Cardeal Siri
Notificação concernente às mulheres que vestem roupas de homem [1]
Giuseppe Cardial Siri
Genova, 12 Junho de 1960
Ao Reverendo Clero,
A todas as Religiosas professoras
Aos queridos filhos da Ação Católica,
Aos educadores que desejam seguir verdadeiramente a Doutrina Cristã[2]
I. O primeiro sinal da nossa primavera tardia indica certo aumento, este ano, do uso das vestes masculinas por mulheres, jovens e até mesmo por mães de família. Até 1959, em Genova, este tipo de veste significava que a pessoa era uma turista, mas agora parece que há um número significativo de garotas e mulheres da mesma Genova que escolhem, ao menos em viagens de lazer, vestir calças de homem.
A evolução deste comportamento nos obriga a refletir seriamente, e nós pedimos a quem esta notificação vai dirigida dar toda a atenção que este problema merece, como é próprio das pessoas que estão conscientes de ser responsáveis frente a Deus.
Nós pretendemos acima de tudo fazer um juízo moral equilibrado sobre o uso de roupas masculinas pelas mulheres. De fato nossa reflexão só pode estar fundamentada sobre a questão moral[3].
Em primeiro lugar, quando a questão é cobrir o corpo feminino, não se pode dizer que o uso de roupas masculinas pelas mulheres seja uma grave ofensa contra a modéstia, pois as calças certamente cobrem mais do corpo da mulher que as saias das mulheres modernas.
No entanto, as vestes para serem modestas não necessitam apenas cobrir o corpo, e tampouco devem estar coladas ao corpo[4]. É verdade que muitas roupas femininas colam mais do que muitas calças, mas as calças podem ser feitas para apertarem mais, e de fato geralmente apertam. Por isso, este tipo de roupa, colada ao corpo, nos dão a mesma preocupação quanto às roupas que expõem o corpo. Então a imodéstia das calças masculinas no corpo feminino é um aspecto do problema que não pode ser deixado sem uma observação geral sobre elas, ainda que não deva ser superficialmente exagerado também.
II. No entanto, outro aspecto das mulheres vestindo calças nos parece ser o mais grave[5]. O uso de vestes masculinas por parte das mulheres afeta primeiramente à própria mulher, causado pela mudança da psicologia feminina própria da mulher; em segundo lugar afeta a mulher como esposa do seu marido, por tender a viciar a relação entres os sexos; e em terceiro lugar como mãe de suas crianças, ferindo sua dignidade ante seus olhos. Cada um destes pontos deverá ser cuidadosamente considerado:
A. A Roupa Masculina Muda a Psicologia da Mulher
Na verdade, o motivo que leva a mulher a usar roupa de homem é o de imitar, e não somente isso, mas o de competir com o homem, que é considerado o mais forte, mais livre, mais independente. Esta motivação mostra claramente que a roupa masculina é a ajuda visível para trazer uma atitude mental de ser “igual ao homem”[6]. Em segundo lugar, desde que o ser humano existe, a roupa que uma pessoa usa modifica seus gestos, atitudes e o comportamento, a tal ponto que só pelo fato de se usar uma determinada roupa, o vestir chega a impor um estado de ânimo especial em seu interior.
Permita-nos acrescentar que, uma mulher que sempre veste roupas de homem, indica que ela está reagindo à sua feminilidade como se fosse algo inferior, quando na verdade é só diversidade. A perversão de sua psicologia é claramente evidente.[7]
Estas razões, somadas com muitas outras, são suficientes para nos alertar o quão equivocado elas são conduzidas a pensar ao se vestir com roupas de homens.
B. A Roupa Masculina Tende a Corromper as Relações entre as Mulheres e os Homens
Na verdade, com o passar dos anos e conforme as relações entre os sexos se desenvolvem, um instinto mútuo de atração predomina. A base essencial desta atração é a diversidade entre os sexos, que é possível somente pela sua complementaridade ou completando um ao outro. Se esta “diversidade” se torna menos óbvia porque um de seus maiores sinais externos é eliminado, e porque a estrutura psicológica normal é enfraquecida, o que resulta é a alteração de um fator fundamental na relação.
O problema é ainda mais profundo. A atração mútua entre os sexos é precedida tanto naturalmente, quanto em relação ao tempo, por um sentido de pudor que freia os instintos que surgem, lhes impõe respeito, e tende a elevar o nível de mútua estima e temor saudável, impedindo que todos aqueles instintos possam levar a atos descontrolados. Mudar a roupa, que por sua diversidade revela e assegura os limites da natureza e da defesa, é anular a distinção e ajudar a destruir o trabalho de defesa vital do sentido de vergonha.
É, no mínimo, impedir este sentido. E quando o sentido de vergonha é impedido de colocar os freios, as relações entre homem e mulher se afundam em degradação e puro sensualismo, separadas de todo respeito mútuo ou estima.
A experiência esta aí para nos dizer que quando a mulher é desfeminilizada, as defesas são destruídas e as fraquezas aumentadas.[8]
C. A Roupa Masculina Fere a Dignidade da Mãe ante os olhos de Suas Crianças
Toda criança têm um instinto pelo sentido de dignidade e decoro de sua mãe. Uma análise da primeira crise interior das crianças, quando elas despertam para a vida ao seu redor, mesmo antes delas entrarem na adolescência, mostra o quanto vale para elas o sentido de suas mães. As crianças são sumamente sensíveis a esta idade. Os adultos geralmente deixaram isso de lado e não pensam mais sobre isso. Mas fazemos bem em recordar as demandas severas que as crianças instintivamente fazem a sua própria mãe, e a profundas e até terríveis reações que nelas se afloram pela observação dos seus maus comportamentos. Grande parte do futuro é traçada aqui – e não para melhor – nestes precoces dramas durante a infância.
A criança pode não saber a definição de exposição, de frivolidade ou infidelidade, mas possui um sentido instintivo que reconhece quando essas coisas acontecem, sofre com elas, e é amargamente ferida por elas em suas almas.
III. Vamos pensar seriamente em tudo o que foi dito até agora, mesmo que a aparência da mulher com roupas masculinas não faça surgir imediatamente tudo aquilo causado por uma grave imodéstia.
A mudança da psicologia feminina gera um dano crucial e, ao longo dos anos, torna-se irreparável à família, à fidelidade conjugal, às afeições e à sociedade humana[9]. É verdade que os resultados de se vestir roupas impróprias não podem ser vistos todos a curto prazo. Mas devemos pensar no que está sendo devagar e articuladamente destruído, despedaçado, pervertido.
Se a psicologia feminina é mudada, existe alguma reciprocidade imaginável mudada entre marido e mulher? Ou, existe alguma autêntica educação de crianças imaginável, que é tão delicada no seu proceder, entrelaçada de fatores imponderáveis, na qual a intuição e instinto da mãe cumpram um papel decisivo nessa idade tão delicada? O que estas mulheres serão capazes de dar a suas crianças, tendo usado calças durante tanto tempo e com sua alta-estima determinada mais por sua competição com os homens do que por seu papel como mulher?
Perguntamo-nos porque, desde que o homem existe – ou melhor, desde que ele se tornou civilizado: por quê tem sido o homem, em todos os tempos e lugares, irresistivelmente levado a fazer a diferenciada divisão entre as funções dos dois sexos? Não temos aqui um testemunho exato para o reconhecimento, por toda a humanidade, de uma verdade e de uma lei acima do homem?
Para resumir, quando uma mulher veste roupas de homem, deve ser considerado um fator, a longo prazo, da desintegração da ordem humana.
IV. A consequência lógica de tudo o que foi apresentado aqui é que qualquer pessoa, em uma posição de responsabilidade, deveria estar possuída por um sentido de alarme no significado verdadeiro e próprio da palavra, um severo e decisivo alarme[10].
Nós dirigimos uma grave advertência aos sacerdotes das paróquias, a todos os sacerdotes em geral e a confessores em particular, aos membros de qualquer tipo de associação, a todos os religiosos, a todas as irmãs, especialmente as irmãs educadoras.
Nós os convidamos a que tomem plena consciência deste problema de forma que atuem em seguida. Essa conscientização é o que importa. Ela irá sugerir a ação adequada no tempo certo. Mas não permitamos que nos aconselhe a ceder ante uma inevitável mudança, como se estivéssemos confrontados por uma evolução natural da humanidade, e daí por diante!
Pessoas vêm e vão, porque Deus deixou espaço suficiente para o início e fim do livre arbítrio do homem. No entanto, as linhas essenciais da natureza e as não menos substanciais linhas da Eterna Lei, nunca mudaram, não estão mudando agora e nunca irão mudar. Existem limites além dos quais uma pessoa pode ir tão longe o quanto queira, mas fazê-lo resulta em morte[11]; há limites os quais fantasias filosóficas vazias menosprezam ou não levam a sério, mas que constituem uma aliança de fatos sólidos e da natureza que punem qualquer um que os ultrapassa. E a história já ensinou suficientemente – com assustadoras provas advindas da vida e da morte de nações, que a conseqüência para todos os violadores deste esquema da “humanidade” é sempre, mais cedo ou mais tarde, uma catástrofe.
A partir da dialética de Hegel em diante, nós temos escutado repetitivamente coisas que não passam de fábulas, e pela força de escutá-las tão freqüentemente, muitas pessoas acabam por se acostumar a elas, mesmo escutando passivamente. Mas a verdade da questão é que Natureza e Verdade, e a Lei baseada em ambas, vão por seu caminho imperturbável, e destroem aos pedaços a idéia dos tolos que, sem justificativa alguma, crêem em mudanças radicais e de longo alcance nessa mesma estrutura do homem.[12]
As consequências de tais violações não são um novo desenho do homem, mas desordens, instabilidades prejudiciais de todos os tipos, a assustadora secura das almas humanas, o grande aumento no número de seres humanos abandonados, levados há muito tempo para longe da vista e da mente humana para viver seu declínio no ócio, na tristeza e na rejeição. Neste naufrágio de eternas regras se encontram famílias destruídas, vidas terminadas antes da hora, corações e casas que se esfriaram, idosos jogados para um lado, jovens intencionalmente depravados e, em última instância, almas em desespero tirando suas próprias vidas. Todas estas ruínas humanas dão testemunho do fato de que a “linha de Deus” não dá espaço, nem admite qualquer adaptação com os sonhos delirantes dos assim chamados filósofos! [13]
V. Já temos dito que aqueles que se dirigem esta Notificação são convidados a tomar o problema que tem adiante como um sério alarme. Eles sabem que devem dizer, começando com os bebês no colo de suas mães.
Eles sabem que sem exagerar ou tornar-se fanáticas, elas precisarão limitar estritamente o quanto elas podem tolerar que as mulheres se vistam como homens com uma regra geral.
Eles sabem que não podem ser tão fracas a ponto de deixar qualquer um fechar os olhos para um costume que está tomando conta e destruindo a base moral de todas as instituições.
Os sacerdotes sabem da direção que devem ter no confessionário, mesmo não tomando toda veste masculina usada por mulher como uma falta grave, devem ser precisos e decisivos.[14]
Todos caridosamente refletirão sobre a necessidade de ter uma frente de ação unida, reforçado por todos os lados, por todos os homens de boa vontade e todas as mentes iluminadas, de forma a criar uma barreira verdadeira para conter a inundação.
Cada um de vocês responsável pelas almas em qualquer situação entende o quão útil é ter como aliados nesta campanha defensiva homens intelectuais e da mídia aliados nesta campanha. A posição tomada pelas indústrias desenhistas de roupa, seus brilhantes estilistas tem uma importância crucial em toda essa questão. O sentido artístico, a elegância e o bom gosto juntos podem encontrar uma solução apropriada e digna para a roupa que a mulher deve usar quando for andar de moto, ou estiver nessa ou naquela atividade física, ou no trabalho. O que importa é preservar a modéstia, junto com o eterno sentido de feminilidade, aquela feminilidade que, mais do que qualquer outra coisa, todas as crianças continuarão a associar com a face de sua mãe.[15]
Nós não negamos que a vida moderna traga problemas e faça requerimentos desconhecidos por nossos avós. Mas afirmamos que existem valores que precisam ser mais protegidos do que experiências passageiras, e que, para todas as pessoas inteligentes, há sempre bom senso e bom gosto o bastante para encontrar soluções dignas e aceitáveis para os problemas que surjam.
Comovidos pela caridade, nós estamos lutando contra uma degradação do homem, contra o ataque sobre aquelas diferenças nas quais descansa a complementaridade entre o homem e a mulher.
Quando vemos uma mulher de calça, nós deveríamos pensar não tanto nela, mas em toda a humanidade, de como será quando todas as mulheres se masculinizem. Ninguém ganhará ao tratar de levar a cabo uma futura época imprecisão, ambigüidade, imperfeição e, em uma palavra, monstruosidades[16].
Esta nossa carta não é dirigida ao público, mas àqueles responsáveis pelas almas, pela educação, por Associações Católicas. Que façam seu dever, e que não sejam como sentinelas que foram apanhadas dormindo no seu posto enquanto o mal penetrava sorrateiramente.
Giuseppe Cardinal SiriArcebispo de Genova
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[1] Tradução de Daniel Pinheiro e Julie Maria do original em inglês, que aparece como anexo do livro “Dressing with Dignity”, de Colleen Hammond, Editora TAN. Todas as notas abaixo foram escritas pelo tradutor original, Sr. Williamson. [2] No final da Nota do Cardeal, ele explica que ela não é dirigida ao público em geral, mas apenas indiretamente, através dos líderes católicos citados acima. No entanto, isso foi em 1960, quando a Igreja ainda tinha um quadro de líderes. Em 1977, aqueles capazes de responder, por sua Fé, à instrução do Cardeal estão dispersos entre o grande público, aos quais sua instrução é adequadamente difundida.
[3] O Cardeal elimina muitas objeções quando ele nos recorda desde qual ponto de vista ele nos falará: como um mestre de Fé e moral. Quem pode negar com razoabilidade que a roupa (especialmente a feminina, mas não só ela) envolve a moral e por isso a salvação das almas?
[4] Calça jeans são praticamente universais. Quantos jeans para a mulher não são apertados?
[5] Calças são piores que mini-saias, disse o Bispo de Castro Mayer, porque enquanto as mini-saias atacam os sentidos, as calças atacam a mais alta faculdade do homem, a mente. O Cardeal Siri explica em profundidade o por quê disso.
[6] Quando a mulher deseja ser igual ao homem (as feministas têm mais desdenho da feminilidade que qualquer um, disse alguém), resta ao homem fazer a mulher ser orgulhar de ser mulher.
[7] O enorme aumento, desde 1960, na prática e na exibição pública de vícios contra a natureza deve ser certamente atribuído em parte pela perversão desta psicologia.
[8] Quando uma mulher é feminina, ela tem a força que Deus lhe deu. Quando ela é desfeminilizada, ela só tem a força que ela dá a si mesma.
[9] Para um exemplo deste dano, veja a relação entre os sexos tal como é mostrada no Rock, por exemplo, como através da letra inclusa, The Wall, músicas 6, 9, 10, 11.
[10] Em 1997 (e em 2009, acrescentamos hoje*) podemos dizer que o Cardeal estava exagerando?
[11] Toda grande obra e literatura é testemunha desta estrutura moral do universo, que se viola à custa de grandes danos, e que faz parte da ordem natural como sua mesma estrutura física. Os poemas de Shakespeare são exemplos famosos. O Cardeal aqui está no cerne da questão.
[12] Tem-se dito, Deus perdoa sempre, o homem algumas vezes, a natureza nunca.
[13] O Cardeal não está apenas se permitindo uma retórica. Para um exemplo de “ruínas humanas” veja a versão resumida da miséria de Pink Floyd na letra inclusa. (Não está inclusa aqui – Webmaster).
[14] Quanta sabedoria e quanto equilíbrio em todas estas conclusões aparentemente severas!
[15] Em outras palavras, a feminilidade da mãe, não de Eva.
[16] Em 1997 todos vemos ao nosso redor a era de monstruosidade, a qual em 1960 o Cardeal estava fazendo seu melhor para prevenir. No próprio país do Cardeal, a Itália, a taxa de natalidade tem sido a menor da Europa! O Cardeal não foi ouvido por eles. Será ele ouvido agora? Pink Floyd tem o problema. O Cardeal Siri tem a resposta.