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No dia 7 de fevereiro de 1878, vinha a falecer um Papa –– cuja heroicidade de virtudes foi reconhecida há sete anos pela Santa Sé –– que marcou profundamente, com o mais longo de todos os pontificados, a História da Igreja, tendo-se realçado pela energia com que combateu os inimigos da Fé
Luis Carlos Azevedo
Entre oito e nove horas da manhã do dia 18 de julho de 1870, 535 Padres conciliares (Cardeais, Patriarcas, Arcebispos, Bispos) dirigem-se à Basílica de São Pedro, em Roma. Depois de revestidos com os seus ornamentos e de terem adorado o Santíssimo Sacramento, encaminham-se individualmente para a Sala do Concílio, tomando cada qual o seu lugar de costume.
Concluída a Missa, celebrada por Mons. Basilli, o Soberano Pontífice, em traje de grande solenidade, entra na Sala seguido de sua Corte. Os Padres ajoelham-se e o Papa invoca a assistência do Espírito Santo, seguindo-se-lhe longa e admirável série de hinos, ladainhas e orações, que não duraram menos de meia hora.
Já com a mitra na cabeça e tendo na mão esquerda a cruz em lugar do báculo, o Sumo Pontífice abençoa por seis vezes o Concílio.
Terminadas as orações prescritas, o mestre de cerimônias se prepara para pronunciar o Exeant omnes (retirem-se todos) e mandar fechar as portas da Sala Conciliar, quando o Papa ordena que a sessão seja pública até o fim, como o tinham sido as três sessões anteriores.
Então, o secretário do Concílio, Mons. Fessler, encaminha-se para o trono pontifício, oscula os pés de Sua Santidade e recebe de suas mãos o texto da Constituição De Ecclesia Christi. Depois passa-o a Mons. Valenziani que o lê, e em seguida interpela os Padres, dizendo:
“Reverendissimi Patres, placentuae vobis decreta et canones qui,in hac Constitutioni continentur?” (Reverendíssimos Padres, agradam-vos os decretos e cânones que esta Constituição contém?).
Procede-se, então, à chamada nominal, começando pelos Cardeais e Patriarcas, seguindo a ordem hierárquica e a de antigüidade. Ao ouvir o seu nome, cada Padre responde com a palavra placet (aprovo) ou non placet.
Quinhentos e trinta e três Padres votam a favor e só dois contra aquela Constituição que expõe a instituição e o exercício perpétuo do primado do Papa, proclama sua infalibilidade em matéria de Fé e Costumes e a universalidade de seu Episcopado em toda a Igreja.
Logo depois de apurada a votação, o Papa quis falar, mas nesse momento fez-se tal rumor na Sala, houve tal explosão de brados: “Viva Pio IX! Viva o Papa infalível”, que o Santo Padre teve de esperar. Após o que, de pé, com a mitra na cabeça, proclamou e sancionou com sua Suprema Autoridade os decretos e os canônes da Constituição De Ecclesia Christi.
Esse acontecimento, transcorrido na IV Sessão do Concílio Vaticano I, foi um dos eventos mais santamente graves de todo o século XIX. Seu principal protagonista: o Papa Pio IX (1846-1878), o grande Pontífice da Imaculada Conceição, do Syllabus e do dogma da infalibilidade pontifícia.
Um Pontificado Inigualável
O dia 16 de junho de 1871 foi para Pio IX um aniversário como nenhum de seus predecessores havia conhecido: nesse dia ele atingiu e ultrapassou o número de anos do Pontificado de São Pedro.
Tu non videbes annos Petri (Tu não chegarás aos anos de Pedro) dizia, de conformidade com longa tradição, a liturgia na coroação dos Papas. Essa tradição foi alegremente desmentida por aquele nobre varão da família lombarda dos Mastai-Ferretti.
Sua estatura se eleva quando fala, sabendo encontrar, para cada um, uma palavra, uma frase ou um sorriso animador. Seu olhar vai direto ao coração como as suas palavras. Sua voz forte e sonora é penetrante, seu acento firme e suave ao mesmo tempo, o gesto sempre digno. É a grandeza e a benevolência do supremo Pontífice. Ele nunca escreve suas alocuções, é o Espírito Santo quem as inspira em frases claras, concisas e apropriadas.
Certa vez, sentiu-se “passar o sopro da cólera divina pela boca do seu Vigário. Via-se a chama iluminar aquele nobre aspecto coroado de cãs. Pela comoção de sua alma, a sua voz era cheia como a do trovão e seu braço ameaçador parecia armado da onipotência”.(1)
“Roma é a cidade das maravilhas, mas a maravilha de Roma é Pio IX”, comentou o Bispo de Moulins (França), Mons. de Dreux-Bresé.
Sim, este Pio IX do non possumus, varão de todas as intransigências santas, proclamador de todas as verdades doa a quem doer, que noutra ocasião disse a respeito de si mesmo: "não quero ser obrigado a exclamar um dia em presença do juiz eterno: Vae mihi quia tacui (maldito de mim, porque me calei)”.(2)
Pelos idos de 1860, um ilustre escultor, que trabalhava um busto do Papa, parou um dia para admirar a altura e o escampado de sua fronte. Pio IX pegou na argila e traçou com suas mãos os seguintes dizeres: Ecce dedi frontem tuam duriorem frontibus eorum (Eis que eu tornei o teu aspecto mais rijo que o deles). Ou seja, por mais que seus inimigos se obstinassem, ele seria mais forte do que eles.(3)
O Papa da Imaculada
Foi no dia 8 de dezembro de 1854 que, na Basilica de São Pedro, perante a multidão de Cardeais e Prelados, dignitários pontifícios, corpo diplomático e imensa multidão de fiéis de todos os países da Terra, Pio IX declarou, pronunciou e definiu o dogma da Imaculada Conceição:
“Nós declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina que afirma que a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada e limpa de toda a mancha do pecado original, desde o primeiro instante de sua conceição, em vista dos merecimentos de Jesus Cristo, salvador dos homens, é uma doutrina revelada por Deus, e por essa razão todos os fiéis devem crer nela com firmeza e constância. Pelo que, se alguém tiver a presunção –– o que Deus não permita! –– de admitir uma crença em contrário de nossa definição, saiba que deslizou na Fé e se acha separado da unidade da Igreja!”
Havia longos séculos que a Cristandade aguardava o momento dessa definição. E, ao pronunciar Pio IX essas palavras confirmando as Escrituras, a Fé universal dos povos católicos regozijou-se, tocaram todos os sinos da Cidade Eterna, e os canhões do Castelo de Santo Ângelo atroaram anunciando a glorificação da Virgem Imaculada.
“À noite, Roma, cheia de ruidosas e alegres orquestras, embandeirada, iluminada, coroada de inscrições e de transparentes emblemas, foi imitada por milhares de vilas e cidades em toda a superfície do globo”.(4)
A definição desse dogma pulverizou todos os sistemas filosóficos racionalistas, que não querem admitir em nossa natureza nem queda, nem redenção sobrenatural.
Ratificando esplendorosamente essa definição, quatro anos mais tarde, uma menina dos Pirineus via na gruta de Massabieille (Lourdes) “uma Mulher vestida de branco com um cinto azul de onde pendia um rosário, aureolada por uma luz sobrenatural”, que lhe dizia: “Eu sou a Imaculada Conceição” (aparição de 25 de março de 1858).
O Papa do Syllabus
Os sistemas filosóficos, as novas idéias políticas, as agitações sociais, os conflitos internacionais encadeavam-se, embaralhavam-se, apresentando do século XIX um aspecto confuso e desnorteador.
Nessa conjuntura, a atitude político-social de Pio IX consistiu numa réplica espiritual aos dois grandes males do seu tempo: o naturalismo e o liberalismo.
Sua voz se fez ouvir primeiro pela Encíclica Qui Pluribus, sobre os erros modernos e os meios de combatê-Ios; depois pela Encíclica Quanta Cura, contra os erros do naturalismo e do liberalismo; mas seu documento mais memorável é o Syllabus, publicado no l0º aniversário da definição do dogma da Imaculada Conceição e que continha a súmula dos principais erros da época denunciados em suas anteriores alocuções, encíclicas e outras cartas apostólicas.
Foi este um de seus mais terríveis golpes contra a Revolução. De todos os erros ali fustigados: “Não há nenhum que não seja flagrante para quem, admitindo a subordinação do homem a Deus, quiser dar-se ao trabalho de meditar um pouco. Por outro lado, não há nenhum direito civil europeu que se não apoie nestes erros, nenhum governo que os não tenha adotado e não esteja disposto a tomá-los como regra de seu proceder. Desta maneira, governantes e republicanos não tiveram mais que uma voz para abafar a de Pio IX.
"Censuram-lhe criar gratuitamente um divórcio entre o catolicismo e o liberalismo moderno... Sim, é verdade, o Papa perturbava a paz do mundo, como a sentinela perturba o repouso do campo chamando às armas contra o inimigo; como o médico perturba o sossego do enfermo passando o escalpelo pelas carnes pútridas e gangrenadas”.(5)
Esse liberalismo, diretamente proveniente da Revolução Francesa e mais remotamente oriundo da Renascença, propugnava uma liberdade absoluta tanto na vida pública como na particular, tanto no que se refere ao Estado, como à Economia e à Religião. Pio IX o verberou sobretudo em sua modalidade dita “católica”.
Assim se exprimiu o Pontífice, falando a uma delegação de franceses que o visitava em 1871:
"O que mais receio por vós não são esses miseráveis da Comuna (de Paris, de 1870), verdadeiros demônios saídos do Inferno; o que mais temo é o liberalismo católico, (que) medita e trabalha sempre para acomodar duas coisas inconciliáveis: a Igreja e a Revolução”.(6)
Falando, a 6 de janeiro de 1875, a uma delegação da mocidade italiana sobre as verdadeiras intenções dos homens e dos partidos que vivem blasonando seu amor à liberdade, Pio IX assim se exprime:
“Não há nada pior que ser revolucionário. O revolucionário deseja primeiro a liberdade, e quando chega a obtê-la, serve-se desta para chegar ao poder. Logo que se apossa do poderio e se acha instalado solidamente, não tem mais contemplações, e se os outros reclamam liberdade para si, transforma-se num tirano, condenando já a liberdade. Então a liberdade degenerou em tirania e desregramento, recaindo com todo o seu peso sobre as províncias e cidades.
“Desgraçados daqueles que se associam com os ímpios e que brincam com a Revolução pretendendo dominá-la! Tarde ou cedo esta mesma Revolução os arrastará ao abismo”.(7)
* * *
Este gigante da História da Igreja, o Papa que proclamou dois dentre os mais importantes dogmas, além de fulminar os erros capitais de seu tempo –– o naturalismo e o liberalismo ––, teve reconhecidas, mediante decreto da Congregação para a Causa dos Santos, de 6 de julho de 1985, como heróicas suas virtudes.
Peçamos a Nossa Senhora que apresse a beatificação do admirável Pontífice e nos conceda, nos conturbados dias por que passa atualmente a Santa Igreja, a fé inquebrantável e o vigor para defender hoje a Esposa de Cristo, análogos aos que o Venerável Pio IX praticou em sua época.
Notas:1. Alex. de Saint-Albin, História de Pio IX, tomo II, p. 211; apud J .M. Villefranche, Pio IX, Edições Panorama, São Paulo, 1948, p. 229.
2. J. M. Villefranche, op. cit, p. 227. 3. Idem, p. 174
4. Idem, pp 132•133.
5. Idem, p. 238.
6. Idem, p. 354.
7. Idem, pp. 376-377.