Acabei de ler "Cien Años de Modernismo - Genealogia del Concilio Vaticano II", de autoria do Padre Dominique Bourmaud, SSPX, publicado pelas Ediciones Fundación San Pio X, de Buenos Aires - pois, de onde mais?! -, Argentina, cuja tradução em língua espanhola foi revista pelos Padres José Maria Mestre Roc e Jesus Mestre Roc, também da SSPX.
Trata-se de um excelente livro, de leitura muito estimulante, onde o autor traça e analisa criticamente o erro modernista desde os seus primórdios, que remontam à pseudo-reforma protestante do século XVI e ao livre exame proposto pelo heresiarca Lutero com o correspondente desprezo pela tradição e autoridade da Igreja, passando pelo primeiro modernismo influenciado determinantemente pela filosofia kantiana, tanto o protestante do século XIX, de Strauss, Schleiermacher e Ritschl, como o "católico" de primórdios do século XX, de Bergson, Blondel, Loisy e Tyrrell, combatido, derrotado e condenado por São Pio X através da encíclica "Pascendi Dominici Gregis", e terminando no neomodernismo "católico" da segunda metade do século XX, que, sob o influxo do existencialismo heideggeriano, teve as suas principais figuras em Teilhard de Chardin, Henri de Lubac, Yves Congar e Karl Rahner.
Como bem recorda o Padre Bourmaud, este neomodernismo foi condenado de modo solene por Pio XII, mediante a encíclica "Humani Generis"; porém, o grande Papa não conseguiria extirpar do seio da Igreja Católica a heresia que já então a corroía terrível e dolorosamente. De facto, apesar de tal condenação, com a protecção que receberia subsequentemente dos Papas João XXIII e Paulo VI, o neomodernismo viria a impor em total impunidade as suas teses heréticas durante o decurso do Concílio Vaticano II, tornando-se no rescaldo deste a corrente doutrinária dominante no interior da Igreja, influindo decisivamente sob a actuação dos Papas Paulo VI e João Paulo II em matérias fulcrais como a falsa liberdade de religião e o falso ecumenismo, e gerando a abominação da desolação que meio século depois está à vista de todos os católicos conscientes e responsáveis.
Aliás, da leitura de "Cien Años de Modernismo" podemos interrogar-nos como foi possível o neomodernismo atingir uma posição tão preponderante dentro da Igreja? É que efectivamente os trabalhos dos seus mentores acima referidos, variando entre a irracionalidade e o absurdo, mostrando-se infestados de gnosticismo imanentista e panteísta, sustentando a impossibilidade de a verdade ser conhecida em termos objectivos, reduzindo-a a um mero fenómeno subjectivo, fruto da experiência pessoal e da consciência individual, que consiste tão-só na adequação do pensamento à vida quotidiana, e diluindo todas as distinções entre natural e sobrenatural, natureza humana e graça divina, não poderiam estar mais afastados da doutrina católica tradicional, a qual tem a sua expressão máxima nos trabalhos teológicos de São Tomás de Aquino. Respondendo à pergunta supra, a verdade é que com o triunfo - ainda que provisório e temporário - do neomodernismo, súmula de todas as heresias, torna-se forçoso concluir que estamos em plena consecução do mistério da iniquidade de que São Paulo fala na 2ª Carta ao Tessalonicenses (2, 3-7) e face a uma horrível inversão na qual o homem passa a adorar-se a si mesmo e não mais a Deus, em suma, perante uma viragem antropolátrica!
Ora, pelo exposto, recomendo vivamente a leitura deste livro a todos os católicos tradicionais, os quais dispõem nele de uma excelente ferramenta de trabalho para melhor conhecerem a heresia modernista e neomodernista em toda a sua fealdade e despojada da pele de cordeiro com a qual costuma ocultar o seu carácter lupino.
Na esteira do excelente "Panorama Católico Internacional", ao mesmo livro faço somente um pequeno reparo: escrito na sua versão original francesa no final do pontificado do Papa João Paulo II, o respectivo autor imputa ao então Cardeal Ratzinger o sobraçar de algumas posições de influência neomodernista. Embora sendo formalmente correcta tal asserção, não é menos certo que o mesmo Cardeal Ratzinger delas paulatinamente se apartou, não correspondendo as mesmas manifestamente ao pensamento doutrinário daquele que agora é o Papa Bento XVI gloriosamente reinante. Seria curial que tal ressalva tivesse sido feita, ao menos na presente edição, o que não sucedeu.
De seguida, e à laia de conclusão, transcrevo um saboroso trecho de "Cien Años de Modernismo", onde o Padre Bourmaud critica a teologia de Karl Rahner, por ele apelidado alternadamente de "maior modernista de todos os tempos" e "príncipe do neomodernismo", epítetos que neste caso concreto estão longe de ser elogiosos. Assim:
"Rahner confiesa sin vacilar que es un téologo diletante, y que no ha estudiado seriamente los tratados clave del tomismo sobre Dios. Pero es mucho peor que un teólogo aficcionado, porque hace alarde del tomismo para acabar en el más corrosivo antitomismo. Cómo puede presentarse Rahner como teólogo católico, si explica los mistérios fundamentales de nuestra fé bajo un enfoque panteísta que niega las distinciones más elementales? Ésta es la razón por la cual el Padre Fabro, con una exuberancia muy italiana, no escatina cualificativos para fustigar a su enemigo. Acusa a Rahner de ser un deformador sistemático, un kantianizador, que se mueve entre las tesis tomistas como a un sordo en un concierto musical. Lo define como un mistificador confuso que escribe sin pies ni cabeza en un estilo bárbaro repleto de alucinantes barbaridades. Lo llama abanderado del cristianismo inmanentista y corsário de la teología contemporánea. Por esta misma razón el cardenal Siri emite un juicio severo sobre Rahner al decir que su pensamiento no es el camino da la verdad sino del error, porque insensiblemente pone en tela de juicio todos los principios, todos los criterios y todos los fundamentos de la fe.
Hemos señaladao que la confusión entre Dios y el hombre, entre naturaleza y gracia, está en el origen de toda la teología de Rahner. En realidad, el punto de partida de la teología sube de un escalón, el escalón ecumenista. Es el deseo, tal vez loable pero utópico, de querer la salavación de todos los hombres. Su razonamiento es simple pero no llega a ninguna conclusión: puesto que Dios es todopoderoso y quiere salvar a todos los hombres, salva realmente a todos los hombres. La mera toma de conciencia de la grandeza de Dios produce la salvación ipso facto. Todo hombre es un cristiano anónimo, aunque rechace explícitamente todo vínculo con la Iglesia visible y jerárquica: Fuera de la Iglesia hay salvación! El reino de Dios en la tierra es la humanidad entera, de manera que todos se salvan. Por eso, "si el infierno existe, está vacío" El Pueblo de Dios no es la "Iglesia ghetto". Es la Iglesia amplia que "subsiste" en la Iglesia Católica, pero no se reduce sólo a ella.
Esa tesis de salvación universal conduce directamente a un nueva pastoral que paraliza todo esfuerzo misionero, concebido desde entonces como superfluo. Y esto por dos razones. En primero lugar, porque al identificar naturaleza y gracia, se sugiere que todos los hombres están en gracia. Puesto que la gracia es lo mismo que la naturaleza, y todo lo hombre tiene la naturaleza humana, resulta que todo hombre, por el solo hecho de ser hombre, vive en estado de gracia, aunque no sea consciente de ello. De ahí proviene la segunda razón. Puesto que todo hombre, por el hecho de ser hombre, es hermano de Cristo, resulta que todo hombre es cristiano, incluso dentro de un anticristianismo consciente. Para qué cruzar los mares y derramar la propria sangre con el fin de hacer explícito lo que los hombres ya tienen implícitamente, la salvación eterna asegurada? Por eso, Congar explica que hoy en día "nadie pude pretender que hay que salvar almas del infierno para justificar las misiones. Dios las salva sin que ellas conozcan el Evangelio. Si no, todos deberíamos partir a la China".
En materia de esfuerzo misionero, esto es el espíritu dimisionario. En matéria de vocación, la tesis del cristiano anónimo firma la revocaión del celo apostólico.
Acrescento ainda que "Cien Años de Modernismo" está também disponível em francês, na Clovis-Diffusion, e em inglês, na "Angelus Press". Aos leitores interessados em aprofundar com mais detalhe o tema, sugiro-lhes a leitura da obra " De la Cabala al Progresismo", do Padre Julio Meinvielle.
Foto: de cima para baixo, no sentido dos ponteiros do relógio, os neomodernistas Rahner, Murray (norte-americano, defensor da falsa liberdade de religião), Congar e de Lubac.
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- E senti o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e N´Ele vi e ouvi -A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. - O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar , é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. - O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora! - Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica: - Na eternidade, o Céu! (escreve a irmã Lúcia a 3 de janeiro de 1944, em "O Meu Caminho," I, p. 158 – 160 – Carmelo de Coimbra)