CARTA ENCÍCLICA DO PAPA PIO XII
MEDIATOR DEI
SOBRE A SAGRADA LITURGIA
137. Durante todo o correr do ano a celebração do sacrifício eucarístico e o Oficio divino se desenvolvem sobretudo em torno da pessoa de Jesus Cristo e se organizam de modo tão harmonioso e adequado que faz dominar o nosso Salvador nos seus mistérios de humilhação, de redenção e de triunfo.
138. Evocando esses mistérios de Jesus Cristo, a sagrada liturgia visa a fazer deles participar todos os crentes de modo que a divina Cabeça do corpo místico viva na plenitude da sua santidade nos membros. Sejam as almas dos cristãos como altares nos quais se repetem e se reavivam as várias fases do sacrifício que o sumo Sacerdote imola; isto é, as dores e as lágrimas que lavam e expiam os pecados; a oração dirigida a Deus que se eleva até o céu; a própria imolação feita com ânimo pronto, generoso e solícito e, enfim, a íntima união com a qual nos abandonamos, nós e nossas coisas a Deus e nele repousamos "sendo o essencial da religião imitar aquele que adoras". (146)
139. Conforme esses modos e motivos com os quais a liturgia propõe à nossa meditação em tempos fixos a vida de Jesus Cristo, a Igreja nos mostra os exemplos que devemos imitar e os tesouros de santidade que fazemos nossos, porque é necessário crer com a mente aquilo que se canta com a boca, e traduzir na prática dos costumes particulares e públicos o que se crê com a mente.
140. Com efeito, no tempo do advento, excita em nós a consciência dos pecados miseramente cometidos; e nos exorta a fim de que, refreando os desejos com a mortificação voluntária do corpo, nos recolhamos em pia meditação e sejamos impelidos pelo desejo de voltar a Deus que, só ele, pode com a sua graça libertar-nos da mancha dos pecados e dos males que nos afligem.
141. Na ocorrência do Natal do Redentor parece quase reconduzir-nos à gruta de Belém para que aí aprendamos que é absolutamente necessário nascer de novo e reformar-nos radicalmente, o que só é possível quando nos unimos íntima e vitalmente ao Verbo de Deus feito homem e nos tornamos participantes da sua divina natureza à qual fomos elevados.
142. Com a solenidade da Epifania, recordando a vocação das gentes à fé cristã, quer que agradeçamos cada dia ao Senhor por tão grande benefício, desejemos com grande fé o Deus vivo, compreendamos com devoção e profundamente as coisas sobrenaturais e amemos o silêncio e a meditação para poder facilmente compreender e conseguir os dons celestes.
143. Nos dias da Septuagésima e da Quaresma, a Igreja, nossa mãe, multiplica os seus cuidados para que diligencie cada qual por se compenetrar da sua miséria, ativamente se incite à emenda dos costumes, e deteste de modo particular os pecados, suprimindo-os com a oração e a penitência, já que a assídua oração e a penitência dos pecados cometidos nos obtêm o auxílio divino sem o qual é inútil e estéril toda obra nossa. No tempo sagrado em que a liturgia nos propõe as atrozes dores de Jesus Cristo, a Igreja nos convida ao Calvário, a seguir as pegadas sanguinolentas do divino Redentor a fim de que de bom grado carreguemos a cruz com ele, tenhamos em nós os mesmos sentimentos de expiação e de propiciação e juntos morramos todos com ele.
144. Na solenidade pascal, que comemora o triunfo de Cristo, sente-se a nossa alma penetrada de íntima alegria, e devemos oportunamente pensar que também nós, junto com o Redentor, surgiremos, de uma vida fria e inerte para uma vida mais santa e fervorosa, a Deus oferecendo-nos todos, com generosidade e esquecendo-nos desta mísera terra para só aspirar ao céu: "Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas supernas, aspirai às coisas do alto".(147)
145. No tempo de Pentecostes, finalmente, exorta nossa Igreja, com os seus preceitos e a sua obra, a oferecer-nos docilmente à ação do Espírito Santo, o qual quer acender em nossos corações a divina caridade para progredirmos na virtude com maior empenho, e assim nos santificar, como são santos Cristo Senhor e o seu Pai Celeste.