Viva São Paulo da Cruz!
PUREZA ANGÉLICA
Em todo o curso desta vida, temos respirado, como num jardim, o doce perfume desta alma virginal, branca e pura como o lírio. Desde os mais tenros anos, tomara por divisa a sentença POTIUS MORI QUAM FOEDARI, Antes morrer do que pecar.
Conservou a inocência batismal até o último alento de vida. Discorreu de sua juventude, acusava-se de ter sido demasiado vivo, e acrescentava que Deus o preservara dos escolhos em que tantos jovens se perdem.
Quando enfermo em Orbetello, julgando-se sozinho, assim se desabafava com, Nosso Senhor:
“Bem sabeis, ó Senhor, que, com o auxílio de vossa graça, o vosso Paulo jamais maculou a alma com falta deliberada”.
Não pensemos que nele a virtude fosse fruto espontâneo de temperamento gélido ou de insensibilidade. Muito ao contrário, possuía rara ternura de coração, natural ardente, imaginação vívida. Alcançara a pureza angelical a preço de lutas e combates cruentos. Sua juventude foi dotada de riquíssimos dons naturais e do atrativo da virtude. Nem por isso foi isenta de perigos. Apesar das mais séries precauções, encontrou rudes assaltos, que quebrantariam virtude menos sólida.
Numa palavra, nele brilhou o lírio da virgindade, porque soube cercá-lo com os espinhos da mortificação, da modéstia, da fuga das ocasiões e da desconfiança das próprias forças. Sua modéstia era realmente angélica. Chegou a dizer certa vez que preferia lhe arrancassem os olhos, antes que fitar o rosto de uma mulher.
Conhecia apenas pela voz uma senhora espanhola de Orbetello, de rara formosura, a quem dirigira por muitos anos. A castidade, qual tímida pomba, vê perigo por toda parte. Em conversa com pessoas de outro sexo, suas palavras respiravam gravidade religiosa e celestial unção. Exigia que a porta do locutório estivesse aberta.
O companheiro recebia ordem de não afastar-se muito. Costumava dizer que o companheiro é como o Anjo da guarda. Não admitia exceção com quem quer que fosse. Estando em conferência espiritual com uma princesa, fecharam por inadvertência a porta do quarto. Bradou Paulo imediatamente:
“Abram, abram a porta, pois estarmos de porta fechada é contra as regras de nossa Congregação”.
Disse certa vez: “Não confio absolutamente em mim; nesta matéria fui sempre escrupuloso, tornando-me por vezes até descortês”.
Santas DESCORTESIAS, que levam o religioso a cumprir sua primordial obrigação: a observância das Regras! Velava o coração a fim de que se não afeiçoasse às almas por ele guiadas à santidade. NADA DE LATROCÍNIO EM RELAÇÃO A DEUS! essa a sua divisa.
Uma senhora, recomendando-se-lhe às orações, acrescentou com certa afetação:
“Lembre-se sempre de mim em suas orações; jamais me esqueça”.
“Isto não, replicou o Santo; depois de ter atendido às senhoras que a mim recorrem e de tê- las ajudado o melhor possível, recomendo-as a Nosso Senhor e procuro esquecer-me delas”.
Talvez pareça pouco satisfatória a resposta, mas era a máxima do servo de Deus que a familiaridade com essas pessoas é espinho capaz de ferir o formoso lírio da pureza. Deviam seus filhos ser Anjos em carne humana. Exortava-os calorosamente a imitarem a modéstia do Salvador. Recomendava-lhes não somente a modéstia da vista e o combate à concupiscência, mas também modelassem o seu agir às normas da modéstia, que a tudo empresta medida, compostura, dignidade.
Subira tão alto na região do amor celeste que, embora revestido de carne humana, já o constituira Deus poderoso protetor da castidade. Na missão de Valentano, dissera a uma jovem “Minha filha, Deus me fêz conhecer que sua inocência será submetida a terrível provação. Muito cuidado, minha filha”.
Estimulou-a a confiar em Deus, garantindo-lhe a vitória. Quatro anos decorridos, em quatro ocasiões diversas, sofreu a jovem violentos assaltos. Para repelir o brutal inimigo, invocava o nome do Pe. Paulo e sempre saiu vitoriosa.
Espargia o nosso santo em derredor de si o perfume da pureza. Bastava conversar com ele ou mesmo dele se aproximar, para experimentar os atrativos dessa virtude. Odor caraterístico exalava-se-lhe do corpo, dos objetos de uso e até da cela em que habitava. E esse celestial perfume perdurava por meses e anos.
Por vezes suas carnes virginais como que tomavam as propriedades do corpo glorioso: impassibilidade, claridade, agilidade e sutileza. No êxtase, tornava-se insensível à dor, desprendia de si luz vivíssima, elevava-se aos ares, voava como os Anjos, ausentava-se de casa com portas fechadas, como Jesus no Cenáculo, encontrava-se presente em vários lugares simultaneamente. Freqüentes eram esses prodígios na vida do servo de Deus.
Para retratar com perfeição a Paulo da Cruz, fora mister um raio de luz puríssima, mãos de Anjos, as cores que matizam a celeste Jerusalém.
(Excertos do livro: Caçador de almas, do Pe. Luís Teresa de Jesus Agonizante)
fonte:a grande guerra