Do artigo de Paolo Rodari, do Il Foglio:
DE:Fratres in unumA música sacra da Igreja Católica sofreu uma grande revolução após o Concílio Vaticano II. Bartolucci relata: “Também Pio XII havia desejado convocar o Concílio. Assim o disse o Cardeal Achille Silvestrini, no décimo aniversário da morte do Cardeal Domenico Tardini. Ele se deu conta, porém, que os numerosos focos de rebelião presentes na Igreja poderiam começar um incêndio em Roma. Foi assim que o Papa João XXIII, depois do Sínodo Romano, convocou o Concílio. Sob o seu pontificado, a Capela Sistina pôde finalmente ser reconstituída. Eu mesmo apresentei um projeto de reforma geral e o Papa o aprovou integralmente. Obtivemos uma sede, o arquivo, um grupo fixo e assalariado de cantores adultos e especialmente a schola puerorum dedicada exclusivamente à formação dos nossos moços. O Papa João apreciava muito a Capela. No Natal, cantávamos em seu apartamento com os meninos diante do presépio. Com relação à liturgia, creio que ele não teria mudado nada, mas em seguida ele morreu. A reforma verdadeira e própria, com todas as mudanças, se deu sob Paulo VI”.
Sob o pontificado do Papa Montini e com o novo direcionamento litúrgico se verificou, de fato, a crise da música sacra. Bartolucci recorda ainda uma Páscoa em que voltou para casa em lágrimas. Disse: “Nos mandaram embora dizendo que a Sistina não deveria cantar, mas o povo. Foi uma revolução copernicana. O abandono do latim, que o próprio Concílio não desejava, na verdade, foi promovido por muitos liturgistas e assim todo o repertório tradicional do canto gregoriano e da polifonia, e, consequentemente, as schola cantorum, foram apontados como a causa de todo o mal. Ir ao povo havia se tornado lema, sem que se compreendesse as graves conseqüências dessa banalização dos ritos e da liturgia. Eu sempre me opus a isso e sempre defendi a necessidade da grande arte na Igreja, para sustento e benefício do próprio povo. Pensou-se que participar significasse cantar ou ler alguma coisa e assim se desprezou a sábia pedagogia do passado. Paradoxalmente, também o repertório dos cantos devocionais que o povo sabia e cantava desapareceu. Anos atrás, por exemplo, quando o povo assistia a uma missa por um morto, sabia cantar com devoção o Dies Irae, e recordo que todos se uniam para cantar o Te Deum ou as antífonas de Nossa Senhora. Hoje, dificilmente se acha alguém capaz de fazê-lo. Muitos hoje, felizmente, embora um pouco atrasados, começam a perceber o que aconteceu. Era necessário pensar naquela época, antes de proceder com tanta susposta sabedoria em favor de uma moda. Mas você sabe, na época todos renovavam, todos pontificavam. Felizmente, o Santo Padre está dando indicações muito precisas sobre a liturgia e esperamos que o tempo ajude as novas gerações”.A Capela Sistina, depois do Concílio, no entanto, continuou a desempenhar uma importante atividade, pois Bartolucci quis promover suas execuções também em concertos. “Dei a volta ao mundo com a Sistina e nos concertos pude me sentir livre para programar as obras-primas que eram impossíveis de se realizar dentro da liturgia, in primis, as obras de Giovanni Pierluigi de Palestrina. Giuseppe Verdi o define como o “pai eterno” da música ocidental. Eu já disse isso uma vez em uma entrevista: “Palestrina é o primeiro patriarca que compreendeu o que significa fazer música; ele percebeu a necessidade de uma composição contrapontística vinculada ao texto, alheia à complexidade e aos cânones da composição flamenga. Não por acaso, o Concílio de Trento fixou o cânones da música litúrgica olhando para ele. Não há autor que respeite o texto sagrado como Palestrina. Eu, no que pude, tentei me referir a este mesmo espírito, à solidez do canto gregoriano e polifonia de Palestrina. Por isso pude continuar a escrever música, na esteira da tradição da Escola Romana”.