domingo, 9 de outubro de 2011

Venerável Pio XII : Frutos da Santa Missa para a hora presente

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Discurso aos Párocos e Pregadores Quaresmalistas, 23 de março, 1949.
 
    Ao centro da preparação dos fiéis muitos párocos colocaram a Santa Missa para os homens. Nesta Missa, que reúne ao domingo os homens da paróquia, eles mostram para eles a substância e o sentido da santa liturgia. O primeiro fruto de tal prática é de fazer tomar parte de maneira consciente e pessoal no divino sacrifício do altar.
    Nós louvamos tal costume no seu espírito e no seu método. Ele coloca o sacrifício da Missa no seu verdadeiro lugar, no coração da vida e de toa a liturgia da Missa, sobretudo quando se pensa na indecorosa ignorância de tantos sobre um mistério tão sublime.
    Todavia é de suma importância considerar os efeitos que dela se irradiam para os homens, até no campo eclesiástico e civil.
 
    Realmente:
 
    1. Instruídos e habituados a venerar e amar o santo sacrifício da missa, os vossos homens tornar-se-ão facilmente homens de oração e farão de suas famílias como um santuário de oração. E isto é estritamente necessário. Quem poderia negar que o espírito de oração vai diminuindo, enquanto que o espírito do mundo ganha terreno até no seio da família, que pretende permanecer católica e fiel a Cristo? Se a cruzada para a oração em família é acolhida com fervor em outros países; se até conhecidos atores dos maiores centros cinematográficos do mundo colocaram-se ao serviço de uma causa tão santa: como poderiam os católicos da Cidade Eterna permanecerem nisto a eles inferiores?
 
    2. Os homens que se aplicam seriamente em penetrar o sentido e o alcance do sacrifício da Missa, não podem deixar de avivar neles mesmos o espírito de domínio de si, de mortificação, de subordinação das coisas terrenas às celestes, de absoluta obediência à vontade e à lei de Deus, especialmente se vós tiverdes o cuidado de inculcar neles tais sentimentos. É esta uma necessidade da hora presente, não menos do que o renovado zelo pela oração, pois que hoje muitos - entre os quais é doloroso ver também não poucos católicos - vivem como se o fim de tudo fosse formar-se um paraíso sobre a Terra, sem pensamento algum para o além, para a eternidade.
    A tendência natural do homem caído para as coisas terrenas, a sua incapacidade de compreender as coisas do Espírito de Deus é infelizmente favorecida em nossos dias pela cumplicidade de tudo quanto o circunda. Muitas vezes Deus não é negado, nem injuriado, nem blasfemado; Ele é como que um grande ausente. A propaganda para uma vida terrestre sem Deus é aberta, sedutora, contínua. Com razão observou-se que geralmente, mesmo nos filmes indicados como moralmente irrepreensíveis, os homens vivem e morrem como se não existisse Deus, nem a Redenção, nem a Igreja. Nós não queremos aqui colocar em discussão as intenções; não é porém verdade que as conseqüências destas representações cinematográficas neutras, já se estenderam e aprofundaram? Adiciona-se ainda a isto a nefasta propaganda deliberadamente dirigida para a formação da família, da sociedade, do próprio Estado, sem Deus. É uma torrente cujas águas lodacentas tentam penetrar até no campo católico. Quantos já foram contaminados! Com a própria boca, eles se professam ainda católicos, mas não percebem que suas condutas desmentem com os fatos aquela profissão de fé.
    Não há portanto mais tempo para se perder, para fazer parar com todas as forças este deslize de nossas próprias fileiras na irreligiosidade e para acordar o espírito de oração e de penitência. A pregação das primeiras e principais verdades da fé e dos fins últimos, não somente nada perderam de sua oportunidade em nosso tempo, mas, antes, tornam-se mais que nunca necessárias e urgentes. Também a pregação sobre o inferno é atual. Por sem dúvida, semelhante argumento deve ser tratado com dignidade e sabedoria. Mas quanto à substância mesma desta verdade a Igreja tem, diante de Deus e dos homens, o sagrado dever de anunciar, de ensinar sem qualquer atenuante, como Cristo a revelou, e não há nenhuma condição de tempo que possa fazer diminuir o rigor desta obrigação. Ela atinge e liga em consciência todo sacerdote a cujo ministério ordinário e extraordinário foi confiada a cura de doutrinar, admoestar e guiar os fiéis. É verdade que o desejo do céu é um motivo em si mesmo mais perfeito do que o temor das penas eternas; mas disto não se deduz que ele seja para todos os homens também o motivo mais eficaz para mantê-los distantes do pecado e convertê-los a Deus.
    Meditai as palavras que o Senhor, na vigília de sua Paixão, dirigiu ao Apóstolo Pedro. "Eis que Satanás procura joeirar-te como o grão de trigo"; palavras de um impressionante significado no momento em que vivemos. Valem não somente para os pastores, mas também para toda a grei. Nas formidáveis controvérsias religiosas, das quais somos testemunhas, não se pode contar senão com fiéis que oram e se esforçam, mesmo a preço de grandes renúncias, por conformar suas vidas à lei de Deus. Todos os demais, na ordem espiritual - e disto se trata - oferecem-se indefesamente aos golpes do inimigo.
 
    3. Um efeito da Missa para os homens, efeito salutar não só para eles pessoalmente, mas também para as famílias, será que fecharão os olhos e o coração a tudo o que na imprensa, nos filmes, nos espetáculos, ofende o pudor e viola a lei moral. Onde, realmente, senão aqui, deverá verdadeiramente operar o espírito de penitência e de abnegação em união com Cristo?
    Quando se pensa, de uma parte, nas nauseantes cruezas e coisas impuras, colocadas em amostra nos jornais, nas revistas, nas telas, nas cenas, e de outra parte, as inconcebíveis aberrações dos progenitores que vão com seus filhos deleitarem-se com semelhantes horrores, o rubor sobe à face, rubor de vergonha e de desprezo. A luta contra aquela peste, especialmente assinalando-lhe as manifestações às autoridades públicas, conseguiu já confortante resultado, e Nós nutrimos esperanças que ela será sempre mais eficaz e benéfica.
    Graças ao céu, em algumas nações, particularmente naquelas de maior produção cinematográfica, os católicos trabalham metodicamente e com feliz sucesso para a moralização e dignidade dos filmes.
 
    4. Nós esperamos da comum assistência dos homens à Santa Missa também outro fruto de capital importância: queremos aludir ao espírito de docilidade e de plena adesão ao Romano Pontífice, e de fraterna e estreita união entre os fiéis, toda vez que se trata de defender a causa da Igreja.
    A causa da Igreja! Seus inimigos desencadearam contra Ela uma violenta campanha de palavras e de escritos. Para eles todos os argumentos, também os mais absurdos, são bons, se servem para o fim a que tendem, e este fim é o de desagregar a unidade e a cooperação dos católicos, de abalar a confiança para com o Vigário de Cristo, para com os bispos e o clero. A arma preferida por eles é a calúnia, porque sabem muito bem que nunca ela é totalmente inofensiva, mas inocula nos espíritos a dúvida, a suspeita, a crítica, e nos corações um desafeto, que por vezes chega até ao ódio. Assim a obediência e a concórdia são expostas ao perigo de se tornarem a pouco e pouco corruptas e de serem destruídas. Relede a palavra de Cristo sobre o "pai da mentira": o mesmo vale para esta campanha de calúnias.
 
    Bem outros frutos podem ainda recolher-se da Missa para os homens. Nós não mencionamos senão alguns entre os que pareciam mais corresponder à necessidade da hora e melhor servir à preparação interna dos fiéis.

Pio XII