Monsenhor Guido Pozzo, secretário da  Comissão Pontifícia “Ecclesia Dei”, proferiu recentemente uma  conferencia à Fraternidade de São Pedro sobre os “aspectos da  eclesiologia católica no acolhimento do Concílio Vaticano II”.  Apresentamos a parte conclusiva da referida conferência, particularmente  interessante, uma vez que Mons. Pozzo se refere a um assunto de grande  atualidade na vida da Igreja: o da interpretação do Concílio Vaticano II  em continuidade com a Tradição doutrinal católica (um tema que está  incluído entre aqueles que a Fraternidade São Pio X tratará com a Santa  Sé nas atuais conversações doutrinais). Com grande clareza e lucidez,  Mons. Pozzo denuncia a existência e as conseqüências do que chama  “ideologia pára-conciliar”.
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![POZZO_thumb[1]](http://fratresinunum.files.wordpress.com/2010/07/pozzo_thumb1.jpg?w=217&h=325) O que está na origem da interpretação  da continuidade ou ruptura com a Tradição?
O que está na origem da interpretação  da continuidade ou ruptura com a Tradição?Está o que podemos chamar a ideologia  conciliar ou, mais exatamente, pára-conciliar, que se apoderou do  Concílio desde o princípio, sobrepondo-se sobre ele. Com esta expressão  não se entende algo que diz respeito aos textos do Concílio, nem muito  menos à interpretação dos sujeitos, mas sim o marco de interpretação  global em que o Concílio foi colocado e que actuou como uma espécie de  condicionamento interior na leitura sucessiva dos feitos e dos  documentos. O Concílio não é, de fato, a ideologia pára-conciliar, mas  na história dos acontecimentos da Igreja e dos meios de comunicação de  massa logrou-se em grande medida a mistificação do Concílio, quer dizer,  a ideologia pára-conciliar. Para que todas as conseqüências da  ideologia pára-conciliar fossem manifestadas como evento histórico, foi  necessário verificar a revolução do ano 1968, que assume como princípio a  ruptura com o passado e a mudança radical da história. Na ideologia  pára-conciliar, o ano de 1968 significa uma nova figura de Igreja em  ruptura com o passado, embora as raízes desta ruptura estivessem  presentes já desde algum tempo em determinados ambientes católicos.
Este marco de interpretação global, que  se sobrepôs de modo extrínseco ao Concílio, pode ser caracterizado  principalmente por esses três fatores:
1) O primeiro fator é a renúncia ao  anátema, quer dizer, a contraposição entre ortodoxia e heresia.
Em nome da assim chamada ‘pastoralidade’  do Concílio, faz-se passar a idéia de que a Igreja renuncia à  condenação do erro, à definição da ortodoxia em contraposição à heresia.  Se contrapõe à condenação dos erros e ao anátema pronunciado pela  Igreja no passado, sobretudo, aquele que é incompatível com a verdade  cristã ao caráter pastoral do ensinamento do Concílio, que já não queria  mais condenar ou censurar, mas sim exortar, ilustrar ou testemunhar.
Na realidade, não há contradição alguma  entre a firme condenação e a refutação dos erros em matéria doutrinal e  moral e a atitude de amor para quem cai no erro e de respeito à sua  dignidade pessoal. Todavia, precisamente porque o cristão tem um grande  respeito pela pessoa humana, empenha-se além de todo limite para  libertá-la do erro e das falsas interpretações da realidade religiosa e  moral.
A adesão à pessoa de Jesus Filho de  Deus, a sua Palavra e a seu mistério de salvação, exige uma resposta de  fé simples e clara, como a que se encontra nos símbolos da fé e na regra  fidei. A proclamação da verdade da fé implica sempre também a refutação  do erro e a censura das posições ambíguas e perigosas que difundem  incerteza e confusão nos fiéis.
Portanto, seria errôneo e infundado  considerar que, depois do Concílio Vaticano II, o pronunciamento  dogmático e censurador do Magistério teve que ser abandonado ou  excluído, assim como seria também equivocado considerar que a índole  expositiva e pastoral dos Documentos do Concílio Vaticano II não implica  também uma doutrina que exige o nível de assentimento por parte dos  fiéis segundo o grau diverso de autoridade das doutrinas propostas.
2) O segundo fator é a tradução do  pensamento católico às categorias da modernidade. A abertura da Igreja  às instâncias e às exigências da modernidade (ver Gaudium et Spes) é  interpretada pela ideologia pára-conciliar como necessidade de uma  conciliação entre Cristianismo e o pensamento filosófico e ideológico  cultural moderno. Trata-se de uma operação teológica e intelectual que  volta a propor na substância a idéia do modernismo, condenado no início  do século XX por São Pio X.
A teologia neomodernista e secularista  tem buscado o encontro com o mundo moderno precisamente às vésperas da  dissolução do “moderno”. Com a queda do assim chamado  “socialismo real” em 1989, caíram aqueles mitos da modernidade e da  irreversibilidade de emancipação da história que representavam os  postulados do sociologismo e do secularismo. O paradigma da modernidade,  de fato, foi sucedido hoje em dia pelo paradigma da pós-modernidade do  “caos” ou da “complexidade pluralista”, cujo fundamento é o relativismo  radical. Na homilia do então Cardeal Joseph Ratzinger, antes de ser  eleito Papa, por ocasião da celebração litúrgica “Pro eligendo  Pontifice” (18/4/2005), encontra-se em destaque o centro da questão:  “Quantos ventos de doutrina temos conhecido durante estas últimas  décadas, quantas correntes ideológicas!, quantas modas de pensamento!… A  pequena barca de pensamento de muitos cristãos foi sacudida com  freqüência por essas ondas, levada de um extremo a outro: Do marxismo ao  liberalismo, até a libertinagem, do coletivismo ao individualismo  radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao  sincretismo, etc. Cada dia nascem novas seitas e se realiza o que diz  São Pedro sobre o engano dos homens, sobre a astúcia que tende a induzir  ao erro (cf. Ef 4, 14). A quem tem uma fé clara, segundo o Credo da  Igreja, freqüentemente se aplica a etiqueta de fundamentalismo. Ao passo  que o relativismo, quer dizer, deixar-se “levar à deriva por qualquer  vento de doutrina”, parece ser a única atitude adequada nos tempos  atuais. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que não  reconhece nada como definitivo e que deixa como última medida só o  próprio eu e seus antolhos”.
Frente a este processo é necessário,  antes demais nada, recuperar o sentido metafísico da realidade (cf.  Encíclica Fides et ratio do Papa João Paulo II) e uma visão de homem e  da sociedade fundada sobre valores absolutos, meta-históricos e  permanentes. Esta visão metafísica não pode prescindir de uma reflexão  sobre o papel na história da Graça, quer dizer, do sobrenatural, da qual  a Igreja, Corpo Místico de Cristo, é depositária. A reconquista do  sentido metafísico com o lumen rationis deve ser paralela ao  sentido sobrenatural com o lumun fidei.
Pelo contrário, a ideologia  pára-conciliar considera que a mensagem cristã deve ser secularizada e  reinterpretada segundo as categorias da cultura moderna extra e  anti-eclesial, comprometendo sua integridade, talvez com o pretexto de  uma “oportuna adaptação” aos tempos. O resultado é a secularização da  religião e a mundanização da fé.
Um dos instrumentos para mundanizar a  religião constitui-se pela pretensão de modernizá-la, adequando-a ao  espírito moderno. Esta pretensão tem levado o mundo católico a  comprometer-se em um “aggiornamento”, que constituía em realidade em uma  progressiva e às vezes inconsciente homologação da mentalidade eclesial  com o subjetivismo e o relativismo imperantes. Isto levou a uma  desorientação nos fiéis, privando-os da certeza da fé e da esperança na  vida eterna, como fim prioritário da existência humana.
3) O terceiro fator é a interpretação do  “aggiornamento” querido pelo Concílio Vaticano II.
Com a expressão “aggiornamento”, o Papa  João XXIII quis indicar a tarefa prioritária do Concílio Vaticano II. No  pensamento do Papa e do Concílio este termo não expressava, sem dúvida,  o que por sua vez ocorreu em seu nome na recepção ideológica do  pós-Concílio. “Aggiornamento”, no significado papal e conciliar, queria  expressar a intenção pastoral da Igreja de encontrar os modos mais  adequados e oportunos para conduzir a consciência civil do mundo atual a  reconhecer a verdade perene da mensagem salvífica de Cristo e da  doutrina da Igreja. Amor pela verdade e zelo missionário pela salvação  dos homens estão na base dos princípios da ação de “aggiornamento”  querida e pensada pelo Concílio Vaticano II e pelo Magistério pontifício  sucessivo.
Por outro lado, desde a ideologia  pára-conciliar, difundida, sobretudo, pelos grupos intelectualistas  católicos neomodernistas e pelos centros mediáticos do poder mundano  secularista, a expressão “aggiornamento” é entendida e proposta como a  derrocada da Igreja frente ao mundo moderno: do antagonismo à  receptividade. A Modernidade ideológica – que certamente não deve ser  confundida com a legítima e positiva autonomia da ciência, da política,  das artes, do progresso técnico – fixou como princípio o rechaço ao Deus  da Revelação cristã e da Graça. Portanto, ela não é neutra em face à  fé. O que fez pensar em uma conciliação da Igreja com o mundo moderno  levou assim, paradoxalmente, ao esquecimento de que o espírito  anticristão do mundo continua atuando na história e na cultura. A  situação pós-conciliar foi descrita deste modo já por Paulo VI em 1972:
“A fumaça de Satanás entrou por alguma  fissura no templo de Deus: E assim entraram a dúvida, a incerteza, a  problemática e a inquietude. A dúvida entrou em nossas consciências e  entrou por janelas que deveriam estar abertas à luz. Também dentro da  Igreja reina este estado de incerteza. Pensava-se que depois do Concílio  viriam dias de Sol para a história da Igreja. Em troca, veio um dia de  nuvens, tempestade, escuridão, busca e incerteza. Como isso ocorreu?  Confiamos-lhes nosso pensamento: Houve a intervenção de um poder  adverso. Seu nome é diabo, este misterioso ser a que se faz alusão  também na carta de São Pedro” (Paulo VI, homilia na Missa por ocasião do  IX aniversário da coroação de Sua Santidade na solenidade de São Pedro e  São Paulo, 29 de junho de 1972).
Por desgraça, os efeitos assinalados por  Paulo VI não desapareceram. Um pensamento estranho entrou no mundo  católico, semeando confusão, seduzindo a muitas almas e desorientando os  fiéis. Há um “espírito de autodemolição” que infiltra o modernismo, que  se apoderou entre outras coisas, de grande parte do periodismo  católico. Este pensamento alheio à doutrina católica pode ser  constatado, por exemplo, sob dois aspectos.
Um primeiro aspecto é uma visão  sociológica da fé, quer dizer, uma interpretação que assume o social  como chave de valoração da religião e que comportou uma falsificação do  conceito de Igreja segundo um modelo democrático. Se observarmos as  discussões atuais sobre a disciplina, sobre o direito, sobre o modo de  celebrar a liturgia, não se pode evitar perceber que esta falsa  compreensão da Igreja se difundiu entre os leigos e teólogos segundo o  slogan: Nós somos o povo, nós somos Igreja (Kirche von unten). O  Concílio, na realidade, não oferece nenhum fundamento a esta  interpretação, uma vez que a imagem do povo de Deus referida à Igreja  está sempre ligada à concepção da Igreja como Mistério, como comunidade  sacramental do corpo de Cristo, composto por um povo que tem uma cabeça e  por um organismo sacramental composto por membros hierarquicamente  ordenados. A Igreja, portanto, não pode converter-se em uma democracia,  na qual o poder e a soberania derivam do povo, já que a Igreja é uma  realidade que provém de Deus e foi fundada por Jesus Cristo. Ela é  intermediária da vida divina, da salvação e da verdade, e depende da  soberania de Deus, que é uma soberania de graça e de amor. A Igreja é,  ao mesmo tempo, dom de graça e estrutura institucional porque assim o  quis o seu Fundador: chamando aos Apóstolos, “Jesus instituiu doze” (Mc.  3, 13).
Um segundo aspecto, sobre o qual peço a  vossa atenção, é a ideologia do diálogo. Segundo o Concílio e a Carta  Encíclica de Paulo VI Ecclesiam suam, o diálogo é um importante  e irrenunciável meio para o colóquio da Igreja com os homens do próprio  tempo. Porém, a ideologia pára-conciliar transforma o diálogo de  instrumento em objetivo e fim primário da ação pastoral da Igreja,  esvaziando cada vez mais de sentido e obscurecendo a urgência e o  chamado à conversão a Cristo e à pertença a Sua Igreja
Contra tais desvios, é necessário  reencontrar e recuperar o fundamento espiritual e cultural da  civilização católica, quer dizer, a fé em Deus, transcendente e criador,  providente e juiz, cujo Filho Unigênito se encarnou, morreu e  ressuscitou para a redenção do mundo e infundiu a graça do Espírito  Santo para a remissão dos pecados e para fazer aos homens partícipes da  natureza divina. A Igreja, Corpo de Cristo, instituição divino-humana, é  o sacramento universal da salvação e da unidade dos homens, da qual é  sinal e instrumento, no sentido de unir aos homens a Cristo mediante seu  Corpo, que é a Igreja.
A unidade de todo o gênero humano, da  qual fala LG 1, não deve ser entendida, portanto, no sentido de alcançar  a concórdia ou a reunificação das diversas idéias ou religiões ou  valores em um “reino comum e convergente”, mas que se obtém reconduzindo  a todos à única Verdade, da qual a Igreja Católica é depositária porque  Deus mesmo a confiou. Nenhuma harmonização das doutrinas “estranhas”,  mas um anúncio integral do patrimônio da verdade cristã, no respeito da  liberdade de consciência, e valorizando os raios de verdade esparsos no  universo das tradições culturais e das religiões do mundo, opondo-se ao  mesmo tempo às visões que não coincidem e não são compatíveis com a  Verdade, que é Deus revelado em Cristo.
Concluo voltando às categorias  interpretativas sugeridas pelo Papa Bento no Discurso à Cúria Romana,  mencionado no início. Estas não fazem referência ao esquema ternário  habitual e obsoleto (conservadores, progressistas, moderados), mas se  apóiam sobre um binário estranhamente teológico: duas hermenêuticas, a  da ruptura e a da reforma na continuidade. É necessário seguir esta  última direção ao afrontar os pontos controversos, liberando, por assim  dizer, o Concílio do pára-Concílio que se mesclou a ele, e conservando o  principio da integridade da doutrina católica e da plena fidelidade ao  depósito da fé transmitido pela Tradição e interpretado pelo Magistério  da Igreja.
fonte :fratres in unum 

 inundado por um mistério de luz que é Deus   e N´Ele vi e ouvi -A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. - O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar , é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. - O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora!  - Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica: - Na eternidade, o Céu!
inundado por um mistério de luz que é Deus   e N´Ele vi e ouvi -A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. - O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar , é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. - O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora!  - Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica: - Na eternidade, o Céu!