Notre-Dame e Colônia duas catedrais co-irmãs como um par de asas
A Igreja, sempre sábia e sempre única no supra-sumo de sua sabedoria, proíbe de se fazer comparação de santo com santo. Porque todo santo é incomparável.
Por razões análogas, é um pouco impróprio comparar certos monumentos góticos uns com os outros.
E, portanto, comparar Notre-Dame com a catedral de Colônia.
É a Cristandade que fez essas catedrais. O que inspirou aqueles monumentos foi o Sangue que Cristo Nosso Senhor derramou na Cruz, e as lágrimas que Maria chorou. Isto é que de fato produziu as catedrais e a outras maravilhas. O resto são pormenores.
Sem fazer a menor comparação entre povo francês e povo alemão, eu olho para a fachada de Notre-Dame e me extasio!
Tão bem arranjada, tão simétrica!
Nela, a fantasia e a boa ordem se completam, o rigor da lógica floresce num sorriso cheio de distinção.
A Catedral parece dizer:
“Olha, o ponto final da harmonia, da beleza, da dignidade... Procure pela terra inteira, a ver se encontras mais longe, e tu não encontrarás!”
E a gente olha, e diz da Catedral o que a Escritura diz de Jerusalém:
“Eis a cidade de uma beleza perfeita, alegria do muito inteiro. Eis a Catedral de uma beleza perfeita, alegria do mundo inteiro!”
Colônia é muito bonita.
Mas, se fossem me perguntar se ela é tão bonita quanto Notre-Dame, eu não optaria por Colônia. Eu diria: “indiscutivelmente é Notre-Dame”.
Entretanto, tudo bem pesado, eu digo: “é discutível que seja Notre-Dame”. Por causa de um ponto só. Mas, esse ponto só, supera Notre-Dame de tal maneira, que a gente fica sem saber o que dizer. E é o seguinte.
Aquelas torres de Colônia se levantam do chão com um élan, e se lançam para o ar com uma altaneria, tão inesperadamente, que a vontade da gente é perguntar: “Quereis voar?!”
Elas proclamam uma tal vitória do homem sobre a lei da gravidade!
A lei da gravidade atrai o homem para baixo, torna pesados os seus movimentos, torna difícil a vida. Essa lei fica esmagada nesse movimento audacioso de alma desejando o inimaginável. E esse impulso da alma é mais belo do que tudo quanto em Notre-Dame foi imaginado e realizado.
Colônia não é a harmonia perfeita, a simetria incomparável, a proporção entre o chão e o edifício.
É o esplendor da desproporção, daquilo que se arranca não por subversão, mas por superação, se arranca a todas as regras e as transcende, e diz: “Positivamente! Universo, com tuas lindas regras, eu te venero, eu te quero, eu faço parte de ti, mas de dentro de ti eu levanto a mão até o Autor do universo!”
Quem no mundo tem autoridade para criticar um monumento como o de Colônia?
Entretanto, eu gostaria que aquelas torres fossem mais distantes um pouco uma das outras. Que houvesse um pouco mais de lugar para a fachada. Aquilo parece um pouco apertado. Por causa disso, janelas, vitrais, tudo é um pouco apertado também.
Quando eu comparo Colônia com aquele espaço harmoniosamente preenchido por Notre-Dame, eu digo: “Mas, Notre-Dame tem outro estar à vontade do que essa Catedral que parece estar posta num colete. Linda! Tão bonita que a gente teria vontade de tirá-la do colete!”
Mas, mas, mas... aquelas duas torres tão próximas uma da outra parecem um par de asas subindo para o céu...
O meu comentário seria: nunca dos nuncas um avião subiu tão alto.
Todos nós já voamos a dez mil metros. Olhamos para a terra... O que é aquilo? É a minha sepultura, se eu cair. Não é outra coisa senão aquilo.
Agora, olhamos para a Catedral e dizemos: “Aquilo toca no Céu”. Porque ali é a alma humana que tem a sensação do Céu que foi tocado.