segunda-feira, 1 de julho de 2013

Seguir a própria consciência em dialogo com Deus - exortou o Papa aos cristãos este domingo no Angelus . Homilia do Papa Francisco na Missa dos SS. Pedro e Paulo

 



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Grande multidão na Praça de São Pedro, também este domingo, para ouvir o Papa Francisco, que ao meio dia, assomou à janela do Palácio Apostólico para a Oração Mariana do Angelus.
Antes, porém, teceu algumas reflexões centradas no Evangelho deste domingo, em que São Lucas põe em evidência a decisão de Jesus de se pôr a caminho de Jerusalém, onde iria morrer e ressuscitar, completando assim a sua missão de salvação. E a quem o quer seguir, Jesus convida a abandonar tudo, a desligar-se dos afectos humanos, mas não impõe nada, sublinhou energicamente o Papa, acrescentando que Jesus nunca impõe nada, é humilde, convida, mas deixa a cada um a própria liberdade de agir conforme a própria consciência.

Mas atenção: embora Jesus tenha tomado a firme decisão de ir para Jerusalém, e a tenha tomado livremente, em conformidade com a sua consciência, fê-lo em plena comunhão com o Pai celeste. Como Verbo incarnado e Filho de Deus feito homem, Jesus encontrava no Pai a força e a luz para o seu caminho. Mas não era telecomandado, disse o Papa, frisando mais uma vez que Jesus nos quer livres tal como Ele próprio era….

Jesus era livre, naquela decisão era livre. A nós cristãos, Jesus quer-nos livres come ele próprio foi; com aquela liberdade que vem do dialogo com o Pai. Jesus não quer um cristão egoísta que segue o próprio eu, que não fala com Deus; também não quer cristãos fracos, sem vontade, cristãos telecomandados, incapazes de criatividade, que procuram sempre ligar-se à vontade de alguma outra pessoa e que não são livres. Jesus quer-nos livres, dessa liberdade que vem da escuta de Deus. Se um cristão não sabe falar com Deus, não é livre

Tal como Jesus também nós devemos aprender a agir conforme a nossa consciência. O que não quer dizer seguir o próprio eu, advertiu o Santo Padre …

Isto não significa seguir o próprio eu, fazer o que me interessa, o que me convém, o que me agrada… Não é isso! A consciência é o espaço interior de escuta da verdade, do bem, da escuta de Deus; é o lugar interior da minha relação com Ele, que fala ao meu coração e me ajuda a discernir, a compreender o caminho que devo percorrer, e uma vez tomada a decisão, ir em frente, permanecer fiel”.

A este ponto o Papa evocou o Papa emérito Bento XVI, que definiu um exemplo maravilhoso de seguimento da própria consciência em concordância com Jesus…

(…) quando o Senhor lhe fez compreender, na oração, o passo que devia dar. Seguiu com grande sentido de responsabilidade e coragem, a sua consciência, isto é a vontade de Deus que falava ao seu coração

E o Papa concluiu pedindo a Nossa Senhora que - com grande simplicidade soube escutar e meditar no seu intimo a Palavra de Deus e quanto acontecia a Jesus – para que nos ajude a tornarmo-nos cada vez mais homens e mulheres de consciência, livres na consciência, porque é na consciência que se dá o dialogo com Deus; homens e mulheres capazes de auscultar a voz de Deus e de o seguir com decisão.

Homilia do Papa Francisco na Missa dos SS. Pedro e Paulo e imposição do Pálio - 29 de Junho de 2013



Senhores Cardeais,
Eminentíssimo Metropolita Ioannis,

Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Amados irmãos e irmãs!
Celebramos a solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, padroeiros principais da Igreja de Roma; uma festa tornada ainda mais jubilosa pela presença de Bispos de todo o mundo. Uma enorme riqueza que nos faz reviver, de certa forma, o evento de Pentecostes: hoje, como então, a fé da Igreja fala em todas as línguas e quer unir os povos numa só família.
Saúdo cordialmente e com gratidão a Delegação do Patriarcado de Constantinopla, guiada pelo Metropolita Ioannis. Agradeço ao Patriarca ecuménico Bartolomeu I este novo gesto fraterno. Saúdo os Senhores Embaixadores e as Autoridades civis. Um obrigado especial ao Thomanerchor, o Coro da Thomaskirche [Igreja de São Tomé] de Lípsia – a igreja de Bach – que anima a Liturgia e constitui mais uma presença ecuménica.
Três pensamentos sobre o ministério petrino, guiados pelo verbo «confirmar». Em que é chamado a confirmar o Bispo de Roma?
1. Em primeiro lugar, confirmar na fé. O Evangelho fala da confissão de Pedro: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo» (Mt 16, 16), uma confissão que não nasce dele, mas do Pai celeste. É por causa desta confissão que Jesus diz: «Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja» (16, 18). O papel, o serviço eclesial de Pedro tem o seu fundamento na confissão de fé em Jesus, o Filho de Deus vivo, tornada possível por uma graça recebida do Alto. Na segunda parte do Evangelho de hoje, vemos o perigo de pensar de forma mundana. Quando Jesus fala da sua morte e ressurreição, do caminho de Deus que não corresponde ao caminho humano do poder, voltam ao de cima em Pedro a carne e o sangue: «Pedro começou a repreendê-Lo, dizendo: (…) Isso nunca Te há-de acontecer!» (16, 22). E Jesus tem uma palavra dura: «Afasta-te, Satanás! Tu és para Mim um estorvo» (16, 23). Quando deixamos prevalecer os nossos pensamentos, os nossos sentimentos, a lógica do poder humano e não nos deixamos instruir e guiar pela fé, por Deus, tornamo-nos pedra de tropeço. A fé em Cristo é a luz da nossa vida de cristãos e de ministros na Igreja!
2. Confirmar no amor. Na segunda leitura, ouvimos as palavras comoventes de São Paulo: «Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel» (2 Tm 4, 7). Qual combate? Não é o das armas humanas, que, infelizmente, ainda ensanguenta o mundo, mas o combate do martírio. São Paulo tem uma única arma: a mensagem de Cristo e o dom de toda a sua vida por Cristo e pelos outros. E foi precisamente este facto de expor-se em primeira pessoa, deixar-se consumar pelo Evangelho, fazer-se tudo para todos sem se poupar, que o tornou credível e edificou a Igreja. O Bispo de Roma é chamado a viver e confirmar neste amor por Cristo e por todos, sem distinção, limite ou barreira. E não só o Bispo de Roma, mas todos vós, novos arcebispos e bispos, tendes o mesmo dever: deixar-se consumar pelo Evangelho, fazer-se tudo para todos. O dever de não se poupar, de se esquecer de si ao serviço do povo santo e fiel de Deus.
3. Confirmar na unidade. Aqui detenho-me a considerar o gesto que realizámos. O Pálio é símbolo de comunhão com o Sucessor de Pedro, «princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade de fé e comunhão» (Conc. Ecum. Vat. ii, , 18). E hoje a vossa presença, amados Irmãos, é o sinal de que a comunhão da Igreja não significa uniformidade. Referindo-se à estrutura hierárquica da Igreja, o Concílio Vaticano II afirma que o Senhor «constituiu [os Apóstolos] em colégio ou grupo estável e deu-lhes como chefe a Pedro, escolhido de entre eles» (ibid., 19). Confirmar na unidade: o Sínodo dos Bispos, em harmonia com o primado. Devemos avançar por esta estrada da sinodalidade, crescer em harmonia com o serviço do primado. E continua o Concílio: «Este colégio, enquanto composto por muitos, exprime a variedade e universalidade do Povo de Deus» (ibid., 22). Na Igreja, a variedade, que é uma grande riqueza, sempre se funde na harmonia da unidade, como um grande mosaico onde todos os ladrilhos concorrem para formar o único grande desígnio de Deus. E isto deve impelir a superar sempre todo o conflito que possa ferir o corpo da Igreja. Unidos nas diferenças: não há outra estrada para nos unirmos. Este é o espírito católico, o espírito cristão: unir-se nas diferenças. Este é o caminho de Jesus! O Pálio, se é sinal da comunhão com o Bispo de Roma, com a Igreja universal, com o Sínodo dos Bispos é também um compromisso que obriga cada um de vós a ser instrumento de comunhão.
Confessar o Senhor deixando-se instruir por Deus, consumar-se por amor de Cristo e do seu Evangelho, ser servidores da unidade: estas são as incumbências que os Apóstolos São Pedro e São Paulo confiam a cada um de nós, amados Irmãos no Episcopado, para serem vividas por cada cristão. Sempre nos guie e acompanhe com a sua intercessão a Santíssima Mãe de Deus: Rainha dos Apóstolos, rogai por nós! Amen.