CATEQUESE
Sala Paulo VI - Vaticano
Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Queridos irmãos e irmãs,
O Credo, que inicia qualificando Deus como “Pai Onipotente”, como meditamos na semana passada, acrescenta que Ele é o “Criador do céu e da terra”, e remete assim à afirmação com a qual inicia a Bíblia. No primeiro versículo da Sagrada Escritura, de fato, se lê: “No princípio, Deus criou o céu e a terra” (Gen 1,1): é Deus a origem de todas as coisas e na beleza da criação se desdobra a sua onipotência de Pai que ama.
Deus se manifesta como Pai na criação, enquanto origem da vida, e ao criar, mostra a sua onipotência. As imagens usadas pela Sagrada Escritura a este respeito são muito sugestivas (cfr Is 40,12; 45,18; 48,13; Sal 104,2.5; 135,7; Pr 8, 27-29; Gb 38–39). Ele, como um Pai bom e poderoso, cuida daquilo que criou com um amor e uma fidelidade que não são nunca menores, dizem repetidamente os Salmos (cfr Sal 57,11; 108,5; 36,6). Assim, a criação torna-se lugar no qual conhecer e reconhecer o poder do Senhor e a sua bondade, e torna-se apelo à fé de nós crentes para que proclamemos Deus como Criador. “Pela fé, - escreve o autor da Carta aos Hebreus – reconhecemos que o mundo foi formado pela palavra de Deus e que as coisas visíveis se originaram do invisível” (11, 3). A fé implica, portanto, saber reconhecer o invisível identificando o traço no mundo visível. O crente pode ler o grande livro da natureza e entender sua linguagem (cfr Sal 19,2-5); mas é necessária a Palavra de revelação, que suscita a fé, para que o homem possa chegar à plena consciência da realidade de Deus como Criador e Pai. É no livro da Sagrada Escritura que a inteligência humana pode encontrar, à luz da fé, a chave de interpretação para compreender o mundo. Em particular, ocupa um lugar especial o primeiro capítulo do Gênesis, com a solene apresentação da obra criadora divina que se desdobra ao longo de sete dias: em seis dias Deus cumpre a criação e no sétimo dia, o sábado, cessa todas as atividades e descansa. Dia de liberdade para tudo, dia da comunhão com Deus. E assim, com esta imagem, o livro do Gênesis nos indica que o primeiro pensamento de Deus era encontrar um amor que responda ao seu amor. O segundo pensamento é criar um mundo material onde colocar este amor, estas criaturas que em liberdade lhe respondam. Tal estrutura, portanto, faz com que o texto seja marcado por algumas repetições significativas. Por seis vezes, por exemplo, aparece repetida a frase: “Deus viu que era coisa boa” vv. 4.10.12.18.21.25), para concluir, a sétima vez, depois da criação do homem: “Deus viu o quanto havia feito, e de fato, era coisa muito boa” (v. 31). Tudo aquilo que Deus cria é belo e bom, cheio de sabedoria e de amor; a ação criadora de Deus traz ordem, harmonia, doa beleza. No relato de Gênesis, então, emerge que o Senhor cria com a sua palavra: por dez vezes se lê no texto a expressão “Deus disse” (vv. 3.6.9.11.14.20.24.26.28.29). É a palavra, o Logos de Deus que é a origem da realidade do mundo dizendo: “Deus disse”, foi assim, enfatiza o poder eficaz da Palavra divina. Assim canta o Salmista: “Da palavra do Senhor foram feitos os céus, do sopro de sua boca cada ordem ..., porque ele falou, tudo foi criado, ordenou e tudo foi cumprido” (33, 6. 9). A vida surge, o mundo existe, porque tudo obedece à Palavra divina.
Mas a nossa pergunta hoje é: na época da ciência e da técnica, ainda tem sentido falar de criação? Como devemos compreender as narrações de Gênesis? A Bíblia não quer ser um manual de ciências naturais; quer, em vez disso, fazer compreender a verdade autêntica e profunda das coisas. A verdade fundamental que os relatos de Gênesis nos revelam é que o mundo não é um conjunto de forças entre conflitantes, mas tem a sua origem e a sua estabilidade no Logos, na Razão eterna de Deus que continua a sustentar o universo. Isso é um desígnio sobre o mundo que nasce desta Razão, do Espírito criador. Acreditar que na base de tudo esteja isto, ilumina cada aspecto da existência e dá coragem para enfrentar com confiança e com esperança a aventura da vida. Depois, a escritura nos diz que a origem do ser, do mundo, a nossa origem não é o irracional ou as nossas necessidades, mas a razão e o amor e a liberdade. Disto a alternativa: ou prioridade do irracional, da necessidade, ou prioridade da razão, da liberdade, do amor. Nós acreditamos nesta última posição.
Mas gostaria de dizer uma palavra também sobre aquilo que é o ápice de toda a criação: o homem e a mulher, o ser humano, o único “capaz de conhecer e de amar o seu Criador” (Const. past. Gaudium et spes, 12). O Salmista, olhando para o céu, pergunta-se: “Quando contemplo o firmamento, obra de vossos dedos, a lua e as estrelas que lá fixastes: ‘que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles?” (8,4-5). O ser humano, criado com amor por Deus, é coisa bem pequena diante da imensidade do universo; às vezes, olhando fascinados para a enorme extensão do firmamento, também nós percebemos a nossa limitação. O ser humano é habitado por este paradoxo: a nossa pequenez e a nossa fragilidade convivem com a grandeza disso que o amor eterno de Deus quis para ele.
Os relatos da criação no Livro do Gênesis nos introduzem também neste misterioso âmbito, ajudando-nos a conhecer o projeto de Deus para o homem. Antes de tudo afirmam que Deus formou o homem com o barro da terra (cfr Gen 2,7). Isto significa que não somos Deus, não nos fizemos por nós mesmos, somos terra; mas significa também que viemos da terra boa, por obra do Criador bom. A isto chega outra realidade fundamental: todos os seres humanos são pó, para além das distinções feitas por cultura e história, para além de qualquer diferença social; somos uma única humanidade formada com o único fundamento de Deus. Aparece-vos, pois, um segundo elemento: o ser humano tem origem porque Deus inspira-lhe o sopro de vida no corpo modelado pela terra (cfr Gen 2,7). O ser humano é feito à imagem e semelhança de Deus (cfr Gen 1,26-27). Todos, então, trazemos em nós o sopro vital de Deus e cada vida humana – noz diz a Bíblia – está sob a particular proteção de Deus. Esta é a razão mais profunda da inviolabilidade da dignidade humana contra toda tentação de avaliar a pessoa segundo critérios utilitaristas e de poder. O ser à imagem e semelhança de Deus indica, então, que o homem não é fechado em si mesmo, mas tem uma referência essencial em Deus.
Nos primeiros capítulos do Livro de Gênesis encontramos duas imagens significativas: o jardim com a árvore do conhecimento do bem e do mal e a serpente (cfr 2,15-17; 3,1-5). O jardim nos diz que a realidade em que Deus colocou o ser humano não é uma floresta selvagem, mas lugar que protege, alimente e sustenta; e o homem deve reconhecer o mundo não como propriedade a ser saqueada e explorada, mas como dom do Criador, sinal de sua vontade salvífica, dom a cultivar e proteger, de fazer crescer e desenvolver no respeito, na harmonia, seguindo os ritmos e a lógica, segundo o desígnio de Deus (cfr Gen 2,8-15). Depois, a serpente é uma figura que deriva dos cultos orientais de fertilidade, que apelavam a Israel e constituíam uma constante tentação de abandonar a misteriosa aliança com Deus. À luz disto, a Sagrada Escritura apresenta a tentação por que passa Adão e Eva como o núcleo da tentação e do pecado. O que diz de fato a serpente? Não nega Deus, mas insinua uma pergunta sutil: “É verdade o que Deus disse ‘Não devem comer do fruto de toda árvore do jardim’? (Gen 3, 1). Deste modo, a serpente levanta a suspeita de que a aliança com Deus seja como uma prisão que une, que priva da liberdade e das coisas mais belas e preciosas da vida. A tentação torna-se construir sozinho o mundo no qual viver, não aceitar os limites do ser criatura, os limites do bem e do mal, da moralidade; a dependência do amor criador de Deus é visto como um fardo do qual libertar-se. Este é sempre o núcleo da tentação. Mas quando se distorce a relação com Deus, com uma mentira, colocando em seu lugar, todos os outros relacionamentos são alterados. Então o outro transforma-se um rival, uma ameaça: Adão, depois de ter cedido à tentação, acusa imediatamente Eva (cfr Gen 3,12); os dois se escondem da vista daquele Deus com o qual conversavam em amizade (cfr 3,8-10); o mundo não é mais o jardim no qual viver com harmonia, mas um lugar para desfrutar e no qual se escondem armadilhas (cfr 3,14-19); a inveja e o ódio contra a outro entram no coração do homem: a exemplo de Caim que mata o próprio irmão Abel (cfr 4,3-9). Indo contra o seu criador, na verdade o homem vai contra si mesmo, renega a sua origem e também a sua verdade; e o mal entra no mundo, com a sua penosa prisão de dor e de morte. E assim tudo quanto Deus havia criado era bom, na verdade, muito bom, depois desta livre decisão do homem pela mentira contra a verdade, o mal entra no mundo.
Dos relatos da criação, gostaria de evidenciar um último ensinamento: o pecado gera pecado e todos os pecados da história estão ligados entre si. Este aspecto nos impele a falar sobre o que é o chamado “pecado original”. Qual é o significado desta realidade, difícil de compreender? Gostaria de citar somente alguns elementos. Antes de tudo, devemos considerar que nenhum homem é fechado em si mesmo, nenhum pode viver sozinho, por si só; nós recebemos a vida do outro e não somente no momento do nascimento, mas a cada dia. O ser humano é relacional: eu sou eu mesmo somente no tu e através do tu, na relação do amor com o Tu de Deus e o tu dos outros. Bem, o pecado é perturbar ou destruir a relação com Deus, esta é a sua essência: destruir a relação com Deus, a relação fundamental, colocar-se no lugar de Deus. O Catecismo da Igreja Católica afirma que com o primeiro pecado o homem “fez a escolha de si mesmo contra Deus, contra as exigências da própria condição de criatura e consequentemente contra o próprio bem” (n. 398). Perturbada a relação fundamental, são comprometidos ou destruídos também os outros pólos da relação, o pecado arruína as relações, assim arruína tudo, porque nós somos relações. Ora, se a estrutura relacional da humanidade é perturbada desde o início, cada homem entra em um mundo marcado por esta perturbação das relações, entra em um mundo perturbado pelo pecado, do qual é marcado pessoalmente; o pecado inicial ataca e fere a natureza humana (cfr Catechismo della Chiesa Cattolica, 404-406). E o homem sozinho não pode sair desta situação, não pode redimir-se sozinho; somente o próprio Criador pode restabelecer as relações certas. Somente se Aquele do qual nós fomos desviados vem a nós e nos toma pela mão com amor, as relações corretas podem ser retomadas. Isso acontece em Jesus Cristo, que cumpre exatamente o percurso inverso daquele de Adão, como descreve o hino do segundo capítulo da Carta de São Paulo aos Filipenses (2,5-11): enquanto Adão não reconhece o seu ser criatura e quer colocar-se no lugar de Deus, Jesus, o Filho de Deus, está em uma relação filial perfeita com o Pai, reduz-se, transforma-se servo, percorre o caminho do amor humilhando-se até a morte de cruz, para reordenar a relação com Deus. A Cruz de Cristo transforma-se assim na nova árvore da vida.
Queridos irmãos e irmãs, viver de fé quer dizer reconhecer a grandeza de Deus e aceitar a nossa pequenez, a nossa condição de criatura deixando que o Senhor a transborde com o seu amor e assim cresça a nossa verdadeira grandeza. O mal, com a sua carga de dor e sofrimento, é um mistério que vem iluminado pela luz da fé, que nos dá a certeza de poder ser libertos: a certeza de que é bom ser um homem.
Benedicto XVI : ''La inteligencia humana puede encontrar, a la luz de la fe, la clave interpretativa para comprender el mundo''
Palabras de Benedicto XVI en la Audiencia General de hoy
Ciudad del Vaticano, 06 de febrero de 2013
Ofrecemos a los lectores el texto completo de la catequesis de Benedicto XVI en la Audiencia General, en la que se ha referido, como en ocasiones precedentes a las palabras del Credo, con motivo del Año de la Fe.Creo en Dios: el Creador del cielo y de la tierra, el Creador del ser humano
Pasaje bíblico: Gen 1,1-2.27.31 a
Queridos hermanos y hermanas:
El Credo, que inicia calificando a Dios como "Padre Todopoderoso", como meditamos la semana pasada, añade luego que Él es "el Creador del cielo y de la tierra", y así retoma la afirmación con la que empieza la Biblia. En el primer versículo de la Sagrada Escritura, se lee, en efecto: "Al inicio Dios creó el cielo y la tierra" (Génesis 1,1): es Dios el origen de todas las cosas y en la belleza de la creación se despliega su omnipotencia de Padre amoroso.
Dios se manifiesta como Padre en la creación, como el origen de la vida, y al crear muestra su omnipotencia. Las imágenes utilizadas por la Sagrada Escritura a este respecto son muy sugestivas (cf. Is 40,12, 45,18, 48,13, Salmos 104,2.5, 135,7, Pr 8, 27-29).
Él, como Padre bueno y poderoso, cuida todo lo que ha creado con un amor y una fidelidad que nunca falta (cf. Sal 57,11, 108,5, 36,6), repiten los Salmos. De este modo, la creación se convierte en un lugar donde conocer y reconocer la omnipotencia de Dios y su bondad, y se convierte en una llamada a la fe de nosotros los creyentes para que proclamemos a Dios como Creador.
"Por la fe --escribe el autor de la Carta a los Hebreos--, comprendemos que la Palabra de Dios formó el mundo, de manera que lo visible proviene de lo invisible " (11,3). La fe implica pues saber reconocer lo invisible, reconociendo su huella en el mundo visible.
El creyente puede leer el gran libro de la naturaleza y comprender su lenguaje; el universo nos habla de Dios, pero es necesaria su Palabra de revelación, que suscita la fe, para que el hombre pueda alcanzar la plena conciencia de la realidad de Dios en cuanto Creador y Padre.
En el libro de la Sagrada Escritura la inteligencia humana puede encontrar, a la luz de la fe, la clave interpretativa para comprender el mundo. En particular, tiene un lugar especial el primer capítulo del Génesis, con la presentación solemne de la obra creadora divina, que se despliega a lo largo de siete días: en seis días Dios lleva a término la creación y el séptimo día, el sábado, deja toda actividad y descansa.
Día de libertad para todos, día de la comunión con Dios y así, con esta imagen, el Libro del Génesis nos indica que el primer anhelo de Dios era el de encontrar un amor que respondiera a su amor. Y el segundo, el de crear un mundo material donde colocar este amor, a estas criaturas que libremente le respondan.
Esta estructura hace que el texto esté marcado por algunas repeticiones significativas. Durante seis veces, por ejemplo, se repite la frase: "Y Dios vio que era bueno" (vv. 4.10.12.18.21.25) y, finalmente, la séptima vez, después de la creación del hombre: "Dios miró todo lo que había hecho, y vio que era muy bueno "(v. 31). Todo lo que Dios crea es bello y bueno, impregnado de sabiduría y de amor; la acción creadora de Dios pone orden, infunde armonía, dona belleza.
En el relato del Génesis emerge luego que el Señor crea en su palabra: durante diez veces se lee en el texto, el término "dijo Dios" (vv. 3.6.9.11.14.20.24.26.28.29), es la palabra, el logos de Dios el origen de la realidad del mundo, al decir “Dios dijo” subraya el poder eficaz de la Palabra divina. Así canta el Salmista: “La palabra del Señor hizo el cielo, y el aliento de su boca, los ejércitos celestiales... porque Él lo dijo, y el mundo existió, Él dio una orden y todo subsiste”. La vida surge y el mundo existe porque todo obedece a la Palabra divina.
Pero nuestra pregunta hoy es ¿tiene sentido, en la era de la ciencia y de la técnica, seguir hablando de la creación? ¿Cómo debemos comprender la narración del Génesis? La Biblia no quiere ser un manual de ciencias naturales; lo que quiere es hacer comprender la verdad auténtica y profunda de las cosas. La verdad fundamental, que las narraciones del Génesis nos desvelan es que el mundo no es un conjunto de fuerzas en lucha entre sí, sino que tiene su origen y su estabilidad en el Logos, en la razón eterna de Dios, que continúa sosteniendo el universo.
Hay un diseño sobre el mundo que nace de esta Razón, del Espíritu creador. Creer que en la base de todo está esto, ilumina cada aspecto de la existencia y da la valentía necesaria para afrontar con confianza y con esperanza la aventura de la vida.
Por lo tanto la Escritura nos dice que el origen de la existencia del mundo y de la nuestra no es lo irracional y la necesidad, sino la razón, el amor y la libertad. Ésta es la alternativa: o prioridad de lo irracional y de la necesidad, o prioridad de la razón, de la libertad, del amor. Nosotros creemos en esta posición.
Pero me gustaría decir unas palabras sobre lo que es el la cúspide de todo lo creado: el hombre y la mujer, el ser humano, el único "capaz de conocer y amar a su Creador" (Constitución Pastoral Gaudium et Spes, 12). El salmista mirando los cielos se pregunta: "Al ver el cielo, obra de tus manos, la luna y la estrellas que has creado: ¿qué es el hombre para que pienses en él, el ser humano para que lo cuides?"(8,4 a 5). El ser humano, creado con amor por Dios, es algo muy pequeño ante la inmensidad del universo; a veces, mirando fascinados los espacios enormes del firmamento, también nosotros percibimos nuestro ser limitados.
El ser humano está habitado por esta paradoja: nuestra pequeñez y caducidad conviven con la grandeza de lo que el amor eterno de Dios ha querido para nosotros.
Los relatos de la creación en el Libro del Génesis también nos introducen en este misterioso ámbito, ayudándonos a conocer el plan de Dios para el hombre. En primer lugar afirmando que Dios formó al hombre del polvo de la tierra (cf. Gn 2:7). Esto significa que no somos Dios, no nos hemos hecho solos, somos tierra; pero también significa que somos buena tierra, a través de la obra del Creador bueno.
A esto se suma otra realidad fundamental: todos los seres humanos son polvo, más allá de las distinciones que hace la cultura y la historia, más allá de cualquier diferencia social; somos una única humanidad plasmada con la sola tierra de Dios.
Hay también un segundo elemento: el ser humano se origina porque Dios sopla el aliento de vida en el cuerpo moldeado por la tierra (cf. Gn 2:7). El ser humano está hecho a imagen y semejanza de Dios (cf. Gn 1:26-27). “Todos, entonces, llevamos en nosotros el aliento vital de Dios y cada vida humana – nos dice la Biblia – está bajo la particular protección de Dios. Ésta es la razón más profunda de la inviolabilidad de la dignidad humana, contra toda tentación de evaluar la persona según criterios utilitarios y de poder”. Ser a imagen y semejanza de Dios indica que el hombre no está encerrado en sí mismo, sino que tiene una referencia esencial en Dios
En los primeros capítulos del Libro del Génesis encontramos dos imágenes significativas: el jardín con el árbol del conocimiento del bien y del mal y la serpiente (cf. 2:15-17; 3,1-5). El jardín nos dice que la realidad en la que Dios ha puesto al ser humano no es un bosque salvaje, sino un lugar que protege, nutre y sustenta; y el hombre debe reconocer el mundo no como propiedad para ser saqueada y explotada, sino como don del Creador, signo de su voluntad salvadora, un don que ha de cultivar y cuidar, hacer crecer y desarrollar con respeto, en armonía, siguiendo los ritmos y la lógica, de acuerdo con el plan de Dios (cf. Gn 2,8-15).
La serpiente es una figura que viene de los cultos orientales de la fecundidad, que tanto fascinaban a Israel y que eran una constante tentación para abandonar la misteriosa alianza con Dios. A la luz de esto, la Sagrada Escritura presenta la tentación a la que vienen sometidos Adán y Eva como el núcleo de la tentación y el pecado.
¿Qué dice la serpiente? No niega a Dios, pero insinúa una falsa pregunta: "¿Así que Dios les ordenó que no comieran de ningún árbol del jardín?».(Génesis 3:1). De esta manera, la serpiente suscita la sospecha de que la alianza con Dios es como una cadena que ata, que priva de la libertad y de las cosas más bellas y preciosas de la vida.
La tentación invita a construirse el propio mundo en el que vivir, no acepta las limitaciones del ser criatura, los límites del bien y del mal, de la moral. La dependencia del amor del Dios Creador es vista como una carga de la que se debe liberar.
Éste es siempre el núcleo de la tentación. Pero cuando se distorsiona la relación con Dios, poniéndose en su lugar, todas las demás relaciones se alteran. Entonces, el otro se convierte en un rival, en una amenaza: Adán, después de haber sucumbido a la tentación, acusa de inmediato a Eva (cf. Gn 3:12), y los dos se ocultan de la vista de aquel Dios con quien hablaban con amistad (ver 3.8 - 10); el mundo ya no es el jardín para vivir en armonía, sino un lugar para ser explotado y lleno de insidias ocultas (cf. 3:14-19), la envidia y el odio hacia el otro entran en el corazón del hombre: ejemplar es Caín que mata a su propio hermano Abel (cf. 4,3-9).
Al ir contra su Creador en realidad el hombre va en contra de sí mismo, reniega su origen y por lo tanto su verdad; y el mal entra en el mundo, con su triste cadena de dolor y de muerte. Y si todo lo que había creado Dios era bueno, muy bueno, después de esta libre decisión del hombre, de mentir contra la verdad, el mal entra en el mundo.
De los relatos de la creación, me gustaría destacar una última enseñanza: el pecado engendra el pecado y todos los pecados de la historia están interrelacionados. Este aspecto nos lleva a hablar de lo que ha sido llamado el "pecado original".
¿Cuál es el significado de esta realidad, difícil de entender? Quisiera sólo dar algún elemento. En primer lugar, debemos tener en cuenta que ningún hombre está encerrado en sí mismo, nadie puede vivir de sí mismo y para sí mismo; nosotros recibimos la vida del otro y no sólo en el nacimiento, sino todos los días.
El ser humano es relación: Yo soy yo mismo solo en el tú y a través del tú, en la relación de amor con el Tú de Dios y el tú de los otros. Pues bien, el pecado perturba o destruye la relación con Dios, su presencia destruye la relación con Dios, la relación fundamental, toma el lugar de Dios.
El Catecismo de la Iglesia Católica afirma que con el primer pecado el hombre “hizo elección de sí mismo contra Dios, contra las exigencias de su estado de criatura y, por tanto, contra su propio bien” (n. 398). Perturbada la relación fundamental, son puestos en peligro o destruidos también los otros polos de la relación, el pecado arruina las relaciones, así lo destruye todo, porque nosotros somos relación.
Ahora bien, si la estructura relacional de la humanidad viene malograda desde el principio, todo hombre entra en un mundo marcado por esta alteración de las relaciones, entra en un mundo perturbado por el pecado, que le marca personalmente; el pecado inicial daña y hiere la naturaleza humana (cf. Catecismo de la Iglesia Católica, 404-406).
Y el hombre, por sí solo, no puede salir de esta situación; sólo el Creador puede restaurar las justas relaciones. Sólo si Aquel, del que nos hemos desviado, viene hacia nosotros y nos tiende la mano con amor, las justas relaciones pueden reanudarse. Esto se realiza en Jesucristo, que cumple exactamente el recorrido inverso al de Adán, como describe el himno del segundo capítulo de la Epístola de San Pablo a los Filipenses (2:5-11): mientras que Adán no reconoce su ser criatura y quiere ponerse en el lugar de Dios; Jesús, el Hijo de Dios, está en una perfecta relación filial con el Padre, se rebaja, se convierte en el siervo, recorre el camino del amor humillándose hasta la muerte en la cruz, para reordenar las relaciones con Dios. La Cruz de Cristo se convierte así en el nuevo Árbol de la vida.
Queridos hermanos y hermanas, vivir la fe quiere decir reconocer la grandeza de Dios y aceptar nuestra pequeñez, nuestra condición de criaturas dejando que el Señor la colme con su amor y así crezca nuestra verdadera grandeza. El mal, con su carga de dolor y de sufrimiento, es un misterio que queda iluminado por la luz de la fe, que nos da la certeza de poder ser liberados de él, la certeza de que es bueno ser hombre».
Palabras a los peregrinos de idioma español
Saludo cordialmente a los peregrinos de lengua española, en particular al grupo y a la Delegación de la Guardia Civil, con el Arzobispo castrense, el Señor Ministro del Interior y el Director General de ese Cuerpo, que ruega a la Virgen del Pilar la fuerza espiritual necesaria para su importante servicio a la sociedad española. Y saludo igualmente a los peregrinos venidos de España, Chile, México y otros países latinoamericanos. Que la fe en Dios, Padre y Creador, sea para todos fuente de serenidad y esperanza. Muchas gracias.
(06 de febrero de 2013) © Innovative
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