Pobre Igreja, pobre cardeal.
Por Fratres in Unum.com: Dom João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Religiosos, faz cada católico brasileiro participar de sua púrpura. O vermelho de seu cardinalato, que representa a prontidão em dar o próprio sangue por amor a Cristo, para nós chega como rubor pela pobreza, intelectual e de espírito, do cardeal. Em Dom João Braz de Aviz temos uma Igreja pobre, paupérrima!
Em entrevista à revista Veja desta semana (edição 2420), o ex-arcebispo de Brasília revela escancaradamente o que há muito já sabíamos, mas que, por caridade, esforçávamo-nos em não crer. Em suma: um ódio visceral ao que a Igreja construiu ao longo dos séculos e a defesa ardorosa de tudo o que há de revolucionário, reservando seu pobre veneno apenas a Bento XVI e aos “tradicionalistas na Igreja”.
No testemunho de Dom João, estas seriam palavras de Francisco: “Peço a Deus a graça de viver o suficiente para que as reformas na Igreja sejam irreversíveis”.
Reformas não só cosméticas, mas de fundo:
“Existe, no entanto, uma reforma muito mais profunda já em curso. Trata-se de uma mudança de base — simples e complexa ao mesmo tempo. A de fazer com que a Igreja seja mais fraterna, que se abra para valores autênticos — amor, justiça e paz. Nós, católicos, fomos sempre muito fechados. Convivemos por séculos com a ideia de que é preciso converter as pessoas para trazê-las para perto. Não podemos agir como se fôssemos donos da moral”.
É exatamente a tese Kasperiana, “teologia de joelhos” elogiada publicamente pelo Papa Francisco, que dissocia doutrina e pastoral. Assim, para o cardeal:
“Há duas maneiras de ler o Evangelho. Uma, de forma puramente doutrinal, racional. A outra é ver a mensagem de Jesus nas palavras do Evangelho. A mensagem de amor e de acolhimento de Jesus […] O Papa se justifica para essas pessoas. Pessoas que veem o Evangelho de forma restrita, puramente doutrinal. São os tradicionalitas da Igreja. Aos eclesiásticos e aos fiéis não tradicionalistas, ele certamente não precisa se explicar”.
Duas leituras: uma, que leva a sério o que disse Nosso Senhor. Outra, que ignora suas palavras para procurar, como filha legítima do protestantismo, ler nas entrelinhas e encontrar um “espírito” adaptável, de modo absolutamente subjetivista, às idéias do momento, às modas, à pobreza humana. Pois, de acordo com o purpurado, “o Papa não pode jamais mudar o ensinamento de Jesus. Mas pode mudar a interpretação”.
Para Dom João, “nós, católicos, fomos sempre muito fechados”. De fato, Sua Eminência nunca pôde abrir-se a Bento XVI, que, tristemente, fê-lo cardeal:
“Digamos que eu passei por uma crise pessoal muito grande. Em 2012, o então secretário da congregação que eu coordeno, o arcebispo Joseph Robin, foi destituído por Bento XVI sob acusação de ter tomado o partido das freiras americanas responsabilizadas por desvios de disciplina e doutrina. A acusação era injusta. Posso dizer isso porque ele era meu braço-direito. Eu sempre achei que fazer a vontade de Deus por meio do caminho da Igreja é essencial. Mas, no momento em que passo a pensar que a vontade de Deus pode ser mentirosa, como eu fico? Simplesmente, calei-me diante daquela injustiça”.
É que Dom João esperava um Papa à sua medida, moldado à sua ideologia. Até a agenda é motivo para contrapor os pontífices, exaltando a um e execrando publicamente a outro:
“Vejo o Papa Francisco pelo menos a cada duas semanas […] Quanto a Bento XVI, na última vez que pedi para falar com ele, o encontro foi marcado para dali a quatro meses. Ele é extremamente tímido, e essa timidez causou uma dificuldade de comunicação muito grande”.
Pobre época, pobre Igreja, pobre cardeal!
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