A Encíclica Mediator Dei, de Pio XII, além de ser uma obra-prima, é de fundamental importância para entendermos o verdadeiro sentido da liturgia, e afastarmos os erros - sobretudo do chamado "liturgicismo" - que, se existiam naquela época, muito mais força ganharam nos últimos trinta anos.
Para os que não leram a Encílica - e também para os que há tempos não travam contato com ela -, apresentamos um breve resumo, autorizado e divulgado pela própria Sala de Imprensa da Santa Sé, em 1947, e que encontramos nas páginas do antigo jornal da Arquidiocese de São Paulo, "O Legionário":
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Para os que não leram a Encílica - e também para os que há tempos não travam contato com ela -, apresentamos um breve resumo, autorizado e divulgado pela própria Sala de Imprensa da Santa Sé, em 1947, e que encontramos nas páginas do antigo jornal da Arquidiocese de São Paulo, "O Legionário":
A Encíclica Mediator Dei constitui o segundo capítulo da obra iniciada em 1943, com a publicação da encíclica Mystici Corporis.
O atual documento trata da santidade do culto interno e externo que está em íntima relação com a prática da fé, com o exercício da virtude e com a verdadeira natureza do povo cristão. Embora dirigida a toda a Igreja Católica, a Encíclica, por motivo de ordem prática, refere-se quase que exclusivamente à liturgia da Igreja Latina, na qual se esboçou, nos últimos anos, um movimento de fé, que produziu frutos espirituais em número considerável. Mas precisamente porque se manifestou como uma reação àqueles que acusam de inertes e negligentes, esse movimento nem sempre se conservou dentro de seus justos limites, tendo provocado reações principalmente por parte daqueles que são contrários a qualquer novidade.
Evidentemente, isto constitui sério perigo à caridade e à unidade da fé e é em virtude disso que o documento pontifício faz um apelo aos preguiçosos e àqueles que temem qualquer espécie de justo progresso, julgando ao mesmo tempo ser necessário freiar os imprudentes.
A presente Encíclica pode, portanto, de certo modo, ser chamada a “Encíclica do Santo Equilíbrio do Corpo Místico de Cristo”, levando-se em conta ainda outros motivos além daqueles que já foram expostos. Na realidade, tanto no terreno político como no social, vemos sempre manifestar-se na prática da religião uma tendência à criação de oposições e conflitos, onde na verdade não existe oposição ou conflito, mas, simples divergências de opiniões que podem e mesmo devem ser harmonizadas num plano de unidade superior.
Após dar uma idéia das diferentes oposições que se criaram artificialmente e esclarecê-las, o Papa dá sua opinião autorizada sobre todas as questões suscitadas nos últimos tempos no terreno especulativo e prático da santa liturgia. Desse modo, considera-a importante, não só para salvaguardar a santidade do culto e a pureza da fé, mas também para fazer aumentar a intensidade da vida espiritual.
Foram desenvolvidas, em particular, algumas questões de caráter prático, como canto moderno, o uso do missal por parte dos fiéis, os meios mais apropriados para fazerem os fiéis participarem da santa missa, o uso da língua latina, a cor dos ornamentos, as imagens dos santos e finalmente a criação de uma comissão em cada diocese, encarregada de assegurar a observação das normas litúrgicas.
Depois da introdução, onde estão expostos os motivos que levaram o Papa a publicar um novo documento, vem o desenvolvimento, dividido em quatro partes.
Na primeira, são expostos o caráter, a origem e o desenvolvimento da liturgia. Os seus parágrafos dão especial importância ao justo equilíbrio em Cristo àquilo que chama devoção objetiva, à dignidade sacerdotal e ao respeito pela antigüidade.
O objeto da segunda parte é o culto da Eucaristia: trata da natureza do sacrifício eucarístico, da maneira como é oferecido na Santa Missa. Trata, igualmente, da defesa enérgica da adoração do Santíssimo Sacramento, tal como se desenvolveu no curso do século.
A terceira parte explica como os mistérios da Redenção se encontram presentes nos atos litúrgicos. Recomenda calorosa devoção à Santa Virgem e a participação do povo nos atos solenes da liturgia católica.
A quarta parte é consagrada às exortações pastorais. Faz fervorosas recomendações de meditação, de exame de consciência, de prática de exercícios espirituais, de participação total nos sacramentos, de novenas em homenagem ao Sagrado Coração e à Santa Virgem. Não é proibido disciplinar estes atos com regras litúrgicas; é necessário, porém, impregná-los do mais absoluto espírito litúrgico.
O Papa retoma as palavras contidas na encíclica Mystici Corporis a respeito da confissão e da devoção, recomendando justa liberdade no caminho da vida espiritual, uma vez que as veredas do Santo Espírito são múltiplas. O Papa aproveita-se da oportunidade para pôr em particular relevo a prática dos exercícios espirituais, segundo o método de Santo Inácio, em virtude deles terem demonstrado ser de uma maravilhosa eficiência para a renovação do espírito apostólico e litúrgico. Em conseqüência, recomenda o desenvolvimento do espírito litúrgico por meio de sermões, artigos, reuniões e congressos. “É também necessário – diz o Papa – zelar atentamente para impedir a infiltração dos erros difundidos em nossa época e, em particular, do falso misticismo, do arqueologismo litúrgico exagerado, do quietismo e do naturalismo”.
Finalmente, no epílogo, que se propõe a estimular os fiéis a praticarem o bem e refrear os excessos, a Encíclica recomenda calorosamente o espírito de fervor, prudência, submissão e concórdia.
Este breve resumo basta para mostrar o número e a importância do tesouro contido nesse novo documento, que será certamente lido e estudado a fundo pelos círculos litúrgicos. A nova encíclica sacudirá os preguiçosos de sua inércia, assim como os negligentes e reconfortará os fervorosos; conterá o ímpeto dos audaciosos e iluminará a consciência de todos os povos.
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