O «escândalo» de um Deus que se fez homem e morreu na cruz esteve no centro da homilia do Papa Francisco esta manhã, sábado 1 de Junho, durante a missa que concelebrou na capela da Domus Sanctae Marthae, entre outros, com o cardeal cubano Jaime Lucas Ortega y Alamino, arcebispo de San Cristóbal de La Habana.
A recordação do mártir Justino, do qual se celebrava a memória litúrgica, proporcionou ao Pontífice a ocasião para reflectir sobre a coerência de vida e sobre o núcleo fundamental da fé de cada cristão: a cruz. «Nós podemos fazer todas as obras sociais que quisermos – afirmou – e dirão: mas que bem a Igreja, que bem as obras sociais que a Igreja faz! Mas se nós dizemos que fazemos isto porque aquelas pessoas são a carne de Cristo, causa escândalo».
Sem a encarnação do Verbo vem a faltar o fundamento da nossa fé, como ressaltou o Pontífice: «Aquela é a verdade, aquela é a revelação de Jesus. Aquela presença de Jesus encarnado. Eis o aspecto». Se o esquecermos, será sempre grande a «sedução» para os discípulos de Cristo «de fazer coisas boas sem o escândalo do Verbo encarnado, sem o escândalo da cruz».
Justino foi testemunha desta verdade, porque precisamente devido ao escândalo da cruz atraiu a perseguição do mundo. Ele anunciou o Deus que veio entre nós e se identificou com as suas criaturas. O anúncio de Cristo crucificado e ressuscitado perturba quem o ouve, mas ele continua a testemunhar esta verdade com a coerência de vida. «A Igreja – comentou o Pontífice – não é uma organização de cultura, de religião, nem sequer social; não! A Igreja é a família de Jesus. A Igreja confessa que Jesus é o Filho de Deus que veio na carne. Eis o escândalo e por isto perseguiam Jesus».
O Papa referiu-se ao trecho evangélico de Marcos (11, 27-33) lido durante a liturgia e em particular à pergunta feita a Jesus pelos sacerdotes, pelos escribas e idosos de Jerusalém: «Com que autoridade fazes isto?». Jesus responde por sua vez com uma pergunta - «O baptismo de João vinha do céu ou dos homens?» - e assim não satisfaz a falsa curiosidade deles. Só mais tarde, diante do sumo sacerdote que era «a autoridade do povo», revelará o que lhe tinham pedido escribas e anciãos. Até àquele momento não o faz, porque compreende que o verdadeiro objectivo dos seus interlocutores é «fazer-lhe uma armadilha». Tentam de vários modos, como recordou o Papa: «Diz-me, mestre pode-se, devem-se pagar os impostos a César?». Ou: «Diz-me, mestre, aquela mulher foi encontrada em adultério. Devemos cumprir a lei de Moisés ou há outro modo?». Cada pergunta é uma armadilha para o pôr em dificuldade, para o induzir a dizer algo errado e encontrar um pretexto para o condenar.
Mas por que era Jesus um problema? «Não porque fazia milagres» respondeu o Papa. Nem sequer porque pregava e falava da liberdade do povo. «O problema que escandalizava este povo – disse – era que os demónios gritavam a Jesus: “Tu és o Filho de Deus, tu és o santo”. Eis o problema». O que escandaliza de Jesus é a sua natureza de Deus encarnado. E como a ele, também a nós «armam ciladas na vida; o que escandaliza da Igreja é o mistério da encarnação do Verbo: este não se elimina, o demónio não o elimina»...
Ao concluir o Papa Francisco exortou os fiéis a pedir ao Senhor «que não tenham vergonha de viver com este escândalo da cruz». E convidou a invocar de Deus a sabedoria, para não «nos deixarmos seduzir pelo espírito do mundo que fará sempre propostas educadas, propostas civilizadas, boas». Por detrás delas, admoestou, nega-se precisamente «o facto de que o Verbo se encarnou», um facto que «escandaliza» e destrói a obra do diabo».
2 de Junho de 2013