"Como é que se obedece a um Rei? A resposta é simples: conhecendo-Lhe as vontades, e cumprindo-as com amorosa e pormenorizada exatidão. Assim, pois, o único modo de obedecermos a Cristo Rei é conhecer Sua Vontade e segui-la. Dessa noção tão clara, tão simples, tão luminosa, um programa de vida, também ele claro, luminoso e simples, se segue" (Plinio Corrêa de Oliveira).
O
cruzado do século XX – Plinio Corrêa de Oliveira
Tradução do original italiano: Leo Daniele
Revisão e projecto gráfico: António Carlos de
Azeredo
Livraria Civilização Editora, Porto, 1997
PREFÁCIO
do
Cardeal Alfons M. Stickler S.D.B. *
Nos
períodos de crise e de confusão que a História frequentemente registra, as
biografias dos homens eminentes podem às vezes, mais do que os abstractos
volumes de moral ou de filosofia, indicar o recto caminho.
Com
efeito, os princípios devem ser vividos em concreto e quanto mais as condições
dos tempos são hostis à encarnação histórica dos valores perenes, tanto mais se
torna necessário conhecer a vida de quem colocou tais valores no centro da
própria existência.
Isto sucedeu, no nosso século, com Plínio Corrêa de Oliveira, o grande
pensador e homem de acção brasileiro do qual o Prof. Roberto de Mattei, com a
competência que lhe é própria, compôs a primeira biografia na Europa a um ano da
morte daquele, ocorrida em São Paulo, a 3 de Outubro de
1995.
Com
a coerência da sua vida de autêntico católico, Plínio Corrêa de Oliveira
confirma-nos a fecundidade da Igreja. De facto, para os verdadeiros católicos,
as dificuldades dos tempos constituem ocasiões em que eles se destacam na
História, para nela afirmar a perenidade dos princípios cristãos. Foi o que fez
o eminente pensador brasileiro, mantendo alta, na era dos totalitarismos de
todas as cores e expressões, a sua fidelidade inamovível ao Magistério e às
instituições da Igreja. Ao lado da sua fidelidade ao Papado, apraz-me recordar
um traço característico da sua espiritualidade que se manifestou na devoção a
Maria Auxiliadora, a Nossa Senhora do Rosário e da vitória de Lepanto, por ele
venerada na Igreja salesiana do Sagrado Coração de Jesus, em São
Paulo.
Lembro-me ainda com satisfação de ter estado entre os apresentadores na
Itália da obra magistral de Plínio Corrêa de Oliveira, "Nobreza e elites
tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII", que na minha opinião constitui,
ao lado de "Revolução e Contra-Revolução", um dos frutos mais altos do
pensamento deste ilustre brasileiro.
Congratulo-me por fim com o autor desta obra, Prof. Roberto de Mattei,
ao qual me ligam sentimentos de amizade e de consonância de ideais, pela mestria
com que conseguiu apresentar-nos a figura e obra de Plínio Corrêa de Oliveira,
de quem se mostra digno discípulo na Europa.
Todos os fundadores e personalidades de relevo na história da Igreja
sofreram incompreensões e calúnias. Não admira, pois, que também Plínio Corrêa
de Oliveira tenha sido objecto, e possa continuar a sê-lo no futuro, de
campanhas difamatórias, alimentadas habilmente por aqueles que se opõem ao seu
ideal de recristianização da sociedade. Tais campanhas caluniosas também
atingiram, no nosso século, muitas outras associações católicas, contra as quais
se quis lançar a pecha demoníaca de "seitas". É interessante notar que tais
campanhas se tornam tanto mais agressivas quanto maior é a fidelidade católica
das associações atingidas. Isso demonstra que o verdadeiro alvo das acusações é
a Igreja, à qual se pretende negar o papel de "Mestra da Verdade" recentemente
reafirmado pelo Santo Padre João Paulo II na encíclica Veritatis Splendor. É lamentável
que a essas campanhas injuriosas, promovidas pelos inimigos da Igreja, se
prestem por vezes católicos que se pretendem ortodoxos.
Faço votos de que esta biografia de Plínio Corrêa de Oliveira dissipe
críticas e incompreensões e constitua um ponto de referência ideal para todos
aqueles que, com generosidade, querem dedicar as próprias energias ao serviço da
Igreja e da Civilização Cristã.
Tal
obra de serviço à Igreja não requer apenas rectidão doutrinal, mas também vida
interior e um especial espírito de penitência e de sacrifício, proporcionado à
gravidade da hora presente.
Com
a sua vida e obra, Plínio Corrêa de Oliveira dá-nos claro exemplo
disso.
Asseguro as minhas orações e a minha bênção para todos aqueles que se
farão imitadores e propagadores desse espírito e dessa visão autenticamente
católica do mundo.
Alfons Maria Card. Stickler
Roma, 2 de Julho de 1996
Festa da Visitação de Nossa
Senhora
* O
Cardeal Alfons Maria Stickler, salesiano, nasceu em Neunkirchen (Áustria) em 1910. A sua particular vocação para
o estudo das ciências jurídicas conduziu-o ao magistério no Pontifício Ateneu
Salesiano, do qual foi, de início, Decano da Faculdade de Direito Canónico e,
posteriormente, Reitor de 1958 a 1966. Pondo ao serviço da Santa Sé os seus
elevados dotes académicos, após ter dirigido o Instituto de Altas Ciências
Latinas foi nomeado Prefeito da Biblioteca Vaticana. Em 1983, João Paulo II
elevou-o à dignidade episcopal e em seguida, ao nomeá-lo Cardeal com o título
diaconal de São Jorge em Velabro, fê-lo Bibliotecário
e Arquivista da Santa Igreja. É autor de importantes estudos teológicos e
canónicos traduzidos em numerosas línguas.