domingo, 17 de outubro de 2010

A devoção ao Sagrado Coração nos leva à pureza de coração


Que devoção será mais apropriada para nos incutir aversão à ofensa de Deus e dor dos pecados cometidos, do que a devoção ao Sagrado Coração? Certamente não podemos contemplar esse Coração encimado por uma cruz e cercado de espinhos, sem pensar que foram os nossos pecados que amarguraram tanto o coração do amantíssimo Salvador. Nossos pecados ocasionaram ao divino Redentor uma agonia contínua.

O Pe. Léssio afirma que a ingratidão dos homens por si só seria suficiente para tirar mil vezes a vida de Jesus Cristo.

Por causa dessa ingratidão Ele chorou no Presepe de Belém, suou sangue no jardim de Getsêmani e morreu no mais completo desamparo e privado de toda a consolação na Cruz.

Nosso Senhor revelou à Beata Ágata da Cruz que nada O contristou tanto no seio de Sua Mãe como a vista dos corações insensíveis que haveriam de desprezar, depois de concluída a redenção, as graças para cuja dispensação Ele veio ao mundo. A mesma coisa já dissera o Senhor muito tempo antes, segundo a interpretação comum dos Santos Padres, pela boca do Profeta: "Que proveito haverá ao meu sangue, se eu descer à corrupção?" (Sl 29,10).

O pensamento no grande tormento que o pecado ocasionou ao Santíssimo Coração de Jesus encheu de dor a todos os santos penitentes. O Senhor deu uma vez a conhecer a Santa Catarina de Gênova a fealdade de um só pecado venial, e a santa, a essa vista, se aterrorizou tanto e sentiu uma tão grande for, que caiu desfalecida. Por isso protestou diante do Crucifixo que nunca mais queria cometer um pecado: Nenhum pecado mais, Senhor; nenhum pecado mais, exclamou ela. Lemos que alguns penitentes, sendo por Deus iluminados sobre a malícia de seus pecados, morreram de dor.

De fato, como será possível deixar de chorar os próprios pecados, quando se pondera que eles foram o cruel lagar que, pela aflição e tristeza, espremeu tanto sangue do Coração de Jesus?

Se a devoção ao Coração de Jesus incute horror ao pecado, contudo, não tira ao pecador a esperança de obter o perdão; antes, mostra-lhe que tem de tratar com um coração infinitamente compassivo. Oh! como é grande a compaixão do Coração de Jesus para com o pecador. A misericórdia foi que O levou a descer do céu à terra; ela O fez dizer que Ele é o bom Pastor que dá a Sua vida para salvar as Suas ovelhas. Para nos obter o perdão a nós, pecadores, não se poupou a Si mesmo.

Quis sacrificar-Se na Cruz, por nós, para satisfazer, por Sua paixão, pelas penas que merecêramos. Por essa misericórdia e por essa compaixão diz Ele, ainda agora:

"Por que quereis morrer, ó casa de Israel?" (Ez. 18,21). Ó homens, pobres filhos Meus, por que quereis perder-vos, fugindo de Mim? Não vedes que, separando-vos de mim, vos entregais à morte eterna? Não quero que vos percais; tende confiança; voltai atrás todas as vezes que quiserdes; recebereis sempre nova vida: "Convertei-vos e vivei" (Ez. 18,22).

Foi também essa compaixão que O levou a comparar-Se a um pai amoroso que, vendo-se desprezado por seu filho, contudo não o repele, quando se volta, arrependido, a ele, chegando até a abraçá-lo ternamente e a esquecer todas as injúrias que dele sofreu. "Não me recordarei mais de todas as suas iniquidades". (Ezeq 18,22)

(Escola da Perfeição Cristã para seculares e religiosos, obra compilada dos escritos de Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja, pelo Pe. Saint Omer, C.SS.R, vertida para o português segundo a edição alemã do Pe. Paulo Leich pelo Pe. José Lopes, C.SS.R, edição de 1955)
 
fonte: A grande guerra