segunda-feira, 15 de março de 2010

O progressismo “católico” é a grande esperança das esquerdas no País –– denunciá-lo continuamente: uma das principais bandeiras de nossa revista


Conceitos

O termo “progressismo” designa, usualmente, o movimento religioso, herdeiro do Modernismo, condenado por São Pio X, que procura adaptar a Teologia, a Moral, a Liturgia e a Pastoral ao mundo moderno, ou seja, a uma concepção revolucionária de Modernidade e de Progresso.

A moral progressista contém noções a respeito do relacionamento entre governantes e governados, patrões e operários, pais e filhos, etc. A partir daí, dá origem a uma doutrina social e política, o “esquerdismo católico”, que é o reverso político e social do progressismo.

Neste artigo, em algumas passagens, por comodidade de linguagem, mas também seguindo prática jornalística que se vai generalizando, o termo progressista designará ambas as posições.

Dom Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo de São Paulo, que apoiou o apostolado de Plinio Corrêa de Oliveira. Na foto acima, o Prelado com o líder católico e colaboradores do Legionário

Catolicismo se ufana de ser no Brasil a mais importante revista antiprogressista e contrária ao “esquerdismo católico”. Nenhuma publicação entre nós se iguala a Catolicismo na luta contra o progressismo, seja pela amplitude e profundidade dos temas tratados, seja pela agudeza em detectar e saber denunciar até suas mais larvadas e disfarçadas formas.

A revista não disputa a primazia nos esportes, na economia, no noticiário da política partidária e em várias outras rubricas da imprensa. Para algumas delas faltam-lhe meios; para outras, apetência. Essa primazia, ela a tem na análise do progressismo. Nunca estadeou tal. Não precisava. Os fatos encarregam-se de apregoá-la. Dispõe do mais abalizado corpo de colaboradores de língua portuguesa para tratar do tema.

Tal preeminência, Catolicismo não a buscou. Decorreu de situações concretas, amiúde dolorosas, que os colaboradores da revista prefeririam que não tivessem existido.

Este corpo especializado é todo composto de católicos de militância intensa. Presenciaram eles na dor, inabaláveis em suas convicções, um dos períodos mais trágicos, senão o mais terrível, da História da Igreja. E o estudaram a fundo. Fase na qual Paulo VI constatou que a “fumaça de Satanás” havia entrado no templo de Deus, e que –– em palavras ainda suas –– sofria a Igreja um misterioso processo de “autodemolição”. Ora, todo poder existente na Igreja está na sua Hierarquia. Portanto, ninguém A pode autodemolir, senão membros de sua Hierarquia. Paulo VI denunciava, assim, que da própria Hierarquia partiam poderosos impulsos destrutivos. Que de mais trágico pode sobrevir?

Pactuar ou resistir? –– Com o avanço do processo revolucionário, que há séculos desagrega o Ocidente cristão, o Clero e o laicato viram-se diante de uma encruzilhada. Cederiam diante das novas idéias e costumes aparentemente avassaladores, aceitariam a modernização revolucionária? Ou, pelo contrário, reagiriam, resignando-se talvez ao isolamento?

A primeira tendência a de reagir e resistir –– levou nutridos setores da Igreja a capitular, passando a agir como companheiros de viagem de correntes revolucionárias. O modernismo quis adaptar a Igreja ao liberalismo racionalista triunfante no século XIX e início do XX; seu sucessor, o progressismo, em seus movimentos primeiros, se adaptou à mentalidade otimista e paganizante do “american way of life”, então nos galarins; posteriormente seus setores mais radicalizados, tendo como bandeira a Teologia da Libertação, procuraram atrelar a Igreja ao que lhes parecia o futuro, o socialismo marxista.

A segunda tendência –– a de reagir e resistir –– foi seguida pelos colaboradores de Catolicismo, continuadores, aliás, do “Legionário”.

Remédios –– Catolicismo não teve como missão tarefa simpática.

Advertiu continuamente os católicos a respeito dos desabamentos que a aceitação do espírito moderno causaria na Igreja e na sociedade temporal. Infelizmente foi ouvido menos do que seria de se desejar. E a conseqüência foi que os desabamentos se deram. Poderiam ter sido ainda piores, se tais advertências não tivessem coberto suas páginas durante décadas.

O tom de seriedade dos artigos antiprogressistas decorre necessariamente do tema. Pois se trata de contribuir para barrar o passo a uma crise que devasta o interior da Igreja, o que implica não raras vezes censuras nominais aos responsáveis, e mesmo relatos de fatos escandalosos. Este pugilo, que anelou viver na harmonia da autêntica irmandade católica, tranqüilo sob a autoridade de bons Pastores, combatendo apenas inimigos externos, viu-se obrigado a dedicar o mais sensível de sua vigiláncia a detectar insídias e maquinações que minam por dentro a fortaleza sagrada. Dura tarefa! Cruzados do espírito, a sinuosidade do adversário lhes negou o que constituía seu maior anseio: a pugna em campo aberto e de viseira erguida.

Ocorre-me ainda ao espírito outra comparação, de natureza diversa, mas que terá o dom, creio, de lançar luz sobre o dramático da situação.

Se um cirurgião, bom filho, se visse obrigado a extirpar um tumor maligno da própria mãe, faria a incisão com todo o tamanho requerido, mas não levaria o bisturi um milímetro além; retiraria com minúcia todos os tecidos afetados, mas preservaria cuidadosamente as partes sãs. Alegrar-se-ia com o êxito da intervenção, contudo lhe pesaria o ser ela necessária. Tal é a tarefa de Catolicismo.

Defesa da ordem temporal –– Há mais. Os colaboradores de Catolicismo, por amarem muito a Igreja, amam ainda a civilização cristã, fruto temporal da aceitação efetiva do Evangelho. Nesta, a Igreja está em casa, tem condições propícias para cumprir sua missão; fora dela, as condições são adversas, não raro impossibilitando a missão.

O fato explica-se facilmente. Quando os homens vivem numa ordem moldada pelo espírito da Igreja, observam com menos obstáculos os austeros, suaves embora, preceitos cristãos. Numa sociedade revolucionária, inchada de orgulho e atolada na sensualidade, membros seus precisarão de marcante abnegação, autonomia de juízo e força de caráter para vencer a onda dominante, e assim subjugar as próprias más inclinações.

Se contra a Igreja age muito especialmente o progressismo, a “esquerda católica” assesta suas baterias preferentemente contra a civilização cristã, secundando os esforços da grande investida socialo-comunista.

Linhas de combate –– Num relance, vejamos agora as linhas principais da atuação de Catolicismo contra estes dois aspectos da autodemolição eclesiástica: progressismo e “esquerda católica”

Denúncia dos erros infiltrados na Ação Católica. Catolicismo deu seqüência, a partir de 1951, ao combate anteriormente levado a cabo pelo “Legionário”. O lance principal na pugna anterior havia sido a publicação, em 1943, do livro Em Defesa da Ação Católica, verdadeiro compêndio dos erros neomodernistas que ameaçavam os meios católicos. Nas páginas de Catolicismo, sobretudo nos primeiros anos, abundavam análises a respeito dos erros que devastavam a Ação Católica.

Nas esferas social e política, Catolicismo condenou documentadamente as escandalosas atividades da JEC, JOC, JUC (da qual mais tarde se destacou a AP, que aderiu ao marxismo-leninismo e entrou para a guerrilha), companheiras de viagem do comunismo. Aliás, parte dos atuais quadros do PT, PCB e PC do B militaram em tais organizações nas décadas de 50 e 60.

Campanhas memoráveis –– Cumpre destacar duas campanhas, das quais Catolicismo participou intensamente, e que deixaram marca indelével no Brasil contemporáneo. A primeira foi a Reverente e Filial Mensagem a Paulo VI pedindo medidas contra a infiltração comunista na Igreja.

Este grito de socorro, promovido pela TFP em 1968, recebeu mais de 2.000.000 de assinaturas em quatro países da América do Sul. Dele, Catolicismo se fez caixa de ressonáncia. Teve o efeito de um aviso.

Outra campanha, em 1969, aprofundou os efeitos desta última. Catolicismo reproduziu denúncia publicada na Espanha e Inglaterra de que grupos ocultos, autodenominados “proféticos”, tramavam no interior da Igreja sua transformação num organismo igualitário, “desalienado”, a serviço de fins revolucionários. Dispunham de vastos apoios eclesiásticos e publicitários, dos quais o mais notório era o IDO-C.

Caravanas de sócios e cooperadores da TFP divulgaram esta edição, ao longo de 1969, pelo Brasil inteiro. A doutrina de tais grupos, versão radicalizada do progressismo de então, depois circularia amplamente nas CEBs e nos demais ambientes infectados pela Teologia da Libertação.

Teologia da Libertação –– Nos últimos anos, Catolicismo combateu muito especialmente a Teologia da Libertação, versão extremada de erros já incubados na Ação Católica, na década de 30, e contra os quais o “Legionário” havia se pronunciado. A Teologia da Libertação quer fazer da Igreja uma comunidade igualitária, destruindo nela o caráter hierárquico que Lhe é inerente, uma vez que procede de sua instituição divina.

A TL pretende ainda fazer da esfera temporal o “Reino” da total liberdade, completa igualdade e fraternidade inteira. Anela assim pela utopia comunista, que é causa, ela mesma, de pavorosas tragédias e inomináveis sofrimentos na História do século XX. Catolicismo trairia suas origens se não prosseguisse contra a TL o combate que já levou a cabo contra formas menos explícitas da mesma doutrina revolucionária.

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O que dá unidade a este período de 40 anos, somados, se quisermos, aos anteriores 17 do “Legionário”?

Pela graça de Nossa Senhora, uma adesão adamantina (que tem a rigidez e a pureza do diamante) à doutrina tradicional da Igreja é o principal fator. Tal adesão permite o cotejo rápido e seguro com as doutrinas e fatos contemporáneos. Ademais, o caráter processivo de muitos deles fica nítido à luz das teses expostas pelo Prof Plinio Corrêa de Oliveira em Revolução e Contra-Revolução. O concurso harmônico destas duas características confere ao conjunto dessa luta de quatro décadas a nota de particular unidade que desperta a admiração dos amigos e provoca o ódio dos adversários.

fonte:Catolicimo janero 1991