quinta-feira, 22 de julho de 2010

Há 400 anos Nossa Senhora apareceu a uma religiosa espanhola no mosteiro das concepcionistas em Quito, e ordenou que se confeccionasse uma imagem sua, sob as invocações de Rainha das Vitórias e Mãe do Bom Sucesso. Profetizou impressionantes acontecimentos para os séculos futuros, inclusive o nosso.

Nossa Senhora do Bom Sucesso
Imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso venerada no Monasterio Real de La Limpia Concepción, em Quito. Durante a maior parte do ano a Imagem permanece no coro da igreja, local então acessível apenas para as religiosas enclausuradas. Nesta foto, encontra-se no altar-mor da igreja, exposta para veneração pública.

Sou a Rainha das Vitórias e a Mãe do Bom Sucesso


Carlos Antonio E. Hofmeister Poli


     Nossa Senhora apareceu em 2 de fevereiro de 1610 a Madre Mariana de Jesus Torres, espanhola da alta nobreza, uma das oito fundadoras do mosteiro das concepcionistas de Quito (Equador), para ordenar-lhe a confecção de uma imagem a Ela dedicada. Estamos, portanto, no ano do IV centenário dessa aparição.
     A milagrosa imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso venera-se no Monasterio Real de La Limpia Concepción, em Quito, primeiro convento de monjas contemplativas da América do Sul, fundado em 1577 sob os auspícios do rei de Espanha Filipe II.
     Neste artigo serão apresentadas as importantes relações que a devoção a essa imagem tem com os dias atuais.
     Plinio Corrêa de Oliveira e a devoção a Nossa Senhora do Bom Sucesso
Plinio Corrêa de Oliveira
Dr. Plinio jamais duvidou da vitória da Contra-Revolução em nossos dias
     É fácil entender a particular devoção de Dr. Plinio, autor de Revolução e Contra-Revolução, a Nossa Senhora do Bom Sucesso. Com efeito, em suas aparições, Nossa Senhora previu a enorme crise de fé e moral de nossos dias e prometeu especial proteção a quem a Ela recorresse sob a invocação do Bom Sucesso.
     Ora, tendo ele tomado como ideal de vida combater a multissecular crise revolucionária que assola a civilização atual, para isso organizou e dirigiu uma reação verdadeiramente profética. Jamais duvidou da vitória dessa reação, pois sua esperança estava inteiramente posta na mediação universal d’Aquela que esmagou a cabeça da serpente.
     Não havia invocação nem atributo autêntico da Santíssima Virgem que deixasse de despertar nele o mais nobre entusiasmo, manifestado de modo veemente ou discreto, conforme as circunstâncias, mas sempre relacionado com a ordem hierárquica do universo, do qual Nossa Senhora é a Rainha. Não seria incorreto dizer que este foi o ponto mais característico da sua vida de piedade.
     Para Plinio Corrêa de Oliveira, as imagens de Nossa Senhora do Bom Sucesso e da Virgen Blanca que se venera em Toledo (Espanha) são as que mais correspondem à idéia que ele fazia de Nossa Senhora, tal como Ela se encontra em seu trono no Céu.
     Sua jornada de trabalhos, e principalmente de lutas, estendia-se até as três horas da manhã, quando fazia a oração da noite, para a qual convidava os que com ele estivessem na ocasião: algumas preces, o ósculo de várias relíquias de santos canonizados, e concluía rezando três vezes a jaculatória Mater a Bono Successu, diante de um quadro d´Ela. Olhava-o com indizível ternura e se despedia de todos.
     Madre Mariana conheceu o futuro do mosteiro e as imensas calamidades do séc. XX
     Situemo-nos no ano de 1556. Matronas da cidade de Quito, devotas de Maria Imaculada (o dogma só viria a ser proclamado em 1854), desejosas de ter em sua cidade um mosteiro de religiosas concepcionistas, pediram a Filipe II a fundação naquela colônia de um mosteiro consagrado à Imaculada Conceição. O rei enviou, para atender a tão excelente pedido, um grupo de religiosas fundadoras, tendo à testa a Rvda. Madre Maria de Jesus Talvada, descendente de nobre e antiga casa da Galícia, e também a sobrinha desta, a cândida menina Mariana.
Madre Mariana de Jesus Torres
A admirável Madre Mariana de Jesus
     A par de sua candura, era Mariana notável por sua rara formosura de alma e de corpo. Grande devota do Santíssimo Sacramento, dotada do dom da profecia, conheceu as inumeráveis dificuldades e sofrimentos pelos quais passariam as religiosas; e, uma vez fundado o mosteiro, o ódio e as perseguições do demônio contra a comunidade ao longo dos séculos. Teve ainda conhecimento de que o mosteiro duraria até o fim do mundo, e que nele haveria sempre uma alma santa, em todos os tempos. Foi-lhe também revelado que a Rainha dos Céus comunicar-se-ia com ela por meio de aparições.
     A 13 de janeiro de 1577, fundava-se o mosteiro. Mariana não pôde professar na ocasião, por ter apenas 13 anos. Iniciou seu noviciado e professou aos 15, com o nome de Mariana de Jesus.
     A vida de Madre Mariana de Jesus Torres é um portento de santidade. Mantinha profunda intimidade com seu anjo da guarda, e sua devoção dominante era a Jesus Sacramentado. Êxtases, visões e revelações alternavam-se com terríveis perseguições, não só do demônio como também de religiosas relapsas.
     Certo dia ocorreu com suas irmãs de hábito algo muito grave. Madre Mariana sofreu em silêncio e recorreu a Nosso Senhor, comunicando-Lhe seus tormentos. O Divino Redentor apareceu-lhe e disse:
     — Quando te desposei, experimentei com cuidado tua vontade.
     — Senhor — respondeu Madre Mariana — minha vontade está pronta, mas a carne é fraca.
     Ao que Nosso Senhor acrescentou: 
     — Não te faltará fortaleza, assim como não falta nada à alma que Me pede.[1]
     Nesse momento, viu ela Jesus Cristo no Gólgota, quando Ele começava a agonizar. Aterrorizada, exclamou: “Senhor, sou eu a culpada, castiga-me e poupa teu povo!”. Apareceu-lhe então a Santíssima Virgem, que lhe disse: “Não és tu a culpada, mas o mundo criminoso. Estes castigos são para o séc. XX”. Viu então três espadas, cada uma com uma legenda: Castigarei a heresia; Castigarei a blasfêmia; Castigarei a impureza.[2]
     A Santíssima Virgem prosseguiu: “Queres, minha filha, sacrificar-te por este povo?”. Madre Mariana respondeu: “Minha vontade está pronta”. As espadas cravaram-se em seu coração, e ela caiu morta pela violência da dor.[3] Morreu verdadeiramente Madre Mariana, e foi apresentada ao juízo de Deus: o Padre Eterno regozijou-se por tê-la criado; o Filho Divino, por tê-la redimido e tomado por esposa; e o Espírito Santo, por tê-la santificado.
     Estava no Céu a alma de Madre Mariana, enquanto na Terra se elevavam orações fervorosas por sua vida. Nosso Senhor, querendo atender a essas súplicas, fez Madre Mariana ver como as orações por sua vida subiam ao trono de Deus. Apresentou-lhe duas coroas — uma de glória imortal, e a outra cercada de espinhos — enquanto lhe dizia: “Esposa minha, escolhe uma destas coroas”. E a fazia entender que, com a coroa de glória, ficaria no Céu, ao passo que com a outra voltaria a padecer no mundo. Madre Mariana pediu que a Divina Majestade escolhesse, e não ela. Nosso Senhor respondeu: “Não. Quando te tomei por esposa, provei tua vontade, e agora faço o mesmo”.[4]
     Madre Mariana teve então conhecimento do futuro do mosteiro, das monjas que se salvariam e das que se condenariam; das imensas calamidades do séc. XX, durante o qual choveria fogo do Céu, consumindo os homens e purificando a Terra; das almas daquele mosteiro, as quais, por sua santidade, aplacariam a cólera divina. Voltou-se então para Nossa Senhora e pediu que Ela mesma governasse o mosteiro; e aceitou retornar à Terra, tendo então escolhido, humilde e resignada, a coroa de espinhos. Regressava à vida, com seus 20 anos de idade.
     Origem da milagrosa imagem
Nossa Senhora do Bom Sucesso no coro da igreja
A Imagem no coro da igreja, em área de clausura do mosteiro. Nota-se a cadeira da Abadessa em frente à Imagem. "É vontade de meu Filho Santíssimo que tu mandes executar uma estátua minha tal qual me vês, e a coloques sobre a cátedra da Priora para que daí governe meu Mosteiro" (aparição de 16/1/1599). Foto tirada por ocasião de uma transladação para o altar-mor.
     A vida de Madre Mariana de Jesus Torres, a quem Nossa Senhora do Bom Sucesso apareceu, foi escrita com admirável unção por Frei Manoel de Sousa Peraira, na segunda metade do séc. XVIII, baseando-se no Cuadernón,[5] que ele pôde consultar.
     Este Cuadernón foi posteriormente escondido, em local e data desconhecidos, a fim de preservá-lo das perseguições religiosas pelas quais viria a passar o Equador nos séculos XIX e XX.
     No livro A Vida Admirável da Rvda. Madre Mariana de Jesus Torres, de 264 páginas, no qual se baseiam estas linhas, Frei Manoel relata pormenorizadamente as três mortes e duas ressurreições de Madre Mariana, sua atuação como religiosa modelar, seus sofrimentos e lutas, os estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo (os quais ela recebeu aos 25 anos) e outros fatos extraordinários de sua admirável vida mística. Seu corpo incorrupto, que assim se conserva desde sua derradeira morte em 16 de janeiro de 1635, em capela de seu mosteiro, confirma alguns desses fatos.
     Neste artigo, limitar-nos-emos a abordar mais extensamente a aparição de Nossa Senhora para lhe ordenar a confecção de sua imagem, e como esta foi realizada; ocupar-nos-emos também das revelações que Madre Mariana recebeu da Santíssima Virgem, com referência particular aos dias em que vivemos.
     No ano de 1610, rezava insistentemente Madre Mariana à primeira hora da madrugada, prostrada ao solo no coro, pelas necessidades de seu mosteiro, da colônia espanhola da América e da Igreja, quando notou a presença de uma Senhora de extraordinária formosura, sustentando no braço esquerdo um Menino belo como a aurora. Emocionada, a religiosa perguntou:
     — Quem sois, linda Senhora, e que desejais de mim, que sou só uma sofrida monja?
     — Sou Maria do Bom Sucesso, a Rainha dos Céus e da Terra. Porque me invocaste com terno afeto, venho do Céu consolar teu aflito coração. Tuas orações, lágrimas e penitências são muito agradáveis a nosso Pai Celestial. Na mão direita, tenho o báculo que vês, pois quero governar este meu mosteiro como Priora e Mãe. Satanás quer destruir esta obra de Deus, mas não o conseguirá, porque Eu sou a Rainha das Vitórias e a Mãe do Bom Sucesso, sob cuja invocação quero fazer prodígios em todos os séculos.
Madre Mariana de Jesus Torres mede a estatura de Nossa Senhora
     É vontade de meu Filho Santíssimo que mandes confeccionar uma imagem, tal como me vês, e que a coloques no trono da abadessa. Na minha mão direita porás o báculo e as chaves da clausura, em sinal de minha propriedade e autoridade. Em minha mão esquerda porás meu Divino Filho. Eu mesma governarei este meu Mosteiro.[6]
     — Senhora — ponderou a religiosa — como realizar tudo isso, se até desconheço Vossa estatura?
     — Dá-me o cordão franciscano que trazes à cintura.
     A Santíssima Virgem o tomou e colocou uma de suas extremidades na mão de seu Divino Filho, que o aplicou à cabeça da Mãe, indicando a Madre Mariana que, com a outra ponta, tocasse seus pés. O cordão milagrosamente se esticou, até alcançar a estatura exata da Santíssima Virgem.
     — Aqui tens, minha filha, a medida de tua Mãe do Céu. Meu servo Francisco del Castilho, a quem explicarás minhas feições e minha postura, talhará minha imagem, pois tem reta consciência e observa religiosamente os mandamentos de Deus e da Igreja. De tua parte, ajuda-o com orações e humildes sofrimentos.[7]
     Francisco del Castillo preparou-se com penitências, para tão alto encargo: confessou-se, comungou, e no dia 15 de setembro de 1610 iniciou a confecção da imagem. Quando faltavam apenas os retoques finais, certo de que a imagem, embora satisfatória, nem de longe representava o que Madre Mariana havia visto, resolveu não só fazer mais penitência, mas saiu de viagem em busca das melhores tintas para concluir o trabalho. De regresso, surpreendeu-se ao encontrar já concluída a imagem. Diante do bispo, fez juramento escrito para testemunhar que a imagem não era obra sua, e que a havia encontrado, ao voltar, com uma forma muito diferente da que havia deixado, seis dias antes.
     Madre Mariana de Jesus descreve assim os acontecimentos: rezava às três horas da madrugada do dia 16 de janeiro de 1611, no coro, onde estava a imagem que ia sendo esculpida por Francisco del Castillo, quando viu os arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael, os quais se apresentavam diante do trono da Rainha dos Céus. São Miguel, saudando-a, disse: “Ave Maria, Filha de Deus Padre”; São Gabriel acrescentou: “Ave Maria, Mãe de Deus Filho”; e São Rafael concluiu: “Maria Santíssima, Esposa puríssima do Espírito Santo”. Nesse momento apareceu São Francisco de Assis, e se uniu aos três arcanjos. Seguidos da milícia celeste, acercaram-se da imagem semi-acabada, transformando-a e refazendo-a, dando-lhe uma beleza inigualável que mão humana jamais poderia conferir. A Virgem estava totalmente iluminada, como se estivesse no meio do sol. Do alto, a Santíssima Trindade olhava comprazida o que acontecia, e os anjos entoavam suas melodias. No meio de todas essas alegrias, a Rainha do Céu penetrou pessoalmente na imagem, como raios de sol que se introduzem em um cristal. Como que tomando vida, tornou-se resplandecente, e com celestial melodia cantou o Magnificat. Os anjos entoaram o hino Salve Sancta Parens (Ave, ó Santa Progenitora).
     Essa foi a origem da milagrosa imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso.[8]
     As tragédias do século XX que se prolongam e desdobram até nossos dias
Coronel Carlos Antonio E. Hofmeister Poli
O autor deste artigo nos últimos anos tem acompanhado os translados da Imagem do coro alto para o altar-mor e difundido esta devoção no Equador e no Brasil
     Madre Mariana recebeu grande número de revelações, nas quais Nossa Senhora profetizou acontecimentos do século XX e vários que já se realizaram. Convido o leitor a tomar conhecimento de alguns, dentre muitos.
     Talvez para algum leitor, habituado às precisões matemáticas de hoje (aliás, de si elogiáveis), seja útil mostrar antes a conexão entre o que Nossa Senhora diz sobre o século XX e o que se passa em 2010. Com efeito, cada século se define mais pelo desenrolar dos acontecimentos relevantes que nele se verificam do que pelos dois zeros que caracterizam o ano como múltiplo de cem. Assim, os historiadores situam a Revolução Francesa como acontecimento do século XVIII, ao passo que ela se prolongou, com sua difusão por Napoleão Bonaparte, até o Congresso de Viena em 1815; e só consideram concluído o séc. XIX com o fim da Belle Époque e o início da I Guerra Mundial, em 1914. Isto porque a conceituação mais adequada de um século reside no significado profundo que ele tem na arquitetonia da História. Outro exemplo: quando Paulo VI[9] e João Paulo II[10] tratam, com clareza e precisão, da tragédia ocorrida na Santa Igreja depois do Concílio Vaticano II, referem-se evidentemente a um fenômeno do séc. XX, tragédia que se prolonga e se desdobra até nossos dias.
     “Um presidente verdadeiramente católico”
Gabriel Garcia Moreno
Gabriel Garcia Moreno, presidente mártir
     Em aparição de 16 de janeiro de 1599, Nossa Senhora disse a Madre Mariana: “A pátria em que vives deixará de ser colônia e será república livre; então, chamar-se-á Equador e necessitará de almas heróicas para sustentar-se no meio de tantas calamidades, públicas e privadas”. Previsão cumprida 200 anos depois.
     Nessa mesma aparição, a Santíssima Virgem afirmou: “No séc. XIX haverá um presidente verdadeiramente católico, varão de caráter, a quem Deus dará a palma do martírio, na mesma praça onde está este meu convento. Ele consagrará a República ao Divino Coração de meu Filho Santíssimo, e esta consagração sustentará a Religião católica nos anos posteriores, os quais serão amargos para a Igreja”.
     Com efeito, em 25 de março de 1874, Gabriel Garcia Moreno [foto] tornou o Equador a primeira nação da América consagrada ao Sagrado Coração de Jesus. E no ano seguinte, a 6 de agosto, entregou sua alma a Deus, assassinado pelos inimigos da fé, na mesma praça em que está situado o mosteiro. Antes de expirar, escreveu no solo, com o próprio sangue: Dios no muere.[11]
     “Quando tudo parecer perdido, será o início do triunfo da Santa Igreja”
     Em aparição de 2 de fevereiro de 1634, Nossa Senhora do Bom Sucesso entregou o Menino Jesus a Madre Mariana. Em seus braços, Ele revelou-lhe a proclamação do Dogma da Imaculada Conceição, quando “meu Vigário” (o Papa) estiver cativo; e o dogma da Assunção, depois de o mundo sair de um banho de sangue. O que se verificou, respectivamente, em 1854, no pontificado do bem-aventurado Pio IX, e após a II Guerra Mundial, em 1950.
     Em 8 de dezembro de 1634, a Rainha do Céu e da Terra indicou a Madre Mariana que sua invocação de Bom Sucesso iria ser a sustentação e guarda da fé, face à total corrupção do séc. XX. Ela predisse que, “nesses tempos de calamidade, quase não haverá inocência infantil [...], a atmosfera estará saturada de impureza, a qual, como um mar imundo, correrá pelas ruas, praças e lugares públicos com uma liberdade assombrosa, de maneira que quase não se encontrarão no mundo almas virgens [...]. Quanta dor sinto ao te manifestar que haverá muitos e enormes sacrilégios públicos e também ocultos, profanações da Sagrada Eucaristia. [...] Meu Filho Santíssimo será lançado ao solo e pisoteado por pés imundos. [...] O Sacramento da ordem sacerdotal será ridicularizado, oprimido e desprezado, porque nesse sacramento se oprime e denigre a Igreja de Deus e a Deus mesmo, representado em seus sacerdotes. [...] O Sacramento do matrimônio, que simboliza a união de Cristo com a Igreja, será atacado e profanado em toda a extensão da palavra [...]. Impor-se-ão leis iníquas, com o objetivo de o extinguir, facilitando a todos viverem mal”.[12]
     Dramaticamente essas profecias indicam o que ocorre em nossos dias em relação aos sacrilégios, ao sacerdócio e àquilo que seria então inacreditável: a legalização de uniões de indivíduos do mesmo sexo, como se elas fossem casamento.
     E Nossa Senhora do Bom Sucesso acrescentou: “Quando tudo parecer perdido, será o início do triunfo da Santa Igreja. O pequeno número de almas que guardarão o tesouro da fé e das virtudes sofrerá um cruel e indizível padecer, a par de um prolongado martírio [...], haverá uma guerra formidável e espantosa, na qual correrá sangue de nacionais e estrangeiros, de sacerdotes e de religiosas. Essa noite será terrível, pois parecerá ao homem o triunfo da maldade. Será chegada, então, a hora em que Eu de maneira assombrosa destronarei o soberbo e maldito Satanás, pondo-o abaixo de meus pés e sepultando-o no abismo infernal. Deixarei por fim livres, a Igreja e a pátria, de sua cruel tirania [...]. Ora com insistência, pedindo a nosso Pai Celeste que se compadeça e ponha termo, o quanto antes, a tempos tão nefastos, enviando à Santa Igreja o prelado (do latim, “praelatus” — aquele que vai à frente),que deverá restaurar o espírito de seus sacerdotes. A esse filho meu muito querido amamos, meu Filho Santíssimo e Eu, com amor de predileção, pois o dotaremos de uma capacidade rara, de humildade de coração, de docilidade às divinas inspirações, de fortaleza para defender os direitos da Igreja e de um coração terno e compassivo, para que, qual outro Cristo, atenda o grande e o pequeno, sem desprezar o mais desafortunado que lhe peça luz e conselho em suas dúvidas e amarguras [...]. Em sua mão será posta a balança do Santuário, para que tudo se faça com peso e medida, e Deus seja glorificado”.[13]
     “Alegre e triunfante, qual terna menina, ressurgirá a Igreja”
As profecias de Nossa Senhora do Bom Sucesso são inteiramente afins com as mensagens de Nossa Senhora em Fátima e em La Salette
     Em outra ocasião, revelando a mesma situação com ênfase diferente, Nossa Senhora do Bom Sucesso diz: “Tempos funestos sobrevirão, nos quais, cegando na própria claridade aqueles que deveriam defender em justiça os direitos da Igreja, sem temor servil nem respeito humano, darão a mão aos inimigos da Igreja, para fazer o que estes quiserem. Mas ai do erro do sábio — o que governa a Igreja —, do Pastor do redil que meu Filho Santíssimo confiou a seus cuidados. Mas quando parecerem triunfantes e quando a autoridade abusar de seu poder, cometendo injustiças e oprimindo os débeis, próxima está sua ruína. Cairão por terra estatelados. E, alegre e triunfante, qual terna menina, ressurgirá a Igreja e adormecerá brandamente, embalada em mãos do hábil coração maternal de meu filho eleito e muito querido daqueles tempos, ao qual, se dócil prestar ouvido às inspirações da graça — sendo uma delas a leitura das grandes misericórdias que meu Filho Santíssimo e Eu temos usado contigo —, enchê-lo-emos de graças e dons muito particulares, fá-lo-emos grande na Terra e muito maior no Céu, onde lhe temos reservado um assento muito precioso, porque, sem temor dos homens, combateu pela verdade e defendeu, impertérrito, os direitos de sua Igreja, pelo que bem o poderão chamar mártir”.[14]
     As profecias de Nossa Senhora à Madre Mariana de Jesus Torres impressionam, quer pela clareza com que predisse acontecimentos já realizados, quer pela exatidão com que descreve a imensa crise de nossos dias. E são inteiramente afins com as mensagens de Nossa Senhora em Fátima e em La Salette.
     Considerações finais
Sacralidade da Imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso
Há algo nessa Imagem que reflete a realeza de Nossa Senhora em toda sua grandeza, que remete ao cume da ordem do universo e se reporta a Deus, infinitamente nobre, sublime e elevado.
     Deus colocou no centro, e como razão de ser de toda a criação, a realeza de Nosso Senhor, e juntamente a de Nossa Senhora. Assim o esclarece a concepcionista Madre Maria de Ágreda em sua célebre obra Cidade Mística de Deus: “Em Cristo e em Maria estiveram previstas todas as demais obras, e por causa deles, de acordo com o nosso modo de falar, o Altíssimo sentiu-se mais empenhado a criar o restante das criaturas”.[15]
     Confirmando esta tese, basta o leitor considerar que Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus verdadeiro e verdadeiro Homem; é uma só Pessoa, com as naturezas humana e divina; e Nossa Senhora, mera criatura, é Mãe de Deus. À luz da fé, portanto, não se podem conceber píncaros mais altos que o do Homem-Deus e o de sua Mãe Santíssima. Píncaros estes para os quais converge necessariamente toda a criação, que encontra neles seu centro e sua razão de ser.
     Plinio Corrêa de Oliveira relacionava a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso com a idéia que tinha de Nossa Senhora no Céu. Via ele nessa imagem algo que o remetia ao cume da ordem do universo: majestade, misericórdia, poder, beleza, justiça, bondade, pureza e superioridade incomparáveis, só transcendidas, de modo infinito, por Deus. Disto se tem melhor idéia considerando-se que, conforme explicitou Dr. Plinio, a ordem católica — a civilização cristã — é “austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, antiigualitária e antiliberal”.[16]
     Austera, porque exige o cumprimento dos dez Mandamentos da Lei de Deus, como condição de perfeição.
     Hierárquica, porque tudo quanto existe é desigual: Deus, infinitamente superior e supremo Legislador; e as criaturas — anjos, homens e seres irracionais — todas insondavelmente desiguais entre si.
     Essas desigualdades criadas por Deus não são aterradoras e monstruosas, mas sim proporcionadas à natureza, ao bem estar, ao progresso de cada ser e adequadas à ordenação geral do universo, na qual o mais alto é, a um ou outro título, causa, modelo e mestre do inferior.[17] Nessa escala hierárquica, tudo se reporta a Deus, infinitamente nobre, sublime e elevado. Nisto está o âmago da religiosidade.
     Se assim é a ordem do universo — hierárquica, harmônica e austera — é compreensível que a humildade inclina ao amor às superioridades; portanto, à autoridade e à obediência. E o orgulho conduz ao ódio a toda desigualdade e à revolta contra toda lei, divina ou humana. Tal ódio, igualitário e subversivo, é o fator mais dinâmico da imensa crise moral que assola o mundo atual. Crise igualitária de revolta e permissivismo moral desenfreado.
     Em Nossa Senhora do Bom Sucesso coexistem harmonicamente a representação tanto da suprema majestade quanto da bondade materna criadas, e de uma virginalidade e castidade inigualáveis — daí ser essa devoção particularmente indicada contra o espírito revolucionário de nossos dias. Espírito neopagão, de índole comunista, socialista e anárquica, característica esta que se patenteou na revolução da Sorbonne, de maio de 1968.
     Sobre tudo isso paira a realeza de Nossa Senhora, presente em qualquer de suas invocações, pois Ela é sempre Rainha. Em Nossa Senhora das Dores, por exemplo, pois só uma rainha sofre daquela forma e com tamanha intensidade. A nota dominante dessa invocação, porém, convida à compaixão e à compunção. Nossa Senhora do Bom Sucesso apresenta-se-nos como rainha em toda sua grandeza. Como toda rainha, também é mãe, com toda sua maternalidade e ternura.
     Conforme o pensamento de Dr. Plinio, toda mulher é rainha, na medida em que é mãe e esposa. Se isto é verdadeiro, por mais modesto que seja o lar, como será então quando se trata da Rainha do Céu e da Terra!
     Para concluir, nada poderia ser mais eloqüente do que valermo-nos das palavras da própria Senhora do Bom Sucesso, dirigidas à Madre Mariana de Jesus Torres: “Eu sou poderosa para aplacar a Justiça Divina e alcançar piedade e perdão para toda alma pecadora que a mim recorra com coração contrito, porque sou a Mãe de Misericórdia, e há em mim bondade e amor”.[18]
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     Carlos Antonio E. Hofmeister Poli é Coronel do Exército de Cavalaria e Estado-Maior (R).
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     NOTAS:

    [1] Cfr. Frei Manoel de Souza Peraira, Vida Admirável da Rda. Madre Mariana de Jesus Torres, vol. I, Artpress, Papéis e Artes Gráficas LTD, 1983, São Paulo, p. 17.
    [2] Op.cit., p. 18.
    [3] Idem, ibidem.
    [4] Idem, p. 19.
    [5] Texto original redigido por Madre Mariana de Jesus Torres relatando as aparições e revelações de Nossa Senhora.
    [6] Frei Manoel de Souza Peraira, op. cit., vol. I, p. 49.
    [7] Op. cit., vol.II, p. 17.
    [8] Op. cit., vol II, p. 38-55.
    [9] Discursos de 7-12-1968 e 26-6-1972.
    [10] Discurso de 7-2-1981.
    [11] Op. cit., vol. I, p. 67.
    [12] Cfr. op. cit., vol. II, p. 6.
    [13] Idem, vol. II, p. 136.
    [14] Idem, vol. II, p. 98.
    [15] Maria de Agreda, Cidade Mística de Deus, livro I, cap. II, nº 134.
    [16] Revolução e Contra-Revolução, parte II, cap II, 1. Artpress, edição comemorativa dos 50 anos da publicação, p. 73.
    [17] Cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, A justiça está nas desigualdades cristãs, "Jornal da Tarde", S. Paulo, 9-6-79.
    [18] Frei Manoel de Souza Peraira, op. cit., vol. I, p. 160.
fonte:sacralidade