domingo, 2 de maio de 2010

Junto da Síndone Bento XVI medita sobre "o mistério do Sábado Santo", tempo do silêncio do Deus escondido, traço da espiritualidade do homem de hoje

Pope Benedict XVI blesses in front of the Shroud in theTurin 
cathedral on May 2, 2010. Pope Benedict XVI will bow before the Shroud 
of Turin, the object of both bafflement and veneration believed by many 
to be the burial cloth of Jesus Christ.'It will be a propitious occasion
 to contemplate this mysterious visage that speaks silently to the heart
 of men, inviting them to recognise the face of God,' Benedict said in 
2008 as he announced the planned new exposition of the mysterious cloth.
 The 83-year-old pontiff, in his one day visit in Turin, will celebrate 
an open-air mass in Piazza San Carlo next to the Turin Cathedral housing
 the shroud, meetings with youths and a visit to a centre for severely 
handicapped people.    



  • “O mistério do Sábado Santo” – subtítulo atribuído à solene ostensão do Santo Sínodo, este ano, foi o tema da meditação proposta por Bento XVI, neste domingo à tarde, deslocando-se à catedral de Turim para venerar aquele lençol onde teria sido amortalhado o corpo de Jesus, para a sua sepultura.
    Começando por declarar encontrar-se ali como sucessor de Pedro - levando consigo “toda a Igreja, mais ainda, toda a humanidade” - o Papa referiu-se ao Sudário como um “ícone do Sábado Santo”, “do mistério do Sábado Santo”.
    Como diz uma antiga homilia, o Sábado Santo está envolvido num “grande silêncio, silêncio e solidão”. Como se Deus estivesse escondido. Deus morreu na carne e desceu ao “reino inferior”, “aos infernos”, “à mansão dos mortos”.

    “No nosso tempo, especialmente depois de ter atravessado o século passado, a humanidade tornou-se particularmente sensível ao mistério do Sábado Santo. O escondimento de Deus faz parte da espiritualidade do homem contemporâneo, de maneira existencial, quase inconsciente, como um vazio do coração que se tem vindo a alargar cada vez mais”.

    Como escrevia Nietzsche nos finais do século XIX (“Deus morreu, e fomos nós que o matamos), também nós, na Via Sacra, usamos palavras semelhantes, porventura sem nos darmos bem conta do que estamos a dizer...

    “Após as duas guerras mundiais, depois dos lager e dos gulag, após Hiroshima e Nagasaki, a nossa época tornou-se em medida cada vez maior um Sábado Santo: a obscuridade daquele dia interpela todos os que se interrogam sobre a vida, e interpela de modo particular todos nós, crentes”.

    “E contudo, a morte do Filho de Deus, de Jesus de Nazareth, tem um aspecto oposto, totalmente positivo, fonte de consolação e de esperança”…

    “O Sábado Santo é a terra de ninguém entre a morte e a ressurreição, mas nesta terra de ninguém entrou Alguém, o Único, que a atravessou com os sinais da sua Paixão pelo homem (“Passio Christi, passio hominis”. E o Sudário fala-nos exactamente desse momento, testemunha precisamente aquele intervalo único e irrepetível na história da humanidade e do universo, em que Deus, em Jesus Cristo, partilhou não só o nosso morrer, mas também o nosso permanecer na morte. A solidariedade mais radical”.

    Neste “tempo para além do tempo”, Jesus Cristo desceu à mansão dos mortos”. Que significa esta expressão? – interrogou-se o Papa

    “Quer dizer que Deus, feito homem, foi ao ponto de entrar na solidão extrema e absoluta do homem, onde não chega nem um vislumbre de amor, onde reina o abandono total, sem qualquer palavra de conforto: os infernos.”

    “Permanecendo na morte, Jesus Cristo ultrapassou a porta desta solidão última para nos guiar também a nós a a ultrapassarmos com Ele”. Foi isto o que sucedeu no Sábado Santo:

    “No reino da morte ressoou a voz de Deus. Aconteceu o impensável: o Amor penetrou nos infernos: mesmo na escuridão mais cerrada da mais absoluta solidão humana, podemos escutar uma voz que nos chama e encontrar uma mão que nos agarra e nos traz para fora. O ser humano vive pelo facto de ser amado e poder amar. Se mesmo no espaço da morte penetrou o amor, quer dizer que também ali chegou a vida”.

    “Na hora da extrema solidão, nunca estaremos sozinhos” – insistiu o Papa. “É este o mistério do Sábado Santo!” Olhando para este tecido sagrado com os olhos da fé, reflecte-se para nós algo desta luz: a vitória da vida sobre a morte, do amor sobre o ódio”.
    “É este o poder do Sudário (observou Bento XVI): do rosto deste homem das dores que leva consigo a paixão do homem de todos os tempos e lugares – incluindo as nossas paixões, sofrimentos, dificuldades e pecados – brota uma solene majestade, um domínio paradoxal… uma palavra que podemos escutar em silêncio”. O Sudário fala, fala com o sangue. É um ícone escrito com o sangue… mas um sangue que fala de vida.

    “Cada marca deste sangue fala de amor e de vida. Especialmente aquela mancha abundante no lado, feita de sangue e água saído copiosamente de uma grande ferida provocada por um golpe de uma lança romana – aquele sangue e aquela água falam de vida. É como uma nascente que murmura em silêncio e nós podemos ouvi-la, podemos escutá-la, no silencio do Sábado Santo!”
  • fonte:radio vaticano