A SANTA MISSA É O MAIS DIGNO SACRIFÍCIO DE SATISFAÇÃO.
Bem que o sacrifício de satisfação esteja compreendido no sacrifício de conciliação, existe, entretanto, uma notável diferença entre os dois: o sacrifício de reconciliação torna Deus favorável ao pecador, ao passo que, pelo sacrifício de satisfação, resgatamos as penas temporais. Parece, pois, conveniente tratar de cada um em capítulo particular.
O pecado produz um duplo mal: o da “culpa” e o da “pena”. A “culpa” faz-nos perder o favor de Deus e é perdoada pelo sacramento da Penitência. A “pena” poderia ser também remida, inteiramente, pela Confissão, mas, em geral, por causa da imperfeição com a qual se recebe este Sacramento e, talvez, devido a certas circunstâncias produzidas por nossos pecados, é somente remida em parte.
Ora, tudo o que fica da pena devida ao pecado, podemos expiar, neste mundo, pela oração, por vigílias, jejuns, esmolas, peregrinações, recepção freqüente dos santos Sacramentos, e sobretudo, ganhando indulgências. Se morremos sem ter, completamente, satisfeito nossa dívida, iremos expiá-la no purgatório.
As penitências da vida presente custam muito à pobre natureza, e a lembrança do purgatório nos aterra com razão. Não haverá pois, um meio de satisfazer, inteiramente, neste mundo, e não podemos evitar o purgatório, ou pelo menos, abreviar-lhe a duração e diminuir a intensidade de suas chamas?
Sim, existe um meio, – e esse meio de pagar toda a dívida é fácil: oferecendo o santo Sacrifício da Missa, o divino Criador ficará satisfeito. Lembra-te, porém, quando assistes ao santo Sacrifício da Missa, que é tua propriedade, conforme a vontade de Deus. É o que afirma o sacerdote em cada santa Missa, quando, voltando-se para os assistentes, lhes diz: “Orai, meus irmãos, para que o meu e o vosso sacrifício seja agradável a Deus, o Pai onipotente”.
Compenetrado, pois, do valor do tesouro que se acha em teu poder, dize ao teu Criador: “Quanto vos devo, Senhor? cem? mil? dez mil talentos? Reconheço minha grande dívida e estou pronto a satisfazê-la, não por mim, mas pelos ricos méritos de vosso divino Filho, presente aqui sobre o altar. Ofereço-vos este tesouro, tirai daí quanto for preciso para satisfazer minha dívida”.
Que todos se apliquem a fazer valer este tesouro, e os pobres pecadores se apressem, logo que caírem, a assistir à santa Missa, a oferecer este santo Sacrifício em expiação de sua falta! Deus lhes ajudará a fazer uma boa Confissão, apagando-lhes as penas temporais e preservando-os das reincidências.
A compreensão e meditação das verdades que acabamos de expor, despertará, sem dúvida, em teu espírito, legítima curiosidade de saber em que medida as penas temporais nos são perdoadas pela piedosa audição da santa Missa.
Não podemos responder melhor a esta pergunta do que lembrando, novamente, o infinito valor do Sacrifício de nossos altares. Escuta o que diz o Padre Lancício: “O valor do santo Sacrifício da Missa é infinito pela própria virtude. Apesar de ser agora oferecido pelas mãos dos sacerdotes, o preço lhe é tão elevado como quando, a última ceia, Jesus Cristo em pessoa o oferecia a seu Pai, visto que ele fica sendo Sacrificador e Vítima. Este primeiro Sacrifício, como todas as obras que Jesus Cristo praticou sobre a terra, eram de um valor infinito em virtude da dignidade de sua divina Pessoa. Segue-se daí que o santo Sacrifício da Missa é ainda e será sempre de um valor infinito” (Lib. II de Missa, n. 294).
O Padre Lancício demonstra, em seguida, como, apesar desse valor infinito da santa Missa, seu mérito não se aplica aos fiéis de maneira infinita. Não fosse assim, uma única Missa seria suficiente para obter-nos a remissão de tudo quanto devemos à eterna justiça e toda penitência tornar-se-ia desnecessária. Concorda isto com o ensino da santa Igreja afirmando que, pela virtude do santo Sacrifício, muitas das penas podem ser remidas e até todas, se nossa devoção for muito grande.
Entretanto, não se deve interpretar falsamente estas explicações e dizer: Visto que a santa Missa é de valor infinito e constitui o meio mais fácil de ficar quite com a divina Justiça, ouvi-la-ei da melhor forma possível, dispensando-me de fazer penitência: isto seria querer enganar-se a si próprio, visto que as penas temporais não são remidas senão quando nos tornamos dignos da remissão, por um coração contrito e humilhado; ora, a contrição, o arrependimento sincero do pecado levar-te-á sempre às diversas práticas da penitência.
A santa Missa não torna, pois, inúteis as outras boas obras, antes nos obriga a fazê-las, para nos tornar mais dignos de obter, pelo santo Sacrifício do Altar, a remissão de uma grande parte de nossas penas. Por isso, diz o venerável Luis de Argentina: “As obras de penitência não são supérfluas. Pelo contrário, são muito necessárias, pois contribuem para a correção dos defeitos e a emenda da vida”. Sim, as penitências afastam-nos do pecado, pondo um freio às nossas paixões, tornam-nos mais prudentes e mais vigilantes, fazem desaparecer os maus costumes pelos atos das virtudes contrárias.
Aqui te ouvimos perguntar: “Qual é, pois, a eficácia da santa Missa pelo alívio das almas do purgatório?”. Caro leitor, Deus não julgou necessário revelá-lo à sua Igreja, como também não revelou a extensão da pena aplicada a este ou aquele pecado. Mas, quando consideramos que nada de impuro entra no céu e que o purgatório é um cárcere donde ninguém sai sem ter pago até o último ceitil, e se, de outro lado, rememoramos o caráter e a duração das penas impostas outrora pela santa Igreja, devemos concluir que a demora das almas no purgatório é prolongada.
A incerteza neste ponto estabeleceu o uso dos aniversários, cerimônias que podem ser mantidas durante séculos. O que sabemos infalivelmente é que podemos socorrer às almas do purgatório pela oração e, sobretudo, pelo santo Sacrifício da Missa. Logo, se amamos estas almas, – e quem não as amaria? – façamos celebrar por elas a santa Missa, ou assistamo-la em sua intenção.
Os teólogos acreditam, comumente, que as almas do purgatório tiram tanto mais fruto do santo Sacrifício quanto maior lhe foi o zelo em assisti-lo sobre a terra. Sê, pois, esperto, caro leitor, e diminui à tua alma, quanto for possível, a duração das chamas do purgatório. Supõe que, tendo cometido um grande crime, te condenassem a ficar estendido meia hora sobre uma grelha em brasa, ou a ouvir uma santa Missa. Sem dúvida, precipitar-te-ias para a igreja, para aí ouvir não uma, mas diversas missas, a fim de não incorreres no suplício do fogo.
Ora, não é provável que, na tua morte, tua alma vá diretamente para as alegrias do céu; é quase certo que, antes de chegar ao gozo eterno, deverás purificar-te pelas penas do purgatório. Que leviandade, pois, descuidares-te da santa Missa que diminui, suaviza e apaga, tão eficazmente, as chamas do purgatório.
Se insistires ainda para saber qual a eficácia de uma Missa que fazes celebrar por tua alma, responderemos: Quem faz celebrar o santo Sacrifício obtém, naturalmente, mais graça para expiação de suas penas temporais do que o que se limita a assisti-lo, porque os frutos do santo Sacrifício lhe pertencem, em grande parte, por direito, quer da parte de Deus, quer da parte do sacerdote. A soma exata, porém, que se lhe concede, Deus não a revelou. Quem, não contente de mandar celebrar a santa Missa, também a vai assistir, receberá lucro aumentado, porque, ainda que obtenha ausente, a parte de graças que o sacerdote lhe aplica, ficará privado da vantagem que lhe seria atribuída se a assistisse.
Segue-se uma conseqüência geralmente ignorada. Quando mandares celebrar uma Missa, seja para honrar um Santo, seja para obter uma graça, sem determinar a quem as graças “satisfatórias” deverão ser aplicadas, estas voltarão ao tesouro da Igreja, salvo se Deus, por compaixão pela ignorância, muitas vezes involuntária, dispõe delas em teu favor. Seja, portanto, bem determinada tua intenção, e dize a Nosso Senhor: Desejo mandar celebrar esta Missa em honra de tal Santo… para obter a graça … e vos peço que apliqueis as graças satisfatórias do santo Sacrifício a mim ou a tal alma… Desta maneira teu proveito será duplo, pois honras o Santo de tua devoção e favoreces a própria alma, pagando as dívidas das penas temporais, como também qualquer outra, em cujo favor aplicares a virtude satisfatória da santa Missa.
Estas considerações são muito próprias para inflamar nosso amor pela santa Missa: sendo possível, ouçamo-la todos os dias. Tenhamos, nos domingos e dias santos, a devoção de, além da Missa de obrigação, assistir ainda a outras.
Deus não esquece nenhuma das nossas faltas, portanto hás de escolher: “aut poenitendum aut ardendum – ou expiar ou queimar”. Não será melhor satisfazer aqui, do que cair, carregado de dívidas, nas mãos da divina Justiça? Se, pois, as mortificações das almas heróicas te espantam, procura supri-las pelo meio agradável e fácil da piedosa assistência à santa Missa.
Fonte: http://www.derradeirasgracas.com/