De punk ateu a pregador católico e deputado federal: uma experiência mística o converteu
Ingressou na política “para fazer o que sempre gostou: conhecer gente ajuda-los a perceber a dimensão espiritual da vida e desenvolver maturidade pessoal”.
Antes de ser tradutor, cuidador de pessoas com deficiência física, ativista e pregador católico era punk e ateu convicto. Agora está promovendo um abaixo-assinado “para salvaguardar a moral das crianças e dos jovens em espaços públicos”, com ações que limitam a violência gráfica e a pornografia. A política se tornou o seu serviço cristão.
Tudo começou a partir de uma experiência mística absolutamente radical e inesperada. Teve essa experiência quando tinha 20 anos, e estava no serviço militar. “Era um ateu convicto, e nunca havia sentido nada assim”, insiste.
Educação ateia em casa e na escola
“Fui educado como ateu e posso confirmar que ninguém me disse nada sobre Deus nos meus primeiros 20 anos de vida. Era um conceito desconhecido para mim”.
Nascido em 1970, sua infância e primeira transcorreram em um povoado que pertencia a Checoslováquia comunista. Aos 14 anos, explica, sofreu o divórcio de seus pais, e antes disso as brigas dos pais, certa solidão e falta de amigos.
Ao iniciar a educação secundária, ainda sentia o desejo de encontrar “algo puro e bom”. Mas se apegou a maus amigos. Estava decepcionado com a escola, da qual não gostava.
“Fiz-me membro de uma banda de punk, então procurava o sentido da vida na música e na filosofia desse movimento. Pertencia a algo, o punk significava algo, e me sentia bem. Dessa maneira passei dois anos”.
Um vazio, um círculo…
No seu interior crescia um vazio desolador. Sua vida era: trabalhar no serviço militar, estar com os companheiros de trabalho, depois sair para beber, às vezes assistia a algum show… “Era como um círculo”.
Chegou ao serviço militar em 1988, quando estava em colapso o bloco comunista, mas não tinha ideais e nem entusiasmos. “Havia muita corrupção, muita maldade no serviço militar”, recorda.
Nesses anos se convenceu de que “não valia a pena buscar nada, nem aderir a nada, porque nada era bom”.
Este jovem ateu incrédulo que estava terminando o serviço militar em 1990 teve uma experiência mística que o transformou quando passava uma agradável tarde de junho num rancho, junto a um edifício.
“O percebia, era bom, me abraçava”
“De repente aconteceu algo tão forte que parei e olhei ao redor. Rodeava-me algo assombroso. Não sabia do que se tratava, mas estava ali. Não via nada, mas o percebia. Estava em mim e ao redor, era bom, posso descrevê-lo como algo cálido, que me abraçava. Era luminoso, entretanto eu não o via. Simplesmente sentia que esse grande “algo” penetrava todo o meu ser e tudo ao redor: o edifício ao meu lado, o estacionamento, os apartamento, as árvores, o ar, tudo o que existe, inclusive a mim. “Esse grande ser adentrava em mim”. E no profundo o do meu interior sentia uma alegria extraordinária, uma paz que parecia transbordar. Essa experiência acabou depois de um tempo, contudo entendi com clareza algo que ressoava como palavras muito claras que eu nunca havia ouvido ninguém dizer, mas que estavam em mim: Deus existe!”
“Eu era um ateu convicto e nunca havia experimentado nada assim. Ninguém me falou, ninguém tentou me convencer. Porém, repentinamente, agora sabia que acabava de encontrar a presença de Deus. Não era uma ideia distante ou uma imaginação: era uma realidade que havia acontecido e sabia de imediato que essa realidade estava em todas as partes. Foi uma experiência incrivelmente bela e tremendamente boa, que dava sentido. Soube de imediato que esse era o sentido de tudo: que Deus existe”.
Durante alguns dias Brano experimentou “uma euforia ou gozo especial”. “Dormia sabendo que era bom que Deus existia e me levantava com um sorriso dizendo-me: isto é a resposta a tudo”, recorda.
Procurou pessoas com as quais poderia falar sobre ele, pessoas do povoado que participavam da Igreja, lhes perguntava sobre Deus, porém todos o respondiam com brincadeiras. “Dei-me conta de que, de fato, não sabiam o que é que queria perguntar na realidade”, admite. Ademais, “experimentava a maior paz interior, disso sabia. Entendi que esse “algo” que me havia tocado era um Deus concreto e pessoal”.
Crescendo na fé e no compromisso
Pouco depois encontrou um pároco de um povoado a oeste de Praga que era “um homem de verdadeira oração que conhecia pessoalmente a Deus”, com ele falou longamente. Iniciou-se um longo processo para um jovem criado no ateísmo em casa e na escola comunista: aceitar a Deus racionalmente, e perceber que “Deus me guiava e falava comigo”.
Ao acabar o serviço militar, não voltou as suas más amizades. Voltou-se para a oração e a leitura da bíblia. Conheceu outros bons sacerdotes. E mais adiante, a Comunidade de São Martinho, uma comunidade católica nascida de um grupo de oração clandestino sob o regime do comunismo.
Em 1993 os líderes desta Comunidade visitaram o Santuário Francês de Paray-le-Monial, centro da devoção ao Sagrado Coração de Jesus e da comunidade carismática francesa Emanuel, nesta visita Brano adquiriu mais traços carismáticos e um chamado a ser evangelizador sempre mantendo – ainda hoje – um grupo de oração toda a quarta-feira na catedral de São Martinho, em Bratislava. O diretor espiritual que os acompanha hoje em dia é o bispo auxiliar da diocese.
Na comunidade de São Martinho Brano cresceu na fé e no compromisso. Com eles se tornou evangelizador e pregador leigo. Formava os jovens na fé e cultivava uma aparência informal: cabelos longos e rabo de cavalo, limitando apenas um pouco sua chegada ao Parlamento.
Organizava um “ônibus de Jesus” que ia pelos povoados pregando e cantando que “Deus nos ama” e com um lema: “Eslováquia precisa de Jesus”.
Uma revista e uma associação
Depois de certo tempo criou com a comunidade uma revista de temas sociais e cristãos que se transformou em uma associação, com campanhas contra a imprensa pornográfica, a invasão da “nova era” nas escolas, a defesa de temas pró-vida. Muito tempo trabalhou como acompanhante de deficientes físicos e aprendeu o valor único de cada pessoa.
Casou-se em 1998 com Andrejka, doutora no Instituto Nacional do Câncer, e acompanharam de perto a experiência dos idosos e moribundos. Adotaram um filho excepcional, que morreu em 2009. Também têm dois filhos próprios. Tornaram-se ativista em defesa da adoção e o acolhimento de crianças abandonadas.
Um deputado cristão
Finalmente, deu-se a oportunidade de ingressar na carreira política como deputado. Nos Estados Unidos passar de pregador a político não é estranho. Na Europa isto não é comum, mas incomum, e as circunstâncias o permitiram.
Em 2010 se criou na Eslováquia um novo partido chamado Gente Comum (Obycajní L’udia), uma clivagem conservadora-cidadã de descontentes com o partido liberal “Liberdade e Solidariedade” (no Brasil seria uma espécie de DEM).
Elegeram 4 deputados dos 150 que há no Parlamento.
Nas eleições de 2012 o Gente Comum buscou personalidades com certo renome e apoio popular, e convidaram Brano. Gente Comum elegeu nesta ocasião 16 deputados, com 9% dos votos, e entre eles Brano.
Tendo em conta que a Eslováquia tem 5,4 milhões de habitantes, todo o país é uma única circunscrição, um partido entra no Parlamento a partir de 5% dos votos e os votantes elegem seus preferidos em listas semi-aberta, assim que se sabe que Brano alcançou seu assento com 9.600 votos, dos 218.000 do partido. É bom sublinhar que Brano não luta, portanto, nem no liberal Liberdade e Solidariedade nem no desacreditado partido democrata-cristão.