segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Santo Sudário: a imagem completa de um homem cruelmente crucificado

Imagem tridimensional, Curitiba. Foto: Luis Guillermo Arroyave

Continuação do post anterior


Catolicismo — Quais são os principais sinais da Paixão de Cristo presentes no Santo Sudário, da Agonia no Horto das Oliveiras até à Morte?

Profa. Marinelli — O Sudário é a imagem completa, frontal e dorsal de um homem cruelmente crucificado.

Seu corpo apresenta numerosas feridas, tendo-se comprovado tratar-se de sangue humano.

Portanto, a relíquia envolveu certamente o cadáver de um homem flagelado, coroado de espinhos, crucificado com cravos, transpassado ao lado por uma lança.

Tudo o que se observa no Sudário apresenta uma perfeita coincidência com os relatos dos quatro Evangelhos sobre a Paixão de Cristo, mesmo no tocante aos pormenores “personalizados” do suplício:

1) a flagelação como pena independente, muito intensa, como um prelúdio da crucifixão (120 golpes em vez dos ordinários 21, com um instrumento composto de três cordas, algumas munidas com dois pesos de osso pontiagudo);

2) a coroação de espinhos, fato de todo insólito; o carregamento do patíbulo, que é a trave horizontal da cruz;

3) a suspensão numa cruz com os cravos em vez da corda, que era o uso mais comum; a ausência de quebra de ossos;

4) a ferida ao lado, infligida após a morte, com efusão de sangue e linfa; a ausência de lavagem do cadáver (devida à morte violenta e a um sepultamento apressado);

5) o envolvimento do corpo em lençol precioso e a deposição numa tumba própria.

Catolicismo — Como esses sinais se conservaram impressos no Santo Sudário?

Profa. Marinelli — No Sudário foi envolvido o cadáver de um homem com o sangue já coagulado, mas o óleo perfumado com o qual o lençol estava embebido dissolveu parcialmente o coágulo.

Do aspecto das nódoas, produzidas por uma sucessiva dissolução parcial da crosta, se deduz que o corpo esteve em contato com o Sudário somente por volta de 36 horas, que é o tempo exato que se deduz do Evangelho para a permanência de Jesus na sepultura: o corpo foi colocado no sepulcro ao entardecer da sexta-feira; após 36 horas, até a aurora do dia depois do sábado, o Sudário foi encontrado vazio.

E as marcas de sangue que se observam no Sudário não têm sinal de movimento, nem mesmo nas extremidades.


O contato entre o corpo e o lençol cessou, sem que tivesse havido movimento do tecido.

As marcas de sangue e linfa presentes são irreproduzíveis por meios artificiais. Trata-se de sangue coagulado sobre a pele de um homem ferido, e novamente dissolvido pelo contato com o tecido úmido.

Além do sangue, no Sudário está a imagem do corpo que nele foi envolto.

Tal imagem, devido à degradação por desidratação e oxidação das fibras superficiais do linho, é comparável a um negativo fotográfico. É superficial, detalhada, tridimensional, térmica e quimicamente estável.

A lançada, reconstituicao na amostra 'O homem do Sudário', Curitiba. Foto: Luis Guillermo Arroyave
É resistente até à água, não é composta de pigmento, é privada de direção e não foi provocada pelo simples contato do corpo com o lençol: com o contato, o tecido toca ou não toca, não há meio termo.

Pelo contrário, no Sudário existe uma imagem na qual certamente não houve contato. Seus claro-escuros são proporcionais às diversas distâncias existentes entre o corpo e o tecido nos vários pontos de prega. Pode-se, pois, levantar a hipótese de um efeito à distância de tipo radiante.

Sob as marcas de sangue não existe imagem do corpo: o sangue, depositando-se primeiramente sobre o tecido, velou a camada debaixo do mesmo, enquanto sucessivamente se formava a imagem.

O grande mistério desse lençol é, pois, a imagem humana. Não é formada por pigmentos ou outra substância aplicada sobre o tecido. Não é devida a substância líquida.

É um amarelecimento extremamente superficial dos fios semelhantes, que se oxidaram e desidrataram. Um fenômeno idêntico ao provocado pela luz sobre um velho jornal abandonado ao chão.

Entretanto, não se trata de um amarelecimento difuso, mas localizado onde estava o corpo, de modo a formar o seu negativo; com um claro-escuro que permite reconstruir no computador a forma tridimensional de corpo igual, sem as deformações que seriam normais em se tratando de uma imagem plana como a que se observa no lençol.

Reconstituição na amostra 'O homem do Sudário', Curitiba. Foto: Luis G.Arroyave
A imagem formou-se depois de o sangue ter passado do corpo para o tecido, portanto após as 36 horas de contato, pois é certo que a imagem originou-se do cadáver.

Quaisquer manipulações sucessivas do lençol teriam tido o efeito de danificar as marcas de sangue, que são centenas de centenas.

Catolicismo — Como pôde um cadáver projetar sua imagem sobre o lençol, como se tivesse emitido um raio de luz?

Profa. Marinelli — Um grupo de físicos chegou a uma resposta próxima da que atende tal interrogação. Junto ao ENEA (instituição para as novas tecnologias, a energia e o ambiente) de Frascati (Roma), alguns tecidos de linho foram submetidos à irradiação com um laser excimer, aparelho que emite uma radiação ultravioleta de alta intensidade.

Os físicos foram assim obtendo um amarelecimento que, confrontado com a imagem do Sudário, mostra interessantes analogias e confirma a possibilidade de a imagem ter sido causada por uma irradiação ultravioleta direcional.

Quem crê na Ressurreição de Cristo não tem dificuldade em admitir que uma irradiação de luz possa ter acompanhado aquele acontecimento extraordinário, posto que no Evangelho lê-se que Jesus se transfigurou no Monte Tabor, tornando-se luminoso.

Imagem holográfica, Curitiba Foto: Luis Guillermo Arroyave
Catolicismo — Que tipo de sangue se encontra no Sudário? Existe prova de que o sangue seja de Nosso Senhor Jesus Cristo? Foi possível confrontá-lo com o sangue dos vários milagres eucarísticos?

Profa. Marinelli — Trata-se de sangue humano do grupo AB, que pela análise de DNA resulta ser muito antigo.

O grupo AB é o menos comum, encontra-se somente em cerca de 5% dos indivíduos.

Não há uma prova atestando que o sangue do Sudário pertença a Jesus, mas é interessante o confronto desse sangue com os estudos análogos realizados a respeito do milagre eucarístico de Lanciano (Chieti), o único estudado em laboratório.

No século VIII, na pequena igreja de São Legonziano, em Lanciano, um monge basiliano foi assaltado pela dúvida sobre a presença real de Cristo nas espécies eucarísticas.

Durante a celebração da Missa, no momento da Consagração, a hóstia tornou-se carne e o vinho transformou-se em sangue, que se coagulou em cinco glóbulos irregulares e diversos pela forma e grandeza.

Das pesquisas realizadas em 1970 por Odoardo Linoli, livre-docente em anatomia, histologia patológica, química e microscopia clínica na Universidade de Siena, comprovou-se que a carne surgida por ocasião do milagre de Lanciano é verdadeiro tecido miocárdico de um coração humano, e o sangue é autêntico sangue humano do grupo AB. Uma coincidência muito significativa.
Fim
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Nota: Para aprofundamentos da matéria: MARINELLI, Emanuela - O Sudário, uma imagem “impossível” - Paulus, São Paulo, 1998. Ver também: Emanuela Marinelli em www.sindone.info.

 
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