A peregrinação ‘Summorum Pontificum’ na era de Francisco.
Ocorreu em Roma, de 24 e 27 de outubro de 2013, a peregrinação anual do “Populus Summorum Pontificum“, formado, em geral, por fiéis ligados às comunidades “Ecclesia Dei”. Destacamos os principais eventos:
Na quinta-Feira, 24, Dom Guido Pozzo oficiou as Vésperas solenes de São Rafael, cantadas pela Scola Sainte Cécile, de Paris. O antigo esmoleiro papal, há pouco rebaixado num remanejamento enigmático do Papa Francisco, declarou (créditos a Guilherme Chenta):
Em questão de dois ou três anos, a celebração da forma extraordinária difundiu-se muito mais amplamente. Também da parte dos Bispos há um maior acolhimento: sobretudo depois da Instrução “Universae Ecclesiae”, houve muita clareza e isso ajudou também o ordenamento a celebração da forma extraordinária. Com exceção de alguns casos particulares, em que se nota ainda uma certa resistência, a Instrução ajudou a se fazer bem receber o uso antigo da Missa, porque não se trata de uma contraposição à forma ordinária, como já tinha sido bem afirmado no Motu Proprio “Summorum Pontificum”, mas de uma complementariedade, de um recíproco enriquecimento. Ocorre certamente evitar qualquer forma de ideologização, de uma e de outra parte, da liturgia: ela não é um instrumento ideológico, mas o instrumento para render glória a Deus. Evitar a ideologização, portanto, e favorecer o respeito recíproco entre essas duas formas, que constituem o único e mesmo Rito romano”.
No dia 25, sexta-feira, Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar de Astana, Cazaquistão, celebrou Santa Missa Pontifical na paróquia Santissima Trinità dei Pellegrini. O bispo, intrépido combatente da comunhão na mão, afirmou em sua homilia:
“O que sempre deu força aos mártires foi a Santíssima Eucaristia. Basta pensar na época das perseguições comunistas: ali, mesmo nas prisões se celebrava com dignidade. E nós hoje? Somos livres, porém vivemos em uma situação de grave crise litúrgica. Redescobrir a dignidade da liturgia é fundamental, a partir de gestos como receber a comunhão na boca e de joelhos, observar os momentos de silêncio, tocar música apropriada, estar voltados coram Deo. A liturgia é o próprio rosto de Cristo: a verdadeira renovação ocorrerá somente com uma liturgia reverente e cristocêntrica”.
Nos dias da peregrinação, Dom Athanasius também lançou o seu novo livro: Corpus Christi – La santa comunione e il rinnovamento della Chiesa. Na conferência de apresentação, o bispo declarou:
“O fato mais perturbador, quando a minha família se transferiu do comunismo ao Ocidente, foi ver a Comunhão administrada sobre a mão. Para mim, sempre foi natural comungar de joelhos e na língüa, mas eu era o único na minha paróquia: o pároco me repreendeu. A Comunhão na mão não era praticada na Igreja antiga, como dizem. Foi mesmo por minha exortação que Bento XVI começou a administrar a Comunhão de joelhos e na língüa. O Papa Ratzinger disse que muitos na Igreja eram contra, mas foi adiante”.
No sábado, 26, ocorreu a Santa Missa Pontifical, ápice da peregrinação, celebrada por Dom Dario Cardeal Castrillón Hoyos, prefeito emérito da Congregação para o Clero e antigo responsável pela Comissão “Ecclesia Dei”. Em sua homilia, o purpurado colombiano fez um comovente apelo:
“Querido Santo Padre, estamos debaixo de vossa proteção amorosa, e sob a de Maria. Celebrando isso nós não nos sentimos sozinhos, temos séculos de história e tantos santos”.
O blog Chiesa e post concilio comenta:
Antes do sermão do Cardeal Castrillón, foi lida, por Dom Pozzo, a mensagem enviada pelo Papa Francisco através da Secretaria de Estado. Um sacerdote espanhol comenta acidamente:O momento mais interessante ocorreu durante a homilia do Cardeal Castrillón Hoyos, quando ele se dirige ao Papa Francisco, recordando-lhe, filialmente, que “não estamos sozinhos”, que estamos “sob a vossa proteção”, e que celebramos esta liturgia que sustentou milhares de santos ao longo de muitíssimos séculos. O texto exato das palavras do cardeal é de inegável diplomacia eclesiástica, mas a maneira com que se dirigiu pessoalmente ao Papa Francisco (que não estava presente) fazia perceber concretamente a sua preocupação pelo absurdo ostracismo vigente na Igreja, ainda hoje, contra os cada vez mais numerosos fiéis ligados àquele rito ‘nunca abrogado’. Outros amigos me confirmaram a mesma impressão. O que nos faz refletir sobre a diferença entre a comunicação ‘escrita’ (na qual ‘falam’ apenas as palavras reportadas) e a comunicação ‘não escrita’ (na qual a ênfase mesmo somente em uma única expressão pode mudar muito o sentido do discurso em relação à sua transcrição exata, como, por exemplo, o fato de que o Cardeal tenha elevado o tom de voz ao se dirigir angustiadamente ao Papa.
À periferia católica: uma saudação (cordinal) com a benção no papel. E pouco mais. Nada mais. A saudação do Papa Francisco aos participantes da peregrinação-encontro Summorum Pontificum foi apenas um papel de escritório, daqueles expedidos na Secretaria para qualquer coisa, pura cortesia de departamento de cúria. Uma fria, seca e sucinta saudação. Ainda não foi publicada em nenhum sítio. Só encontrei uma foto da saudação, em formato pequeno, quase ilegível.Fora as fórmulas conhecidas por todos, as expressões de forma/formato do sucinto documento, se saúda, abençoa e pouco mais. Só uma alusão ao fervor dos participantes: “Que a celebração do Santo Sacrifício junto ao túmulo dos Apostólos suscite uma fervorosa adesão a Cristo celebrado na Eucaristia e no culto público da Igreja, e conceda um renovado entusiasmo no testemunho evangélico (…)“. Só isso. Nada mais. A saudação é assinada por Parolín, que, como continua sem aparecer [ndr: o novo Secretário de Estado passou por uma cirurgia e ainda não iniciou suas atividades no novo posto], convalescente, não foi assinada por Parolín. Não sei quem a assinou. Alguém da Secretaria de Estado. Uma rubrica, um carimbo, e pronto. Uma saudação cordial como a que se mandaria aos assistentes de alguma coisa.[...] Assim se fez presente o Papa Francisco entre o Populus Summorum Pontificum. Dizem que houve mais de mil presentes, entre clero e leigos. Pobres clérigos e pobres leigos, gente comum, fiéis humildes e devotos simples. Não são periferia? Parece que não, parece que não são considerados pertencentes a este compartimento/arquivo predileto do francisquismo vigente. Não. Não merecem a atenção papal. Nem a simpatia papal. Nem o alento papal. Só uma saudação cordial, formal, em uma folha da Secretaria de Estado assinada virtualmente pelo ausente Parolín. Nos tweets, o Papa Francisco põe mais afeto do que nesta gélida saudação. Fossem nossos “irmãos maiores” de Sião, teriam sido melhor saudados, mais extensamente, com mais afeto francisquista, com mais ardor. Fossem irmãos luteranos, teriam sido recebidos em audiência privada, com fotos e youtube. Mas como são católicos-católicos, fiéis à tradição, devotos da liturgia mais santa; como são quem são, uma saudação datilografada basta. É suficiente. Não merecem mais, nem se lhes concede. O justo e necessário… a conta-gotas, com parcimônia estrita. Não vão se transbordar ou exceder.
O último dia da peregrinação contou com a celebração da Santa Missa Pontifical, na festa de Cristo Rei, por Dom Fernando Arêas Rifan, ordinário da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney.
Por fim, uma nota: pôde-se observar ao longo da peregrinação a participação de numerosos membros da família religiosa dos Franciscanos da Imaculada. De acordo com o bem informado Padre John Zuhlsdorf, “cerca de 200 membros dos Frades Franciscanos da Imaculada solicitaram à Pontifícia Comissão ‘Ecclesia Dei’, nesta semana, autorização para estabelecer um Instituto independente no qual se utilize a forma extraordinária do rito romano”.