segunda-feira, 8 de março de 2010

O sermão do Cardeal Levada na consagração da capela do seminário norte-americano da Fraternidade São Pedro.

A belíssima cerimônia, no último dia 3, de consagração da capela do seminário norte-americano da Fraternidade São Pedro, que contou com a presença de cinco bispos e muitos padres, teve a assistência do presidente da Congregação para a Doutrina da Fé e de sua subordinada Comissão Pontifícia Ecclesia Dei, o Cardeal William J. Levada; Sua Eminência proferiu o sermão cuja tradução abaixo apresentamos.

Sua Excelência, Bispo Bruskewitz,

Caros irmãos bispos e sacerdotes,

Muito amados em Cristo:

O Cardeal Levada assiste à cerimônia de consagração da capela de São Pedro e São Paulo, no seminário americano Nossa Senhora de Guadalupe, da Fraternidade São Pedro.

As Sagradas Escrituras, lidas no curso de uma celebração como a nossa de hoje, são sempre uma revelação, divinamente garantida, do significado profundo daquilo que estamos celebrando. E assim é de séculos de longa prática que hoje ouvimos as leituras do Livro do Apocalípse e do Evangelho de Lucas. A passagem do Livro do Apocalipse é um desdobramento do mistério deste dia com imagens exuberantes e vívidas. A Sagrada Liturgia quer que ouçamos essas palavras e as identifiquemos com o belo espaço desta capela, que estamos dedicando hoje. E assim o que vemos aqui a nosso redor, tão belamente expresso nos arranjos desta capela, seu altar, seu sacrário, sua iluminação e a possibilidade de sua bela arte e janelas, foi projetado para convergir para nós as visões que o vidente do Livro do Apocalipse contemplou. Aqui vemos, em tudo que nos rodeia, a Nova Jerusalém descendo a partir do céu de Deus, bela como a noiva adornada para encontrar seu Criador. A partir deste dia, sempre que a liturgia sagrada for celerada aqui, temos que perceber que a comunidade reunida é nada menos do que a Nova Jerusalém, aquela Esposa imaculada de Cristo.

A liturgia celebrada é nada menos do que um convite à liturgia da Jerusalém Celeste, aquela liturgia em que o trono do Cordeiro e de Deus ocupa um lugar central. O Cordeiro imolado que permanece para sempre perante o trono de Deus é o centro da Jerusalém Celeste e o centro desta igreja, em cujo altar o sacrifício do Cordeiro imolado é continuamente renovado.

Tal simbolismo elevado, exuberante contrasta drasticamente com os detalhes empoeirados, terrenos do relato do Evangelho que acabamos de ler. Alguém pode justificadamente especular, primeiramente, porque a estória de Zaqueu no Evangelho, o coletor de impostos baixinho e muito desprezado, deveria se a preeminente leitura da Escritura do dia da dedicação de uma esplêndida igreja nova. Certamente a razão reside nas linhas que Jesus se dirige ao pecador que Ele vê avidamente buscando-O a partir de Seu lugar elevado no sicômoro. Ele diz: “Zaqueu, desce rápido, porque hoje preciso ficar na tua casa.” Essas palavras nos proporcionam uma bela transição da cena de Zaqueu para a liturgia em que estamos envolvidos hoje em dia, porque aquelas palavras firmes, determinadas, magníficas de Jesus são as mesmas palavras que Ele nos dirige, cada um de nós um pecador como Zaqueu, com relação a esta casa de Deus. As bênçãos de Deus derramadas sobre nós no curso desta magnífica liturgia de dedicação, de fato, têm esse formato muito concreto: Referindo-se a este novo edifício Jesus diz: “neste dia preciso ficar nesta casa.”

As palavras simples e intenção de Jesus nos ajudam a manter as nossas condutas em meio das imagens mais elevadas e místicas do Livro do Apocalipse. Precisamos de ambas. Porque o Livro do Apocalipse nos ajuda a lembrar que em Jesus estamos lidando com ninguém menos do que o Filho Eterno de Deus que está no céu desde toda a eternidade. Ao mesmo tempo a estória de Zaqueu nos lembra que o mesmo Filho Eterno é Deus conosco, Deus conosco em nossas ruas poeirentas, nos chamando de pecadores pelo nome, um por um, para tê-Lo como hóspede em seu lar.

A reação de Zaqueu a este convite pretende indicar a nossa própria atitude agora, no curso desta celebração. Lemos: “Zaqueu se apressou, desceu e O recebeu com alegria.” Façamos com que nossos sentimentos de hoje e a nossa ação litúrgica sejam uma expressão com todos os nossos corações de receber Cristo com alegria no meio desta, nossa casa, que a presença de Jesus também faça a Casa de Deus.

Outros irão murmurar ao verem Jesus abundantemente concedendo a Sua presença graciosa a pessoas como nós. Eles dirão: “Ele foi para a casa de um pecador.” Porém, Jesus nos defende hoje como Ele fez com Zaqueu. Com as graças desta liturgia e da decisão que o Próprio Jesus pronuncia solenemente as palavras “hoje a salvação chegou a esta casa.”

A visão que enxergamos na Nova Jerusalém e a visão que vemos em Jesus na mesa no lar de Zaqueu, no final das contas, é a visão de comunhão. O Nosso Santo Padre o Papa Bento XVI, em seu Motu Proprio Summorum Pontificum, mencionou que as duas formas do uso do Rito Romano, as Formas Extraordinárias e Ordinária, podem se enriquecer mutuamente. Como exemplo ele mencionou “os novos prefácios podem e devem ser introduzidos no Missal antigo”. No Missal de Paulo VI, existe um belo prefácio para ser usado no aniversário de dedicação de uma igreja, que pode ajudar a enriquecer a nossa compreensão da celebração hoje como uma visão de comunhão. Sendo designado para o aniversário de uma dedicação, o mesmo pode indicar para nós que devemos ainda ser capazes de rezar anos daqui por diante quando comemorarmos a dedicação de hoje.

A segunda parte de um prefácio, como sabemos, sempre afirma em termos específicos as razões específicas da razão pela qual é certo e justo dar graças e louvar ao Pai. Neste prefácio o motivo afirma:

Porque na casa visível que vós nos deixastes construir, Pai, vós, manifestais de maneira maravilhosa

e realiza o mistério da vossa comunhão conosco.

Como novo Presidente da Comissão Ecclesia Dei, quero me deter nesta frase, “o mistério de sua comunhão conosco”. A Fraternidade Sacerdotal de São Pedro tem um carisma especial de assistir o Santo Padre na preservação da unidade da Igreja para aqueles vinculados à forma tradicional da Missa, através da implementação do Motu Proprio Summorum Pontificum. Os diferentes Ritos da Igreja no Oriente e Ocidente testemunham a diversidade das tradições litúrgicas que têm crescido na e com a Igreja desde os tempos apostólicos. Sim, São Paulo insiste, existe um Senhor, uma fé, um batismo. Esta é a razão pela qual o Santo Padre enfatizou a continuidade que podemos ver entre as Formas Extraordinárias e Ordinária do Rito Romano. Sempre a Igreja celebra a Eucaristia consoante seja lá qual for o Rito ou forma desse Rito, é sempre o mesmo mistério de comunicação que está sendo maravilhosamente manifesto e realizado.

A diversidade litúrgica não é incompatível com a unidade de fé Católica Isto tem ficado claro ao longo dos séculos através da diversidade de Ritos, Oriente e Ocidente e é claro com relevância especial para a vossa fraternidade sacerdotal no Summorum Pontificum. Este também é o mesmo princípio operativo na nova Constituição Apostólica Anglicanorum Coetibus, que estabelece Ordinariatos para ex-Anglicanos que desejam a plena comunhão com a Igreja Católica enquanto ao mesmo tempo preservam a mesma riqueza de seu patrimônio litúrgico e espiritual.

Sabemos que, acima de tudo, é através da celebração da Eucaristia que esta capela está sendo consagrada e o prefácio que estou citando nos lembra de maneira bonita que a Eucaristia conclui a comunhão, entre Deus e nós mesmos, e entre uma parte da Igreja e outra. Os passos generosos que o Santo Padre tomou no seu Motu Proprio para conceder um uso mais disseminado da Forma Extraordinária do Rito Romano, é uma mudança que ele sinceramente espera vá tanto reparar quando construir uma comunicação prejudicada na Igreja. A Fraternidade Sacerdotal de São Pedro deve sempre celebrar a Eucaristia tendo em mente esta preocupação e desejo do Santo Padre.

As diferentes formas, a Ordinária e Extraordinária, não devem ser causa ou motivo de divisão na Igreja, pois a mesma Eucaristia é celebrada sempre e em todo lugar. O fato de que estamos aqui para dedicar uma capela de seminário em honra aos santos Pedro e Paulo me dá a oportunidade de relembrar que todo sacerdote é ordenado para o serviço da Igreja. É verdade e perfeito louvar do Deus todo santo, sua missão de proclamar o Evangelho a toda criatura, batizar todos em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. É este o serviço para o qual somos ordenados. No cumprimento desta missão dada por Cristo a Sua Igreja, uma missão implicando a unidade de toda a família humana e seu destino a ser um com seu amoroso Criador e Deus, a Fraternidade de São Pedro tem como seu carisma especial trabalhar amorosamente para a unidade da Igreja de Cristo garantindo que aqueles que seguem a Forma Extraordinária da liturgia do Rito Latino compreendam que a unidade de fé não pode ser encontrada fora do testemunho do Colégio Apostólico sob a sua cabeça, o sucessor de Pedro, o Papa. Dessa maneira, a rasgo no tecido de unidade manifestado por aqueles que rejeitariam o Concílio Vaticano Segundo como obra do Espírito Santo, deve ser reparado pelo testemunho leal para com a Tradição viva da Igreja, de acordo com as diretrizes do Santo Padre, o Papa Bento XVI.

Queridos irmãos, queridos seminaristas, esta capela não pode ser apenas outro edifício no complexo do seminário; ela é o coração do seminário. É o lugar onde, como disse o Papa João Paulo II, os seminaristas são formados a compartilhar as disposições íntimas que a Eucaristia estimula: a gratidão pelos benefícios celestiais recebidos (pois a Eucaristia é ação de graças), uma atividade de auto-oferecimento, que os impelirá a unir o oferecimento de si mesmos ao oferecimento Eucarístico de Cristo; a caridade, nutrida por um sacramento que é um sinal de unidade e partilha; o anseio em comtemplar e fazer reverência em adoração perante Cristo, que está realmente presente sob as espécies Eucarísticas. É aqui nesta capela que encontramos o verdadeiro foco e direção de nossa formação e vida sacerdotais.

O prefácio que citei acima continua dizendo: “Pois aqui” — significando nesta igreja — “pois aqui vós fazeis vossa igreja espalhada pelo mundo se unir mais e mais como o Corpo do Senhor”. Sabemos que a comunhão realizada pela Eucaristia é verificada na comunhão com Pedro e seus sucessores. Tu es Petrus, et super hanc petram, aedificabo ecclesiam meam. Minha presença aqui hoje faz concreta a imagem deste prefácio, uma Igreja espalhada pelo mundo, contudo, unida mais e mais como o Corpo do Senhor precisamente por celebrar o mistério da comunhão no Corpo do Senhor.

Agora, mais do que nunca, nós sentimos a Igreja suspirar — como diz o prefácio — para alcançar sua plenitude na visão de paz. Esta oração é claramente inspirada pela primeira leitura de hoje do livro do Apocalipse, ao qual nós já nos referimos. Assim a frase é completada “para alcançar sua plenitude na visão de paz, a cidade Celestial de Jerusalém”.

Os seminaristas deste seminário que serão ordenados padres serão ordenados para servir a esta visão de paz, como instrumentos de comunhão. Esta visão vemos na Nova Jerusalém descendo do céu de Deus. É a visão que vemos em Jesus na mesa com os pecadores na casa de Zaqueu. É a visão que vemos nesta nova igreja e nos ritos que estamos celebrando agora. Desçamos todos rapidamente de qualquer árvora alta e isolada que possamos estar ocupando, desçamos rapidamente e recebamos Cristo com alegria, na comunhão da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, na Eucaristia celebrada aqui.

Possa Nossa Senhora de Guadalupe, Mãe dos Padres, Mãe da Igreja, Estrela da Nova Evangelização das Américas, [ser] a intecessora e modelo para os padres que serão formados aqui na semelhança de seu Filho, nosso verdadeiro e perfeito Sacerdote, Jesus Cristo Nosso Senhor, amém.

Fonte e destaques: Rorate-Caeli

visto em:Fratres in Unum