quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O Concílio Vaticano II foi intencionalmente ambíguo

As ambiguidades do Vaticano II não foram acidentais, mas fruto de uma perversa estratégia.

A simples inteligência já seria capaz de denunciar as ambiguidades do Concílio Vaticano II, de tão evidentes que elas são. Bastaria comparar os textos confusos e ambíguos do Vaticano II com os textos claros e inequívocos dos outros concílios para se perceber que há “algo” estranho no último concílio. Mas, teria sido esta ambiguidade mero acidente? Teria sido apenas descuido ou incompetência? Não, foi bem pior do que isso. A ambiguidade dos textos conciliares foi a tática utilizada para fazer com que os bispos conservadores não suspeitassem, ou não antevissem as consequências, das heresias defendidas pelos modernistas. E muito mais do que os bispos conservadores, os leigos inocentes deveriam ser confundidos pela ambiguidade dos textos conciliares

No livro extremamente esclarecedor “O Reno se lança no Tibre”, do Pe. Ralph Wiltgen S.V.D., que acompanhou o Concílio na qualidade privilegiada de jornalista, há alguns trechos extremamente esclarecedores sobre a perversidade da tática modernista da ambiguidade (os destaques são meus):

Foi então que um dos liberais extremistas cometeu o erro de fazer referência por escrito a algumas das passagens ambíguas e de esclarecer como seriam interpretadas após o Concílio. O documento caiu nas mãos do grupo de cardeais e superiores maiores de que acabamos de falar, e seu representante foi levá-lo ao Sumo Pontífice. Compreendendo então que se tinham aproveitado dele, Paulo VI caiu em si e chorou.

Ralph Wiltgen S.V.D.; O Reno se lança no Tibre; Editora Permanência; pág 244-245

“Desde a segunda sessão”, esclarecia [o padre Schillebeeckx], “dissera a um especialista da Comissão de Teologia que se sentia irritado ao ver exposto no esquema o que parecia ser o ponto de vista liberal-moderado sobre a colegialidade; pessoalmente, ele era favorável ao ponto de vista liberal-extremo.” O especialista lhe havia respondido: “Nós nos exprimimos de modo diplomático, mas depois do Concílio tiraremos do texto as conclusões que estão nele implícitas.” O padre Schillebeeckx achava esta tática “desonesta”. Durante o último mês da terceira sessão, dizia, bispos e teólogos tinham continuado a falar da colegialidade “em um sentido que não estava de forma alguma consignado no esquema”. Sublinhava que a minoria tinha compreendido perfeitamente que o fraseado vago do esquema seria interpretado em um sentido mais forte depois do Concílio. (…) A maioria, dizia, tinha recorrido a uma terminologia deliberadamente vaga e excessivamente diplomática e ele recordava que o próprio padre Congar tinha bem cedo protestado contra a redação deliberadamente ambígua de um texto conciliar.

Ralph Wiltgen S.V.D.; O Reno se lança no Tibre; Editora Permanência; pág 244-245

Mais claro do que isso, impossível. Os textos acima provam que os modernistas são réus confessos: a ambiguidade foi a tática utilizada para infiltrar os erros no texto conciliar. As conclusões modernistas deveriam ser retiradas dos textos ambíguos após o Concílio. Os hereges modernistas disfarçaram as heresias através de ambiguidades, para não serem reconhecidas facilmente, senão depois de já aprovados os textos do Concílio. O próprio padre Schillebeeckx, principal especialista conciliar da hierarquia holandesa, considerava a tática modernista desonesta.

Quando os defensores do concílio, como o falsitatis splendor, afirmam com ares de doutores que o concílio é inocente pela crise atual; e que os abusos cometidos atualmente não têm suas raízes no próprio concílio; e ainda que existe um má interpretação do concílio por parte de pessoas mal intencionadas, esta tese desmorona completamente quando se lê a história do Concílio. A ambiguidade de seus textos foi intencional. E a confissão dos modernistas vem claramente confirmar o que já se poderia deduzir com um pouco de perspicácia. Os hereges pós-conciliares apenas colhem os frutos plantados pelos modernistas durante o concílio.

Por que o concílio já não expôs de forma aberta o erro?

Podemos levantar algumas hipóteses.

Umas das mais evidentes e seguras, é que a resistência conservadora se opôs aos liberais promotores do modernismo. Em numerosos trechos do livro, que seria demasiado longo citar, narram-se as ferrenhas disputas entre os bispos conservadores e os bispos modernistas, bem como o “jogo sujo” promovido por estes últimos, mudando as regras do concílio durante seu andamento, sempre no sentido de neutralizar a resistência conservadora. Quanto mais a heresia estivesse escondida sob a forma de ambiguidades, mais difícil seria a percepção do alcance dos mesmos e menor seria, portanto, a oposição dos conservadores.

Depois, a publicação das heresias com todas suas letras causaria um choque enorme e colocaria em evidência a má fé dos liberais. Escrever com todas as letras uma tese contrária à doutrina católica tornaria fácil desmascarar a heresia. Um bom católico jamais aceitaria a heresia modernista posta a descoberto. Assim, convinha infiltrar aos poucos a heresia, sem grandes choques às consciências, baseando-se na interpretação liberal dos textos ambíguos do concílio.

Essa é, mais ou menos, a tática modernista. Uma atitude nada cristã, certamente, pois Nosso Senhor disse: sim, sim; não, não.

De forma abstrata, podemos fazer a seguinte analogia. O que a Igreja ensinava que era branco, os hereges diziam que era preto. O concílio não escreveu nem uma coisa, nem outra, mas adotou uma formulação vaga, ambígua e “diplomática” (que diabólico eufemismo!): é monocromático! No pós-concílio, monocromático virou, pouco a pouco, sob ação dos modernistas, simplesmente preto, como queriam os hereges.

Vejamos alguns exemplos concretos de textos ambíguos no concílio e como a tática da interpretação posterior pode ser-lhes aplicada para extrair as heresias.

A famosa afirmação “a Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica” é um exemplo dos mais citados sobre a ambiguidade do Vaticano II. E como ela se encaixa na tática modernista! Se o texto dissesse simplesmente “a Igreja de Cristo é a Igreja Católica”, não haveria nenhuma margem de discussão. Estaria apenas se reforçando a doutrina de sempre. Não haveria necessidade de tantas explicações posteriores como o Vaticano teve de fazer. Por outro lado, se os hereges modernistas escrevessem com todas as letras “a Igreja de Cristo subsiste em diversas (ou em todas as) igrejas”, ou “a Igreja de Cristo compreende mais do que a Igreja Católica”, o erro doutrinário estaria tão evidente que causaria um enorme choque nos católicos, que não o aceitariam. Por isso, usando a tática perversa da ambiguidade, optou-se pela fórmula bizarra do “subsistit in”. Assim, após o Concílio, lenta e gradualmente, os modernistas iriam levando o povo a acreditar na interpretação herética do texto em questão. Evitaram o choque de uma heresia explícita no texto conciliar e, posteriormente, apoiados na “autoridade” do Vaticano II, injetaram o veneno modernista.

E o texto sobre a “semente divina no homem”? Não poderia ele ser entendido por alguém - muitíssimo ingênuo - como a graça habitual, i.e., a habitação da Santíssima Trindade na alma batizada e que não se encontra em pecado mortal? Mas também, por sua ambiguidade, pode ser muito mais facilmente identificado como o germe divino aprisionado na matéria, segundo a heresia gnóstica. Absurdo? Certamente não. Todos aqueles “católicos” que hoje crêem em “poder da mente”, “poder infinito do subconsciente”, “energia positiva”, “energia do pensamento”, etc, não fazem outra coisa senão acreditar nesta heresia gnóstica. Ensinada abertamente por padres através de diversos livros.

E o que dizer sobre as contradições conciliares? Em um lugar se faz um panegírico do uso do latim na Igreja, noutro se recomenda o uso da língua vernácula. É fácil perceber qual a intenção dos modernistas. Os elogios ao latim se transformaram, no pós-concílio, em letra morta, enquanto que, na prática, somente se aproveitaram as passagens que estimulavam o vernáculo. É possível, honestamente, negar que, neste caso também, se aplicou perfeitamente a tática modernista de tirar suas conclusões após o concílio? E, os que gostam de se enganar, citam os textos a favor do latim como se fossem prova da “boa intenção” do concílio…

Poderíamos reler todas as passagens ambíguas do concílio e verificar como elas permitem uma interpretação herética, que os modernistas pretendiam explorar depois do concílio.

Pode alguém negar todas estas evidências? As confissões dos modernistas, associadas com a história pós-conciliar não permite a ninguém, por mais ingênuo que seja, negar a existência de um plano bem arquitetado com a finalidade de promover a heresia modernista. Um plano que começou muito antes do concílio, mas que teve nele seu ápice.

Quando se aproxima um imã de uma porção de limalha de ferro, elas se reordenam conforme o campo magnético produzido pelo imã. Poderia alguém negar a existência de alguma força agindo sobre a limalha de ferro?

Da mesma forma, todas as atitudes modernistas, desde a época anterior a São Pio X, atravessando o concílio e alcançando estes nossos dias terríveis de apostasia, orientam-se para a mesma direção. Tudo leva para o ecumenismo, para a liberdade religiosa, para a desvalorização da Igreja, para o elogio dos hereges e infiéis, para a divinização das falsas religiões, para a colegialidade, para o igualitarismo, para o fim da hierarquia e da distinção entre sacerdote e leigos, etc. As táticas mudaram de acordo com a situação. Mas, negar que haja uma ação ordenada a um fim, o perverso fim de destruir a Igreja, sua Hierarquia, sua Tradição, sua Fé, isso já é tão inaceitável como negar a ação do imã sobre o monte de limalha de ferro.

Então o concilio pode ser considerado o culpado pela crise atual?

É necessário entender que o Concílio foi uma etapa da estratégia modernista, e que não pode ser considerado isoladamente de seu passado e da sua posterioridade. Precisamos recordar as manobras modernistas para fugir das condenações de São Pio X e de Pio XII e para ganharem força no pré-concílio. Depois, devemos analisar como as conclusões do concílio foram empregadas para chegarmos à crise em que nos encontramos. Mas, sem dúvida, o concílio foi a etapa mais importante de todo este processo. A culpa da crise atual, é, em última instância, dos hereges modernistas. Mas o concílio, como peça fundamental dessa artimanha diabólica dos modernistas, também dever ser devidamente responsabilizado pela crise atual na Igreja.

E por que o concílio foi tão importante para os modernistas?

A maioria das pessoas, especialmente as menos letradas, são muito mais propensas a acreditar nos argumentos de autoridade do que naqueles de raciocínio. A tática modernista foi criar uma “autoridade” conciliar, supostamente católica, na qual os simples se apegariam com sua fé singela, por acreditarem se tratar da legítima autoridade da Santa Igreja Católica. Assim, enquanto os modernistas tiravam do concílio as conclusões heréticas que estavam escondidas sob o véu da ambiguidade, a massa de ingênuos se mantinha alheia a toda esta artimanha diabólica. O povo bom lia o concílio com olhos católicos, enquanto que os modernistas o liam com a mesma malícia que utilizaram para escrevê-lo. E, como estes modernistas eram padres e bispos (triste situação a destes traidores!), eram eles que ensinavam o povo e formavam os novos seminaristas, inculcando-lhes pouco a pouco o veneno do modernismo. Escorados sobre a “autoridade” do Vaticano II… O concílio foi a “virada de mesa” dos modernistas. De perseguidos - ainda que timidamente - eles passaram a perseguidores cruéis e inimigos da Tradição e da Igreja.

Isto tudo é muito mais do que uma “teoria da conspiração”, é a explicação que podemos encontrar para a crise atual, baseada nos fatos e nas próprias confissões feitas pelos modernistas que escreveram o Concílio. Que os modernistas pertinazes vão continuar negando a culpa do Vaticano II, disso já temos certeza. Mas, para as pessoas de boa vontade, não há como negar tantas evidências.

fonte:http://www.missadesempre.com