NA SANTA MISSA, JESUS
CRISTO RENOVA SUA PAIXÃO.
Entre todos os mistérios do
Senhor, a meditação que nos é mais útil e merece de nossa parte mais
reconhecimento e veneração, é a Paixão dolorosa, pela qual fomos
resgatados. Os santos Padres dizem, a este respeito, coisas sublimes e
garantem, da parte de Deus, grande recompensa às almas que nela meditam com
fervor. Há muitos modos para bem honrar a Paixão: contudo, nenhum parece
mais perfeito do que a piedosa assistência à santa Missa, visto que a Paixão e a
Morte do Salvador se renovam no altar.
Com efeito, na Missa, tudo
recorda, tudo simboliza a Paixão. A Cruz encima o altar. Por toda
a parte, vê-se o sinal da Cruz; é marcado cinco vezes sobre a pedra
sagrada. Impresso sobre a Hóstia. Desenhado no
missal, na página que precede o cânon. Bordado sobre o amicto, o manípulo, a
estola, a casula. Gravado na patena, no pé do cálice. O sacerdote o
faz dezesseis vezes sobre si mesmo, e vinte e nove
vezes, sobre a oferenda. Quantos indícios do renovamento
do Sacrifício da Cruz!
1. De que maneira
Jesus Cristo renova sua Paixão?
Embora Nosso Senhor tenha dito na
última Ceia: "Fazei isto em memória de mim", contudo o Sacrifício da Missa
não é uma simples memória, porém a renovação da Paixão. A Igreja ensina:
"Se alguém disser que o Sacrifício da Missa é apenas a lembrança do
Sacrifício consumado na Cruz, seja anatematizado". E noutra parte:
"No divino Sacrifício está presente e imolado, de modo incruento, o mesmo
Cristo que se ofereceu uma vez, de modo cruento, sobre o altar da Cruz".
Este testemunho, por si, deveria
bastar, pois que somos obrigados a crer tudo o que a Santa Igreja nos ensina.
Entretanto, a Igreja explica-se da forma seguinte: "A vítima que se
oferece pelo ministério do sacerdote, é a mesma que foi oferecida na Cruz;
somente difere a forma de oferecê-la".
Sobre a Cruz, Jesus Cristo foi
imolado, de modo cruento, pelas mãos sacrílegas dos carrascos; no altar,
imola-se pelo ministério dos sacerdotes, de modo místico.
A Igreja emprega muitas vezes, no
missal, a palavra "imolar". Santo Agostinho serve-se dela
igualmente: "Jesus Cristo foi imolado, uma vez, de maneira cruenta, sobre
a Cruz; é agora imolado cada dia, sacramentalmente, pela salvação do
povo" (Epist. Ad Bonifac).
Esta expressão é notável e
acha-se, mais de cem vezes, na Escritura Sagrada para designar a oblação dos
animais. Se a Igreja se serve dela a respeito da santa Missa, é para indicar que
o Santo Sacrifício não consiste somente na pronunciação das
palavras da consagração nem na elevação das espécies sacramentais, mas na
imolação verdadeira, embora mística, do divino Cordeiro.
"A Paixão de Cristo é o próprio
sacrifício que oferecemos" diz São Cipriano (Epist. Ad
Caeciliam). Em outros termos: "Quando celebramos a santa Missa, renovamos
todas as cenas da Paixão de Cristo". São Gregório é ainda mais
explícito: "Aquele que ressuscitou dentre os mortos, diz ele, não morre
mais; entretanto, sofre ainda por nós, de maneira misteriosa, no santo
Sancrifício da Missa" (Homilia 137). Teodoreto não é menos claro:
"Não oferecemos outro sacrifício senão o que foi oferecido sobre a
Cruz" (In cap. 8 Hebr.).
Poderíamos citar muitos outros
testemunhos, mas para abreviar, contentamo-nos com o da Igreja infalível que
reza assim na "Secreta" 9ª dominga depois de Pentecostes:
"Concedei-nos, Senhor, nós vos pedimos, celebrar dignamente este mistério
porque, todas as vezes que é celebrado, cumpre-se a obra de nossa redenção".
Bem que Jesus Cristo não se imole
fisicamente na santa Missa, todavia mostra-se toda a corte celeste sob a
forma lastimosa que tinha durante a flagelação, o coroamento de espinhos, a
crucifixão e isto tão ao vivo, como se verdadeiramente sofresse todas estas
torturas. "A santa Missa, escreve Marchant, não é unicamente uma
representação da Paixão, porém sua repetição mística, não cruenta. Se o
Cordeiro de Deus tomou, uma vez, sobre Si os pecados do mundo para apagá-los com
o seu Sangue, assume, todos os dias, nossas faltas para expiá-las sobre o altar.
Acabamos de mostrar como Jesus
Cristo renova sua Paixão na santa Missa; expliquemos agora os motivos que o
guiam.
O piedoso Pe. Segneri exprime-se
deste modo: "Durante sua vida terrestre, o Cristo, em virtude de sua
presciência divina, previa que milhões de homens se condenariam, apesar de sua
Paixão. Mas, como verdadeiro irmão, desejava salvar as almas, e encheu-se de uma
incomensurável compaixão à vista de sua perdição eterna, a tal ponto que propôs
a seu Pai ficar suspenso na Cruz, não três horas, mas até o fim do mundo, para
poder, por esse longo tormento, por suas lágrimas contínuas, pela efusão de seu
Sangue, por suas ardentes orações, por seus suspiros, aplacar a divina justiça,
excitar a misericórdia e assim achar o meio de impedir a perda de tão grande
multidão de almas" (Hom. christ. disc. 12).
São Boaventura, o bem-aventurado
Ávila e outros atribuem também esta vontade de Jesus
misericordiosíssimo.
O Pai eterno não se rendeu ao
desejo de seu Filho e respondeu-lhe que três horas de semelhantes torturas eram
mais que suficientes e o que não quisesse aproveitar os méritos da Paixão não
poderia acusar senão a si mesmo de sua eterna condenação.
Esta recusa não extinguiu o amor
do Salvador, pelo contrário, mais o inflamou e levou a um desejo mais vivo de
vir em socorro dos pobres pecadores. Foi então que encontrou na infinita
sabedoria outro meio de permanecer sobre a terra depois da morte e continuar sua
Paixão, orando a Deus pela nossa salvação como fez pregado na Cruz. Este meio foi o santo Sacrifício da Missa.
São Lourenço Justiniano fala assim
da constante oração de Jesus:
"Enquanto o Cristo é oferecido
sobre o altar, clama para seu Pai e mostra-lhe as chagas a fim de que se digne
preservar os homens das penas eternas" (Sermo de Corpo. Christ).
Quem poderia medir a eficácia
desta oração sublime, indo direta do altar ao coração do Pai celeste? Quantas
vezes os povos e as nações não teriam perecido, se Nosso Senhor não tivesse
orado sobre eles? Quantos milhares de bem aventurados se retorceriam nas chamas
do inferno, se Jesus Cristo não os tivesse guardado pela sua intercessão
poderosíssima! Pois bem, pecadores, ide pressurosos à santa Missa, a fim
de participardes dos efeitos desta oração, de serdes preservados de todo o mal e
obterdes, por Jesus Cristo, o que não podereis obter por vós mesmos.
Vedes que o principal motivo pelo
qual Jesus Cristo renova sua Paixão na santa Missa, é o de orar por nós e
inclinar seu Pai à misericórdia, tão eficazmente como o fez sobre a Cruz. Mas
Jesus Cristo quer também, pela santa Missa, aplicar-nos os méritos do Sacrifício
da Cruz.
Lembrai-vos que o Salvador,
durante toda sua vida e, principalmente, na Cruz, adquiriu um tesouro infinito
de méritos que, naquela ocasião, apenas derramou sobre um número limitado de
fiéis, que agora derrama em profusão por diferentes vias, principalmente na
santa Missa.
"O que na Cruz foi um sacrifício
de redenção, disse um mestre da vida espiritual, na Missa torna-se um sacrifício
de apropriação, em que cada qual participa dos méritos e da virtude do
Sacrifício da Cruz". Em outros termos: se assistirmos piedosamente à Missa, a
virtude, os méritos da Paixão serão apropriados a cada um de nós, segundo nossas
disposições.
E para que Jesus Cristo põe em
nosso poder um tesouro tão precioso? Ele o disse a Santa Matilde: "Vê,
dou-te todas as amarguras de minha Paixão para que as consideres como teu
próprio bem e, depois, tornes a Me as oferecer". Portanto, se dizes:
"Ó Jesus, ofereço-Vos Vossa dolorosa Paixão", ele vos responderá:
"Meu filho, dou-te duas vezes o seu preço". E se continuas:
"Ó Jesus, ofereço-Vos Vosso Sangue
precioso", o Salvador responder-te-á ainda: "Meu filho,
lavo-te nele duas vezes". Em uma palavra, quantas vezes ofereceres ao
Senhor qualquer de seus sofrimentos, tantas vezes eles hão de reverte com duplo
valor. Que meio fácil de se enriquecer com as melhores graças!
Outra razão do renovamento da
Paixão parece-nos esta:
Todos os fiéis não puderam
assistir ao Sacrifício da Cruz; o Salvador, entretanto, não quis privá-los de
tão grande vantagem; por isso liga à audição da Missa os mesmos frutos que
teriam adquirido ao pé da Cruz.
Vede quanto é grande o nosso
Sacrifício. Não é somente um memorial do grande, do perfeito, do único
Sacrifício da Cruz, mas é este mesmo Sacrifício produzindo todos os seus
efeitos.
Jesus Cristo ordenou que a Igreja
oferecesse sempre o mesmo Sacrifício que ele ofereceu sobre a Cruz, o mesmo em
sua essência, diferente embora pela forma, pois não há efusão de
sangue; o
mesmo quanto à abundância de graças, porque, sendo idêntico ao Sacrifício da
Cruz, tem a mesma virtude e aparece ao Pai celeste tão agradável como o
Sacrifício cruento da Cruz. A santa Igreja, ainda uma vez afirma-o
expressamente, dizendo:
"O Sacrifício da Missa e o da Cruz
são o mesmo sacrifício".
Não há, por conseguinte, mais
dúvida: pela nossa assistência à santa Missa, tornamo-nos tão agradáveis a
Nosso Senhor e lucramos tantas vantagens, como se tivéssemos assistido à sua
crucifixão.
Que imenso favor podermos,
quotidianamente, ser testemunhas da Paixão do Salvador e recolher-lhe os frutos;
podermos cercar a Cruz do Salvador moribundo, considerá-lo, falar-lhe,
lastimá-lo, confiar-lhe nossas penas, receber-lhe socorros e consolações, como o
fizeram a Mãe das Dores, o discípulo predileto e Maria Madalena!
Cristãos, aproveitem o santo
Sacrifício do Altar, todos os dias, e rendei graças a Jesus, divino zelador de
nossas almas!
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- E senti o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e N´Ele vi e ouvi -A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. - O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar , é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. - O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora! - Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica: - Na eternidade, o Céu! (escreve a irmã Lúcia a 3 de janeiro de 1944, em "O Meu Caminho," I, p. 158 – 160 – Carmelo de Coimbra)