de 90 anos de idade. Ele foi o fundador, no pós-guerra, da “Comunidade dos filhos de Deus”, hoje presente em vários países do mundo, tendo escrito vários livros, que foram traduzidos em muitas línguas. Escreveu não só sobre a vida dos santos (especialmente do Oriente cristão), textos de espiritualidade, comentários bíblicos, mas se ocupou também a fundo da literatura: entre os autores que mais apreciava estavam Dostoievski e Leopardi. Não por acaso havia uma recíproca estima entre padre Divo e Dom Giussani. Para ambos, de fato, “tudo nEle consiste”.

Sensus ecclesiae
“O contato com padre Barsotti – recorda padre Silvano Seghi – fazia o coração da gente sobressaltar, porque para ele Cristo era a experiência de uma beleza que se fez carne”. E quem o teve com professor de “espiritualidade litúrgica” e de “teologia sacramental” conserva uma profunda lembrança dele. “Eu me lembro ainda da primeira aula: a liturgia como opus Dei” – conta padre André Bellandi, hoje reitor da Faculdade Teológica da Itália Central –. “André, João (ele nos chamava pelo nome, como se estivesse nos interpelando pessoalmente), o genitivo aí nessa expressão não é primeiramente subjetivo; indica, antes, que a ação não é nossa, pois é Deus que age em nós, Ele é quem tem a iniciativa, sempre!” Não raramente, durante as aulas, os olhos do padre Divo lacrimejavam de emoção frente a esse mysterium amoris que suas palavras nos expunham; outras vezes, com voz firme, repudiava qualquer tentativa teológica de reduzir a Revelação a uma mera projeção do pensamento humano. Muitas vezes eu e outros seminaristas nos oferecíamos para ir de carro buscá-lo em Settignano, ou levá-lo de volta após as aulas. Durante esse trajeto, o diálogo prosseguia e se tornava ao mesmo tempo juízo, preocupação, esperança, referindo-se à vida da Igreja, que passava por tempos particularmente difíceis. O monge e teólogo mostrava, então, todo o seu sensus ecclesiae, junto com uma extrema liberdade de juízo, que não poupava nem eclesiásticos ou teólogos renomados! No entanto, mesmo as considerações mais críticas ou as preocupações mais sérias não obscureciam nunca sua esperança serena e segura, fruto da fé no Ressuscitado e na assistência do seu Espírito”.

A beleza da verdade
Mario Luzi, seu grande amigo e admirador, numa entrevista sobre a poesia disse: “O silêncio é a música do ser. Dentro do silêncio estão também as palavras, mas para elas saírem precisam de um motivo”. Padre Serafino Tognetti, seu sucessor na “Comunidade dos filhos de Deus”, afirma: “Padre Divo foi um homem que dedicou toda a sua vida a transmitir aos homens a beleza da Verdade contemplada na fé: era passional e forte, doce e paterno, solitário e homem de fé inabalável, monge e pregador; era imune às modas e capaz, com a palavra, de iluminar toda uma existência”. Ele escrevera, recentemente, numa das suas anotações: “Nenhuma fuga do tempo leva consigo aquilo que eu vivo. O que vivo entra comigo na Presença dAquele que me ama: nada se perde, mas nEle tudo é recolhido. Não existe a morte se de fato o Amor existe”. Essa é a fonte da sua liberdade frente a todos e da certeza diante do Eterno.
Obrigado, padre Divo!