sábado, 2 de outubro de 2010

Venerável Pio XII: não nos podemos abster de exprimir a nossa preocupação e a nossa ansiedade por aqueles que, por especiais circunstâncias do momento, se deixaram levar pelo vórtice da atividade exterior, assim como a negligenciar o principal dever do sacerdote, que é a santiflcação própria. Já dissemos em público documento (22) que devem ser chamados a melhores sentimentos quantos presumam que se possa salvar o mundo por meio daquela que foi justamente designada como a "heresia da ação": daquela ação que não tem os seus fundamentos nos auxílios da graça, e não se serve constantemente dos meios necessários a obtenção da santidade, que Cristo nos proporciona.Não vos deixeis prender pelo imoderado desejo de sucesso, nem vos deixeis desarmar se, após assíduo trabalho, não recolherdes os frutos desejados, porque "um é que semeia, outro que ceifa"

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA DO PAPA PIO XII

MENTI NOSTRAE

AO CLERO DO MUNDO CATÓLICO
SOBRE A SANTIDADE DA VIDA SACERDOTAL

A todo o clero,
em paz e comunhão com a Sé Apostólica

http://www.7dolors.com/images/holymass.jpgResguardar-se da heresia da ação

58. Por esse motivo, enquanto rendemos o devido louvor a quantos, na afanosa reparação deste triste pós-guerra, movidos pelo amor de Deus e pela caridade para com o próximo, sob a direção e seguindo o exemplo dos bispos, consagraram todas as suas forças para remediar tantas misérias, não nos podemos abster de exprimir a nossa preocupação e a nossa ansiedade por aqueles que, por especiais circunstâncias do momento, se deixaram levar pelo vórtice da atividade exterior, assim como a negligenciar o principal dever do sacerdote, que é a santiflcação própria. Já dissemos em público documento (22) que devem ser chamados a melhores sentimentos quantos presumam que se possa salvar o mundo por meio daquela que foi justamente designada como a "heresia da ação": daquela ação que não tem os seus fundamentos nos auxílios da graça, e não se serve constantemente dos meios necessários a obtenção da santidade, que Cristo nos proporciona. Do mesmo modo, porém, estimulamos às obras do ministério aqueles que, trancados em si mesmos e duvidosos da eficácia do auxílio divino, não se esforçam, segundo as próprias possibilidades, por fazer penetrar o espírito cristão na vida cotidiana, em todas as formas que os nossos tempos reclamam.(23)
Dedicar-se inteiramente à salvação das almas

59. Exortamo-vos, portanto, com todo o empenho, a que, estreitamente unidos ao Redentor, "com cujo auxílio tudo podemos" (Fl 4,13), vos esforceis com toda solicitude pela salvação daqueles que a divina Providência contou aos vossos cuidados, como ardentemente desejamos, diletos filhos, que imiteis os santos, que, nos tempos passados, demonstraram com suas obras grandiosas quanto pode o poder da graça divina. Que todos e cada um, com humildade e sinceridade, possais sempre atribuir-vos - testemunhem-no os vossos fiéis - a expressão do apóstolo: "E de boa vontade darei o que é meu, e me darei a mim mesmo pelas vossas almas" (2Cor 12,15). Iluminai os espíritos, dirigi as consciências, confortai e sustentai as almas que se debatem na dúvida e gemem na dor. A essa forma de apostolado ligai também todas as demais que as necessidades do tempo exigem. Mas em tudo fique sempre patente que o sacerdote, em todas as suas atividades, nada mais procura senão o bem das almas, e a nada mais visa senão a Cristo, a quem consagra todas as suas forças e a si mesmo inteiramente.
Imitar os exemplos do Redentor

60. Do mesmo modo que para vos estimular à santificação pessoal vos exortamos a reproduzir em vós mesmos a imagem viva de Cristo, assim agora, para a eficácia santificadora do vosso ministério, vos incitamos com insistência a seguir sempre os exemplos do Redentor. Ele, repleto do Espírito Santo, "andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com ele" (At 10,38). Fortificados pelo mesmo Espírito e impelidos por sua força, podereis exercer um ministério que, nutrido pela caridade cristã, será rico de virtude divina, que poderá comunicar aos outros.

61. Seja o vosso zelo vivificado por aquela caridade que se não deixa vencer pelas adversidades e a todos os homens abraça, pobres e ricos, amigos e inimigos, fiéis e infiéis. Essa diuturna fadiga e cotidiana paciência, eis o que de vós reclamam as almas, para a salvação das quais o nosso Salvador sofreu pacientemente dores e tormentos até a morte, para nos restituir a amizade divina. É essa, bem o sabeis, o maior dos bens. Não vos deixeis prender pelo imoderado desejo de sucesso, nem vos deixeis desarmar se, após assíduo trabalho, não recolherdes os frutos desejados, porque "um é que semeia, outro que ceifa" (Jo 4,37).