São João Maria Vianney, Patrono dos párocos
O Santo Cura d’Ars foi um vigário inflamado de amor de Deus e zelo pelas almas, e pôde comunicar à sua paróquia algo desse amor, de modo a transformá-la de tíbia em fervorosa. Por isso ele é o patrono do clero, e especialmente dos párocos. Este ano, no qual se celebra o 150º aniversário de sua morte, foi declarado pela Santa Sé “Ano Sacerdotal”.
Plinio Maria Solimeo
Pintura da época do Santo Cura d'Ars |
Fruto de um lar verdadeiramente cristão
Residência onde viveu o santo na cidade de Ars |
Era o terceiro dos seis filhos de um piedoso casal de agricultores, Mateus Vianney e Maria Béluse. Nesse lar modesto, a caridade cristã era uma herança de família. O pai de Mateus, Pedro Vianney, tivera anos antes a felicidade de albergar em sua casa o santo-mendigo, São Bento José Labre.
João Maria foi batizado no mesmo dia em que nasceu, e como todos seus irmãos e irmãs, foi consagrado à Santíssima Virgem, segundo o bom costume da época.
Assim que o menino começou a distinguir os objetos exteriores, sua mãe mostrava-lhe o crucifixo e imagens piedosas. E quando foi capaz de mover os bracinhos, levava-o a fazer o Sinal da Cruz. Quando a noite descia, naqueles felizes tempos sem televisão, em vez de se deteriorar com a frivolidade e a imoralidade das telenovelas, a família Vianney conversava, lia a História Sagrada e rezava o terço em conjunto.
Foi então quando se abateu sobre a França a tormenta que, durante anos, levou o terror e a devastação àquela nação antes verdadeiramente cristã: a Revolução Francesa.
Durante a tormenta revolucionária
Quarto do santo |
O vigário de Dardilly foi dos que cederam, e prestou o juramento. Arrependendo-se depois dessa verdadeira traição, retirou-se para Lyon, e de lá para a Itália. Foi substituído por outro sacerdote “juramentado” (que também prestara o juramento). Como aparentemente nada mudara, aqueles camponeses simples, ignorando o significado desse juramento, continuaram a ir à igreja e a freqüentar os sacramentos.
Mas logo os Vianney souberam, por um parente, o que significava ser padre “juramentado”, ou seja, que ele se tinha tornado cismático por aquele juramento, que impunha a ruptura com o Papa. Sem titubear, eles deixaram de freqüentar a igreja local, passando a assistir às Missas clandestinas celebradas por padres “refratários” (aqueles que heroicamente tinham recusado o juramento cismático), em granjas ou celeiros.
Veio então o período do Terror, durante o qual a guilhotina ceifou a vida de inúmeros inocentes. Não se podia mais praticar em público a Religião: a igreja de Dardilly foi fechada, os revolucionários derrubaram as cruzes e monumentos piedosos; nas próprias casas, era-se obrigado a esconder crucifixos e imagens religiosas.
Primeira Comunhão: clima de terror e perseguição
Cozinha da casa do Santo em Ars |
Em 1799, apesar de o sanguinário Robespierre já ter caído em 1794, a perseguição continuava, e centenas de sacerdotes foram deportados para a Guiana. O próprio Papa Pio VI tornou-se prisioneiro da Revolução. Foi nesse clima ainda de terror e perseguição que João Maria, aos 13 anos, recebeu a Primeira Comunhão das mãos de um sacerdote “refratário”, numa casa particular, com portas e janelas fechadas. Recorda sua irmã: “Meu irmão achava-se tão contente, que não queria mais sair do lugar onde teve a felicidade de comungar a primeira vez”.
No dia 9 de novembro de 1799 (18 brumário, segundo o calendário “ecológico” da Revolução), com um golpe de força o general Napoleão Bonaparte assumiu o poder na França com o título de Primeiro Cônsul. Para consolidar-se politicamente, aliviou a perseguição religiosa: as igrejas foram reabertas e muitos sacerdotes regressaram do exílio. Em Ecully, perto de Dardilly, dois sacerdotes “refratários” passaram a celebrar publicamente a Missa, e a família Vianney ali acorreu com todo fervor.
É de se notar que essa família genuinamente católica não deixou de santificar o domingo , até nos anos do Terror, quando o dia oficial do descanso era a década.
A longa caminhada para o sacerdócio
João Maria passara a ajudar o pai nos trabalhos mais pesados: lavrava a terra, cuidava da vinha, recolhia nozes e maçãs, podava as árvores, empilhava a lenha. Tudo fazia com recolhimento e espírito sobrenatural. Dirá mais tarde: “É mister oferecer a Deus nosso trabalho, nosso repouso e nossos passos. Oh, como é belo fazer tudo por Deus! Se trabalhas com Deus, és tu que trabalhas, mas é Deus que abençoa o teu trabalho. De tudo [Deus] tomará nota. A privação de um olhar, uma provação, serão anotadas”.(2)
À noite João Maria lia o Evangelho e a Imitação de Cristo antes de repousar. Quando completou 17 anos, consolidou-se nele a idéia de ser padre, mas o pai não queria nem ouvir falar disso.
Mais tarde o jovem soube que o Pe. Balley abrira uma escola em Ecully, para a formação de futuros sacerdotes. Voltou então a insistir com o pai para nela ingressar. Finalmente, pressionado pela esposa, Mateus Vianney concedeu a licença.
A gramática latina foi um tormento para esse camponês, já com 20 anos de idade. Mais habituado ao trato com os animais e a lavoura do que com as letras, tinha dificuldade em reter na memória o que aprendia. Apesar de estudar com tenacidade, seus progressos no estudo eram quase nulos. Fez então uma peregrinação a Louvesc para visitar o túmulo de São João Francisco de Régis, taumaturgo da região. Este atendeu o pedido com muita parcimônia: com muita dificuldade João Maria aprendeu o estritamente necessário para ser ordenado.
Desertor do exército contra a vontade
Entretanto, outro desastre se abateu sobre o esforçado seminarista. Napoleão, que se autoproclamara imperador, decretou o recrutamento de 20 mil jovens, e entre esses estava João Maria.
Tendo adoecido, teve dificuldades em juntar-se a seu regimento, perdendo-se no caminho; para não ser punido como desertor, ocultou-se sob um nome falso, sendo ajudado por uma viúva, que o escondeu até Napoleão proclamar uma anistia. João Maria pôde voltar para casa e continuar os estudos para o sacerdócio; seu irmão mais moço o substituiu no exército.
Enfim, ordenado sacerdote do Altíssimo
Cálice de Missa de São João Maria Vianney |
–– Ele sabe rezar o rosário?
–– Sim, é um modelo de piedade.
–– Se é um modelo de piedade, eu o admito às ordens menores. A graça de Deus fará o resto.
Nunca uma profecia se cumpriu com mais liberalidade!
Finalmente, no dia 13 de agosto de 1815, o bispo de Grénoble conferiu-lhe a ordem sacerdotal. Foi nomeado coadjutor de seu protetor Pe. Balley, em Ecully, mas sem licença para ouvir confissões. Aquele que passaria depois jornadas inteiras no confessionário, e seria modelo de confessor, tinha que estudar mais para ser considerado apto a atender confissões.
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fonte:catolicismo