sábado, 22 de maio de 2010

Subindo ao Céu, o divino Redentor deixou os sacerdotes para serem na terra os mediadores entre Deus e os homens, particularmente ao altar.S. Crisóstomo: Quando virdes o sacerdote a oferecer o sacrifício, vêde a mão de Jesus Cristo estendida dum modo invisível”.Ocupa também o padre o lugar do Salvador, quando remite os pecados, dizendo: Ego te absolvo. O grande poder que o Padre eterno deu o seu divino Filho, comunica-o Jesus Cristo aos padres.




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A SELVA
POR
SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO
V
O alto posto ocupado pelo padre
A excelência da dignidade sacerdotal mede-se também pelo alto posto
que o padre ocupa. No sínodo de Chartres, celebrado em 1550, é chamado
“a morada dos santos”48. Dá-se aos padres o título de vigários de Jesus Cristo,
e assim os chama Sto. Agostinho, porque fazem as suas vezes na terra49.
Tal é também a linguagem empregada por S. Carlos Borromeu no sínodo de
Milão: Somos nós os embaixadores de Jesus Cristo; é Deus quem pela nossa
boca vos exorta50. Foi o que o próprio Apóstolo declarou.
Subindo ao Céu, o divino Redentor deixou os sacerdotes para serem na
terra os mediadores entre Deus e os homens, particularmente ao altar, como
diz S. Lourenço Justiniano: “Deve o padre aproximar-se do altar como o próprio
Jesus Cristo”51. S. Cipriano diz: “O padre ocupa verdadeiramente o lugar
e desempenha o ofício do Salvador52; e S. Crisóstomo: Quando virdes o sacerdote
a oferecer o sacrifício, vêde a mão de Jesus Cristo estendida dum
modo invisível”53.
Ocupa também o padre o lugar do Salvador, quando remite os pecados,
dizendo: Ego te absolvo. O grande poder que o Padre eterno deu o seu divino
Filho, comunica-o Jesus Cristo aos padres, De suo vestiens sacerdotes, segundo
a expressão de Tertualiano.
Para perdoar um pecado, é necessário o poder do Altíssimo, como a
Igreja o faz ouvir nas suas orações54.
Tinham pois razão os judeus, quando, ao verem que Jesus Cristo perdoava
os pecados ao paralítico, disseram: “Quem senão Deus pode perdoar os
pecados?”55 Mas esta graça que só Deus pode fazer pela sua onipotência, o
padre a pode também dispensar por estas palavras: Ego te absolvo a peccatis
tuis; porque a forma, ou, se o quiserem, as palavras da forma, pronunciadas
pelo padre nos sacramentos, operam imediatamente o que significam.
Qual seria o nosso espanto, se víssemos um homem que, mediante
algumas palavras, tinha a virtude de tornar branca a pele dum negro! O padre
faz mais, quando diz: Eu te absolvo, — porque no mesmo instante demuda
em amigo um inimigo de Deus, e um escravo do inferno num herdeiro do
Céu.
O cardeal Hugues põe na boca do Senhor estas palavras, que representa
dirigidas a um sacerdote ao absolver um pecador: Eu fiz o céu e a terra,
mas dou-te o poder para fazeres uma criação mais nobre e melhor: duma
alma manchada pelo pecado, faze uma alma nova ( Faze uma alma nova,
quer dizer, faze que uma alma pecadora e escrava de Lúcifer se torne minha
filha). Mandei à terra que produza os seus frutos; dou-te um poder melhor, o
de produzires frutos nas almas56.
Privada da graça, é a alma como uma árvore seca, que não pode produzir
nenhum fruto; mas, recobrando a graça pelo ministério do padre, produz
)
frutos de vida eterna. Santo Agostinho ajunta que a justificação dum pecador
é uma obra maior que a de criar o céu e a terra57. O Senhor diz a Jó: Tendes
vós um braço como o de Deus, e uma voz trovejante como a sua?58 Ora,
quem é que tem um braço semelhante ao de Deus e como Deus faz trovejar
a sua voz? É o padre que, dando a absolvição, se serve do braço e da voz do
próprio Deus, para livrar do inferno as almas.
Lemos em Sto. Ambrósio que o padre, quando absolve, opera o mesmo
que faz o Espírito Santo, quando justifica as almas59. Eis por que o divino
Redentor, ao conferir aos padres o poder de absolver, lhes deu o seu Espírito:
Soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo: aqueles a quem
perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e a quem os retiverdes serlhes-
ão retidos60. Deu-lhes o seu Espírito que santifica as almas, e estabeleceu-
os cooperadores seus, conforme a expressão do Apóstolo61. E S. Gregório
ajunta: “Receberam o poder judicial supremo, para em nome de Deus remitirem
ou reterem os pecados aos outros”62. Razão tem pois S. Clemente de chamar
ao padre um Deus na terra63. Davi disse: Veio Deus à assembléia dos deuses
64. Segundo a explicação de Sto. Agostinho, os deuses de que fala são os
sacerdotes65. E eis o que diz Inocêncio III: “Os padres se chamam deuses,
por causa da dignidade do seu ofício”66.
VI
Conclusão
Mas, que horror ver, numa mesma pessoa, uma dignidade sublime e
uma vida vergonhosa, uma profissão divina e obras de iniqüidade! Para longe
de nós esta desordem, exclama Sto. Ambrósio; que as nossas obras estejam
de acordo com o nosso nome!67 O que é uma alta dignidade num indigno,
senão uma pérola caída na lama, pergunta Salviano?68.
O Apóstolo nos adverte que ninguém deve ser tão audacioso que se
eleve ao sacerdócio, sem a vocação divina de Aarão, pois que nem Jesus
Cristo se quis arrogar a honra do sacerdócio, mas esperou que seu Pai o
chamasse a essa dignidade69.
Aprendamos daqui quanto é alta a dignidade do padre; mas quanto mais
alta é, mais devemos temê-la. “É grande a dignidade dos padres, diz S.
Jerônimo; mas também a sua ruína, se vierem a pecar. Regozijemo-nos com
a nossa elevação, mas temamos de cair”70. S. Gregório exclama gemendo:
“Purificados pelas mãos dos sacerdotes entram na pátria os eleitos; e os
próprios padres se precipitam de cabeça para baixo nos suplícios do inferno!”
71 E ajunta: é o que acontece com a água batismal, que purifica do pecado
os que a recebem, e os envia para o Céu, ao passo que ela cai e perdese.