quinta-feira, 18 de março de 2010

Exemplo a ser imitado :Dom Athanasius Schneider, exerce especial apostolado em incutir a devida reverência e adoração ao Santíssimo Sacramento

















O bispo auxiliar de Karaganda, no Cazaquistão, Dom Athanasius Schneider, exerce especial apostolado em incutir a devida reverência e adoração ao Santíssimo Sacramento, empenhando-se para que os fiéis recebam na boca e de joelhos a Hóstia consagrada

Dom Athanasius Schneider
Em entrevista concedida ao correspondente de Catolicismo em Roma, Sr. Juan Miguel Montes, D. Schneider explica as razões que o levaram a publicar o livro Dominus Est. Com prefácio de Malcolm Ranjith (até há pouco, secretário da Congregação para o Culto Divino, e atualmente arcebispo de Colombo, no Ceilão), a obra está alcançando repercussão mundial. Já foi traduzida para 15 idiomas em apenas um ano. Os leitores interessados podem adquirir o livro em português (Editora Raboni, Rua Celso Egídio Sousa Santos, 237 – Campinas, SP – www.raboni.com.br). Aqueles que desejarem ouvir uma entrevista de D. Schneider podem acessar o link do site “TV-Glória”: http://pt.gloria.tv/?media=27459

D. Athanasius Schneider nasceu em 1961 no Quirguistão (Ásia Central), para onde seus pais, que eram alemães, haviam sido deportados, e onde foram obrigados a trabalhos forçados durante os anos 50, período em que aquela nação se encontrava subjugada pela URSS. É membro da Ordem da Santa Cruz, na qual professou em 1982. Foi ordenado sacerdote a 25 de março de 1990. Após permanecer em Lisboa vários anos, exerceu sua atividade pastoral em algumas paróquias do Brasil, tendo sido também diretor espiritual da comunidade de sua ordem estabelecida em nosso País. Posteriormente doutorou-se em teologia no âmbito dos estudos patrísticos, em Roma. Foi eleito conselheiro geral de sua ordem religiosa, cargo que ocupou por cerca de dez anos. Exerceu ainda o cargo de diretor espiritual e dos estudos do seminário do Cazaquistão (o primeiro seminário católico daquela região), de pároco em vários locais do país, chanceler da diocese e diretor de uma revista católica mensal. Em 2 de junho de 2006, recebeu a sagração episcopal, sendo nomeado bispo auxiliar da diocese de Karaganda, no Cazaquistão.

* * *

Catolicismo — V. Exa. publicou, pela Libreria Editrice Vaticana, a obra Dominus Est, já traduzida em 15 línguas, que aborda o respeito devido ao altíssimo mistério da sagrada Eucaristia. Sabemos que lhe têm chegado felicitações de muitas partes. O que o moveu a difundir sua preocupação sobre o modo hoje generalizado de receber na mão a Hóstia consagrada?

Dom Schneider: “Propus-me escrever um livro que expusesse mais profundamente em que consiste a sagrada comunhão. Citei exemplos do tempo da clandestinidade soviética”
D. Schneider — Cresci na clandestinidade soviética. Fui educado por sacerdotes que foram mártires e confessores. Recebi clandestinamente a primeira comunhão de um santo sacerdote, e minha educação, tanto da parte de meus pais como da parte de sacerdotes durante a clandestinidade soviética, marcou-me profundamente.

Quando minha família emigrou para a Alemanha, eu contava 12 anos e não tinha nenhuma idéia do tema da recepção da Eucaristia. Entrando numa igreja durante uma santa Missa, e vendo como se efetuava a distribuição da sagrada comunhão na mão, transmiti eu à minha mãe a minha impressão: “Mas isso é como a distribuição de biscoitos na escola”. Era uma observação inspirada em minha inocência infantil.

Minha mãe sofria muito por isso, pois não podia admitir que se recebesse o Senhor –– na sua Divina Majestade, embora oculto na sagrada Hóstia –– de modo exteriormente minimalista, mais próprio a gestos profanos do que a um ato de culto. Decidi-me assim, com meus pais, a não mais freqüentar aquela igreja. Passamos a freqüentar outra, mas a cena repetia-se em cada igreja visitada.

Catolicismo — Deve ter sido um forte choque para V. Exa., que conservara dignamente as poucas espécies eucarísticas disponíveis na longa noite soviética, conforme conta no livro.

D. Schneider — De fato. Quando voltamos para casa, minha mãe se pôs a chorar. Não entendia como se podia tratar Nosso Senhor daquela maneira. E ainda hoje não compreendo como se pode receber Nosso Senhor, Pessoa divina, de modo tão superficial. Tanto mais porquanto, segundo me parece, o clero e os bispos se habituaram a esse estado de coisas. Observando a situação dos últimos 30 anos — isto é, desde minha vinda para o Ocidente —, tenho a impressão de que esse modo de distribuir a comunhão na mão propagou-se como concessão às regras da moda, e segundo uma estratégia globalizante. Por isso, os bispos e o clero deveriam ser mais atentos.

Propus-me então a escrever um livro que expusesse mais profundamente em que consiste a sagrada comunhão. Citei exemplos, do tempo da clandestinidade soviética, mostrando como pessoas conhecidas minhas tratavam a sagrada Eucaristia. Quis também apresentar a história da liturgia da comunhão, porque era totalmente diversa a forma de recebê-la nos primeiros séculos da Igreja, em relação ao modo atual, mesmo quando distribuída na mão.

Catolicismo — Normalmente ouve-se dizer que retornamos à prática dos primeiros séculos. Pelo que o Sr. diz, há uma diferença entre a prática de hoje e a primitiva.

D. Schneider — O modo utilizado hoje nunca foi empregado na Igreja. Ele constitui uma invenção calvinista, nem sequer é dos luteranos. Na Igreja antiga, o modo de receber a sagrada espécie era diferente. Com profunda veneração, ela era recebida na mão direita, não se lhe tocava com a outra mão, e era diretamente levada à boca. Após a recepção, devia-se purificar a palma da mão. O comungante portava um corporal branco na mão.

Com o passar do tempo, a Igreja aprofundou o conhecimento e o amor devido ao divino sacramento da santíssima Eucaristia. Assim, quase instintivamente, tanto na Igreja do Oriente como na do Ocidente, começou-se a distribuir a sagrada comunhão diretamente na boca. Sucessivamente, no início do segundo milênio, juntou-se o gesto muito bíblico de se ajoelhar. Esse foi um processo todo natural e orgânico, sem dúvida inspirado pelo Espírito Santo, que anima a Igreja. Por isso, tal processo não pode ser alterado através de uma ruptura tão drástica como a realizada há 40 anos, com a introdução da comunhão na mão. Repito, essa não era a forma antiga, mas foi inventada. Mais se parece com os gestos profanos, mediante os quais alguém toma a comida com a própria mão e a coloca na boca.

Catolicismo — Na recente festa de Corpus Christi, o Papa Bento XVI convidou os fiéis à renovação da fé na presença real de Cristo na Eucaristia. Também alertou para “uma secularização difundida até mesmo no interior da Igreja, que pode se traduzir num culto eucarístico formal e vazio, em celebrações privadas diversas daquela participação do coração, que se exprime em veneração e respeito pela liturgia”.

O Padre Pio distribui a sagrada comunhão na boca a recém-casados
D. Schneider — Exatamente. O respeito devido na recepção da comunhão é parte central da verdadeira senda visando uma renovação autêntica da liturgia e do culto divino. E quanta necessidade tem o mundo ocidental de tais gestos! A Igreja tem ainda o dever de retomar esses gestos evidentes, aprovados há milênios, e que deram tantos frutos. São gestos que constituem clara demonstração do que podemos apresentar ao mundo para mostrar que cremos em Jesus não apenas com a nossa mente, com a nossa palavra, mas na sua verdadeira divindade. E cremos considerando as conseqüências da Encarnação, do dogma da transubstanciação, da presença real, isto é, todas as conseqüências práticas. Crer é certamente dizer, louvar, mas também praticar gestos que demonstrem a nossa fé.

Catolicismo — O livro de V. Exa. foi muito difundido, e parece que isso se deve também ao fato de ele ter ido ao encontro de um sentimento generalizado quanto à necessidade de se fazer algo nesse sentido.

D. Schneider — Recebi muitas repercussões alcançadas pelo livro no mundo inteiro, a maioria delas provenientes de simples fiéis que se sentiram tocados, agradecendo-me por ter abordado esse tema, que parecia um tabu na Igreja.

Por exemplo, escreveu-me um jovem dos Estados Unidos, que pertenceu a uma comunidade protestante. Contou-me que nessa comunidade seus membros tinham o hábito de receber a “ceia do Senhor” de joelhos e na boca, apenas por reverência ao símbolo da Eucaristia, pois para eles a Eucaristia é só um símbolo. Apesar disso, por respeito se ajoelhavam e não queriam tocá-la com as mãos. Quando ele se tornou católico, na igreja que freqüentava foi-lhe proibido receber Jesus eucarístico de joelhos. Ele me perguntou quais eram as razões para essa situação tão contraditória: como protestante, podia ajoelhar-se diante de um símbolo; como católico, não mais podia ajoelhar-se diante da presença real.

Outro exemplo foi o de uma senhora indígena do Brasil, grande devota da sagrada comunhão. Alguns anos após o Concílio, ocorreu certo dia ao seu pároco dizer à comunidade que, a partir do domingo seguinte, todos deveriam receber compulsoriamente a comunhão na mão. O povo, simples e devoto, aceitou por respeito ao pároco. Entretanto, o sacerdote não lhes disse toda a verdade, pois a Igreja deixa a liberdade para se receber a comunhão na boca. Essa senhora fora assim constrangida a recebê-la na mão, mas sua alma sentia-se perturbada, e um dos motivos era que ela tem o hábito de lavar as mãos antes de receber um hóspede em sua casa. “E agora como faço para receber o Senhor, se minhas mãos não estão limpas? Se, por exemplo, toquei no dinheiro para a espórtula do ofertório? Nosso Senhor merece mais do que os meus hóspedes. Eu precisava lavar as mãos durante a Missa, mas é impossível fazê-lo”, disse-me perturbada. Ela procurou o padre, a quem expôs seu desconcerto. Este lhe respondeu: “És ignorante, não entendes nada. Nosso Senhor nunca distribuiu a comunhão na boca”. A senhora pediu-lhe indicasse onde isso estava escrito. Ele respondeu que no Evangelho está escrito que Jesus deu a comunhão na mão aos Apóstolos, e ela simplesmente respondeu: “Mas, Senhor pároco, eu não pertenço ao número dos Apóstolos”. Assim, uma simples mulher deu uma resposta iluminada. Refletindo nessa resposta, vieram-me à mente as palavras de Jesus ao dizer que o Pai revelou seu mistério aos pequenos e o ocultou aos que se presumem inteligentes. Quando essa senhora se apresentava com as mãos juntas, o sacerdote colocava com força a hóstia entre suas mãos. Mas ela, mantendo-se tenazmente firme na sua vontade, viu-se obrigada a receber a comunhão com as mãos para trás. Tenho a impressão de que são muitos os sacerdotes e os bispos que se comportam atualmente do mesmo modo. Penso que esse comportamento é muito semelhante ao dos escribas e fariseus.

Catolicismo — Julga V. Exa. que essa problemática se reveste de particular atualidade em meio aos numerosos problemas com os quais a Igreja deve confrontar-se em nossos dias?

Cartaz numa paróquia de Cingapura, na Ásia: Nosso Senhor Jesus Cristo dá a Primeira Co- munhão na boca a duas crianças
D. Schneider — É fácil entender quanto ela seja atual. Um fato importante em relação ao qual não podemos fechar os olhos, é o exemplo do Santo Padre que, a partir da solenidade de Corpus Christi do ano passado, distribui a comunhão a todos, de joelhos e na boca. Podemos constatá-lo: onde o Papa celebra uma Santa Missa, ele o faz desse modo, mesmo fora de Roma. Apesar de nesses lugares os bispos terem permitido a comunhão na mão, o Santo Padre a distribui na boca aos fiéis ajoelhados. Este exemplo do Santo Padre é para nós, bispos e sacerdotes, um sinal claro. Se nós, bispos e sacerdotes, quisermos sentir com a Igreja e com o Papa, certamente não podemos fazer de conta que esse gesto nunca se pratica. Devemos ser sensíveis em andar em sintonia com o Papa nesse gesto, imitando-o. Tal acontecimento, o povo de Deus o recebe com grande alegria.

Meu desejo é que esse magistério “prático” do Papa encontre imitadores entre os bispos, para o bem das almas e com vistas a aumentar a verdadeira fé e devoção no mistério máximo e santíssimo de nossa fé, que é a santíssima Eucaristia.

font:Catolcismo

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