terça-feira, 3 de agosto de 2010

“Contribuição do Papa Bento XVI à Liturgia vem de seu ensinamento e magistério”, diz Mons. Guido Marini

 

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Dom Guido auxilia o Papa em missa
Cidade do Vaticano (Quarta-feira, 09-06-2010, Gaudium Press) Na semana em que se conclui em Roma o Ano Sacerdotal convocado pelo Papa, Gaudium Press traz uma entrevista exclusiva sobre o tema com Dom Guido Marini, Mestre das Celebrações Litúrgicas do Papa, realizada por Anna Artymiak, correspondente da agência no Vaticano.
Nela, o responsável pela liturgia do missal do Santo Padre fala, ainda, sobre seu trabalho junto ao pontífice, sobre as mudanças litúrgicas ocorridas nos últimos anos e sobre o surgimento de sua vocação sacerdotal. Acompanhe.

Gaudium Press - Na Igreja Católica se conclui o Ano Sacerdotal. Qual é o real significado da celebração litúrgica da missa e da Eucaristia na vida de um sacerdote?
Creio que uma celebração litúrgica em geral, e em particular a celebração da missa, seja o centro, o coração da vida de um sacerdote, seja do ponto de vista pessoal, seja do ponto de vista do seu ministério em meio ao povo de Deus. Do ponto de vista pessoal, porque a vida de um sacerdote é como a de um fiel; porém a sua em particular ganha plenitude a partir da celebração litúrgica, da missa. Poderíamos dizer que toma a forma do sacrifício eucarístico porque nisso o sacerdote aprende o que significa ser Jesus entre o seu povo. Por outro lado, na celebração eucarística o sacerdote encontra também o centro e o coração para a sua vida ministerial, seja porque a missa é o ato maior que o sacerdote pode realizar em favor do povo que lhe foi confiado, portanto, em favor da Igreja, e também porque justamente da participação na celebração litúrgica, na missa, na Eucaristia, o sacerdote encontra a caridade do coração do Senhor, e portanto, o estímulo para cumprir sua missão, seu ministério.

GP - O senhor dá assistência ao Santo Padre em todas as celebrações. Como Bento XVI vive a oração e a missa?
Sim, tenho essa graça de poder estar muito perto dele e portanto, de poder vê-lo também muito de perto. Creio, por outro lado, que também todos aqueles que estão presentes na celebração do Papa possam perceber alguns aspectos do seu modo de celebrar. Certamente o Papa vive, no momento da celebração, o momento mais alto, mais importante de seu próprio ministério enquanto Sumo Pontífice. Pessoalmente pode-se vê-lo sempre muito recolhido durante a missa, partícipe em primeira pessoa daquilo que está celebrando, daquilo que está vivendo. Creio que poder estar presente em uma celebração do Papa, para todos, para mim em modo particular visto que estou muito próximo a ele, é uma verdadeira escola do celebrar - como o Papa diria, do "ars celebrandi". Creio que o Papa seja um mestre no "ars celebrandi".
GP - O então Cardeal Ratzinger escreveu um famoso livro sobre a liturgia, "Introdução ao espírito da Liturgia", que ajuda a entender melhor o empenho de Bento XVI no desenrolar da liturgia. Qual é a contribuição de Bento XVI na liturgia no nosso tempo pós-conciliar?
Creio que a contribuição que Bento XVI deu e está dando à liturgia, porque conhece cada primeiro desenvolvimento, é cada vez mais significativamente em linha com o Concílio Vaticano II, ao mesmo tempo a continuidade com toda a grande tradição litúrgica da Igreja, e através de dois níveis. Através de seu ensinamento, o seu magistério neste âmbito litúrgico, e depois através do exemplo de seu celebrar que diz respeito a São Pedro, Roma, mas diz respeito também aos momentos inteiros, também das virtudes das celebrações do Papa nos vários países que visita. Parece-me que os dois grandes atos do magistério sejam de um lado o motu próprio, de grande importância pelos seus conteúdos e pelas avaliações que o Papa apresentou, e de outro a exortação pós-sinodal sobre a Eucarisita, aquela que se seguiu ao Sínodo sobre a Eucaristia, "Sacramentum caritatis". E também, repito, o exemplo de sua celebração, na qual é possível encontrar tantos elementos que realmente são uma ajuda de desenvolvimento orgânico da liturgia na Igreja de hoje.
GP - Há quase três anos o senhor é encarregado como Mestre das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice. O senhor introduziu algumas mudanças, como por exemplo a colocação do crucifixo no centro do altar e a distribuição da Eucaristia de joelhos colocada na boca. Por quê? No início deste ano, em uma fala sua aos sacerdotes, o senhor disse que há uma continuação na liturgia e que é errado separar a liturgia pré-conciliar daquela pós-conciliar. Como é possível entender essas mudanças? Essas mudanças são um retorno ou significam algo mais?
Falar de liturgia pré-conciliar, pós-conciliar é possível. O importante é que esse modo de falar não seja entendido como uma separação e, assim, ver que o que era antes é negativo e o que vem depois é positivo. Porque esta não é a vida da Igreja. A vida da Igreja é como um organismo vivo que não pode ser separado, quebrado, mas deve ser sempre considerado justamente segundo aquele critério que o Papa cita tantas vezes, um desenvolvimento orgânico em continuidade de sua vida. Istoé no que concerne à terminologia. E então, na prática da liturgia, se deve viver a contraposição entre o passado e o presente. Nós temos um patrimônio enorme que está no nosso passado porque ainda vive, que vive também no mundo. O fato que possam existir alguns aspectos que recuperam as coisas do patrimônio precedente não significa um retorno ao passado, significa mais encontrar uma nova síntese, justamente porque coloca lado a lado novamente alguns elementos importantes, verdadeiros do passado, que fazem dar um passo à frente no desenvolvimento da liturgia.

GP - Bento XVI restituiu a missa tridentina. Um dia podemos ver o Papa celebrar a missa tridentina?
Isto eu não sei dizer. Não creio que neste momento haja intenções a esse respeito. Penso que no momento em que o Papa deu esta oportunidade, estendendo-a e de fato a retomando, desenvolvendo o que João Paulo II já havia concedido um pouco, foi de certa forma para criar um movimento de reconciliação dentro da Igreja. De forma que o antigo e o novo não se olhem com suspeita, contraposição, mas se olhem com cordialidade, pensando que ambas as formas podem contribuir para que o povo de Deus viva bem a celebração litúrgica. Por outro lado, creio que o Santo Padre desta maneira tente favorecer o enriquecimento das duas formas. Porque a forma antiga, extraordinária certamente pode ser enriquecida de forma ordinária. E a forma ordinária, enriquecida de forma extraordinária. Esse recíproco enriquecimento no tempo constitui o próprio desenvolvimento orgânico da Igreja.
GP - Como é o cotidiano do Mestre das Celebrações Litúrgicas? Quais são seus compromissos? Poderia nos apresentar um pouco o seu trabalho?
É um dia geralmente ocupado, no sentido que o trabalho deste departamento é um trabalho contínuo de preparar, predispor, cuidar do desenrolar de todas as celebrações do Papa, seja em São Pedro, em Roma, na Itália, seja nas viagens ao exterior. Se passa de uma celebração a outra. Depois, é verdade que há algumas celebrações que entram na dimensão mais simples, mas que precisam também ser preparadas, porém em modo mais tranquilo. Enquanto isso, são celebrações mais elaboradas, porque fora do ordinário, as celebrações das viagens ao exterior. Essas requerem uma preparação mais acurada, também mais longa. O trabalho do departamento é um trabalho cotidiano que diz respeito ao departamento como edifício. Quer dizer também ir aos lugares antecipadamente para uma vistoria, para os ensaios, para a preparação. Então diria que é um trabalho que ocupa total e integralmente o meu tempo e de meus colaboradores.
GP - Como nasceu a sua vocação sacerdotal e o seu interesse na liturgia?

A minha vocação está no coração do Senhor desde sempre. Eu comecei a sentir a vocação quando estava no ensino médio, o liceu clássico. De um lado este sentir a vocação foi um processo interior que vivi naqueles anos e que certamente me ajudou, apoiado pela presença de alguns sacerdotes que foram para mim exemplares e que me ajudaram também a entender o chamado do Senhor. Devo dizer que vivi a vocação sacerdotal como uma passagem de uma vida de fé um pouco em água de rosas à uma vida de fé que é mais empenhada, mas esta passagem coincidiu justamente com o sentir que o Senhor me chamava para o sacerdócio. Logo vivi uma experiência de fé, aquele encontro com o Senhor neste modo mais radical, principalmente através da liturgia. Esse foi um momento privilegiado do meu encontro com o Senhor, da minha compreensão de sua vontade em mérito.

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