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Vidas de Santos | |||||
São Raimundo de Penhaforte Pregou a cruzada contra os mouros e compôs uma Suma de casos de consciência, que exerceu sobre o Direito Canônico e a moral influência durável através dos séculos Plinio Maria Solimeo
Raimundo nasceu por volta de 1176 no castelo de Penhaforte, próximo de Villafranca del Panadés, na Catalunha, Espanha. Seus pais, ricos e nobres, descendiam dos antigos condes de Barcelona. Eram também aparentados com a casa real de Aragão. Fez seus estudos na escola da catedral de Barcelona e formou-se depois em letras, com tal êxito que o bispo o convidou para nela lecionar retórica e lógica. Tinha então 20 anos. Desapegado de qualquer interesse humano, ensinava gratuitamente, dando a todos o exemplo de suas virtudes. Em 1210 foi estudar Direito civil e eclesiástico na famosa universidade de Bolonha, na Itália. Fez a viagem a pé, pedindo esmolas pelo caminho. Ao passar por Briançon, na França, presenciou um estupendo milagre operado por Nossa Senhora de Delbeza. Um jovem fora assaltado por ladrões, que lhe furaram os olhos e cortaram as mãos. A Virgem restituiu-lhe mãos e olhos. O relato autêntico desse fato passou para a História narrado pelo próprio São Raimundo. Doutor em Direito canônico e civil
Estudando com diligência, auxiliado por boa inteligência e feliz memória, doutorou-se com brilho em 1216. Foi então escolhido, por aclamação, para ensinar na própria universidade, onde os alunos eram sobretudo nobres e letrados. Ensinou com êxito durante dois anos, não exigindo nenhuma remuneração. Entretanto, o senado da cidade concedeu-lhe um soldo anual, que utilizava para auxiliar os párocos pobres e os necessitados em geral. Um fato novo veio mudar totalmente o rumo de sua vida. Em 1218 o bispo de Barcelona, Berenguer de Palou, no desejo de obter para sua diocese alguns frades da nova ordem dos dominicanos, foi à Itália para encontrar-se com São Domingos de Gusmão. Passando por Bolonha, ouviu os maiores elogios a Raimundo, e quis tê-lo como professor do seminário que ia fundar. Depois de muita insistência — alguns autores dizem mesmo que o Papa interveio no assunto — ele aceitou. Em Barcelona recebeu um canonicato e foi elevado à dignidade de arcediago da catedral. Cheio de zelo pela casa de Deus, aproveitava todas as ocasiões para aumentar o decoro da catedral e a majestade do culto divino. As novas e maiores rendas permitiram-lhe também socorrer com mais liberalidade os pobres, a quem chamava “meus credores”. Muito devoto do mistério da Anunciação, obteve do bispo e do capítulo da catedral que passassem a festejar com maior solenidade essa festa. Deixou para isso parte de sua renda. Desejoso de levar vida mais recolhida e penitente, pediu admissão nos dominicanos em 1222, apenas oito meses depois que São Domingos falecera. Ia completar 47 anos de idade, mas começou o noviciado com o fervor do mais jovem postulante. Co-fundador da Ordem de Na. Sra. das Mercês
São Raimundo pediu ao seu superior que lhe impusesse severa penitência, a fim de expiar a vã complacência que supunha haver tido quando catedrático em Bolonha. Tendo em vista a grande capacidade e conhecimento que o noviço possuía do Direito e dos cânones, o superior mandou-o escrever uma Suma de casos de consciência para que, por ela, se orientassem os confessores da Ordem. O Papa Clemente VIII afirmou que esse trabalho de São Raimundo era “tão útil aos penitentes quanto necessário aos confessores”. Foi o primeiro escrito no gênero, tendo alcançado grande difusão. Segundo a tradição, nessa época Nossa Senhora apareceu em sonhos, na mesma noite, a São Raimundo, a seu dirigido São Pedro Nolasco, e ao rei Jaime I, inspirando-lhes o desejo de fundar uma ordem religiosa e militar cujos membros se obrigassem, por voto, a redimir os cativos em poder dos mouros. Assim surgiu, no dia 10 de agosto de 1223, a Ordem de Nossa Senhora das Mercês para a Redenção dos Cativos. São Raimundo redigiu o corpo de prescrições e regras para a nova Ordem, inspiradas na regra dos dominicanos. Mais tarde, em fevereiro de 1235, foi ele também quem obteve do Papa Gregório IX a aprovação definitiva da Ordem. Pregador de cruzada,confessor do Papa, inquisidor
Em 1229 o cardeal João Helgrin d’Abbeville, legado da Santa Sé na Espanha, foi encarregado de uma tríplice missão: pregar a cruzada contra os mouros; declarar nulo o casamento de Jaime de Aragão com Eleonora de Castela; e fazer a visita canônica das igrejas, pondo em vigor, onde necessário, os decretos do concílio de Latrão. O cardeal associou a si São Raimundo de Penhaforte, que percorreu as cidades da região a fim de preparar o povo para receber o legado. Pregava a indulgência da cruzada, ouvia confissões e dispunha com prudência os corações, de maneira que, chegando o legado, encontrasse já os ânimos muito bem dispostos para as novas medidas. Finda a missão, o cardeal d’Abbeville, ao dar ao Papa conta de sua missão, ressaltou a preciosa ajuda de São Raimundo, a quem cobriu de elogios. Gregório IX encarregou então o santo de pregar nas províncias de Arles e Narbona em favor da expedição do rei Jaime de Aragão contra os mouros. No ano seguinte o Papa chamou-o à corte pontifícia, escolhendo-o seu confessor, capelão e penitenciário. Nessa qualidade o santo redigiu grande número de documentos para o Soberano Pontífice. Como confessor, impunha ao Papa, como penitência, despachar com misericórdia e brevidade as causas dos pobres que acudiam à corte pontifícia e não tinham protetor. Tomou ainda parte ativa na introdução da Inquisição em Aragão e deu seu parecer sobre o procedimento a seguir em relação aos hereges da província de Tarragona. Vagando a sé dessa cidade, Gregório IX nomeou-o seu bispo. São Raimundo protestou tanto e chegou a adoecer tão gravemente, que o Papa revogou a nomeação, pelo temor de perdê-lo. Ordena a coleção das Decretales O trabalho intelectual mais importante que se deve a São Raimundo de Penhaforte na corte pontifícia foi o de ordenar e editar a nova coleção das Decretales (os vários decretos e decisões pontifícias regulando pontos da disciplina eclesiástica e civil), destinada a substituir as várias existentes, que estavam em profunda desordem e confusão. O santo trabalhou durante quatro anos nessa tarefa. Gregório IX, mediante bula de 5 de setembro de 1234, enviou a nova coleção às universidades de Paris e Bolonha, em caráter oficial. Em 1237, Gregório IX encarregou-o de absolver o rei Jaime de Aragão da excomunhão em que havia incorrido, devido ao atentado cometido, através de seus agentes, contra o bispo eleito de Saragoça. O santo exerceu as funções de penitenciário até 1237 ou começo de 1238. Tendo então adoecido gravemente, os médicos aconselharam-lhe os ares da pátria.
No capítulo geral dos dominicanos realizado em Bolonha, apesar de ausente, foi eleito por unanimidade para substituir o geral Jordão de Saxe, falecido num naufrágio. Tendo que aceitar o cargo por obediência, promoveu nova redação das constituições da Ordem, que foram aprovadas em 1239 no capítulo geral de Paris. Em 1240 demitiu-se do generalato devido à idade e pouca saúde, e voltou para seu convento de Barcelona. Mas lá não permaneceu inativo. Promoveu uma campanha de apostolado em relação aos judeus e mouros da Espanha e da África, e trabalhou com sucesso para a repressão da heresia na Espanha. Foi também por iniciativa sua que se abriu em Múrcia uma escola de hebreu, para facilitar o ministério apostólico com os judeus. A tradição conservou um fato milagroso ocorrido com São Raimundo nessa época. O rei Jaime I –– que tinha o santo em grande consideração, e freqüentemente recorria ao seu ministério e conselhos –– levou-o consigo numa viagem à ilha de Mallorca. Levou também ocultamente uma mulher com quem mantinha relações ilícitas. Ao descobrir o fato, pediu ao rei que despedisse a mulher, caso contrário ele se retiraria. O soberano prometeu atendê-lo, mas não cumpriu a promessa. Para impedir o santo de deixar a ilha, ordenou a todos os portos que não o aceitassem a bordo. São Raimundo estendeu então seu manto sobre as águas, e nesse barco improvisado atravessou o braço do Mediterrâneo até Barcelona. São Raimundo de Penhaforte morreu no dia 6 de janeiro de 1275, já nonagenário, sendo canonizado em 1601. E-mail do autor: pmsolimeo@catolicismo.com.br ___________________________________________ Notas: Obras consultadas: A. Teetaert, Raymond de Penyafort, in Dictionnaire de Théologie Catholique, Letouzey et Ané, Éditeurs, Paris, 1903, Tomo XIII, cols. 1806 e ss. Les Petits Bollandistes, Saint Raymond de Pennafort, in Vies des Saints, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo I, pp. 576 e ss. Edelvives, San Raimundo de Peñafort, in El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1946, tomo I, pp. 231 e ss. Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., San Pedro Nolasco y San Raimundo de Peñafort, in Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo I, pp. 197 e ss. fonte:Catolicismo |
- E senti o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e N´Ele vi e ouvi -A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. - O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar , é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. - O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora! - Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica: - Na eternidade, o Céu! (escreve a irmã Lúcia a 3 de janeiro de 1944, em "O Meu Caminho," I, p. 158 – 160 – Carmelo de Coimbra)