quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A teologia do santo sacrifício da Missa : o único “Cânon” da Missa tradicional. É a parte central e sacrifical da Missa, e que fica entre o “Sanctus” e o “Pater Noster”. É exclusiva do celebrante que deve pronunciá-la em latim e em voz baixa (Concílio de Trento). Nela tem lugar a grande “Acção sacrifical de Jesus Cristo”, que Ele renova na Consagração. É através dela que Cristo se torna presente realmente, e se coloca sob as Espécies Sacramentais em estado de Vítima imolada. Aí renova Ele a oblação sacrifical que fez de si mesmo ao Pai na Cruz.

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A “Confissão de Augsburgo”, protestante, viu bem a mudança radical do novo rito da missa, ao declarar: “Nós fazemos uso das novas preces eucarísticas (católicas) que têm a vantagem de pulverizar (reduzir a pó) a teologia do Sacrifício” (“L' Eglise d' Alsace”, dez/73 e jan/74. Apud “La Messa di Lutero”, por Dom Lefebvre).
Essas “preces eucarísticas” da missa nova, oficialmente em número de quatro, mas que já são muito mais, correspondem ao único “Cânon” da Missa tradicional. É a parte central e sacrifical da Missa, e que fica entre o “Sanctus” e o “Pater Noster”. É exclusiva do celebrante que deve pronunciá-la em latim e em voz baixa (Concílio de Trento). Nela tem lugar a grande “Acção sacrifical de Jesus Cristo”, que Ele renova na Consagração. É através dela que Cristo se torna presente realmente, e se coloca sob as Espécies Sacramentais em estado de Vítima imolada. Aí renova Ele a oblação sacrifical que fez de si mesmo ao Pai na Cruz. E isso, em virtude da Ordem (Sacramento do sacerdócio) que deu aos Apóstolos de fazerem o mesmo que ele tinha feito (Lc. 22,19).
 
É o seu acto sacrifical, que é único e uno, e que foi realizado uma vez por todas, cruentamente na Cruz e misticamente, na última Ceia. E que, por sua ordem, de novo se torna presente, de modo místico, mas real, em cada verdadeira Missa. Assim, deu Jesus cumprimento à profecia de Malaquias: “Do nascente ao poente (...) e em todo lugar, será oferecido ao meu nome uma oblação pura” (Mal. 1,11).
 
A Santa Missa abrange ou realiza os quatro fins do Sacrifício: o latrêutico ou de adoração; o eucarístico ou de ação de graças; o propiciatório ou de expiação; e o impetratório ou de súplica. O fiel, unindo-se por esses atos a Jesus Cristo, que, na Missa como na Cruz, é ao mesmo tempo, Sacerdote e Vítima, participa dos frutos da Redenção e cumpre os seus deveres fundamentais para com Deus. Desses frutos também participam todos os fiéis espalhados pelo mundo.
 
O carácter sacrifical da Missa católica é indicado por vários modos:
 
a) Por ser a renovação e perpetuação, de modo incruento, do Sacrifício da Cruz, o qual, por sua vez, deu cumprimento aos sacrifícios figurativos do Antigo Testamento. Jesus Cristo unificou, na Cruz e na Ceia-Missa, os vários aspectos dos sacrifícios figurativos da Antiga Aliança indicados acima (nº 4 deste).
 
b) Pelas palavras de sentido sacrifical da liturgia dos sacrifícios figurativos do Antigo Testamento, das quais Jesus fez uso na última Ceia: “Isto é o meu Corpo que é entregue por vós”, e “Este é o Cálice de meu Sangue que é derramado por vós”. Note-se o verbo no tempo presente (texto original), indicando um derramar de seu Sangue no próprio ato consecratório.
 
c) Pela realização da “morte sacramental” de Jesus significada através da Consagração das espécies do pão e do vinho, em separado. A separação sacramental do Corpo e do Sangue significa e realiza misticamente a morte de Jesus Cristo.
 
d) Pelo ofertório, com as preces que o acompanham, e que indicam explicitamente que a Santa Missa é sacrifício, e sacrifício propiciatório, isto é, que desagrava a Deus pelos pecados, para os quais impetra o perdão. De fato, nele o celebrante declara que o oferece “... por seus pecados..., pelos de todos os fiéis vivos e defuntos... para que a todos aproveite a vida eterna”.
 
e) Por fim, a Fé da Igreja que sempre professou essa verdade e no Concílio de Trento sentenciou infalivelmente contra os protestantes: “Se alguém disse que a Missa é só Sacrifício de louvor, e não propiciatório (...) seja anátema (Denz. Sch. 1753).
 
“Sacrifício de louvor” era o que ainda admitia Lutero. Não basta, porém, isso para termos toda a “teologia do sacrifício”, que é necessário admitir-se completa e que a Confissão protestante de Augsburgo declara “ter sido pulverizada pelas novas preces eucarísticas” da missa nova.
 
Por isso, a primeira medida de Lutero contra o carácter sacrifical da Missa, foi a supressão do ofertório, que mais explicitamente o expressa. Depois fez as outras mudanças. Foi igualmente o que fez Paulo VI na nova missa, transformando o ofertório em uma simples apresentação de dons conforme prática judaica na suas sinagogas.
 
Em seguida, Lutero alterou as palavras da instituição, fazendo da parte consecratória e da narrativa, que são bem distintas, uma só, e mandando pronunciar tudo em tom narrativo e em voz alta. Tudo para suprimir qualquer idéia de acção pessoal do celebrante e pois, toda a idéia de sacrifício; e assim inculcar nos assistentes a idéia protestante de simples ceia-memorial.
 
Também a reforma de Paulo VI, do rito da Missa, alterou a forma da Consagração, transpondo para fora dela as palavras “Mysterium fidei”, e suprimindo o ponto gráfico que separava bem a parte narrativa, da parte consecratória, de modo que o celebrante é levado a pronunciar tudo em tom narrativo como quem apenas conta um fato acontecido no passado, e não como quem faz uma ação pessoal, que torna de novo presente a mesma realidade operada por Jesus Cristo, e por Ele ordenada que fosse renovada perpetuamente mediante o ministério do sacerdote (Lc. 22,19).
 
Vê-se pois, por essa pequena amostra – e há muitos outros pontos nos quais a missa nova não é mais a pura expressão da Fé Católica – como é de suma importância a nossa fé nesse aspecto da Missa como sacrifício. Aí está a prova. Os protestantes tomam ares de festa com a sua supressão, através da Missa nova.
 
No entanto, não ficou nisso toda a reforma luterana do rito da Missa, mas tendo por objetivo suprimir a própria Missa, partiu Lutero para a supressão do sacerdócio católico, que fora instituído por Jesus Cristo, para garantir a perpetuidade do santo Sacrifício da Missa. Pois ele sabia bem que sem sacerdote verdadeiro não há missa verdadeira, mas simples ceia-comemorativa da última Ceia celebrada por Cristo.
 
Por isso, seguindo esse mesmo espírito, a atual reforma do rito da Missa, feita por Paulo VI, apresenta uma clara tendência a prescindir do padre como único sacrificador da Divina Vítima no sacrifício do Altar. De fato, a “Institutio generalis”, que promulga o novo rito, ao dar uma definição de Missa, que os protestantes assinariam, apresenta a Missa como sendo constituída essencialmente pela “assembléia dos fiéis reunidos para celebrar o memorial do Senhor, sob a presidência do celebrante”.
 
Note-se que foi acrescentada posteriormente a afirmação de que o celebrante “agit in persona Christi” (age no lugar de Cristo e como seu representante), [mas esta] não alterou a afirmação de que quem celebra o “memorial do Senhor é a assembléia dos fiéis” (cf. Institutio Generalis, nº 7), e não o sacerdote, sozinho.
 
Preparou-se assim, a negação explícita da própria presença sacramental e real de Jesus Cristo na Divina Eucaristia, como atualmente os neo-modernistas mas avançados estão fazendo. Os neo-catecumenais, por exemplo, que proíbem os fiéis de se ajoelharem na Consagração, porque - dizem - tudo não passa de simples símbolos. Eis aí a prova de que a Nova Missa leva gradualmente ao protestantismo.
 
É o bastante para já se entender porque os Cardeais Ottaviani e Bacci, em carta a Paulo VI, ao lhe apresentarem o “Breve Estudo Crítico da nova missa”, tenham afirmado: “O novo rito da Missa se distancia de modo impressionante, no seu todo e nos seus pontos particulares, da teologia católica da Missa”.
 
Também ultimamente, o Cardeal Stickler declarou que “o novo rito da Missa é uma adaptação à idéia protestante do culto”. Ele cita também o escritor francês Jean Guitton que escreveu o seguinte: “O Papa Paulo VI me confiou que era sua intenção assemelhar, o mais possível, a nova liturgia ao culto protestante” (em “Fideliter”, nº 109). Isso confirma o que já havia dito o perito em Liturgia, Mons. Klaus Gamber: “A reforma litúrgica de Paulo VI foi mais radical que a de Lutero” (Em “A Reforma Litúrgica em questão” - Ed. Francesa, com prefácio do Cardeal Ratzinger).