Imaginemos com que fé e amor subiria Paulo ao altar!
Apesar de absorto nos augustos mistérios, cumpria escrupulosamente as cerimônias, nada julgando de somenos nas coisas de Deus. Inflamava-se-lhe paulatinamente o rosto e lágrimas copiosas umedeciam os paramentos sagrados.
Com o decorrer dos tempos, diminuíram as lágrimas, particularmente nas aridezes e desolações espirituais. Porém, jamais deixou de chorar depois da Consagração.
Qual a fonte misteriosa e inesgotável dessas lágrimas? Ouçamo-lo em palestra com seus filhos:
“Acompanhai a Jesus em Sua Paixão e Morte, porque a missa é a renovação do Sacrifício da Cruz. Antes de celebrardes revesti-vos dos sofrimentos de Jesus Crucificado e levai ao altar as necessidades de todo o mundo” .
Quando celebrava, afigurava-se-lhe estar no Calvário, ao pé da Cruz, em companhia da Mãe das Dores e do Discípulo predileto, a contemplar Jesus em Suas penas. Essa a causa de tantas lágrimas, verdadeiro sangue da alma que, mesclado com o Sangue divino do Cordeiro, eram oferecidas ao Eterno Padre para aplacá-lO e atrair sobre os homens graças e benefícios.
Revestir-se de Jesus Crucificado antes do santo Sacrifício, Paulo o fazia diariamente, pois não subia ao altar sem macerar-se com disciplina terminada em agudas pontas, enquanto meditava a dolorosa Paixão do Senhor, unindo-se espiritual e corporalmente aos tormentos do seu Deus.
Terminada a santa missa, retirava-se a lugar solitário, entregando-se aos mais vivos sentimentos de gratidão e amor. E prescreveu nas santas Regras este método de preparação e ação de graças à santa missa.
Ao comentar as palavras do Evangelho COENACULUM STRATUM, dizia ser o cenáculo o coração do padre, cuja integridade deve ser defendida a todo custo, mantendo-se sempre acesas as lâmpadas da fé e da caridade. Comparava também o coração sacerdotal ao sepulcro de Nosso Senhor, sepulcro virgem, onde ninguém fora depositado. E acrescentava:
“O coração do sacerdote deve ser puro e animado de viva fé, de grande esperança, de ardentíssima caridade e veemente desejo da glória de Deus e da salvação das almas” .
Zeloso da rigorosa observância das rubricas, corrigia as menores faltas. Velava outrossim pelo asseio das alfaias sagradas:
“Tudo o que serve ao santo Sacrifício, dizia, deve ser limpo, sem a menor mancha ” .
Vez por outra mostrou Nosso Senhor com prodígios quão agradável Lhe era a missa celebrada pelo Seu fiel servo. Celebrava certo dia na capela do mosteiro de Santa Luzia, em Corneto. Tinha como ajudante o ilustre personagem Domingos Constantini. Pouco antes da Consagração, envolveu-o tênue nuvem de incenso, embalsamando o santuário de perfume desconhecido, enquanto o santo se elevava a cerca de dois palmos acima do supedâneo. Terminada a Consagração, envolto sempre naquela misteriosa nuvem, alçou-se novamente ao ar, com os braços abertos. Dir-se-ia um Serafim em oração.
O piedoso Constantini de volta à casa, maravilhado, relatou o fato, glorificando a Deus, tão admirável nos Seus santos.