A boa nova saiu da sala de imprensa do Vaticano: O Papa Bento XVI autorizou a publicação do Decreto, por ele assinado, que reconhece a heroicidade das virtudes de Madre Maria Clara do Menino Jesus e a proclama Venerável. Este passo tão significativo do seu Processo de Canonização, que o dia 06 de Dezembro de 2008 testemunhou, aproxima-nos, um pouco mais, da beatificação. A chancela do Sumo Pontífice vem coroar o ciclo de reflexões, feitas pela Congregação para a Causa dos Santos e abre a porta ao estudo do suposto milagre, ocorrido em 2003, na cidade de Baiona, Espanha: a cura repentina de píoderma gangrenoso, operada por Deus em D. Georgina Trancoso Monteagudo que há 34 anos sofria, horrível mas pacientemente, de braço imóvel amarrado ao peito.
Os menos dados a leituras perguntarão:
quem é esta Madre Maria Clara?
Em breve síntese, dizemos:
Nasce na Amadora, Portugal, a 15 de Junho de 1843, filha de nobres que lhe dão o nome de Libânia do Carmo Galvão Mexia de Moura Telles e Albuquerque. É baptizada a 02 de Setembro do mesmo ano, na Igreja de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica.
Ficando órfã de mãe e pai, vítimas do cólera mórbus e da febre-amarela, respectivamente em 1856 e 1857, entra para o Internato Real da Ajuda, fundado para órfãs de fidalgos, pelo rei Dom Pedro V e orientado pelas Filhas de Caridade de São Vicente de Paulo, francesas.
Expulsas do país estas religiosas, Libânia é convidada a viver em casa dos Marqueses de Valada. Depois de alguns anos de permanência nesse ambiente de grandeza e de luxo, inquieto o seu coração por valores de transcendência, entra no Pensionato de São Patrício, das Irmãs Terceiras Capuchinhas de Nossa Senhora da Conceição, orientado espiritualmente pelo Padre Raimundo dos Anjos Beirão. Poderá, naquele ambiente mais reservado e de maior silêncio, escutar o que Deus lhe segreda ao coração. Descobre que é chamada à vida religiosa.
Toma hábito de Capuchinha e passa a ser chamada Irmã Maria Clara do Menino Jesus. Com o intuito de fundar em Portugal uma Congregação, para valer aos pobres e a todos os desprotegidos da sorte, e porque em Portugal é proibido professar, vai a França fazer o noviciado, após o qual emite os votos religiosos de pobreza, obediência e castidade.
Regressada a Portugal, lança-se à concretização do sonho, que acredita ser também o de Deus, e nasce, a 03 de Maio de 1871, a Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, dando expressão ao carisma da Hospitalidade, pelo exercício das Obras de Misericórdia para com todos, sob o influxo do espírito das Bem-aventuranças. A Congregação recebeu aprovação pontifícia a 27 de Março de 1876.
Dotada de um coração repleto de bondade, dedicou a vida a minorar sofrimentos e dores, enchendo Portugal de centros de assistência, atendimento e educação, onde todos os desvalidos pudessem encontrar carinho, agasalho e amparo, fosse qual fosse a sua condição social.
Ao longo dos 28 anos à frente da Congregação, recebeu mais de mil religiosas, abriu mais de 140 Obras, para acolher pobres, doentes e abandonados. Enviou as suas religiosas para Angola, Índia, Guiné-Bissau e Cabo-Verde.
No meio de trabalhos, de sofrimentos de toda a espécie, na doença, na perseguição, no descrédito e na incompreensão, a Irmã Maria Clara soube manter-se sempre fiel aos seus princípios e à missão que Deus lhe confiara, num serviço permanente e generoso a todas as pessoas.
Desgastada por enormes canseiras, morre em Lisboa, no dia 01 de Dezembro de 1899. Está sepultada na Cripta da Casa Geral da Congregação, em Linda-a-Pastora, onde acorrem muitos peregrinos, suplicando a sua intercessão junto de Deus.
A sua inexcedível caridade e a sua perseverante esperança, «como se visse o invisível», a profunda humildade e fé a toda a prova, aliadas a um sentido de Igreja dificilmente ultrapassado, além de muitas outras virtudes, praticadas até ao heroísmo, reconhecidas agora por Bento XVI, impõem-se à consideração do mundo, erguendo-se como modelo e testemunho de que é possível viver o Evangelho «sem glosa», na expressão e vida de Francisco de Assis.
Ir. Maria Lucília de Carvalho, confhic |