Ao se pensar e se analisar a vida de um sacerdote santo, se procuram, imediatamente, os alicerces sobre os quais se fundou a sua vida. Um homem de Deus só pode ter construído sua casa sobre uma rocha sólida e segura. Um padre que admirou profundamente São João Maria Vianney foi justamente nosso São Luís Orione: um santo admirando e seguindo as virtudes heróicas de outro santo. Os dois se destacaram pelo grandioso amor à Eucaristia e às almas. Não é possível entender a caridade e a obra de São Luis Orione sem relacionar intimamente sua pessoa com a Eucaristia, ponto central de sua espiritualidade.
As raízes de sua intensa relação com Cristo partem da Eucaristia celebrada todos os dias, adorada por horas e horas e vivida no serviço humilde aos irmãos mais pobres. Ele afirma: Ele será a vida, o conforto e a felicidade nossa e daqueles que a sua mão conduz.”
Dom Orione viveu intensamente como “sacerdote capaz de vencer todas as tensões dispersivas nas suas jornadas, encontrando no sacrifício eucarístico, verdadeiro centro da sua vida e do seu ministério, a energia espiritual necessária para enfrentar os diversos desafios pastorais. O seu dia era verdadeiramente eucarístico.”
A celebração da sua Missa era um momento único, conforme testemunhos. Momento único de contemplação no qual se instaurava uma relação particular com o Senhor e uma insólita fraternidade com quem dela participava.
Tão diferente daquelas missas com “canto barulhento, com instrumentos ruidosos, os microfones altíssimos, não facilitam a oração, mas impedem o espaço de silêncio, de serenidade contemplativa”, dos quais tanto reclama a poeta Adélia Prado. Ela contrapõe: “a missa é como um poema, não suporta enfeite nenhum. A missa é a coisa mais absurdamente poética que existe. É o absolutamente novo sempre. É Cristo se encarnando, tendo a sua paixão, morrendo e ressuscitando.” Ainda segundo a poeta: “a palavra foi inventada para ser calada. É só depois que se cala que a gente ouve. A beleza de uma celebração e de qualquer coisa, a beleza da arte, é puro silêncio e pura audição”. Cremos que ela se sentiria bem participando de uma Celebração presidida por Dom Orione. Nos nossos tempos de Seminário menor em Guararapes, o saudoso Pe. João Porfiri, sempre nos falava da concentração que Dom Orione mantinha durante a Santa missa, cada palavra bem pronunciada e devagar, como se o tempo não importasse, ou melhor, importasse demais, porque o tempo era aquele único e necessário. E Pe. João acrescentava: “depois (a missa era rezada de costas), na hora da homilia, ele se virava prá nós e então nossos olhares continuavam fixos nele bebendo cada palavra.”
Se naquele que instituiu a Eucaristia, marcada por despedidas e certezas de traições, não se perdeu a noção de sacrifício, de entrega, de oração; se Santo Inácio de Loyola nos últimos anos de sua existência, não conseguia terminar a celebração porque se emocionava chegando às lágrimas diante do Mistério eucarístico; sem citar outros santos e místicos, porque não nos sentimos assim na obrigação de celebrar bem e cada vez melhor?
Além do mais, tanto em Dom Orione como no Cura D’Ars, além do amor à Eucaristia, se percebe também um zelo particular pela salvação das almas, traduzindo tudo nos seus gestos e nas suas atitudes. Diante do tabernáculo estava sempre acesa aquela fornalha que alimentava a sua vida. É da Eucaristia que nasce em Dom Orione aquele dom profético de caridade que continua enriquecendo através dos tempos o caminho da Igreja: outra inspiração para celebrarmos bem a missa e para vivermos como se estivéssemos celebrando.
* Texto adaptado de “Il cuore della vocazione sacerdotale: L’eucaristia”, de Gianni Castignoli, publicado na revista Don Orione Oggi de luglio / agosto 2009; sobre a poeta Adelia Prado, ver artigo