quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A Crise da Igreja

Para chegarmos a ter uma noção mais exata do que seja a nossa condição de católicos, hoje, consideremos a Igreja como existia na época ainda recente do papa Pio XII. Apesar das diversas dificuldades que vinham criar obstáculos à vida normal da Igreja, esta conseguia manter as almas no caminho do céu. Quantas ocasiões de aumentar a fé e a piedade dos fiéis: Congressos Eucarísticos, Encíclicas papais reiterando a doutrina de sempre da Igreja, grandes colégios formando jovens católicos e universidades comandadas por sacerdotes seguros e determinados. Se olharmos para o quadro de bispos que compunham o episcopado tanto aqui no Brasil como em outros países, ficamos impressionados com a qualidade de alma, a firmeza na fé de tantos deles. Havia os liberais, mas estavam sob o controle da Igreja que velava para que as almas não recebessem doutrinas e ensinamentos perniciosos à fé.

As igrejas estavam cheias e por toda parte havia associações católicas para o estudo da doutrina ou para ajudar seus associados a viver melhor a vida cristã: Apostolado da Oração, Filhas de Maria, Congregação Mariana, Cruzada Eucarística e outras formadas por associações de leigos, como foi outrora o Centro Dom Vital, o Legionário etc. Grandes homens brilharam em nossa sociedade, como Jackson de Figueiredo, Carlos de Laet, Gustavo Corção, etc.

A Igreja, nesta época, apesar de estar juridicamente separada do Estado em praticamente todos os países, continuava exercendo uma saudável influência na formação dos costumes, e servia também de muralha contra os excessos dos mundanos, dos racionalistas e ateus de diversos matizes.

As almas recebiam da Igreja todo o necessário para alcançar a vida eterna: sacramentos, ensinamentos, orientações espirituais, orientações sociais e políticas. Tudo isso seguramente estabelecido de acordo com os dogmas da nossa fé, com o que sempre, em todo lugar e por todos havia até então sido ensinado pela Igreja. Era essa a nossa grande segurança; era essa nossa maior alegria.

Ora, este quadro que acabo de lembrar acima, nada mais é do que a vida católica tal como deve ser ensinada sempre pela Igreja. Esta é a vida de que precisamos para alcançar nosso fim último que é a vida divina, no céu. E se a Igreja Católica, em sua essência, Corpo Místico de Cristo, é nossa Mãe e nos traz sempre todo esse conjunto de vida e santidade, já na sua parte humana, na sua hierarquia, nos homens que a governam, cabe-lhe um dever, uma obrigação recebida da boca de seu fundador divino, Nosso Senhor Jesus Cristo, de dar às almas este alimento diverso e salutar. Mesmo o Novo Código de Direito Canônico explicita esse dever:
«Os fiéis têm o direito de receber dos Pastores sagrados a ajuda dos bens espirituais da Igreja, especialmente os provenientes da Palavra de Deus e dos Sacramentos» (cânon 213 do Código de Direito Canônico).

Assim como um pai de família, antes de exigir amor e confiança da parte de seus filhos, tem por obrigação lhes dar sustento material e moral, segurança e educação, assim também a hierarquia católica só pode exigir de seus filhos, dos seus fiéis, amor, caridade, confiança e obediência, na medida em que trouxer para eles a firmeza da fé, a proteção contra os erros, a defesa contra as instituições mundanas criadas para perverter a humanidade. Não me parece difícil considerar assim as coisas porque são noções de respeito à própria natureza do homem e da sociedade humana. Aplica-se a qualquer sociedade, seja ela familiar, religiosa, empresarial ou governamental.

Acontece que entre a morte de Pio XII e nós espalham-se quarenta anos. E esses quarenta anos foram e continuam sendo de um terremoto avassalador que derrubou a fé!

Ao longo desses quarenta anos foram diversos os aspectos da destruição. No início, nos anos 60, tímida, ainda misturada com algum resto de catolicismo. Já nos anos 70 foi avassaladora, derrubando e destruindo costumes, dogmas, imagens, devoções; época de grandes perseguições contra todos os que queriam permanecer fiéis. Veio, em seguida João Paulo II e a revolução abriu-se para um ecumenismo desenfreado jogando a quase totalidade dos católicos num profundo ceticismo, no indiferentismo religioso que considera qualquer religião como verdadeira. Ao mesmo tempo, tendo tudo destruído do que era tradicional, iniciou-se uma espécie de reconstrução em novas bases, com fundamentos ecumênicos da nova Igreja mundialista: uma nova bíblia foi elaborada, um novo Direito Canônico, a nova Missa, novo Catecismo, novas devoções a Nossa Senhora, novos ritos de sacramentos. Essa reconstrução foi feita sob o comando do Cardeal Ratzinguer, que soube dar a estas novidades certa roupagem antiga escondendo realidades completamente novas e contrárias ao dogma da fé.

Esta é a questão principal: a partir do Papa João XXIII até o papa João Paulo II, sem exceções, o catolicismo foi sendo esvaziado de sua seiva, de sua vida, de sua fé. Todas as instituições católicas levantadas ao longo de dois mil anos para nos proporcionar a salvação eterna foram destruídas, postas abaixo, por essa nova hierarquia saída do Concílio Vaticano II.

Ora, se os membros da hierarquia não cumprem mais o seu sagrado dever de nos alimentar com a fé de sempre, como podem exigir aquela obediência, submissão, amor e confiança? Como podem exigir dos católicos que digam que Vaticano II é um concílio católico se foi nesta reunião solene de bispos que se delineou a destruição total do catolicismo operada de dentro da Igreja? Como podem exigir de nós que aceitemos uma missa nova que na teoria e na prática "se afasta no seu conjunto como no detalhe, da teologia católica da missa" como declarou ao Papa Paulo VI (com a devida demonstração teológica) o cardeal Ottaviani, então pró-prefeito do Santo Ofício? Um católico não pode ficar indiferente a estas graves questões que põem em risco a sua fé e a sua salvação, sem correr o risco de ouvir, de Nosso Senhor Jesus Cristo, no dia do Juízo Final, a condenação e o castigo por não termos defendido nossa fé, como é nossa mais grave obrigação.

Como muitos dos nossos leitores podem não ter vivido o ambiente de destruição operado pela hierarquia ao longo desses anos, proponho listar, sem pretensões de seguir ordem cronológica e sem pretender também abranger tudo, exemplos dessa obra perversa que destruiu a nossa fé católica. Assinalo que a longa lista é apenas um esboço sem desenvolvimento algum. Cada um desses itens poderia ser desdobrado e multiplicado em milhares de escândalos e erros. Veja a lista aqui.

Isso posto, ficando claro que a destruição do catolicismo é uma realidade, cabe ao fiel tomar uma atitude de defesa da fé. Isso não significa que estejamos recusando a autoridade do papa ou dos bispos; não significa que estejamos aqui afirmando que João Paulo II não é papa.

Até quando vai durar esta crise? Não sabemos, nem cabe a nós determinar o dia ou a hora. Aos soldados que nós somos pede Nosso Senhor que estejamos alertas, em combate, porque os dias são maus. Que a Virgem Maria nos proteja no combate e que possamos dizer com S. Paulo: "guardei a fé" !

Fonte:http://www.capela.org.br/