Quando, em janeiro, o Papa Bento XVI estava para retirar a excomunhão que pesava sobre os bispos da Fraternidade São Pio X, uma TV sueca levou ao ar uma entrevista com um dos bispos favorecidos pela decisão papal, o inglês Dom Richard Williamson.
No curso da entrevista, entre tantas outras coisas, Dom Williamson questiona algumas circunstâncias relacionadas ao assassinato em massa de judeus pelo regime nazista, mais especificamente, os números e os instrumentos. Ele abraça as teorias de alguns historiadores, chamados revisionistas, que denunciam a cifra milionária como uma peça de propaganda judaica. Resumo: um dos bispos a ser agraciado por Bento XVI “nega o holocausto e faz comentários antissemitas na TV sueca” seria a manchete dos jornais.
A entrevista havia sido gravada alguns meses antes, mas os produtores esperaram a melhor ocasião para veiculá-la. Meses antes não atingiria seu principal alvo: Bento XVI. Dom Richard Williamson serviu aos propósitos anticlericais da mídia sueca e internacional, pois os comentários de sua autoria e responsabilidade foram ardilosamente associados ao Papa alemão. Os assessores do Papa negam que ele tenha tomado conhecimento das declarações de Dom Williamson.
Nos últimos dias, a mesma TV sueca acusa o Vaticano de ter recebido as informações sobre a entrevista de Dom Williamson antes que fosse ao ar. Sem perder o fino senso de oportunidade, a TV apresenta o programa às vésperas do início das conversações teológicas entre a Santa Sé e a Fraternidade São Pio X, previstas para meados de outubro. Desta vez quem faz o serviço sujo dos inimigos da Igreja é o Bispo de Estocolmo, Dom Anders Arborelius.
O bispo da capital sueca afirma em entrevista ao canal que informou ao núncio sobre as declarações de Dom Williamson, logo depois de terem sido gravadas, e que o núncio passou as informações ao Vaticano. Dom Emil Paul Tscherrig, o núncio, confirmou em off ter repassado o relatório, inclusive ao Cardeal Castrillón Hoyos.
Já na ocasião ficou claro para mim que o cardeal sabia destas posições negacionistas de Dom Williamson. Ele nunca fez questão de escondê-las, pessoas bem menos informadas – entre as quais me incluo – conheciam estas teses. Agora, graças ao boquirroto bispo de Estocolmo, fica claro que o cardeal sabia “desta entrevista” especificamente.
Mas o cardeal já está aposentado, não importa a mais ninguém. Algum palpite sobre quem será chamado de mentiroso pela mídia anticlerical?
Mas que relação existe entre excomunhão e negação do holocausto?
Absolutamente nenhuma! Nenhum católico será excomungado se negar a existência do holocausto; na verdade, pode até negar a existência dos judeus, das células e do oxigênio, e não lhe será imposta pena canônica alguma.
Toda a polêmica visa unicamente a atingir o Papa Bento XVI. E, somente por isto, achei merecido o confinamento e quase-silenciamento de Dom Williamson; acho também que o bispo sueco mereceria uma punição.
Curiosamente são dois convertidos do protestantismo – Dom Williamson, anglicano e Dom Arborelius, luterano – e embora não duvide da sinceridade das conversões, parece-me que certos ranços não se extirpam facilmente.
fonte:Oblatvs