quarta-feira, 18 de maio de 2011

D. Bernardo de Vasconcelos Religioso Benedictino 1902-1932

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Bernardo Vaz Lobo Teixeira de Vasconcelos nasceu na Casa do Marvão, em S. Romão do Corgo (Celorico de Basto), em 7 de Julho de 1902.
Depois de ter feito os preparatórios no Colégio de Lamego, foi estudar na Universidade de Coimbra. Ali se expandiu a sua alma de fogo em actividade, fecunda em obra de apostolado: como membro das Conferências de S. Vicente de Paulo; como redactor da revista “Estudos”, órgão do C A D C (Centro Académico de Democracia Cristã); como Vice-Presidente da direcção do mesmo C A D C e Presidente da Liga Eucarística, criada no C A D C para vivificar a piedade dos sócios.
Em Agosto de 1924 entrou na Ordem de S. Bento. Professou em 29 de Setembro de 1925. Recebeu as Ordens Menores en 5 e 6 de Janeiro de 1929.
Subir os degraus do altar, ser ordenando sacerdote – era a grande aspiração de sua alma, mas quis oferecer ao Senhor o sacrifício heróico de ficar privado da dignidade sacerdotal.
E Deus aceitou o seu sacrifício. D. Bernardo, como se ficou chamando como benedictino, foi uma hóstia em sangue, sofrendo em seu corpo os duros golpes com que Deus imolava a sua vítima. Sofreu, com resignação edificante, operações repetidas, dolorosíssimas, que lhe mutilhavam a carne, a ponto de ele próprio chamar ao seu corpo uma “casa esburacada”; sofreu raspagens de ossos, extração quase diária de pus das feridas, que eram chagas abertas no corpo; sofreu a imobilidade na cama, febre persistente, dores de intestinos e de rins, dificuldades de digestão, perturbações do coração.
O seu constante e multímodo sofrimento, aceito generosamente com amor e alegria, prolongou-se durante seis anos, em hospitais e sanatórios, no Porto, na Falperra, na Póvoa de Varzim e na For do Douro, até à madrugada de 4 de Julho de 1932, em que D. Bernard, aos trinta anos, entregou a sua alma a Deus, incovando a SS. Trindade e dizendo:
“Não chorem; eu vou para o céu... Jesus! Jesus! Eu sou todo de Jesus!...”
Desde então, numerosos peregrinos acorrem frequentemente ao túmulo de D. Bernardo, na freguesia onde nasceu. Invocam a sua intercessão e agradecem os favores que, por seu intermédio têm obtido.
Fonte : Patriarcado de Lisboa.
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Frei Bernardo de Vasconcelos
mais um Santo Português

A 9 de Outubro de 1987 ficou concluído em Braga o Processo Diocesano em ordem à desejada Beatificação e Canonização de Frei Bernardo de Vasconcelos, falecido há 67 anos.
O povo, porém, não esperou pela decisão da Igreja, e desde a sua morte começou o venerá-lo como «santo» e a peregrinar até à sua sepultura.
Bernardo de Vasconcelos nasceu o 7 de Julho de 1902 no seio de urna distinta família na Casa do Marvão em S. Romão do Corgo, Celorico de Basto, distrito e Diocese de Braga.
Feito a curso liceal no Colégio de Lamego, dirige-se aos 17 anos para Coimbra, onde sofreu, no princípio, uma certa desorientação. Teve porém o felicidade de ser levado pelo mão de Deus para a C.A.D.C. Nessa Associação militavam numerosos jovens dos mais distintos na vida católica e cultural. Alguns deles vieram mesma a exercer influência decisiva no panorama religioso e político da nassa Pátria.
Integrado nas Conferências de S. Vicente de Paulo, sentiu a problema dos pobres, a cujo bem, material e sobretudo espiritual se dedicou ardorosamente. Visitava-os, consolava-os e partilhava com eles todos os seus haveres. Quando em 1924 se despediu de Coimbra, deixou-Ihes todos os objectos escolares e um sobretudo cuja venda se converteu em alimentos para as famílias mais carenciadas.
Em 1931 escreverá a um colega:
«Faz muito bem em se inscrever nas Conferências de S. Vicente de Paula, obra das melhores, das mais frutuosas. Recordo com saudade os meus pobrezinhos e ainda aí tenho uma afilhadita, como recordação desses tempos».
Bernardo tem urna alma de poeta que se expande em versos inspirados; é conferente, escritor secretário da revista Estudos, órgão do C.A.D.C.
Filiou-se na Congregação Mariana e é eleito Presidente da Liga Eucarística dos Estudantes, criada para vivificar a piedade dos seus sócios.
O estudo sério, o trabalho incansável e o apostolado activo, entusiasmam o seu coração ardente.
A oração, a leitura e meditação de bons livros, a comunhão diária e as longas visitas ao Santíssimo Sacramento, elevaram o seu espírito das banalidades da terra para a sublimidade celestial. Quantas vezes o viram, envolvido na capa de universitário, diante do Sacrário, na Sé velha de Coimbra! Em Janeiro de 1923 escreve:
«Sinto-me cada vez mais feliz e praza a Deus que eu possa vir ser digno de tanta felicidade. Continuo a orientar a minha vida por um caminho austero e iluminado, conservando sempre bem arraigado à alma o lema que tomei: " a renúncia é o caminho". Conservo, com a graça de Deus, a mesma pureza de coração e também de acções».
Um facto vincou decisivamente a sua vida: o retiro espiritual feito no Luso, com outros colegas universitários, em Fevereiro de 1923:
Vou-me preparar melhor para uma confissão geral, que farei com uma alegria imensa. É a maior graça que Deus me pode conceder , como desejo".
No seu Diário Espiritual, anotou também:
«Servir a Deus é o ideal mais alto, é o ideal única - é o ideal».
A sua vida interior não passava despercebida aos seus companheiros de estudos. Era até para eles motivo de admiração e estímulo.
Doutar José de Paiva Boléu, seu antigo colega, escreveu:
«Um dia, urna pessoa que o não conhecia, ao vê-lo numa sessão solene, numa atitude não afectada, e numa concentração natural do seu espírito, declarou-me que o Bernardo parecia um anjo a rezar.
Em Fátima, por ocasião de uma peregrinação, urna pessoa, que também o não conhecia, declarava admirada, que nem a multidão, nem as cerimónias litúrgicas, nem a fé simples e entusiasta do bom povo da nossa terra, a impressionaram tanto como a resignação cristã, a coragem verdadeiramente heróica que se espelhava no rosto do Bernardo, enfileirada com os outros doentes para receber a bênção do Santíssimo».
Uma sua condiscípula, na Faculdade de Direito, deu este testemunho a 19 de Maio de 1924, depois de o ter ouvido recitar um soneto seu:
«Ouvi o Bernardo... Este, ou eu me engano muito, ou é já santo. Esta convicção mais se arraigou posteriormente, ao saber da sua resignação e da conformidade com a vontade do Senhor durante a sua longa doença...
A partir de certa altura convivi com ele, na persuasão de que seria santo... No seu apostolado activo e intenso e, sobretudo, no seu elevado misticismo, o Bernardo é um modelo vivo a apresentar aos jovens de Portugal».
Sob a orientação de alguns guias espirituais, sobretudo do jovem professor da Faculdade de Letras, o Doutor Manuel Gonçalves Cerejeira, mais tarde Cardeal Patriarca de Lisboa, decidiu entregar-se ao Senhor, na vida religiosa, na Ordem de São Bento.
Ao saberem, em segredo, que ele ia deixar Coimbra, os seus colegas, acorrem à estação do caminho de ferro, para se despedirem. Houve lágrimas, mas lágrimas de alegria. Pastas e fitas voaram nos ares. Os passageiros, que iam no comboio, perguntavam o que era aquilo, que apoteose era aquela. Era alguém que deixava tudo para se unir ao Senhor.
O místico jovem ficou impressionado.
«Recordo com íntima mas serena comoção aquela despedida fraternal que tive em Coimbra. Para a minha alma sedenta de Deus e de O comunicar às almas todas, foi uma grande consolação».
A 16 de Agosto de 1924 ingressou no Mosteiro beneditino de Singeverga. Pouco depois expande a sua alegria:
«Este delicioso isolamento tem-me feito um bem incalculável à alma. O Ofício Divino é um encanto! Que majestade e que poesia! Que esplêndidas orações da Igreja! Salmos de súplica, de saudade de Deus, de louvor e de glorificação! Que beleza e fonte inexaurível da mais sã poesia! Como Deus é bom!».
A sua piedosa e santa mãe, que tinha feito o sacrifício da sua oferta ao Senhor escreve:
«E o que fez a minha boa mãe? Reconheceu também que eu era de Deus, e a Ele me entregou de novo. Perdeu-me? Restituiu-me a esse Bondosíssimo Senhor e a esse Inigualável Amigo».
O seu ideal era ser sacerdote, celebrar a Santa Missa, sobre a qual escreveu coisas tão belas. Resolveu porém fazer o acto heróico de renunciar a essa dignidade, o fim de obter para a sua Ordem, em Portugal, as graças necessárias para a seu estabelecimento e florescimento.
A oferta foi aceite.
A cruz bate-lhe à porta e transforma-o numa «hóstia em sangue».
Vai percorrer as casas do sua Ordem, quer em Portugal, quer em Espanha e na Bélgica, com o sofrimento a dilacerar-lhe o corpo, com uma tuberculose vertebral. E internado em hospitais e clínicas, mas sempre debaixo do peso da cruz.
São seis anos de martírio numa imolação cruenta, com operações repetidas - a mutilar a carne, a abrir canais, a raspar ossos - a extracção quase diária do pús, a imobilidade do corpo, a febre persistente, as dores dos intestinos e dos rins, as dificuldades da digestão, a fadiga cerebral, as perturbações do coração.
Admiremos a grandeza da sua alma :
«Estou nas mãos de Deus. Tenho sofrido bastante; Só com o auxílio d'Ele poderia suportar certas dores. Ele lá tem os seus desígnios. Uns são destinados para pregar; outros para orar; outros para sofrer. Neste tempo em que o mundo é atravessado por uma onda de despudor e de baixeza moral, é mais necessária a expiação e o desagravo».
Sofria, porém, inundado de alegria sobrenatural, vivendo aquilo que recomendava o um colega enfermo:
«Não te entregues à tristeza que só serve para inutilizar as nossas melhores energias... dilata o teu coração e deixa entrar nele o sol vivificador da alegria. Alegria, mas com tantas provações? Olha o que te digo: quem viste ainda sem cruz? A cruz segue-nos onde quer que vamos e temos de a levar; e, se a não quisermos erguer generosamente e levar nos nossos braços aos abraços, quer dizer; com todo o ardor do nosso coração o que a fará mais levezinha, teremos de a levar atrás de nós, aos arrastos».
Noutra carta :
«Para longe as tristezas doentias. Triste é o pecado, triste deve ficar quem ofende a Deus... Um bom cristão não tem direito de se dar à tristeza».
A seu respeito escreveu o médico que o tratava no Porto :
«No meu consultório conhecem-no todos; todos o respeitavam carinhosamente e todos, qualquer que fosse o seu ideal religioso ou político, lhe chamavam o frade santinho».
Quantas pessoas não impressionou Frei Bernardo com a sua vida de amor! Amou a todos e amou-os com amor puro, delicado, ardente. Possuía o condão de atrair, aquecer e elevar as almas. Uma auréola de profunda simpatia envolve o seu nome. E tantos, no contacto com ele, experimentaram a maravilhosa atracção para a verdade, o bem, para Deus.
Na Foz do Douro, aos 30 anos de idade, no dia 4 de Julho de 1932, sem agonia, rodeado da família, a quem pedia perdão e consolava, suspirou :
«Ó Santíssima, ó Santíssima Trindade! Não chorem, eu vou para o Céu... Jesus, Jesus, eu sou todo de Jesus».
E expirou santamente.
(Da Revista " Cruzada ", de Agosto-Setembro 1999 )