quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O parecer de Pe. Aulagnier sobre a conferência de Mons. Pozzo.: Não é por “conversações doutrinais” que se porá termo à crise da Igreja. Quando Dom Lefebvre dizia, após o fracasso das conversações “práticas” com o Cardeal Ratzinger em 1988, que, “na próxima vez, serei eu que vou colocar as minhas condições: Estais de acordo com o Syllabus?; Estais de acordo com o juramento antimodernista? Estais de acordo com a encíclica Libertas? “Senhores, preparai-vos para um longo combate”, dizia-nos Dom Lefebvre. É doutrinal, com certeza. Mas não se discute com o modernismo. Combate-se o modernismo concretamente por uma doutrina íntegra e um apostolado enérgico e valente.

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É possível resumi-la do seguinte modo: é necessário interpretar o Concílio como uma obra “de reforma” da Igreja, reforma, certamente, mas na “continuidade” do Magistério e de modo algum em “ruptura” com o Magistério. Haveria, desta obra conciliar, duas interpretações possíveis, “duas hermenêuticas” possíveis que, de resto, viram a luz do dia: “a da ruptura e a da reforma na continuidade”.
Em fidelidade ao Papa Bento XVI, é necessário claramente escolher esta última. Ele assim o diz claramente em sua conclusão. “É necessário utilizar esta última direção para enfrentar as questões controversas, libertando, por assim dizer, o Concílio do para-concílio que se misturou com ele, e conservando o princípio da integridade da doutrina católica e da plena fidelidade ao Depósito da Fé transmitido pela Tradição e interpretado pelo Magistério da Igreja”.
Primeira consideração:
Para Monsenhor Pozzo, uma coisa é o Concílio e os seus textos, fiéis à Tradição e ao Magistério de sempre. Outra é a interpretação do Concílio. Uma coisa é o Concílio. Outra é o “para-concílio”.
É essa a tese que não cessaram de apresentar a Dom Lefebvre e que ele sempre recusou aceitar. Não, não, dizia ele: “a origem do mal é o Concílio e ‘todas as reformas procedentes do Concílio’”. E é por isso, por exemplo, que ele tinha a audácia de dizer “ser impossível formar jovens ao sacerdócio com a nova missa”. Mas quem, da hierarquia atual, pode compreender isso? Haverá um aumento do número de padres apenas quando se abandonar a “nova missa”. Ela não é a missa “ordinária” do rito romano, é a “missa de Lutero”, ou, se preferir, uma “missa bastarda”, “uma missa envenenada”. As comunidades “Ecclesia Dei” provam essa verdade ano após ano… e a hierarquia se endurece e sempre não vê nada. Virá um dia em que Roma será obrigada a tomar bispos do seu seio e nomeá-los à frente de dioceses. Serão talvez, no início, pequenas dioceses onde não restam mais que alguns padres. Esses padres poderão se opor a nomeação desses bispos. Com um pouco de firmeza, o novo bispo poderá recorrer a esses novos padres sem ter que procurá-los na África. E de repente, a missa tradicional retornará… o povo será surpreendido… mas acontecerá rapidamente… eu sonho! Não mais do que isso.
Uma coisa é o Concílio. Outra o “para-concílio”, nos diz Monsenhor Pozzo.
Voltamos sempre aí. É o colete salva-vidas “dos conciliaristas”. É necessário, custe o que custar, salvar o Concílio
Eu bem que desejo…
Mas então, o que fazer das declarações do Cardeal Congar dizendo que Concílio foi “uma verdadeira revolução na Igreja”, ou do Cardeal Suenens dizendo que o Concílio é o “1789 na Igreja”. Ora, estas duas personalidades estiveram, elas também, entre os “personagens principais” do Concílio Vaticano II.
O que fazer da declaração de 21 de novembro de 1974 de Dom Lefebvre que diz que Concílio sofreu uma influência real do modernismo e do liberalismo; o que fazer do seu livro “Eu Acuso o Concílio”? E Dom Lefebvre estava entre as personalidades de qualidade do Concílio. Estava, à época, entre os “superiores gerais das grandes congregações da Igreja” e, além disso, arcebispo e presidente do “Coetus Internationalis Patrum”, representando cerca de 250 padres conciliares.
O que fazer então das críticas do Cardeal Ottaviani, criticando muito severamente a reforma litúrgica de Monsenhor Bugnini, reforma litúrgica realizada, dizem, em aplicação de Sacrosanctum Concilium.
Etc. etc.
Uma outra consideração:
Nas palavras de Monsenhor Pozzo há uma novidade. Ele fala de “questões controversas” do Concílio Enfim… é uma novidade. Essas “controvérsias” devem ser o objeto das discussões com a FSSPX.
Tomemos brevemente o assunto ecumenismo.
Enquanto ele resume a doutrina conciliar sobre o ecumenismo na segunda parte de sua conferência, vocês não verão nunca ele utilizar a palavra “retorno” das diferentes confissões à Igreja Católica. Esta palavra está banida do seu pensamento. Mas é o que se entende sempre sobre este assunto: é necessário evitar qualquer expressão que faça alusão ao regresso dos irmãos separados. Eis o axioma doutrinal e a diretriz prática do movimento ecumênico. Como diz Romario Amerio em seu “Iota Unum”, na página 457, “abandona-se o princípio do retorno dos irmãos separados em proveito do da conversão dos cristãos ao Cristo total, imanente a todas às confissões. Como professa abertamente o Patriarca Atenágoras: “não se trata neste movimento de união de caminhar de uma Igreja para outra, mas de caminhar todas as igrejas em direção ao Cristo comum” (ICI, n° 311, p. 18,1º de maio de 1968).
Mas se observarem que este não é o ensinamento que Pio XI nos dá em sua encíclica “Mortalium Animos”, — nela, com efeito, o Papa afirma que a verdadeira união das Igrejas não pode se realizar a não ser pelo retorno (per reditum) dos irmãos separados à verdadeira Igreja de Deus — Monsenhor Pozzo responde: Não! Não! “O Concílio permanece (sim) no campo da Tradição no que diz respeito à doutrina da Igreja. (Mas) isso não exclui, todavia, que o Concílio tenha produzido novas diretrizes e tenha esclarecido certos aspectos específicos. A novidade em relação às declarações anteriores ao Concílio consiste antes no fato de que as relações da Igreja Católica com as Igrejas ortodoxas e as comunidades evangélicas nascidas da Reforma luterana são tratadas como uma questão distinta e de um modo formalmente positivo, enquanto na encíclica Mortalium Animos, de Pio XI (1928), por exemplo, o objetivo era delimitar e distinguir claramente a Igreja Católica das confissões cristãs não-católicas”.
Se é assim que Monsenhor Pozzo pensa resolver o problema da continuidade do pensamento do Conciliar (sic) sobre o ecumenismo com a Tradição, penso que as conversações doutrinais com o FSSPX estão arriscadas a não alcançar resultado… É sempre aquilo que tenho pensado. Não é por “conversações doutrinais” que se porá termo à crise da Igreja. Quando Dom Lefebvre dizia, após o fracasso das conversações “práticas” com o Cardeal Ratzinger em 1988, que, “na próxima vez, serei eu que vou colocar as minhas condições: Estais de acordo com o Syllabus?; Estais de acordo com o juramento antimodernista? Estais de acordo com a encíclica Libertas? etc.”, ele queria simplesmente dizer que era necessário, antes de tudo, fazer uma profissão de fé antes de sentar-se novamente à mesa das conversações e que essa profissão de fé deveria ser compartilhada por todos os tomassem parte…
“Senhores, preparai-vos para um longo combate”, dizia-nos Dom Lefebvre. É doutrinal, com certeza. Mas não se discute com o modernismo. Combate-se o modernismo concretamente por uma doutrina íntegra e um apostolado enérgico e valente.
Padre Paul Aulagnier
visto em: fratres in unum